5 dias depois

POV Rachel:

As meninas estavam tão glamour ostentação que eu me senti até um pouco mal por aparecer tão molambenta hippie paz e amor.

Mas ai tomei um chazinho e tudo passou. Meus chazinhos são miraculosos.

Ahhh, falando em ostentação e glamour, aquela vadiazinha filha de papai da Bianca estava passando dos limites no café da tarde que serviram no deck do navio.

–... e ai eu conheci um piloto lindo que me levou ás alturas, se é que me entendem – dizia ela como se alguém ligasse.

–E tudo isso com o dinheiro do papai que foi todo para você – murmurou Nico amargo.

–Quem pode pode, que não pode se sacode. – disse ela com desdém – como diria um certo gato que eu conheci na escola – ela piscou para Dakota sugestivamente.

Respira, Rachel. Paz e amor, lembra? Paz e amor.

Dakota engoliu seco e riu sem graça.

–É, eu adorava essa frase. – disse ele.

–Quer dizer que não adora mais? – perguntou Bianca – você realmente mudou depois que juntou os trapinhos com a cabeça de fósforo, aqui.

Paz. Amor.

Paz.

Amor.

Nico revirou os olhos e Luke riu alto. O resto estava calado esperando alguma reação de mim. O que não iam ter, por que deixei para trás a vida de violência.

–Dá um tempo, Bianca, pelo amor de Deus – disse Nico cansado.

Bianca se indignou com o comentário do irmão e se virou para ele.

–Desde quando você defende o arroto de fanta?? – exclamou ela.

PAZ E AMOR É O CARALHO.

–VOCÊ ME CHAMOU DO QUE, SUA QUENGA? – gritei me levantando da cadeira.

–Ah, o leão acordou... – disse ela rindo e se levantando também – qual é o problema, Mufasa?

Foi ai que eu parei para pensar um pouco. Se eu a atirasse no mar eu provavelmente iria presa, certo? Como iria explicar isso para Aloha? Ela acha que eu sou uma santa! E além do mais, comigo presa Dakota estaria livre para que Bianca colocasse suas garras nele, se ela sobrevivesse.

Então pensei em algo bem melhor.

Saí do deck e fui para onde as nossas malas estavam, peguei todas as malas de Bianca – com muito esforço – trouxe elas para o deck.

Ela me olhava confusa, assim como todos os outros.

Peguei a primeira mala, segurei ela bem na borda do deck e disse:

–Vida longa ao rei.

E soltei.

Depois fiz a mesma coisa com as outras, o mais rápido possível antes que ela pudesse me impedir.

Quando acabei, olhei para os outros e vi a seguinte cena: Nico segurando Bianca que gritava e chorava, jurando que arrancaria meus cabelos fio por fio.

Agora sim ela vai aprender a não mexer com o rei da selva.

***

Battlefield

Para comemorar a quinquagésima edição de Battlefield eu vos trago um bafo:

Caros colegas, temos um novo casal entre nós. Thalico ou Nicalia? O que preferem? A questão é que Nico di Ângelo e Thalia Grace estão juntos. Pois é, eles resolveram juntar os trapos. Até na hora de espalhar o esterco no quintal dos Jets - como vingança pelo laxante adicionado ao brownie - os dois foram vistos no maior clima de romance. Quase me fizeram vomitar. Não sei se foi o cheiro ou a cena, mas meu estomago embrulhou, definitivamente. Então é oficial; a Rachel está para a titia já que a Silena também anda toda serelepe com aquele menino novo que ainda não sei o nome – na verdade não me importo com ele.

***

POV Annabeth:

Isso já está passando dos limites. Não acredito que depois de tantos anos tentando esquecer essa época de nossas vidas, esse capeta volta e ainda por cima na época do meu casamento!

O que eu fiz para merecer? Eu sou sempre tão boazinha!

Mais tarde naquele dia, estávamos todos – menos Bianca, que preferiu ficar em seu quarto chorando pelas roupas de grife perdidas - na minha suíte conversando sobre a volta de Battlefield.

–Não acredito que ela escolheu logo esse Battlefield de milênios atrás, quando eu ainda era imatura o bastante para achar que Nico prestava para alguma coisa – comentou Thalia.

–HEY! – exclamou Nico

–Eu queria esquecer que ela disse que eu estava para titia – disse Rachel triste – fiquei deprimida duas semanas inteiras por causa disso.

–Ah gente, que drama – riu Silena – eu to adoraaaaandoooo, sabiam? Ela está escolhendo logo os Battlefields de quando eu ainda estava nos Sharks, é tão nostálgico!!!

–Eu estou achando o ó – comentou Frank – me traz lembranças infelizes.

–Se tiver algo para dizer diga na minha cara, Zhang – disse Hazel irritada.

–Sem brigas agora, pelo amor de Deus! – exclamou Percy.

–Percy tá certo, devemos focar no problema. – disse Reyna.

–Vamos processar o New York Times! – eu disse – eles estão usando nossos nomes sem nosso consentimento.

–Um processo desses demoraria anos, até lá eles já teriam publicado todas as edições de Battlefield três vezes – disse Reyna.

–Podemos processar aquela vaca da Clarisse, ela trabalha no New York – disse Zoe.

