Sala de interrogatório/14h10min

Olhou para o homem que estava, literalmente, caído aos seus pés.

Agente Grant Ward, forte, moreno, alto, bonito e sensual. Principalmente sensual. Apesar de bonito, era do tipo azedo, daqueles que podiam passar a vida toda sem dar um sorriso. Skye sempre preferira os engraçados, daqueles que quando ela estivesse com um problema, que era o que mais tinha na vida, a fizesse enxergar o lado bom de tudo e dissesse, mesmo que fosse mentira, que tudo iria ficar bem. Com Ward, com certeza, ela não teria aquilo.

Mas qual o motivo de estar pesando naquilo mesmo?

Olhou para ele mais uma vez. Sentou-se no chão e apoiou a cabeça de Ward em suas pernas. Ainda tentava acorda-lo. Mas parecia que ele havia desmaiado para acordar só no dia seguinte. Desmaiado. Momentos antes de beija-la. De beija-la. Onde você está com a cabeça Skye? Uma voz a repreendeu. Tudo o que você queria já aconteceu. Está dentro da S.H.I.E.L.D., agora vá e faça seu trabalho. Sem distrações. Olhou para Ward mais uma vez. Era incrivelmente lindo. Uma pena que tenha desmaiado antes de beij...

– Sem distrações, Skye! – Fez uma autorrepreensão.

O plano tinha saído melhor que o imaginado. Com uma ajuda do próprio Coulson, era verdade. O que, mais cedo ou mais tarde, a traria um problema, os agentes da S.H.I.E.L.D. não davam ponto sem nó. Eles queriam algo dela. Entretanto ela também queria algo deles, e estava perto de conseguir.

– Vejo que já terminaram por aqui. – Seus pensamentos foram interrompidos por uma voz já conhecida, e já odiada. – Skye, pode soltar o agente Ward. – Sorriu para ela – Ele vai acordar em alguns minutos. Eu não o matei.

– Não estou nem aí pra ele, A.C. – Retrucou, mas não se levantou. Continuou sentada no chão, com a cabeça do agente desmaiado apoiada em suas pernas, e com suas mãos mexendo despreocupadamente nos cabelos dele.

– Imagino que não. – Sentou-se numa cadeira, a mesma que Ward estava sentada minutos atrás.

– Quero saber, o motivo de eu estar aqui. – Ergueu o queixo. Se havia aprendido algo com seus companheiros de sela, que era como gostava de chamar o lugar onde havia sido criada, era a ser petulante.

– Você quer estar aqui. É por isso.

– Oh! Obrigada, A.C. – Sorriu forçadamente – Não sabia que vocês da S.H.I.E.L.D. eram tão... Condescendentes?

– Diga por você. – A resposta não veio de Coulson. – Desde quando consta nos protocolos pra atacar alguém da própria equipe?

– Não consta. – Respondeu serenamente.

Ward fechou os olhos. Por um momento Skye achou que ele fosse gritar, ou explodir ali mesmo, jogando seus miolos por toda a sala de detenção, que eles chamavam de “sala de interrogatório”. Ele fechou os punhos com força, e deu um longo suspiro. Ele fizera aquilo durante todo o tempo em que a interrogara. Talvez aquilo fosse uma mania que carregava durante anos, ou algo adquirido por causa da profissão.

– Sinto muito interromper o interrogatório – A porta da sala abriu-se mais uma vez.

Uma mulher, que parecia ser não muito mais velha que Skye, trajando uma espécie de macacão com o logo da S.H.I.E.L.D, colado ao corpo, que era muito bem feito diga-se de passagem. Tinha cabelos negros na altura nos ombros, e uma pele clara. Com olhos repuxados. Era a Xing-ling da equipe.

– Bem... – Acrescentou olhando para Skye e Ward – Seja lá o que isso seja. – Voltou a olhar para Coulson – Vamos pousar em cinco minutos. – Pousar? Ele acenou com a cabeça ela saiu.

– “Seja lá o que isso seja” – Tentou imitar, sem sucesso a voz da mulher – Qual é a da Xing-ling?

Coulson morto vivo, que parecia ser o líder da equipe, lançou à Skye um olhar de repreensão. Mas ela se limitou a rir e, para sua surpresa, foi acompanhada em sua risada. O agente Ward, que ainda estava em seu colo, gargalhava abertamente. E aquilo o tornava ainda mais bonito e, de certa forma, encantador.

