How to survive escrita por Hayley Deschannell


Capítulo 22
O quão forte você pode fechar seus olhos


Notas iniciais do capítulo

OOOOOOOOOOEEEEE
Não morri gente. Leiam e chorem. Bjs.



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Ellie.

Naquela noite, perdi mais alguém. Não só uma amiga, mas uma irmã.

Eu e Willy encontramos um lugar seguro. Ele não disse nada, apenas ficamos abraçados. Ele sabe que palavras não adiantam nada. E naquela noite, depois de muitas, eu não tive um pesadelo.

Eu abri os olhos e estava sentanda em um banco, num parque. Um dia ensolarado.

– Eu amo o cheiro da grama. – Ouvi alguém dizer e então percebi que eu não estava sozinha no banco.

Olhei para o lado e vi Mable. Mas era como se nada tivesse acontecido. Eu não tinha o controle do meu corpo no sonho.

– Você ama qualquer coisa, Mable! – Eu respondi.

– É que cheira a verão.

– Haha! Nós devíamos fazer isso mais vezes.

Mable estava jogando comida para os pombos no parque. Não havia nenhum infectado ou qualquer perigo por perto. Eu estava relaxada de um jeito que nunca estive.

Um dos pombos era muito pequeno, e lento. Os outros não deixavam comida para ele.

– Os grandes são rápidos demais para ele. – Eu disse.

– As vezes a vida simplesmente não é justa. – Ela respondeu olhando para as nuvens.

– O que você quer dizer?

– É que as vezes lutamos tanto, tanto... E o que a gente recebe? Um passo em falso e tudo acaba. – Mable me encarou.

– Mable, do que você ta falando?

Ela se levantou.

– Eu adoro o parque nessa época do ano.

– É, até que é bonito, eu acho...

– Ellie... - Ela se virou para mim. Seu rosto sem expressão. – Tem algo que eu queria te dizer...

Ela ficou em silencio por uns minutos.

– Mable?

– Ela se foi, Ellie. – Uma voz familiar veio de trás de mim.

Eu me virei e vi Riley. Mas de novo, era como se nada tivesse acontecido com ela.

– Qual é Riley? Ela tá bem aqu... – Mable tinha sumido.

Então o céu ficou vermelho. Riley se aproximou.

– Por que você enfrenta isso? – Ela disse tocando meu ombro.

– O que ta acontecendo? – Meus olhos ardiam.

Tick tock, Ellie. Tick tock. – Riley estava séria. Diferente.

– Cade a Mable?! – Eu fechei os punhos.

Tick tock, tick tock. Opa, mas parece que seu tempo já acabou.

– O que tem de errado com você? O que você fez com a Mable?

– O que eu fiz com ela?

Eu fiquei esperando a resposta. Mas só ouvi uma risada triste e forçada.

– Não adianta. No fim sempre tem dor, e saudade... E aquela sensação de ardor em seu coração de que talvez houvesse algo que você poderia ter feito.

– Não...

– Depois de tudo, a única coisa que vai sobrar é o lembrete de que o tempo continua... Sem ela. – Riley vira de costas para mim – Tick tock, Ellie.

Então eu pisquei os olhos e fui parar num beco sem saída. Estava chovendo, e ventando. Eu tremia de frio, e minha única companhia eram 3 gárgulas imóveis. E eu inclusive fiquei imóvel até ouvir uma delas falar.

Isso está aqui. – Falou a gárgula que ficava em cima de um portão.

Ela disse que isso iria vir. – Disse a outra que estava no chão.

– Mas veio tão rápido! – A do portão respondeu.

Isso persegue o que nunca para pra respirar.

– Em busca de consolo.

– “Isso” está aqui e tá ouvindo o que vocês estão dizendo, sabia? – Eu me intrometi.

Mas elas continuavam falando.

– A frota de pés é a que caça.

– Ou é caçada.

