Jogos Divinos - A Faísca escrita por


Capítulo 5
Katniss


Notas iniciais do capítulo

Capítulo da Autora Sama espero que gostem ;)



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Ele era estranhamente comunicativo, chegava até mesmo a ser irritante a forma como se relacionava com aquelas pessoas que não deveria conhecer. Afinal, qual é a dele? Ficava falando coisas idiotas o tempo inteiro, como se não soubesse o que estava fazendo ali. O mais insuportável de tudo era quando ele tinha a ousadia de ficar fazendo piadinhas enquanto eu realmente não estava no humor para isso. Eu jamais o vi ou ouvi falar dele no Distrito 12. Daria para aceitar sua comunicação com aqueles outros tributos estranhos, mas ele claramente flertava com a garota loira do Distrito 1, mas aquilo realmente parecia sério. Depois de ver a forma como os dois agiam um com o outro eu diria sem problemas que namoram, mas isso seria impossível, são Distritos diferentes, eles não deveriam nem dirigir-se um ao outro ali naquele momento, aquele monte de tributos com tanta afinidade era muito, muito pouco familiar. Fiquei apenas imaginando quando cairia a ficha para eles que estavam prestes a ser jogados em uma arena para matar um ao outro. No elevador, John Snow sorria sem se importar com as pessoas que o encaravam desconfiadas. Eu não o encarei, recusei-me a olhar para aquele idiota e ter que me deparar com seu pouco caso pela morte.

Nós chegamos ao 12º andar e as portas do elevador se abriram, meu choque foi imediato ao ver tamanho luxo, fui entrando devagar olhando ao redor enquanto Effie falava sem parar sobre a cobertura e sobre o quanto deveríamos aproveitar aquele lugar enquanto podíamos e então eu me lembrei de que tinha 99% de chances de que eu morresse naquela arena, meu fascínio se esvaiu e eu simplesmente desejei saber onde era o meu quarto para ficar finalmente longe daquelas pessoas.

– Que lugar legal. – disse John Snow atrás de mim, olhei para trás para checa-lo.

É claro que ele sorria daquela forma simpática como sempre, mas para mim era como se zombasse do sofrimento futuro de todos os que foram selecionados para os Jogos. O abuso que eu sentia por John Snow era tremendo, mas no fundo me sentia agradecida por ter tomado o lugar de Peeta Mellark, aquele garoto... Eu tenho uma dívida com aquele garoto e tê-lo como inimigo num campo de batalha não seria nada bom, mata-lo estaria fora de cogitação, mas deixa-lo viver ou protege-lo significaria deixar Prim sozinha nas mãos da minha mãe e da pouca caça que Gale conseguisse na floresta sem mim para ajudar. Então Peeta seria um grande problema, já esse John Snow... Ele não me parecia ameaçador, parecia apenas um idiota normal da nossa idade, se eu estivesse no meio dos Jogos e tivéssemos que lutar me seria mais fácil mata-lo do que se em seu lugar estivesse o filho do padeiro.

– Os quartos de cada um são no fundo do corredor, estejam prontos para jantarmos todos juntos. – Effie parecia animada – Mais tarde poderão explorar um pouco o lugar. Vamos lá, vamos lá!

Eu fui diretamente para o fim do corredor onde entrei pela última porta do lado direito e me tranquei lá dentro. Eu estava sem fome, mas no trem de vinda para cá Haymitch nos prometera que daria relatórios sobre os distritos inimigos e, além disso, dicas para sobreviver o máximo possível na arena, eu não poderia de jeito nenhum perder um momento em que fosse receber ajuda para voltar para casa com vida, mesmo se isso significasse ter de sentar ao lado de John Snow.

Banhei-me e vesti algumas roupas que estavam em gavetas esperando que um tributo feminino as usasse. Saí do quarto dando de cara com o garoto.

– Escuta, acho que começamos com o pé esquerdo, por que nós não...

