Falando de Flores escrita por Arabella


Capítulo 12
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Olá, marshmallow (preciso parar de assistir HIMYM? SIM) tudo bem com vocês?
Eu tô ótima, sabe por que? FDF tá chegando as 1000 visualizações e tô com o coração cheio de orgulho. Mas bem que podia rolar uns comentários de vez em quando né? Prometo que quando chegar a 1000 eu faço POV de quem vocês quisereeeeem.
Tô enrolando demais, esse cap não é um dos melhores não, ele é mais pra explicar o que a Valentina pretende fazer da vida.
Pra quem não viu, criei um tumblr para minhas fics ( http://marefics.tumblr.com/ ) aqui você vai encontrar sinopse e links pra leitura delas. Também comecei a postar minha primeira fic de ficção, As Últimas Norn, que fala sobre duas gêmeas que vivem na islândia e bla bla bla deixo a sinopse nas notas finais.
Criei um grupo no facebook para os leitores de AUN e FDF, pra você ficarem alertas as att, novidades e me ajudarem em algumas dúvidas https://www.facebook.com/groups/660767573991909/?fref=ts
Agora vai lá ler, vai. Só não esquece de comentar!



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“Só odeia a estrada quando sente saudade de casa”

Passenger (Let her go)

]Acordei do lado do Jake Bugg. Ele cantava no meu ouvido enquanto minha cabeça estava enterrada em seus longos cabelos.

“High on a hashpipe of good intent”

O Jake Bugg tem cabelos longos?

Tomei coragem e abri os olhos, os longos fios, grande parte em minha boca, eram da minha prima, não do cantor folk.

Me levantei sonolenta e fui na direção do banheiro. Notei que todos os quartos estavam fechados e em silêncio total. Quantas horas são? , me perguntei. A pequena janela do banheiro mostrou que ainda estava tudo escuro lá fora. Tomei um banho demorado, fiz cachos no meu cabelo, a maquiagem básica de sempre – pó e a mistura mágica de rímel, lápis e sombra que deixam meus olhos muito pretos, como a minha mãe odeia – e voltei para o quarto.

Ouvi a voz da minha mãe e a de Vicente no primeiro andar, eles deviam estar tomando café. Bati na porta do quarto do Guilherme e disse que ele se atrasaria se não saísse logo, instantes depois ouvi movimentação que indicava que ele havia se levantado. Entrei no quarto do meu irmão mais novo e procurei o uniforme dele dentro do armário. Separei sua roupa e o tênis e coloquei sobre o criado mudo do lado da sua cama. Tirei a franja loira da testa do menino e o sacudi levemente.

– Bom dia, anjo! – falei. – Tá na hora de acordar, chico, vamos!

Lucas abriu os olhos lentamente e deu um sorriso e disse que em 5 minutos se arrumava. Beijei sua bochecha e voltei finalmente para o meu quarto.

Desperta, chica! – cantarolei procurando meu uniforme. – Tienen media hora para salir de casa.

– Meia hora? – Uma Olívia sonolenta perguntou. – Me dá mais cinco minutos, mãe – pediu.

– Fique aí, vou comer que estou morta de fome. Mas se demorar te largo aí. – avisei.

– Uh-hum.

Já vestida – ainda com aquela calça larga, pois meus joelhos não agüentavam algo muito apertado – entrei na cozinha alegre. Por que todo o bom humor? Eu tinha um plano para botar em andamento, um plano de verdade que eu tinha montado detalhadamente no banho. Nada como o de Liv de fazer o Felipe se apaixonar por mim, algo sério que acabaria com todos os meus problemas.

– Buen días.

– Que bom que já acordou, filha! – Minha mãe falou.

– E aí, Valentina? – forcei meu melhor sorriso para o Vicente que bebia o leite direto da caixa. Tenho que começar a marcar todas as coisas que ele põe a boca.