– Olha só, o Sr. Robô tem senso de humor – Brincou mexendo em seus cabelos. Em resposta ele parou de rir e afastou-se bruscamente. Levantando-se e indo para o outro lado da sala, para longe de Skye. – Ou talvez não.

– Não. – Confirmou de forma dura.

– Vamos pousar em 3 minutos. – Pousar? Estamos em um avião. Concluiu. - Vamos. – Coulson levantou-se da cadeira e abriu a porta. Ward foi o primeiro sair. Ela continuou onde estava. Sentada no chão. Tentando organizar os pensamentos.

Primeiro ela estava em sua vã. Hackeando o sistema da S.H.I.E.L.D. Ela sabia que, se fizesse aquilo, de modo que deixasse rastros, eles iriam atrás dela. Era o que queria. Mas teve que admitir que a rapidez com que chegaram a impressionara. A porta da vã sendo aberta bruscamente por um agente que ela pôde reconhecer. Coulson. Ele havia lutado na batalha de New York, com os Vingadores. Mas ele havia morrido. Sabia disso, tinha hackeado o sistema da S.H.I.E.L.D. duas vezes antes, e acessado a ficha de todos os envolvidos com o projeto Os Vingadores.

Depois, um saco preto sendo colocado em sua cabeça. E uma grande escuridão. Quando acordou, estava sentada em uma cadeira. Numa sala que seria completamente escura, se não fosse a única lâmpada que ficava no centro. À sua frente uma mesa de vidro, grande de mais para somente as duas cadeiras que ficavam ao seu redor.

Na outra cadeira, um homem. Olhava-a friamente. Sua boca em uma linha rígida. Abria e fechava os punhos. Ele parecia azedo. Do tipo “Oi, sou sem vida própria e felicidade, e vou sugar toda a alegria existente em você”. Entretanto, possuía uma beleza que contrastava com seu jeito carrancudo e lhe dava certo charme. Ficou olhando-a por longos minutos e nada disse. Até que ela decidiu quebrar o silêncio. Ele conseguia ser mais desprezível enquanto falava. Seu jeito robótico causava náuseas. Ninguém poderia ser assim, poderia? Bem, talvez ele pudesse.

– Vamos. – Olhou para a porta ainda aberta, e o agente morto vivo que a esperava.

– Pra onde? – Perguntou.

– Pra um lugar que você vai adorar. – Sorriu e estendeu a mão para ajuda-la a se levantar.

Caminharam por um corredor escuro, não tanto quanto a sala em que estavam. Haviam algumas lâmpadas no teto do corredor, que possuía mais 3 portas além da porta da sala de interrogatório. Chegaram a outro corredor, mais claro, com algumas outras portas, e depois estavam em uma ampla sala com computadores e equipamentos de última geração, aquilo parecia o paraíso.

Agentes Xing-ling e Robô estavam lá, um ao lado do outro, observando os dois, não poderia dizer qual era o mais carrancudo. Pareciam perfeitos um para o outro. Haviam mais duas pessoas na sala. Uma mulher e um homem. Sorriam e cochichavam um para o outro. Provavelmente, eram namorados, mas pararam de fazer o que faziam assim que viram Skye.

– Agente May, nossa piloto. – Coulson apontou para a xing-ling. – Agente Ward, resignado para as operações em campo, mas você já conhece. – Ele sorriu. Ward continuou em seu aspecto robótico assustador – E esses são FitizSimmon, nossos cientistas.

– Awn, que gracinha, vocês tem o mesmo nome! – Skye falou, ironicamente.

– Não! – A FitzSimmon se pronunciou – Ele é o Fitzz

– Ela é a Simmon. – Fitzz disse.

– Sou Skye. – Sorriu. De todos que conhecera daquela equipe, aqueles dois, foram com quem mais simpatizara.

– Prazer. – Falaram juntos

– Bem, agora que já se conhecem - O agente Coulson começou em tom formal - Precisamos de você, Skye.

– Precisamos? - Ward indagou, sem esconder sua surpresa.

– Precisamos. - May xing-ling respondeu, sem esconder seu desagrado.

– Eba! - Skye exclamou surpreendendo todos - Já vi que nosso trabalho juntos vai ser super animado.

– Então você aceita trabalhar conosco. - Concluiu morto vivo.

– Não acho que eu tivesse escolha - Sorriu - Mas de qualquer forma, adorei o Sr. Robô aí, tenho a impressão que vamos nos dar muito bem - Gargalhou e piscou para ele.