–Não temos provas de que seja ela – disse Frank – ela argumentaria que pode ser muito bem qualquer um da escola, todos tinham acesso a Battlefield.

–Mas é óbvio que é ela! – exclamei.

–Sim, mas não sozinha – disse Reyna – pelo que eu saiba, ela não é tão grande no New York assim. Alguém que também conhece a nossa história e que tem uma posição maior no jornal está ajudando ela, com certeza.

–Alguém da escola? – perguntou Hazel – que conhecemos?

–Claro – respondeu Reyna – Clarisse não está sozinha nisso.

–Gente, tá muito bom o papo mas eu preciso falar com meu marido a sós um pouco, ok? – disse Calipso parecendo incomodada com algo. – VEM LEO!

Leo foi sem pensar duas vezes, e Percy se levantou.

–Essa conversa toda já tava me dando dor de cabeça mesmo, então vou aproveitar o bonde e sair. Quem quer ir no bar comigo?

Todos os meninos se levantaram e o seguiram.

Nós estávamos conversando um assunto de estrema importância e todos os homens saem para beber. Que bom que eles sabem suas prioridades.

–

POV Leo:

–ENTÃO VOCÊ QUER QUE NOSSOS FILHOS NASÇAM COM CARA DE FIGADO VALDEZ?

Arfei indignado.

Eu engravidei uma doida.

Como eu pude engravidar essa doida? Tantas doidas legais no mundo, e tinha que ser ela?

Nos estamos em alto mar e ela vem com essa historia de que quer comer fígado mal passado?

“Coma meu fígado mesmo” respondi, é claro, mentalmente.

–Você quer o que?! Que eu pesque um peixe agora, estripe ele e dê o fígado pra você comer? – perguntei sarcástico.

–Pode ser – ela disse séria.

Obviamente não captou o sarcasmo na minha voz. Vaca.

Só para constar: eu nem sei se peixe tem fígado.

Então lá fui eu pescar enquanto os caras tomavam umas biritas caras por conta do Percy. Pra variar.

Sentado na popa pelo que pareceram umas três horas. Eu estava pensando que ter um filho com cara de fígado não seria tão ruim quando vi que tinha companhia.

Reyna sentou-se do meu lado e ficamos apreciando o horizonte em silencio, até ela perguntar curiosa:

–Tá fazendo o que?

–Calipso quer comer fígado. – respondi como se isso explicasse tudo.

Reyna assentiu parecendo entender.

Ela continuava quase a mesma de quando estávamos na escola, eu acho. Ainda tinha os longos cachos castanhos e a expressão de desafio nos olhos. E aquela aura que intimidava a todos.

–Você pesca e ela estripa e come? – ela perguntou

–Ah não, ela só come. O resto do trabalho fica para o escravo aqui. – eu respondi deixando transparecer apenas um pouquinho do rancor em meu coração. Só um pouquinho.

Reyna riu.

–Você não matava nem baratas e vai estripar um peixe?

Dei meu melhor sorriso convencido.

–Muita coisa mudou desde aquela época, sabe Reyna?

O sorriso dela se alargou.

–Eu sou mais macho que você. Você sabe disso.

–Sabe que uma das noites que eu nunca vou me esquecer é provavelmente uma que você também não vai se esquecer. Uma noite em que nós provavelmente quebramos algum recorde. Você não teve do que reclamar naquela noite.

Reyna desviou o olhar.

–Você era um bundão. Nem sei como passou no teste de aptidão.

Eu a olhei falsamente ofendido.

–Aquilo era um teste?

Ela só riu.

–E eu passei? – perguntei animado.

–Sorte de principiante – disse ela passando a mão nos cabelos.

É claro que eu ia responder-lhe que não foi sorte, mas sim talento quando finalmente senti a vara de pesca vibrar. Eu havia pegado alguma coisa. Puxei o anzol animado. Não era um peixe enorme, mas daria para o gasto. Observamos o peixe lutar por seus últimos minutos de vida, e morrer. Teria sido romântico se ela fosse urso e estivéssemos em um encontro. Aquele seria nosso jantar nesse caso. Mas o caso era outro então me levantei com o peixe já morto em uma mão e a vara de pesca na outra.

Havia deixado o facão numa mesa ali do lado. Coloquei o peixe na mesa e peguei o facão com as mãos tremendo. Reyna tinha razão Eu ainda não conseguia matar baratas. Estripar um peixe? Impossível. Felizmente ela estava atrás de mim e não esperou muito para tomar as rédeas da situação.

Reyna pegou o facão das minhas mãos e em cinco minutos o peixe havia sido estripado. Ela separou tudo direitinho e pegou o que eu acho que era o fígado e me estendeu triunfante.

A cena havia me deixado maravilhado e... enjoado. Sentir o fígado nas mãos foi demais para meu estomago. Vomitei na hora.

–Nada mudou Valdez – ela comentou enquanto eu limpava a boca.

Com o pouco de dignidade que restava olhei em seus olhos e dei meu melhor sorriso malicioso.

–O dia que quiser te mostro o que mudou - respondi

Reyna cruzou os braços.

–Nunca daria certo entre nós. – disse

Dei nos ombros sorrindo.

–Continue dizendo isso a si mesma.