– Está de ótimo humor assim por que? – minha mãe quis saber.

– Ah, mãe, você sabe... – tentei desviar – Foi bom ter a Nanda e o Felipe de novo. – peguei uma torrada.

– Imagino. Foi muito lindo ver vocês juntos. E o Felipe tá um gato, não é? – ela disse e piscou pra mim. – Pena que tá com aquela Maria Bárbara. – voltou sua atenção para o café em sua xícara.

– Tenho certeza que a Valentina consegue tirar ele dela rapidinho. – Vicente comentou me fazendo revirar os olhos.

– Me passa a geléia?

Ele esticou a mão e me entregou, ofereceu o seu leite, mas achei melhor recusa, por que bem...

– Ana, seu pai disse que você tinha parado de dançar depois do acidente e ontem tomei a liberdade de pegar fichas de inscrição na academia, acho que seria um bom recomeço – ela disse a palavra acidente com a voz mais tranqüila do mundo. – Você dançava tão bem!

– Claro, mãe. Será que já posso começar hoje? – perguntei pegando as fichas. Quanto mais animada e mais de acordo você ficar, mais fácil dela acreditar.

– Seria maravilhoso! – ela bateu palmas animadamente – É só me entregar a sua escolha que te matriculo quando for no pilates, agora ás 10. E não se esqueça que prometeu que trabalharia na assistência aos alunos. Não pense que eu esqueci, viu, mocinha? Já te botei na equipe e seu turno é das 5 ás 7. Hoje, quarta e quinta. Deixe suas segundas e sextas livre que vamos te matricular na aula de piano mais tarde.

Ela se levantou deixando eu, meu querido padrasto e o amado leite dele sozinhos na mesa. Disse que ia se arrumar e que nos levaria para aula hoje. Olhei as danças que a academia ensinava e os horários. Zumba. Com certeza, eu e um bando de mulheres da terceira idade. Ballet.Voltei a ter 8 anos, mãe? Aí achei: Street Jazz. Era o que eu fazia antes do que a minha mãe se referiu como “acidente”. Um jazz com mais pesado, ou um hip hop clássico. Preenchi os dados que pediam e coloquei a ficha debaixo da bolsa da minha mãe para ela não se esquecer.

Vicente fez algum comentário sobre como as dançarinas de jazz são sexy que preferi ignorar. Cruzei com meu irmão e a Olívia prontos na escada e avisei que só precisava pegar minha mochila. A primeira coisa que fiz ao entrar no quarto foi conferir se a janela da casa ao lado estava aberta, e, como era de se esperar, estava á espera de um louco para invadir. O quarto estava vazio, mas a mochila sobre a cama indicava que Daniel ainda não tinha saído de casa.

Sabia que era algo arriscado, seria uma queda e tanto, mas mesmo assim sentei na janela e me estiquei ao máximo. Como eu havia reparado na noite passada, nossas janelas eram mesmo coladas.

Provavelmente você está me achando uma maníaca e deduziu que simplesmente entre no quarto dele, mas não, só me inclinei o suficiente para deixar um bilhete sobre sua cama que era encostada na janela.

“Juke box Hero (Foreigner)

– A. V.”

– Vamos, Ana! A gente tá só esperando você. – Guilherme gritou da principal.

– Tô indo! – respondi enquanto voltava para dentro e trancava minha janela. Desci correndo as escadas prendendo meus cachos em uma fita verde. Se eu ia fazer aquilo, ia fazer bem feito.

– Fita legal – Maria Bárbara comentou encostada no portão principal da escola na saída – Te deixa mais madura. Já vai poder entrar em filme com censura... de dez ano.