– Ou castigada pela perda.

– Por que isso está aqui? – A outra gárgula em cima de um muro finalmente fala, me dando um susto.

Ela disse que isso pode querer a verdade. – A do chão respondeu

– Mas isso não deve ter a verdade. – A do portão me olhou dos pés a cabeça.

– Verdade? Que verdade? – Eu já não entendia mais nada.

– Isso é fraco. – Disse a do chão.

– E precisa de conforto – Disse a do muro.

– E bondade – Disse a do portão.

– Bondade pela maneira de pensar.

– Bondade pela maneira de querer.

– Que Verdade?! – Isso já estava me deixando nervosa. As três continuavam falando como se eu não estivesse ali.

– A amargura domina com aquele que o sofrimento toca.

– Que doce tristeza.

Agridoce.

– Me respondam! – Ah se eu tivesse uma bomba de pregos...

– Isso tem raiva.

– Ah ótimo... – Tentei encontrar uma a saída daquele lugar.

– Isso é fraco. – Disse a do chão

– Raiva deixa isso fraco. – Disse a do portão

– Raiva faz o companheiro disso chorar. –Disse a do muro.

– Meu companheiro? Cadê a Mable?!

– Como é triste isso não enxergar.

– Isso não deve enxergar a verdade.

­- Ela disse que isso não deve ver.

– Reze, doce tristeza.

– Oração para só um rezar.

Agridoce.

– QUE VERDADE?!

– Por que isso não pode ver?

– Isso está bravo.

– E precisa de conforto.

– E bondade. – Repetiram. Antes de eu retrucar, continuaram.

– Bondade por meio de pensamento ansioso.

– Bondade por meio da esperança.

– Isso é fraco.

– E precisa de tempo...

– EU NÃO SOU FRACA! – Interrompi. – Vou mostrar o como sou fraca!

No beco tinha uma caixa de madeira, e um bastão. Eu destruí a caixa em segundos.

– Isso se sente melhor. – Disse a do portão.

Livre.

– Mas isso não tem nada.

– Apenas lagrimas.

– E tristeza.

– E uma caixa quebrada.

– Isso deveria ser dócil?

– Isso deveria ser absoluto?

– Isso deveria chorar?

Meio os restos de madeira quebrada eu encontrei uma chave.

– A raiva disso diminuiu.

– A raiva está saindo.

– Seguindo apenas o desejo de mudar.

– Para o melhor.

– Ou para o pior.

Eu peguei a chave e abri o portão. Ele dava para um pântano. Me afastei das gargulas e passei pelo portão.

– Bem... Acho que não tem mais para onde ir... Vai ser por aqui mesmo. – Eu pulei no pântano.

A agua era fria, com a lama no fundo mais fria ainda. E a cada passo mais rígida. Até eu não conseguir me mexer.

– Droga, to presa!

Enquanto eu tentava me soltar eu percebi as arvores em volta. Eram enormes, secas e aterrorizantes. Uma delas parecia ter olhos. Não parecia. Ela tinha olhos de verdade, abrindo lentamente.

Quem me acordou? – Uma voz rouca, áspera e grave saía da arvore.

– Eh... Eu... Ellie.

– Eu não tenho tempo para você. Sem tempo.

Então outra arvore acordou, do outro lado do pântano.

– O que está acontecendo? – Essa tinha uma voz mais rouca ainda.

– Ela é a Ellie. – A primeira arvore disse.

– Que reviravolta do destino Ellie estar presa sobre os meus ramos.

– Podem me ajudar? – Eu perguntei.

– Ajudar? – Uma perguntou.

– Nós? – Completou a outra.

– Se vocês só me puxassem para fora... – Eu quase implorei.

– Isso não é o que você precisa.

– Talvez você prefira mais tempo...

– Por favor, so me ajudem a sair! Não posso me mover... – Meus pés estavam congelando.

– Se mover não vai te ajudar...