– Você claramente zomba da morte iminente de muitos, de nós e até mesmo provavelmente da sua. O seu descaso pelo sofrimento dos distritos e dos tributos é ridículo e no mínimo infantil. Eu não gosto de você, John Snow, não se dirija a mim como se se importasse com o que penso sobre você. Apenas fique longe de mim e deseje que nossos caminhos não se cruzem na arena.

Os olhos verdes dele se arregalaram e o garoto não sorria dessa vez, o que me foi uma surpresa, pois aquele sorriso irritante jamais deixava seu rosto.

– Eu não tinha intenção de irritá-la, Katniss, eu realmente que seja minha amiga. – disse ele.

Snow estava querendo fazer amizade comigo? Que tipo de brincadeira seria aquela? Será que ele não entendeu ainda que teremos de matar um ao outro ou é simplesmente um idiota mesmo? Apenas me virei e saí andando em direção à sala de jantar.

Quando estávamos todos sentados comendo e John sentava-se ao meu lado em silêncio Haymitch começou:

– John, você me parece descontraído junto aos outros tributos. Sabe que se matarão na arena não é?

– Ham?... – ele parecia confuso, mas então sua expressão mudou e ele passou a ficar sério novamente – Ah, sim, sim, eu sei disso.

– Você é o tributo mais estranho com quem já trabalhei... – disse Haymitch olhando para John e então bebendo um gole de vinho – De qualquer forma, devo explicar a vocês sobre aquelas pessoas dos Distritos 1 e 2.

– Carreiristas, não é? – adivinhei nada animada.

– Sim, docinho, carreiristas. – disse Haymitch.

– O que são carreiristas? – perguntou John Snow.

– Estou surpreso que não saiba. – disse Haymitch – Se bem que não, de você eu espero qualquer coisa... – bebeu mais um gole do vinho – Carreiristas são os tributos que treinam sua vida inteira para os Jogos e aos dezoito anos se oferecem na Colheita e vem para os Jogos em busca de fama e fortuna.

– E eles são muito fortes? – perguntei.

– Quase sempre vencem. – disse Haymitch.

Quase sempre. – disse Effie – Não é sempre.

– Mas é na maioria das vezes. Se bem que esse ano a garota do Distrito 1 parece fraca e doce. – ele se referia à loira com quem John Snow flertava mais cedo – Mas mesmo se for uma matadora não será problema pro John. – riu o nosso mentor.

Percy sorriu de uma forma boba como se fosse apaixonado por aquela menina do Distrito 1, como era seu nome mesmo? Ah sim, Helena Chance. Eles pareciam se conhecer a anos, o que era impossível então aquele encontro dos dois era incompreensível e sem lógica alguma.

– Pare de agir como se conhecesse alguma daquelas pessoas. – falei irritada.

– Mas temos de aproveitar enquanto estamos vivos, não é? – disse ele meio hesitante parecendo nervoso – Quero dizer... Se eu for morrer quero aproveitar cada momento que tiver aqui.

– Ótimos pensamentos, John! – disse Effie sorridente.

– Valeu, Effie. – disse ele sorrindo daquele jeito simpático que eu achava insuportável.

– Lembre-se que na arena eles provavelmente tentarão te matar. – disse Haymitch colocando em sua boca um punhado de comida – Então, amanhã começa o treinamento de vocês junto aos outros tributos, prestem atenção: não mostrem suas grandes habilidades assim de primeira, pois quando vocês forem ser testados terão de impressionar os idealizadores dos Jogos, essa é a minha recomendação à vocês. No que são bons?

John voltou-se para o prato e enfiou muita comida na boca, parecia estar tentando evitar aquela conversa.

– Ouvi dizer que é boa com o arco e flecha. – disse Haymitch.

– Eu sou razoável... – falei tentando comer.

– Razoável? – perguntou Haymitch – Não é o que tenho ouvido falar.