Revirei meus olhos e conferi as horas mais uma vez. Eu estava andando em círculos esperando meu irmão fazia quase 15 minutos. Isabella estava conversando sobre as novas edições do mangá da Sakura cardcapture com o Henrique enquanto a Bárbara falava sobre esmaltes ou coisa assim com outras meninas que eu não conhecia. Daniel estava do meu lado, com as mãos nos bolsos do casaco e encostado na parede com os fones de ouvido no ultimo volume. Uma hora ou outra ele os tirava para responder alguma garota atirada que ia lá falar com ele. Os outros já tinham ido embora. Era 10 para as duas e hoje não tínhamos aula no período da tarde, então estavam todos loucos para vazar. Isso porque era só o segundo dia de aula.

Daniel, que tinha rido do comentário da menina que me odiava, falou:

– Você vai acabar fazendo buracos no chão, porque ao invés de gastar a sola do sapato não vai atrás do Guilherme?

O encarei pela milésima vez no dia. Ele usava vans pretos, uma calça surrada e escura e o mesmo boné azul escrito “Queens. NYC” do dia passado, tampando grande parte do rosto e deixando seus olhos – que hoje estavam um azul intenso – visível apenas quando ele levantava o rosto.

Revirei os olhos e me levantei na ponta dos pés a procura do meu irmão naquele mar de gente. Nada.

– Me diz uma coisa, é um tique nervoso ou uma reação que provoco em você? – ele perguntou, sorrindo com o canto a boca.

– O quê?

– É, no mínimo, a quinta vez que você revira o olho desde que o sinal bateu. – explicou.

Por instinto, revirei os olhos mais uma vez. Tentei evitar, porém era mais forte do que eu. Ele riu e eu estava pronta para respondê-lo quando escutei meu nome.

– Vamos. – Guilherme falou passando o braço pelo meu ombro e me levando em direção ao mustang verde de 1970 que herdou de seu pai. – Ah, e você vem com a gente. – ele se virou para o Daniel e acrescentou.

Só então notei que a outra mão do Guilherme estava em volta da cintura da Vick. A menina da pizzaria. A irmã do Daniel.

– O quê? – Daniel perguntou sem acreditar.

– Anda logo, garoto, temos muita coisa pra fazer antes da mamãe chegar em casa! – Vick disse fazendo Daniel nos seguir.

Foi a primeira vez que olhei para ela direito. E assim, do lado do irmão, pude ver claramente as semelhanças. Ela era apenas alguns centímetros mais alta que ele, seus cabelos eram do mesmo tom preto e quase azul, os dela eram um chanel na altura do queixo. Não usava maquiagem alguma e irradiava brilho, era magra e esbelta. Seus olhos também eram azuis, embora não transmitissem a mesma eletricidade dos do irmão mais novo. Os dois tinham uma beleza natural, forte e discreta. A única diferença era que podia-se ver nos olhos dele o sofrimento. Do quê, eu não sabia, mas toda vez que o olhava nos olhos a vontade de descobrir crescia.

– Você primeiro. – A voz de Daniel me despertou do transe. Vick já tinha se acomodado no banco do carona e Guilherme botava os cintos. Percebi que Daniel segurava a porta para mim, sorri e escorreguei conversível a dentro.

– Obrigada.

– Não fique tão animadinha, isso é só uma parte do processo para você se apaixonar logo por mim e facilitar as coisas para eu poder te levar pra cama. – ele disse, cruzando os braço atrás da nuca. – Não se ofenda, eu só queria confirmar, eu só queria confirmar que isso – ele apontou para os meus olhos que tinham acabado de virar – é uma reação exclusivamente minha.

Dessa vez tampei o rosto com as mãos para evitar mexê-los novamente.

