A Ordem escrita por Any Queen


Capítulo 5
Talvez


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoinhas do meu coração, se eu demorei, me desculpa, mas é que tenho estudado muitíssimo, e agora vem a semana de provas (Deus me ajude!), mas tenho que reconhecer que essa é a única história em que estou realmente acreditando.
Espero que gostem desse capitulo, no próximo eles finalmente vão chegar na Espanha e muita coisa será revelada - risada maléfica - então, é isso, espero comentários de todos.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/468226/chapter/5

Ele olhou em volta atordoado, levantou da cama e esfregou os olhos, mas ainda estava no quarto estranho. O lugar era quase como o quarto dele, talvez ainda estivesse em Line’s House, mas não tinha o grande lustre, nem a cama estava com os lençóis de antes, o que iluminava o quarto eram grandes tochas na parede, que deixavam um brilho amarelado. Jack estava tão aturdido que não percebeu quando pessoas invadiram o local, correndo desesperadas por algo.

Ele reconheceu Lanna, seu cabelo estava preso em uma trança elaborada e usava um vestido do século dezenove, ela passou diretamente por Jack como se ele não estivesse ali, e talvez não estivesse. O Velho Line também entrou, usava uma calça bege, uma blusa com suspensórios, ninguém mais usava suspensório.

– Ponham-na aqui. – ordenou Lanna, dois homens que Jack não conhecia invadiram o quarto às pressas segurando uma menina ensanguentada.

A menina era Denny.

Denny estava desacordada, usando um vestido rosa rasgado e quase em farrapos, ela estava toda machucada, mas o que preocupou Jack foi o terrível ferimento na altura das costelas. Jack correu desesperado para os homens tentando tocar Denny de qualquer jeito, mas ele acabou passando direto por ele, como se não existisse, o garoto ficou irritado, queria ajudar Denny de qualquer jeito. Mas ao tentar tocar novamente o corpo imóvel de Denny, percebeu que só restava olhar e ver o que poderia acontecer.

– O que aconteceu? – perguntou Lanna a um dos homens, este estava todo de preto.

– Foi Dean, a menina estava no lugar errado na hora errada. – falou o homem simplesmente.

– Obrigado cavalheiros, mas podem ir agora, cuidarei da menina. – os homens hesitaram, Jack não soube por que, mas quando o Velho Line os guiou para fora eles não reclamaram.

Denny gemeu e Lanna correu para sentar ao seu lado, a mulher alcançou o criado mudo e de lá tirou uma pequena caixa branca. Lanna pegou uma agulha e colocou algo nela e aplicou em Denny, Jack não sabia o que era, mas assim que o liquido foi aplicado Denny abriu os olhos violetas. Ela começou a gritar um nome – que Jack não conseguiu entender – e tentou se levantar, mas a dor a impediu e ela caiu novamente na cama arfando.

– Calma, minha querida. – falou a mulher gentilmente passando a mão pelo cabelo molhado de suor de Denny.

– Onde... Onde eu estou? Dean? – a garota ainda estava aturdida, querendo se levantar e correr, Jack conhecia esse jeito inquieto, mas Denny estava diferente, não era Denny que ele conhecia, era mais jovem, mais humana.

– Você está em Line’s House, sou Lanna e vou cuidar de você. Dean a atacou, criança, vamos comunicar ao Conselho amanhã bem cedo. – a cor sumiu dos olhos de Denny, a menina segurou o braço de Lanna com tanta força que a ponta de seus dedos ficou branca.

– Não, por Díos, não faça isso! Eu te imploro! Eles não podem saber que estou aqui. – Denny tinha começado a chorar, era evidente que ela estava desesperada, agarrou Lanna impedindo a mulher de se mexer. – Eles vão me matar.

– Por que fariam isso, criança? – Lanna acariciou o rosto de Denny para tentar acalmá-la, mas era em vão, Denny estava querendo correr, Jack queria muito saber o porquê. – Ah meu Deus! – uma luz passou pelo olhar de Lanna – É você!

– Você vai me entregar. – Jack nunca viu Denny chorando ou desesperada, descontrolada, mas agora ela estava, ele só queria a confortar e a tirar de Line’s House, longe de Lanna ou quem quer que a machucasse, ela precisava dele. Ele foi até a cama e sentou do lado da garota, mesmo não podendo tocá-la.

