(Nicolle narrando)

– E o tempo continua estável em Nova York, nos próximos dias enfrentaremos mínima de 19ºC e máxima de 29ºC. - Desliguei a televisão a tempo de não ouvir mais a estridente voz da garota do tempo. Alguém precisava comunicá-la que aquilo não era pra ela, que ela poderia ter qualquer tipo de emprego, menos ser a Garota do Tempo, ou a Gralha do Tempo como toda a cidade de NY, a chamava.

Peguei meu casaco pendurado perto da porta, apesar das temperaturas elevadas durante o dia Nova York, era uma cidade um pouco instável, as noites costumavam ser um pouco gélidas, e sendo eu uma detetive sem horário para voltar devido ao meu trabalho deveria estar precavida.

Tranquei a porta de meu humilde apartamento e segui a pé até chegar a esquina de meu prédio. Parei por alguns instantes e uma camada de raios finos ultrapassou meu rosto, era o Sol nascendo, era mais um dia que a cidade de Nova York estava acordando, para mais uma rotina de trabalho.

(...)

Depois de alguns longos minutos caminhando finalmente havia chegado a um dos meus lugare favoritos na cidade : 19º Departamento de Polícia de Nova York. Fechei meus olhos e dei um longo suspiro, apesar de dias cansativos, e de quase sempre sair daqui altas horas da noite tentando ajudar quem precisa, eu amava esse lugar! Era o meu lugar onde eu poderia fazer o que eu sabia fazer de melhor, onde eu poderia ser eu, simplesmente eu.

– Bom dia Detetive Crawford, como vai? - ouvi a policial Morgan pronunciar enquanto arrumava algumas papeladas em cima de sua mesa.
– Bom Mary, dia cheio? - sorri de volta a ela.
– Sim! Aliás Collins está lhe esperando em sua sala, disse que queria muito falar com você.
– Obrigada Morgan, te vejo depois - assenti com a cabeça e fui caminhando em direção a minha sala. O departamento ainda estava vazio, era bem cedo e as trocas dos turnos ainda estavam sendo feitas.

Entrei em minha sala e fitei um homem alto e magro a minha frente, brincando com as canetas de minha mesa. Os cabelos castanhos cuidadosamente arrumados e o olhar divertido em seu rosto.

– Bom dia Collins - o fitei por alguns instantes como quem esperava uma explicação.
– Bom dia Crawford! - ele disse sorrindo e continuando a amontoar todas as canetas em cima da minha mesa.
– Porque você insiste em fazer isso toda vez que vem até minha sala? - o perguntei enquanto pendurava meu casaco.
– Ah é divertido e o tempo passa rápido! - ele disse sorridente, me fazendo revirar meus olhos.
– Então, Morgan disse que gostaria de falar comigo, o que houve? -perguntei sentando na cadeira da frente a minha mesa.
– Bem, você sabe que estávamos a procura de um novo parceiro para você. Desde que o Blake se foi, temos tentando encontrar um parceiro a sua altura. - o ouvi falando e senti um nó se formar em minhar garganta, odiava tocar no assunto de Blake, poderia passar o tempo que fosse sempre lembraria do que aconteceu como se fosse ontem.

Notei Collins me fitando esperando alguma resposta minha, fitei seus olhos e dei um longo suspiro :

– Então... encontraram meu novo parceiro? - fiquei de pé e cruzei meus braços, a espera de uma resposta.
– Sim. O nome dele é John Ross, ele é um policial de outro distrito pediu transferência e quando vi sua ficha, achei que seria perfeito para trabalhar conosco.
– John Ross? Nunca ouvi falar.. Tem certeza que ele é de confiança? - continuei encarando-o.
– Fique tranquila Crawford, fiz uma ótima escolha, vocês irão se dar bem, tenho certeza disso! Agora vou resolver alguns documentos, ele chegará hoje no período da tarde - ouvi Collins falar - Ah.. antes que eu me esqueça, aqui está toda a ficha dele, você deveria ver, realmente é surpreendente! Te vejo mais tarde Crawford.

Fiquei com o envelope em cima da minha mesa por alguns instantes, só de pensar em um novo parceiro, alguém para poder me ajudar nas investigações e toda a rotina que era possível, sentia meu estômago revirar. Não que não fosse bom, mas ainda era muito cedo para colocar outro Detetive no Lugar do Blake. Era difícil ainda pra mim saber que meu parceiro não estaria mais comigo, mas agora teria que encarar a realidade e entender que a vida continua e que mesmo sentindo uma culpa imensa pelo ocorrido, eu tenho que continuar, as pessoas precisam do meu trabalho e eu preciso ajudá-las.

(...)