A academia era quatro quadras na minha casa, disse para minha mãe que ela não precisava se preocupar e 14:45 eu estava me alongando. A sala de jazz ficava no terceiro andar e tinha as quatro paredes cercadas por espelhos. Me olhei mais uma vez no espelho, me sentia quase nua usando aquela blusa. Ela deixava minha cicatriz visível. Minha mãe me garantiu que não era nada demais, mas também não era nada de menos. O casaco já estava dentro da bolsa para vestir quando sair. Se você já viu apresentações ou vídeos de Street Jazz, fique sabendo que não treinamos usando cuturnos nem jaquetas. Eu usava o vans laranja que ficara décadas jogado no fundo da sapateira, o short de ginástica e meia calça. Meu cabelo ainda estava preso pela fita, descalcei os tênis aproveitei que além de mim a sala só estava ocupada por um garoto alto de cabelos encaracolados que parecia ter a idade do meu irmão e tentei dançar algo para lembrar os movimentos.

A última coreografia que eu tinha feito fora de Let Her Go, do Passenger. Conectei meu celular na saída do som e nas primeiras notas todos os passos voltaram a minha mente. Dançar me deixava leve e vazia, acho que parei de dançar para me castigar. Por não merecer ficar leve e vazia. Minhas pernas e braços mexiam de forma tão natural que era como se eu tivesse nascido para aquilo. Fiz estrelas, cambalhotas, escalas. Tudo que havia ensaiado dia e noite. A melodia e meus movimentos estavam em sincronia e eu acabei tão absorvida que não reparei nas pessoas entrando na sala até ouvir aplausos.

Me estatelei no chão tomada pelo susto. O garoto loiro e alto que estava lá no canto da sala quando entrei veio em minha direção e me levantou. Olhei para as 15 pessoas que estavam sentadas no chão me vendo dançar. Como não notei elas?, me perguntei.

– Er... Desculpe, faz muito tempo que não danço e estava meio enferrujada então decidi esquentar antes da aula. – disse constrangida.

A única mulher que estava em pé, logo deduzi que fosse a professora, me olhou de cima a baixo e deu alguns passos para perto de mim. Sorriu de falou:

– Te garanto que não está nada enferrujada. É a aluna nova? – afirmei com a cabeça – Já dançava antes?

– Desde os 7 anos.

– E quantos tem agora? – perguntou desconfiada. Sete ainda, como você pensa.

– 15.

– Maravilha. Você fica ali na frente perto da barra. O resto, sabem seus lugares.

No segundo seguinte todos haviam tomado seus lugares e a professora disse que começariam com uma coreografia nova. Era Unconditionaly, da Katy Perry e me disse que, caso eu tivesse alguma dificuldade, me ajudaria depois. Acompanhei o que pude, tentando não me perder no ritmo acelerado dos demais. No final da aula, Kátia, a professora, disse que na quinta feira trabalharíamos com duplas e que seriam elas até o final do semestre, então tínhamos que escolher com sabedoria.

– Eu fico com a novata. – o garoto que observei no início da aula anunciou.

Pessoas correram atrás de pessoas, muita falação, outras pensavam bem em quem escolher. O menino, que devia ter a idade do meu irmão ou mais, veio em minha direção. Ele tinha olhos que, dependendo da luz, mudavam de amarelo para castanho, cabelos claros encaracolados e curtos. Era alto e forte. Parecia um anjo. E, por incrível que pareça, diferente da maioria dos garotos naquele andar, não parecia nem um pouco homossexual.

– Will. – ele disse, estendendo a mão. A apertei e sorri simpática.

– Valentina.

Ele deu um sorriso narcisista e cruzou os braços sobre o peito.

– Você deu um show no início, se isso é estar enferrujada, com algumas aulas tenho uma vaga garantida.

– Vaga garantida? – perguntei confusa.

– Ano que vem entro pra faculdade e só vou conseguir fazer dança se passa pela Companhia Duvivier. Você deve conhecer.

Claro que eu conhecia, Companhia Duvivier era simplesmente o sonho de qualquer dançarino. A maior academia com sede no país. Quando eu era mais nova, fantasiava minhas apresentações nela toda noite. Só os melhores entravam lá.

– Eu danço, não faço milagre. – respondi pegando minha mochila e indo em direção a porta.