–Não, minha menina, é claro que não, vamos cuidar de você. Pode ficar o quanto quiser. – Denny pareceu relaxar, mas ainda estava hesitante, sua respiração se regulou, mas os olhos ainda estavam cheios de lágrimas. – Está doendo?

– Não. – a menina não se segurou mais, caiu no choro, deixando seus gemidos tomarem conta do quarto enorme.

– Então por que está chorando, criança?

– Por que ainda dói acordar e ver que tudo realmente aconteceu.

Então Jack foi tomado pelo dor, vinha do seu pulso, exatamente igual ao dia que ganhou a Marca, saiu da cama e caiu no chão, gritando, procurando desesperadamente por ar, era sufocante. E, assim como no dia que ganhou a Marca, sumiu repentinamente deixando Jack perdido, sem noção de onde estava. Quando os pontos pretos sumiram, ele piscou repetidamente, mas viu que estava de volta ao presente, mas não estava sozinho.

Denny estava a sua frente, seus olhos estavam despertos e grandes, ela estava sentada na ponta da cama de Jack, olhando para ele com curiosidade. Seu cabelo estava solto e desarrumado, ela estava usando um hobby branco que a deixava mais pálida que o normal. Jack a encarou, lembrando-se da menina que vira a momentos atrás, era tão diferente da verdadeira que parecia mentira, Denny era forte e confiante, e não chorava porque ago tinha acontecido. Aquela menina que vira parecia ingênua e Jack tinha certeza que Denny não era assim.

– Acordar no meio da noite tudo bem. Gritar, Jacky? Um pouco demais, não acha? – Denny ainda continuava com os olhos despertos, Jack se sentou, passou a mão no cabelo tentando tirar a sensação da dor ainda remanescente, notou que estava sem camisa e pediu para não ficar vermelho.

– Eu... Eu não sei o que aconteceu. – Denny pegou o pulso Jack, sem cerimônias passou o dedos pelas linhas da sua Marca, professando palavras que Jack desconhecia, ter a menina tão perto e tocando algo que para ele era tão estranho, fez Jack estremecer.

– Você tocou Jessamine? – Jack fez uma careta, querendo saber por que de Denny estar perguntando aquilo, mas o menino sabia que ela não faria aquela pergunta sem interesse maior.

– Sim.

– O que exatamente você viu? – Jack estremeceu, não queria falar para Denny que tinha visto o passado dela.

– Uma pessoa – disse por fim – há muito tempo atrás, chegando aqui em Line’s House.

– Uma visão – sussurrou Denny – Jessamine tem esse Enigma.

– Posso saber o que essa cabecinha está pensando?

Denny encarou Jack com um olhar investigativo, ela o analisou, Jack quis se encolher, ela tinha um olhar tão intenso que era quase impossível sustentá-lo, mas o garoto gostava de sustentar, era bom olhá-los. Então ele se lembrou da noite que acabara de viver, ela a tinha beijado e até então eles não tinham ficado sozinhos, ele queria se encolher até sumir, tinha sido um idiota ao fazer aquilo, o certo seria ter beijado Jessamine. Mas algo nele o impediu de sentir remorso, foi algo tão bom e tão estranho que Jack só queria repetir aquele gesto em todas as horas de sua vida. Contudo, ele sabia que o jantar tinha sido uma coisa incomum, aquilo nunca mais aconteceria, mas no momento ele só queria guardar a sensação dos lábios finos dela contra o dele.

– É melhor você dormir. – Denny começou a se levantar, claramente desconfortável por estar ali.

– Isso pode acontecer de novo. Por que você não me diz o que está acontecendo comigo? – Jack puxou o braço dela para impedi-la de ir embora, ela sentou na cama novamente e tocou gentilmente o pulso do menino.

– Não vai acontecer, se eu falar agora eu tenho certeza que você não vai conseguir dormir. Confia em mim? – ela estava tão gentil, por que ela estava tão gentil? Isso só o fazia querer mais beijá-la e abraçá-la.

– Confio. Seria tolice dizer ao contrário. – Jack estava quase perdendo a luta dentro dele quando Denny levantou, Jack deitou novamente, dessa vez de lado, ficando de costas para Denny, esperando os passos dela e som da porta se fechando, mas não foi isso que viu. A menina foi para o outro lado da cama, puxou as cobertas e se deitou na frente de Jack. – Essa é nova.

– Não se acostuma. – Jack sorriu, mas ela não sabia o quanto aquilo o machucava. – Noite passada eu consegui dormir profundamente pela primeira vez em duzentos anos, acho que devo esse acontecimento a você, garoto.

