Meu primeiro Amor escrita por Beth Goulart


Capítulo 3
Capitulo 3




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Tinha vinte anos, assim afirmavam os jornais, chamava-se Cristiana Lemos Bráz, os vizinhos garantiam ser uma moça quieta, e com um sorriso triste, sem nada que pudessem condenar na sua conduta moral. Seu sustento era mantido por um tio que morava em São Paulo, estudava filosofia. Um fascínio tomou conta de mim e eu buscava o desconhecido, como se busca a luz. Cris, era o desconhecido, era algo que não se encaixava com os suicidas comuns. Neste conflito em que me encontrava voltei à casa alguns dias depois. Ela continuava fechada. Nos fundos li a mesma tabuleta, e as palavras passaram a suar como a um convite para entrar...

E foi aí que eu num impulso quase inconsciente forcei a janela que dava para uma das peças e consegui penetrar na casa.

Tudo ali dentro estava no lugar, os móveis, os quadros nas paredes, e um cheiro de abandono no ar. Percorri as peças e cheguei ao quarto, um frio correu-me na espinha ao olhar o aspecto que ainda tinha a cama, é como se alguém acabara de se levantar, os lençóis em desordem.

Havia entre os móveis uma escrivaninha e uma cadeira de encosto alto.

Em cima quase escondida pela luz auxiliar havia uma folha dobrada.

Minhas mãos tremeram ao pegá-la, pois tinha dúvidas se tinha direitos de ali estar e de ler algo que não me pertencia. Desdobrei a folha lentamente e comecei a ler: “ Existem momentos na vida que é doloroso e que a decisão se torna difícil como de outras vezes,a uma hora de indecisões e mágoas, a uma dúvida entre o ser e o não ser, quando conscientemente mergulhamos de maneira culpável nas águas do mundo alienados a pecaminosas aventuras trilhamos os caminhos mais longos e árduos”.

Cris,01.08.60

Fiquei algum tempo parado com a folha na mão, depois a coloquei no mesmo lugar. Sem me dar conta de como tinha saído, já me encontrava do lado de fora encostado à janela que eu pulara.

O coração pulsava muito,minha cabeça latejava e saí correndo em direção a rua. Andei muitas quadras até pegar a condução que deixara em casa, pois tomava a precaução de não ir de carro para não chamar atenção dos vizinhos.

Foi uma das noites mais longas, eu me debatia entre sonhos e pesadelos... Via Cris, com uma expressão serena, e quando falava era como se suas palavras fossem música... Depois tudo mudava e a via morta, seu rosto retorcido, a multidão em volta, e u acordava banhado em suor. Pela manhã decidi que voltaria, voltei naquele dia e em todos os dias que se seguiram. Comecei a frequentar aquela casa como se fosse uma amigo que visita uma amiga. Tudo ali me falava de uma pessoa que eu sentia viva, um espírito presente.


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