– Não precisa fazer milagre, é só dizer que aceita ser minha dupla. – ele disse correndo para me alcançar.

Considerei a idéia, não tinha nada para perder, certo? Era o que eu pensava.

Disse que topava e meus horários livres. Tínhamos acabado de trocar nossos números quando uma menina com características asiáticas estacionou a moto do nosso lado.

Ela tirou o capacete e me avaliou com um olhar arrogante, virou para meu parceiro de dança irritada e gritou:

– Vamos, Will.

– Minha carona. – o garoto disse e se despediu de mim. – Até quinta, Valentina.

Acenei para o meu novo parceiro enquanto a menina na moto me encarava com nariz empinado.

Mais um princesinha, Flores? – sussurrei para mim mesma enquanto seguia para casa. Tinha quinze minutos para chegar, tomar um banho e fazer papel de salva vidas virtual.

– Mãe, eu já disse – repeti pela milionésima vez, fechando a cortina do meu quarto de toalha. –, vim o mais rápido possível.

Minha mãe estava parada na minha porta dizendo sobre como eu fora inresponsavel e que estava cinco minutos atrasada. Eu havia acabado de sair do banheiro, de toalha e cabelo pingando. Liguei o computador e botei no site da escola.

– Pronto? Só tenho que logar, será mais fácil se você deixar eu me vestir logo.

Ela olhou para mim avaliando o que eu disse, fechou os olhos, suspirou fundo começou a sair. Antes de fechar a porta disse:

– Seja cuidadosa e educada, Ana. É só ajudar se alguém pedir.

– Entendido.

Ela fechou o quarto, me vesti apressadamente e liguei o secador de cabelo enquanto tentava me lembrar o que fazer. Assistência entre alunos era um sistema que a rede da escola (sim, eu definitivamente estudava em escola de princesinha) tinha criado, onde alunos ajudam alunos em um chat individual no site do próprio colégio. A ideia era aqueles estudantes que tinha dificuldade em tal matéria, tinham algum dúvida em um dever ou tinham provas se aproximando e não estavam seguros esclarecessem suas dúvidas no tempo presente, e aqueles que tinham vergonha de pedir ajuda, os usuários eram anônimos. Claro que sempre tinha um á toa que botava um nome pornográfico e ia encher o saco da pessoa com boa vontade que estava lá para ajudar.

Ao contrario da maioria que se voluntariava como ‘professor’ durante duas horas, três dias por semana para ganhar notas em atividades extracurriculares, eu estava ali por ser filha da minha mãe. Foi uma das regras que ela impôs, junto com a de ser amiga do Vicente. A primeira eu até que aguento, mas a segunda...

Fiquei esperando por meia hora, nada vinha. Comecei a arrastar minha cadeira com rodinhas pelo quarto para tentar passar o tempo até que senti algo batendo no chão. Esqueci-me de que era o teto da sala de televisão e o Guilherme devia ter batido o cabo da vassoura. Por isso dei mais várias voltas até decidir sair do quarto e procurar algo doce.

Diferente da Olívia e das maiorias das meninas, nunca deixei de comer nada por medo do peso. Na verdade, eu comia de tudo a toda hora. Bem, menos carne, ovo, leite de empresas grandes e qualquer coisa – exceto queijo e chocolate, claro – que sacrificava ou fazia mal aos animais. Eu nunca fui fã de animais nem nada, tenho medo de cachorros desde que tentara brincar aos seis anos com o labrador do meu vizinho e ele ‘acidentalmente’ me mordeu fundo. Não gosto de vacas desde uma experiência na fazenda da família da Júlia onde uma porteira acabara aberta e um rebanho correu atrás de nós. Gosto de cavalgar, mas cavalos dão trabalho demais. Aderi a campanha contra mortes dos animais para nos alimentarmos quando meu avô meu levou ao mercado central e vi como tudo funcionada. Devia ter uns 4 anos e jurei que nunca mais cooperaria com aquilo.