Jack ficou ali, olhando-a por um bom tempo antes de responder.

– Acho que agora você poder passar a se ajoelhar e implorar por isso toda a noite.

– Acho que esse frase tinha que ser minha. – brincou Denny, Jack tomou uma postura séria, que ele mesmo se estranhou ao ver que podia ficar sério. – Eu tenho sentimentos, Jack. – falou Denny repentinamente – Só que eles foram sugados pelo que eu vivi, depois de um certo tempo você se cansa de acordar e lembrar de tudo que perdeu, de tudo que sofreu, tudo o que fez de ruim.

– Mas e as coisas boas? – Jack estava gostando de ter uma conversa profunda com a menina menos sentimental que conhecia.

–Elas foram suprimidas. – Denny demorou até complementar – Quase nada me surpreende ou me deixa feliz. E isso me deixa triste, então também esqueço isso. O amor só machuca, pelo menos no meu caso.

– Den, eu sei que você é a experiente e tal. Mas do que adianta viver se não é pra sentir? Qualquer que seja o sentimento. Qual é o sentido de viver se não para esperar e viver os momentos bons e chorar nos momentos ruins? Eu não gostaria de viver assim Den, você também não precisa viver.

– Eu pensava assim, antes. – Ela fechou os olhos, Jack pensou que ela tinha caído no sono, até a menina responder com a voz tão baixa que era quase inaudível – Esqueci dessa filosofia com o tempo.

–Talvez seja hora de relembrá-la. – Jack sussurrou, Denny se aconchegou mais perto do corpo dele, Jack resistiu ao impulso de abraçá-la.

Quando a menina finalmente falou, soou distante, mas verdadeiro.

– Você me surpreende.

*

Denny

*

Aqueles olhos, dourados, transmitindo o pôr do sol da Itália. Os cabelos loiros deixando se levar pelo vento fresco da primavera, seus braços estavam a minha volta, me esquentando, mesmo não precisando. Todos eles eram iguais.

Todos os Campbell.

Denny abriu os olhos repentinamente, ela não se lembrava a última vez que tinha tido um sonho, pesadelo talvez, mas um sonho bom? Era quase impossível pensar que pudesse ter um novamente. Quando sua mente se situou, Denny – por uma fração de segundo – pensou estar de volta a Itália no começo do século dezenove, mas ela não estava. A menina estava em Line’s House, e ela não estava com Felipe, estava com Jack, por mais que tivessem os mesmos olhos, dourados como o pôr do sol, eles eram diferentemente iguais.

Denny demorou um pouco para perceber que o braço de Jack estava na sua cintura, o calor da pele nua dele estava contra o seu corpo. Denny tentou se lembrar o que estava fazendo ali, por que ela não estava em seu quarto? Ela tinha pequenas lembranças da noite passada, Jack gritando, ela indo desesperada pensando que o menino estava sendo atacado, algo a ver com alguém surpreendendo alguém, não mais que isso. Com delicadeza, Denny retirou os braços de Jack e levantou com cuidado, fez um coque improvisado e procurou o celular descartável de Jack. O menino era tão desleixado que Denny desistiu de procurar o Jack, teria que pedir para Lanna.

Depois de botar uma calça preta e blusa preta de manga, prendeu o cabelo em um rabo de cavalo, se permitiu olhar um pouco no espelho antes de ir procurar Lanna. Os cabelo negros, que outrora foram loiros, estavam grandes, Denny não gostava dele tão grande. A menina estava um pouco ruborizada, talvez pelo pensamento de ter beijado Jack, ela estava se culpando, não tinha que ter dado essa abertura ele, ela sabia que só iria magoá-lo. Denny não pôde se proteger, talvez pudesse proteger Jack.

O corredor estava vazio e frio, os seus passos ecoavam pelo corredor, mas logo foram tomados por mais um par de saltos. Denny sabia quem era antes mesmo de se encontrarem no corredor. Ela estava usando um vestido azul social tomara que caia, seus cabelos loiros estavam soltos e esvoaçantes, quase como no dia em que se conheceram.

– Olá, Denny. – Jessamine disse em seu tom melodiosamente enjoativo.

– Jessie... O que faz acordada tão cedo? Achei que gostava de dormir mais que maioria das pessoas. – Jessamine fez um careta e mexeu no cabelo, algo que não perdeu com tempo, reconheceu Denny.