Estava vasculhando alguns papéis sob minha mesa, estava tão atarantada , com tantos documentos e casos para resolver que mal vi o tempo passar. Ouvi uma batida na porta e logo em seguida a cabeça de Collins passar por entre o vão da mesma.
– Crawford? - ouvi a voz dele e olhei imediatamente para o lugar onde ele estava parado. - Posso entrar?
– Pode claro - falei ajeitando alguns dos papéis que estavam em minha mão.
– Bem, seu novo parceiro chegou, eu vim lhe apresentar, posso deixá-lo entrar?
– Nossa esqueci completamente Collins, me desculpe, estava cheia de coisas para resolver. Mas, tudo bem pode chamá-lo.
Collins deu uma pequena me deu uma piscada e logo foi abrir a porta de minha sala novamente, dessa vez ele não entrou sozinho.

Junto dele um rapaz, com os cabelos castanhos, olhos cor de avelã, profundos e marcantes. Sem contar o porte fisico: os braços demarcados por uma camisa social branca que delineava muito bem o contorno de seu tronco.

– Detetive Crawford, este é John Ross, seu novo parceiro. Detetive Ross, essa é a detetive Nicolle Crawford.
– É um prazer conhecê-lo detetive - estendi minha mão e senti como se um choque percorresse meu corpo assim que os dedos dele tocaram os meus. Maldita, física!
– Bem vou deixá-los a sós, vocês tem bastante coisa para conversar, se precisarem me chamem, estarei na minha sala tentando entender algum caso sem solução . - ouvi a porta bater atrás de Collins.

Voltei a fitar o rapaz a minha frente, não podia negar que ele era um belo rapaz, e para minha surpresa bem jovem. Ele deveria ter..quantos anos ele tinha mesmo? Ah era isso que eu tinha esquecido, não havia lido sua ficha e eu nunca esquecia disso.

– Olá? - ele chamou minha atenção mexendo os dedos na frente dos meus olhos, balancei minha cabeça no mesmo instante.
–Er, me desculpe. Por favor, sente-se Detetive. - indiquei a cadeira que estava em minha frente e me posicionei na minha.

– Então, você tem quantos anos mesmo?
– 23. - ele respondeu rapidamente.
– É.. e de onde você veio? - fitei minha mesa afim de encontrar o documento que continha sua ficha, mas estava uma verdadeira bagunça!
– Vim, do 26º Departamento.
– Ah sim claro! - falei como se fosse óbvio.
– Detetive Crawford, a senhorita não leu a minha ficha leu? - voltei a prestar minha atenção em Ross, que estava sentado a minha frente agora com um pequeno sorriso debochado no rosto. Fala sério, um menino de 23 anos tentando me ensinar como eu deveria atuar em meu trabalho, só poderiam estar de brincadeira comigo.
– Detetive Ross, devido a demanda muito grande do meu trabalho e a falta de um parceiro qualificado fiquei um pouco atarefada, mas nada que eu não consiga resolver. - dei um sorriso sarcástico a ele.
– Não se preocupe senhorita Crawford, estou aqui para lhe ajudar com isso, como deve ter lido em minha ficha, eu era um dos detetives do outro Departamento, sou conhecido por ser perspicaz, ágil e prestativo.
– Egocêntrico também está na sua lista de qualidades? - perguntei levemente irritada, estava começando a me alterar com meu lindo parceiro de equipe.
– Não. Mas, tenho atitude o que é quase a mesma coisa . - ele disse em um tom debochado. Ok, ele estava me irritando profundamente.
– Senhor Ross, acho que já nos conhecemos o suficiente, espere lá fora por gentileza, vou falar com Collins para ele lhe dar o treinamento necessário. - falei enquanto me direcionava até a porta.

Notei ele levantar caminhando em minha direção.

– Não preciso de treinamento detetive. - ele respondeu com o mesmo sorriso de poucos minutos atrás, sarcástico.
– Então vá contar carneirinhos, apenas espere lá fora, ok? - devolvi o sorriso e o vi piscar, saindo porta afora.

Fechei a mesma bufando e voltei para minha mesa. Onde já se viu? Desaforado! Vir na minha sala, querer me ensinar como eu devo agir e ainda por cima ficar tirando uma onda com a minha cara. Porque Deus? Quanto milhares de detetives no mundo, Collins tinha que me mandar um cara lindo e estúpido! Deveria ser proibida a entrada de filhinhos de papai nas delegacias de ensino, e agora mais essa um moleque de 23 anos, tentando me ensinar como ser uma ótima detetive. Só poderiam estar de brincadeira comigo!

Abaixei minha cabeça em minha mesa e respirei fundo, além de estar cheia de trabalhos, com milhares de relatórios espalhados por minha sala, ainda tinha que aguentar um parceiro que achava que seu umbigo era o centro do universo!

– Obrigada Collins, muito obrigada! - disse em voz alta a mim mesma.

(...)