– Para onde você vai?

– Tenho que achar Mable!

– Seus pés não vão te ajudar a acha-la.

– Ela está em um lugar que os pés não podem chegar.

– Eu faço qualquer coisa para encontra-la!

– Mas ninguém aqui tem o que você quer.

– Ela se foi.

Então eu afundei na lama. Não tinha onde me segurar. A lama sumiu e eu só estava caindo. Caí em cima de um monte de neve. Eu não levantei. Estava exausta.

– Ellie. – Era a voz de Riley. – Você viajou tão longe, e ainda aprendeu tão pouco. Por que ainda continua?

– Eu... Eu preciso encontra-la. – Eu disse levantando. Olhei em volta, um parque coberto de neve, com uma estátua de um homem, e um portão.

– Quem não arrisca não petisca, nada planta nada colhe?

– Eu posso encontra-la...

– Ellie... Porque você se agarra a essa agonia? Foi a mesma coisa comigo... Mas dessa vez eu estou aqui para te ajudar. Não feche o coração diante da verdade. Aceite que a perdeu, assim como eu.

– Porque está fazendo isso? – As lagrimas caíam do meu rosto. – Isso piora minha dor.

– Porque eu devo fazer isso. – Riley entrou pelo portão e sumiu de vista.

Para variar o portão estava trancado. Explorei o lugar e encontrei uma escritura na estatua:

“Sua mão em seu coração gela sua alma

Seu coração em minhas mãos expele o frio”

Nas mãos da estátua, tinham uma lanterna e na outra um coração. Um coração feito de pedra e extremamente frio. Quando o toquei senti meus dedos congelarem, e ouvi um barulho atrás de mim. O Portão se abriu.

Do outro lado não era mais inverno. Em vez de neve, o que caíam eram folhas alaranjadas das enormes árvores. O lugar era lindo. Eu andei adentrando a floresta. E encontrei uma lápide. Eu li Mable Pryor. Eu me ajoelhei. Mas não tinham lágrimas para chorar.

– No fundo, você sabia. – Eu ouvi a voz de Mable atrás de mim.

– Eu não queria que fosse verdade. Não quero passar o resto da minha vida sem você.

– A vida continua, Ellie.

– Não. Não pra mim. Já perdi todos meus amigos, e o Joel está por um fio. Eu preciso de você!

– Você se lembra da primeira vez que nos encontramos? Você sempre levava uma lanterna de luzes coloridas que o Joel achou e te deu. Era amarela... E na forma de...

– Uma estrela.

– Isso! Aquilo iluminava o lugar tão lindamente. Nós sempre ficávamos olhando os desenhos que a luz fazia no teto por horas e fingia que era mágica... Ou algo que podia nos tirar desse mundo horrível...

– Eu tinha tanto medo do escuro... De ficar sozinha de novo...

– Ellie... Sua lanterna não existe mais.

– Não!

– Mas você não vai ficar no escuro pra sempre... O sol vai nascer!

– Mas... Dói tanto...

– Mas vai se curar...

Ficamos em silencio por uns segundos. Mable estava sumindo.

– Eu nunca vou te esquecer, Mable! Nunca!!

Então eu vi imagens de todos os lugares em que estive até chegar nessa floresta. A voz de Mable dizia o que cada um deles significava.

O Parque ensolarado: Negação.

O Beco das Gárgulas: Raiva.

O Pântano: Negociação.

O Parque cheio de neve: Depressão.

A Floresta alaranjada: Aceitação.

Agora eu e a loira estávamos na beira de um precipício. O sol estava nascendo, o céu cor de rosa.

– Eu vou te ver de novo? – Eu disse segurando a mão da minha amiga.

– Eu não sei... Quão forte você pode fechar seus olhos? – Então minha mão não segurava mais nada. Mable se foi. E esse nascer do sol significava saudade.


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Notas finais do capítulo

:')



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