– Estava indo ver se o Jack não queria dar um passeio. – Jessie deu um sorriso forçado.

Denny sentiu vontade de socar a cara dela.

– Ele está dormindo. – quando ela ia abrir a boca, Denny respondeu rispidamente – Sim, acabei de sair do quarto dele. Olha, Jessie querida, Jack está aqui para treinar e é isso e somente isso que estou aqui, se você pensar em atrasar meus planos eu mesmo costuro a sua boca. Lembra disso? – Jessamine tocou a boca.

– Para que ser tão malvada, Denny queria? – Jessamine mexeu os dedos e Denny sentiu uma força antinatural a prender na parede, tentou sair mais era quase impossível. – Acho que você que tinha quer ter medo de mim.

– Você esqueceu o quanto eu sou mais velha que você. – Denny usou seus olhos, Jessie ficou presa na tração dos olhos de Denny e não se moveu. – Agora me tira dessa parede. – Jessamine obedeceu, Denny adorava o seu poder, tinha que reconhecer isso. – Agora você vai dar meia volta e pegar o caminho para o seu quarto, quando chegar lá vai raspar seu lindo cabelo loiro.

– Denny e Jessamine, parem! – ordenou Lanna no corredor – Tire a compulsão dela agora. – Denny hesitou, Jessamine era a coisa mais irritante que já conhecera, ela podia não tirar a compulsão, mas estava abusando da hospitalidade de Lanna.

– Saia daqui agora Jessamine! – gritou Denny e virou para encarar Lanna, a mulher vestia calça branca social e uma bata rosa clara, seu cabelo estava solto emoldurando seu rosto experiente. – Não sei por que não a deixou raspar o cabelo.

– Muito maduro para uma Caçadora de quinhentos anos. – Lanna pousou a mão educadamente nas costas de Denny a guiando para seu escritório. – E não seria você a agüentá-la.

– Não sei como você a suporta.

– Querida, foi você que a salvou. – elas chegaram ao escritório e Denny hesitou na porta.

– Preciso fazer uma ligação.

– Eu sei.

*

Jack

*

– Duas voltas no lago e depois quinhentas flexões. – Denny ordenou, Jack ainda não entendia para que todo esse treinamento desnecessário, ele tinha que aprender a lutar e não a correr.

– Eu estou em boa forma, Den! – Denny o examinou, Jack fez esporte a sua vida toda, sempre mais de dois ao mesmo tempo, era saudável, não precisava de mais nada.

– Então vamos ver. – Denny esperou, mas Jack ainda não estava confiante em ir – Agora! – gritou irritada.

Jack começou a correr, ele sabia que era melhor não a irritar, mesmo sem saber o porquê de tanta irritação. Acabou tudo meia hora depois, Denny estava sentada no pequeno Deque de madeira que tinha perto do grande lago em que Jack teve que correr. Ela estava olhando seu reflexo na água, balançando as pernas no ar. Jack deixou-se cair ao lado dela, ofegante, mesmo com o bom porte físico, ainda cansava, mas ele tentaria de novo, exercício físico era uma das poucas coisas normais da sua vida. Denny não olhou para ele, mas falou com sua voz suave:

– Estou curiosa... O que você falou para a sua família quando foi embora?

– Ham... – Jack estranhou a pergunta, não gostava de pensar em sua família, sempre repelia esse pensamento e tentava mantê-los fora da sua nova vida – Que depois da morte da Lawrence eu não poderia mais ficar naquela casa... Foi desumano, eu sei.

– Não. – Denny olhou para Jack pela primeira vez – Desumano seria se você deixasse-os para morrer.

– Foi isso que aconteceu com a sua família? – Denny não respondeu, voltou a olhar a água e ficou em silencio por um bom tempo. Jack já tinha regulado a sua respiração, diferentemente dos pés de Denny, os pés de Jack alcançavam o lago, ele tocou a água limpa e pensou em algo.

– Logo depois do jantar nós tínhamos um jogo... Sentávamos todos na cama na cama de nosso pais, que nem era uma cama de verdade – a garota deu um pequeno sorriso com a lembrança, Jack gostou de vê-la sorrir por algo que gostava, uma boa memória, já que Denny insistia em pensar nas ruins – e falávamos uns para os outros: “Me diga algo que eu nunca vi”. Eu adorava fazer esta pergunta para meu pai, ele tinha vivido tanta coisa! Era sempre algo novo... Sabe , não tínhamos televisão e não tínhamos dinheiro para comprar livros. Nasci em uma boa família, às vezes eu queria que eu tivesse nascido em uma família ruim, uma família que não provocasse saudade.