Sempre tive um corpo consideravelmente bom, meus 1,60 de altura não eram só osso, já me senti diversas vezes a cima do peso, quem não se sente? Mas nunca deixei de fazer nada e nem fiz nada para mudar, não me incomodava e eu não ligava, embora tenha que confessar que naqueles últimos meses eu havia me transformado em osso e pele, era capaz do Lucas conseguir me levantar.

Voltei para o quarto com uma lata de doce de leite. Algo chamou minha atenção e levantei a cabeça o suficiente para enxergar a janela a frente. Daniel se encontrava sentado em sua cama, com as costas na janela, de modo que eu tinha visão completa do ninho de rato que eram seus cabelos pretos e cacheados. Cabelos que eu tinha que me segurar para não passar a mão. Ele mexia em alguma coisa no notebook e não devia ter notado a minha presença. Lembrei do mundo a minha volta quando meu computador fez um barulho irritante alertando que alguém me perguntara algo. Voltei a me sentar e comecei a ajudar a garota que não entendia uma vírgula do que eu dizia sobre a Guerra da Sucessão.

Em certo momento me senti sendo observada e mordi meu lábio nervosamente sabendo que ele estava olhando para mim. Se eu olhasse, eu teria que cumprimentar, certo? Mas o que eu diria? Soltei um suspiro frutado e me levantei para ligar o som. Eu usava uma blusa verde colada e uma calça larga e reta de pijama. Violent Femmes começou a encher o quarto e me senti mais relaxada, a garota do outro lado da tela estava ficando desesperada e eu repetia todas as informações para ela até ela dizer que estava começando a entender. A cada movimento do Daniel, meus olhos iam para a janela, fantasiavam ele cantando novamente para mim, me levando para aquela floricultura abandonada, sentia suas mãos na minha bochecha novamente e tive que balançar a cabeça pra expulsar a sensação de ser tomada pelo azul dos seus olhos.

Por volta das oito horas o garoto fechou o notebook e saiu do quarto, parando na porta apenas para olhar para mim. Dessa vez não me segurei e olhei de volta, ele levantou a mão e deu um aceno desanimado, balancei a cabeça em reconhecimento e só então vi que minha hora tinha dado. Desejei boa sorte para garota na prova e escutei os gritos da minha mãe me chamando para jantar. Dentre todas as coisas que fiz no resto da noite, o rosto vulnerável do Daniel não saia da minha mente. Era como se eu tivesse tatuado a expressão cansada dele na porta nos meus olhos. Sua postura era exausta e abatida, sentia como se algo tivesse acontecido. Ele estava triste e eu não gostara de vê-lo assim.

Na manhã seguinte, quando peguei meus livros sobre a mesa, encontrei um pedaço de papel com a caligrafia torta e sem assinatura. Mas também não era necessário, eu saberia de quem era mesmo sem conhecer a letra. E também não precisava dizer onde, era outra coisa fácil de saber.

“Me encontre depois da escola.

Preciso conversar com você.”


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Notas finais do capítulo

As Últimas Norn
A Islândia já foi cenário de diversos contos nórdicos, porém todos se esquecem de um pequena ilha no norte do país, onde é neve e tempestade o ano inteiro. Onde ocorrem coisas inexplicáveis. Há muito os moradores da região cansaram de se perguntar o porquê dos desaparecimentos, dos repentinos incêndios ou do clima peculiar, eles só criam novas lendas e culpam os seres místicos que ali habitam. Dentre todas as lendas, tem uma que Claire acredita mais do que tudo. Embora sua irmã viva falando e cortando todos os pensamentos que a garota tem sobre a existência de outros mundos e de magia, Claire é capaz de testar de tudo para provar que seus pais ainda estão vivos. 10 anos após a suposta perda dos pais, as gêmeas não tem ideia de quão ligadas á velha lenda estão.



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