– Sua família define quem você é Denny. Não chore por ela, mas fique feliz por tê-la.

– Você deveria ficar feliz também, garoto. – Denny ficou em silencio – Teve uma boa família, algo que também é raro hoje em dia. – a menina riu secamente, Jack achou que era hora de colocar seu plano em prática, colocou os braços em volta de Denny e, antes que a menina conseguisse fugir, pulou na água levando-a junto. – Jack!

– Vamos lá, gatinho, tem que se divertir um pouco. – os dois estavam ensopados, a água era fria, mas suportável, Denny estava o fuzilando, era surpreendentemente engraçado.

Jack mergulhou e puxou o pé da menina para baixo. “Vamos lá, Den! Entra na brincadeira” – Pensou Jack para ela, Denny imergiu, o garoto foi mais para fundo, fazendo-a ir mais alem, a garota o seguiu, o lago era escuro, quase impossível de ser distinguir alguma coisa, mas Jack continuou assim mesmo.

Quando eu pegar você...” – pensou Denny.

Se você conseguir me pegar”. A Caçadora estava quase perto , mas então parou, Jack continuou nadando, porém depois de um tempo não conseguiu mais vê-la, decidiu emergir, olhou para todos os lados, mas não a viu. Pensou em gritar, mas algo puxou o seu pé e Jack voltou para água, Denny estava sorrindo debaixo d’água pelo seu feitio, a menina começou a subir e Jack foi atrás, quando já estavam na superfície Denny começou a rir.

– Ganhei.

– Não, isso não valeu! Como você me achou?

– Esses olhos têm mil e uma utilidades. – Denny ainda estava sorrindo, mas se virou e começou a nadar de volta para o deque.

Depois de estarem de volta e secos, Denny decidiu que seria a hora de começar o treinamento de verdade, Jack estava animado para aprender algo de útil, mas a garota insistiu para que começassem com o arco e flecha, algo que Jack tinha certeza que era péssimo, toda sua animação se esvaiu.

Estavam no começo da floresta que circundava a grande casa, eles tinham se trocado por causa do vento frio. Denny estava usando uma blusa azul de manga cumprida de um short, Jack estava de calça e uma blusa com gola em V verde.

– Por que não começamos com esgrima? – tentou Jack.

– Não importa com o que comecemos, quero testar algo. – Denny entregou o arco e uma flecha, Jack, desajeitadamente, posicionou o objeto sem saber direito o que fazer. – Quero que você acerte qualquer uma das maçãs daquela macieira.

– Eu nunca vou conseguir. – Denny revirou os olhos.

– Agora me escute e olhe nos meus olhos. – Jack olhou e encontrou aquele brilho estranho, algo meio sombrio, faria tudo o que ela mandasse sem pestanejar, porque ele sentiu que se não fizesse sua alma seria deteriorada aos poucos, ele tinha que obedecer. – Esqueça o som a sua volta, só se concentre na minha voz, feche os olhos e sinta a arma na sua mão, sinta o poder dela, a sua essência, pegue tudo o que ela te der.

Jack correspondeu, sentindo cada músculo do seu corpo ficar rígido, mas sua mente estava leve, flutuando entre o ar até atingir o objeto na sua mão, ele sentiu um tipo de força contida, algo não compreendido, mas que ele podia compreender, ele leu a história do arco, sentindo um frio passar pelo seu braço e atingir seu corpo. Abriu os olhos mirou na maçã mais longe que achou, e soltou a flecha, ela foi em retilínea até o fruto a cento e cinquenta metros. Jack deu um grito de vitória quando a flecha encontrou a seu alvo.

– E esse é o seu Enigma. – declarou Denny evidentemente satisfeita consigo mesma.

– É isso?! Eu absorvo o sei lá o que do que eu tocar? – Denny assentiu – Eu fiz isso com Jessamine? E com você quando nos conhecemos?

– Isso. Tudo o que você tocar você poderá tirar ou oferecer, de qualquer coisa ou pessoa. – Denny piscou demoradamente – Agora é aprender a usar isso.

– Você faz alguma ideia de como vai me ensinar?

– Não, mas acho que sei por onde começar.

*

Espanha, Nuestra Asuncíon, 1873

Jennyfer Salvatore

*

O inverno tinha sido rigoroso naquele ano, Jennyfer gostava do frio, mas o ano não tinha sido tão bom quanto a neve. Ela estava sentada na Grande Sala na Sede, a lareira estava acesa, emanando seu brilho alaranjado no recinto. Jennyfer olhou para a sua amiga – que a eras não se viam – Charlotte usava um vestido rosa com rendas, a garota não sabia de onde a amiga arrumava tanto dinheiro para os vestidos, tinha um novo a cada semana! Seu pescoço e pulsos também estavam revestidos de finas peças de ouro e diamante, o cabelo loiro estava preso em um coque orquestrado. Sua boca estava contorcida de forma acusadora e seus olhos verdes transmitiam preocupação, uma típica inglesa. Jennyfer tentou ajeitar os cabelos, não cuidava de si havia um tempo, mas desistiu quando percebeu que não tinha jeito.

– Você deveria tentar dormir – disse com seu sotaque britânico – Fica o tempo todo nesse local imundo

Instintivamente, Jennyfer vasculhou o local, não era realmente imundo, suas empregadas faziam um bom trabalho, sim escuro e úmido, mas era consequência do Inverno. No recinto havia um divã marrom novo, lugar preferido de Charlotte, uma mesa de madeira antiga, vinda direto do Brasil, onde as meninas estavam sentadas. Também tinha algumas estantes com livros tão antigos quanto a existência deles.

– Scott não volta faz três dias.

– Vocês terminaram, minha querida! Vamos para a Alemanha, está em alta este ano, podemos até parar em Paris, fazer umas comprinhas?

– Eu ouvi “comprinhas”? – Victória entrou saltitando com seu vestido azul de seda com detalhes dourados, ela era uma sueca que Jennyfer lembrava-se de ter conhecido no começo dos anos de 1850, na França. A garota tinha curtos cabelos castanhos e olhos igualmente marrons, era baixinha e sempre andava com um livro, era costume vê-la com o objeto em mãos. A menina depositou o volume Amor de Perdição, deu um abraço em sua melhor amiga e depois de encarou Jennyfer – A senhorita ainda está pensando no lobo?

– Só por que terminamos não quer dizer que eu não me importe com ele. – Jennyfer levantou, fazendo o rangido da cadeira ecoar por toda Sala, Charlotte a encarou.

– Não estamos falando isso, minha querida, mas que seria bom você viajar e tentar esquecê-lo.

– Não posso chicas, sinto muito, eu criei uma guerra em que não se pode fugir.

Kära, achei que ela já estivesse terminada. – estranhou Vic.

– Está... Quase... Madrid caiu, Gerard fugiu para a Espanha e o Contrato já foi formulado.

– Então por que ainda estas aqui? – perguntou Charlotte – Tudo o que aconteceu está acabando com você.

– Temo que se eu for embora... Tudo pelo qual lutei, seja perdido... – a porta se abriu bruscamente e Jennyfer olhou com o coração acelerado.

Kyle, um jovem soldado da frente dos Libertos, estava entrando no recinto de cabeça baixa, em respeito, mas claramente abatido, Jenny percebeu que ele tinha algo a constatar.

– Senhorita, eles voltaram.

*

Dias atuais

Denny

*

Um mês se passou, bem rápido para Denny, Jack treinava todos os dias, mesmo que ela não mandasse, ele acordava cedo e corria no lago e depois pegava alguma arma e a dominava. Denny estava orgulhosa de si mesma, não sabia ao certo o porquê, talvez porque ele fosse seu aluno prodígio, estava tendo sucesso, estava tudo perfeito demais.

Depois de Jack dominar o arco e flecha eles passaram para a luta, Denny tentou ensiná-lo a roubar a força do oponente durante alguma luta física. O garoto se tornou tão bom lutador que Denny já não era páreo para ele, Brian se candidatou para o cargo, não pedindo muitas explicações sobre o que estava acontecendo. Porém Brian se tornou um oponente igualmente fácil, mas ainda continuava tentando. O Velho Line também quis ajudar, auxiliando Jack com a parte de magia, era mais difícil para o garoto, e por isso Jack adorava, Denny podia ver o brilho nos olhos do menino ao fazer algo certo. O professor não era tão bonzinho, Jack tinha que fazer algo realmente impressionante para o Velho Line sorrir, Denny as vezes tinha pena do garoto, mas não criticava os meios de aprendizado.

Com esse tempo, Denny conseguiu se concentrar nos próprios poderes, ela nunca tinha os treinado, mas ensinando Jack ela também estava aprendendo limitações dos seus e uma força que não sabia que existia dentro dela. Entretanto o tempo estava passando rápido demais, Austin se comunicara com ela mais de dez vezes, estava a apressando, eles tinham que ir embora, por mais que ela quisesse ficar.

Até Jessamine não era um problema, depois do incidente da compulsão a garota nem olhava nos olhos de Denny, o que era algo fantástico. O outono estava indo embora, a neve começava a cair e os moradores de Line’s House já começavam os preparativos para o natal, a menina decidiu ir embora antes do evento. Livrar-se-ia de Jack mais cedo.

Ele não tinha sido um grande problema, um bom aluno e, às vezes, um bom amigo, Denny sentiria falta do garoto, mas não poderia ir para onde ele estava destinado a lutar. Jack ainda ficava meio nervoso perto de Denny, ela tinha certeza que fora um grande erro beijá-lo, a garota não nutria nenhum sentimento a mais por ele, achava ela. As noites juntos ainda ocorriam, Denny conseguia sonhar quando dormia perto dele, ela sabia que estava machucando-o, mas a menina permitiu-se ser egoísta, só por pouco tempo. Austin também estava preocupado com o menino, em uma de suas ligações ele pediu para falar com Jack, Denny hesitou, mas afinal, o garoto pertencia mais a ele do que a ela.

– Eu entendo... Hãm... Obrigada, senhor. – fora a única coisa que Jack dissera, o menino não compartilhara nada com a tutora, Denny se sentiu um pouco magoada, mas não poderia forçá-lo, Austin podia assustar um pessoa quando queria.

O mais assustador era que a verdade logo viria à tona, isso a assustava mais que tudo, talvez não fosse tão ruim quanto ela imaginava ou talvez fosse.

– Denny... – Lanna a tirou de seus pensamentos.

A menina estava no escritório da Caçadora, passava muito tempo no recinto, ele era aconchegante e transmitia a sensação que tudo que estivesse do lado de fora não pudesse atingi-la. O lugar em si era luxuoso, como toda a casa, havia uma grande escrivaninha de madeira importada, estantes que circundavam todas as paredes sem deixar brechas, cheias de livros magníficos. Havia também poltronas e um divã rosa, Denny passava muito tempo no sofá, a iluminação era perfeita por causa do grande lustre que havia no local. Era onde Denny estava sentada, com uma cópia do Livro Sagrado dos Caçadores em mãos, mas os pensamentos não estavam voltados para imensa história. Lanna estava a suas costas, com a mão em seu ombro direito, a mulher usava um vestido marfim social, os cabelos estavam presos em um coque ornamental, estava mais bonita que o normal.

– Sabia que a encontraria aqui.

– Desculpe, Lanna, ando invadindo muito o seu escritório. – a mulher foi até a grande janela que iluminava o local e chamou Denny para que a acompanhasse.

A janela dava para a grande propriedade que eles possuíam, Jack estava treinando, fazendo flexões, o menino já era definido quando se conheceram, mas com o treinamento intensivo, os músculos de Jack estavam realmente ressaltados. Os cabelos estavam merecendo um corte, entretanto, Jack nem parecia perceber.

– Ele vai ser um Caçador incrível. – vaticinou Lanna.

– Eu sei. – concordou – Tenho medo do que isso possa fazer com ele.

– Ele terá você para protegê-lo.

– Rá – riu secamente – Eu não vou voltar para a Sede, não depois de tudo, não! Jack vai se sair bem, terá Austin, terá pessoas que vão ajudá-lo.

– Denny querida... – Lanna respirou fundo – Você não percebe que Jack não quer outra pessoa para ajudá-lo? Ele pegou um carinho por você, querida, não o abandone.

– Eu vou proteger-lo, ele não precisa de mim, Lanna. – mas Denny não acreditava nas próprias palavras, fazendo Lanna acreditar nela, a menina estava tentando convencer a si mesma.

– Você conhece aquelas pessoas, querida, você, mais do que ninguém, sabe o que pode acontecer ao menino. – depois de uma longa pausa, Lanna disse uma verdade dolorida – Você não vai conseguir abandoná-lo.

– Talvez eu consiga...

– Ou talvez não... – Lanna respirou fundo novamente e falou mudando o tom de voz – Está na hora de irem, alguém colocou um feitiço no seu quarto, já sabemos quem poderia ser essa pessoa... Pegue as suas coisas e podem levar meu carro.

– Eu... – Denny mordeu os lábios, ela não queria voltar para a realidade – Vou avisar Jack.

*

Jack

*

Jack tinha acabado de colocar a calça quando Denny entrou bruscamente em seu quarto, ela o encarou – surpresa, achou ele – e depois falou com um tom urgente.

– Vamos embora. Agora.

E saiu.

Simplesmente saiu, Jack não teve tempo de reagir, mas decidiu não questionar, ele não aguentava mais ficas naquela mansão, não que o lugar não fosse incrível, era incrível, mas Jack se sentiu sufocado. Os treinamentos faziam bem a ele, o fazia esquecer os problemas, só se concentrava em ser melhor. Porém, quando Austin insistiu em falar com Jack, ele sabia que não viria algo bom, ainda se lembrava das palavras do Caçador:

Olá, Jack, sou Austin Viera, sou a pessoa que talvez tenha estragado a sua vida, tirando-te da sua família e trazendo-o para um mundo em que você é a peça mais importante. Não vou me prolongar, teremos muito tempo para conversar quando chegar aqui, eu só queria falar algo que talvez mude um pouco a sua percepção sobre uma linda pessoa em particular. Denny. Ela é uma pessoa incrível e talvez você já saiba disso, mas, como eu sabia de seu Enigma antes de você nascer, também sei dos dons que o acompanham. Infelizmente garoto, você já deve estar apaixonado por ela, isso, ou parte disso, é culpa de um dos seus outros Enigmas, um intensificador de emoções. Esse, em particular, te dá o poder de aumentar seus sentimentos ou simplesmente bloqueá-los, você tem o poder de esquecê-los a hora que quiser. Não espero que entenda, mas que pelo menos saída disto.”

Tudo mudou – ou nada mudou – depois daquela explicação, ele entendeu porque não pensava na família, era porque ele facilmente bloqueou esta emoção, e sobre Denny, ele ainda estava pensando. Talvez fosse bom ter descoberto isso, afinal, assim poderia enfim tentar colocar na sua cabeça que nunca poderia tê-la. Quem sabe, tentar esquecê-la.

O menino colocou uma blusa azul de manga comprida e, por cima, uma jaqueta de couro, calçou o tênis e fez a mala rapidamente. Pediu a qualquer força ou divindade que não encontrasse Jessamine pelo corredor, ele não queria ter que explicar porque estava indo embora. Não que a menina fosse insuportável, mas que meramente falava demais, Jack descobriu que não tinha muita paciência, ele achava isso engraçado.

Bateu na porta do quarto de Denny, a menina abriu com um suspiro e puxou Jack para dentro. Tinha um cadeira no meio do quarto, Jack não teve tempo de perguntar o porquê daquilo, Denny já estava-o posicionando na mesma.

– O que você vai fazer? – ela sorriu, o que estava se tornando um pouco comum.

– Seu cabelo está precisando de um corte. – ela pegou uma tesoura e foi para vorazmente para o cabelo loiro de Jack.

– Você sabe o que está fazendo?

– Jacky, eu tenho quinhentos anos, quando eu nasci não existia cabeleireiro.

Ele não declarou nada, confiava nela, mesmo com medo do que poderia vir. A mala da menina estava pronta na cama, era pequena, mas não continha as armas que eles usariam, o Caçador se perguntou onde elas estariam. Denny estava fazendo o trabalho rapidamente, pedaços loiros caiam no chão, Jack não conseguia ver o que estava acontecendo.

– Perfect! – Jack foi correndo para o banheiro para ver o estrago, o cabelo ainda lhe cobria a testa, porém de um jeito mais retilíneo e solto, Jack estranhou poder ver as orelhas, ele pensou por um momento o que deu na cabeça dele por deixar o cabelo tão grande. Ele voltou para o quarto sorrindo, quase rindo, pela proeza da menina, Denny estava colocando a jaqueta marrom de couro por cima da blusa rosa, a menina pegou a mala e cruzou o quarto, Jack a seguiu.

O Caçador olhou uma ultima vez para Line’s House, não a veria por um bom tempo. Não lastimou, estava esperando ansiosamente pela Espanha.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

u.u quero comentariooooos haha, sou chata com isso né? Eu sei >>