– Eu dou alguns tiros, é a única coisa que teria para impressionar um pouco os juízes. – falei enquanto John engolia ainda mais comida, ele não parecia nada faminto alguns segundos atrás.

– E você, John? – perguntou Effie.

– Eu? – disse ele com a boca cheia.

– É. No que é bom? – perguntou Haymitch.

Ele esperou alguns segundos parado como se esperasse ordens para falar e então respondeu:

– Eu me dou bem com água e com espadas. – respondeu ele sorrindo com uma das bochechas cheia de comida.

“Água”?! Mas que diabos... As brincadeiras daquele idiota não tinham fim, ele falava como se existisse água por todos os lados no Distrito 12, adorava zombar da miséria do Distrito.

– Vamos deixar a água de lado e nos apegar à espada. – disse Haymitch entrando na brincadeira – O quanto você é bom?

– Lutei algumas vezes e me saí bastante bem com a espada, tem quem diga que sou o melhor espadachim do Aca... do Distrito. – ele corrigiu-se rapidamente.

Fiquei me perguntando o que ele iria dizer antes de se interromper e concertar a frase. E espada? Onde ele poderia ter arranjado uma espada no Distrito 13? Se ele soubesse como segurar uma espada já seria o melhor do 13, nós não temos espadas por lá! Não é algo que se possa fazer com as próprias mãos como um arco.

– Ótimo, guarde isso para si esses tempos, mexa com outras armas e se atenha a isso, esqueça a água.

Ele sorriu e fez que sim com a cabeça.

– Eu estou sem fome. – falei levantando da mesa enojada com toda a alegria daquele garoto.

– Mas você nem tocou na sua comida, Katniss. – disse Effie preocupada.

– Estou sem fome, Effie. – falei dirigindo-me ao corredor para então chegar ao quarto para tentar dormir, é claro que não tive muito sucesso.

***

Eram vestes confortáveis para que treinássemos durante o dia. Adentrei o Centro de Treinamento ao lado de John Snow e ele logo se apressou a chegar até duas garotas carreiristas que estava olhando as armas expostas, Helena Chance e outra garota de cabelos pretos que, se me lembro bem, chama-se Clarissa Lerua ou algo do tipo. Ele se juntou a elas, olhando-o bem agora, ele parecia mais despojado e descontraído do que os garotos da nossa idade, não era um típico morador do 12, parecia ter vivido na Capital desde sempre, exceto por não ter o sotaque irritante, as roupas ridículas e o ar esnobe. A garota Clarissa o ameaçou com a lança que tinha em mãos, mas tinha um sorriso no rosto e não parecia realmente tentar ameaça-lo. Ele coçou a cabeça rindo e passou o braço sobre os ombros de Helena.

– Ridículo... – falei para mim mesma e então comecei a caminhar pelo lugar enquanto os outros tributos se exibiam mostrando uns para os outros o quanto seria fácil matar qualquer um deles. Olhando ao redor deparei-me com mais daqueles “amigos” de John, a garota estranha e sombria chamada Júlia Grace e os dois garotos parecidos que eu realmente não conseguia recordar os nomes. Eles pareciam tentar convencê-la a fazer algo, ela era séria e imparcial, por alguns segundos sorriu ou riu dos dois, pareciam ter algum tipo de afinidade, pareciam conhecer-se, mas ela rejeitava toques no ombro, parecia rejeitar qualquer garoto que olhasse em sua direção. Se nós não fossemos de distritos diferentes e se uma de nós ou talvez as duas não fosse morrer naquela arena acho que teria uma mínima chance de sermos até mesmo amigas. Voltei a caminhar pelo lugar e então me deparei com algo realmente curioso: o garoto do Distrito 11 que estava com John na noite anterior ajudava a garota Rue a manejar uma adaga. Eu tinha reparado naquela menina desde que vi a Colheita do 11, tinha apenas doze anos de idade e estava ali tendo de conviver com a ideia de que estava praticamente morta. A garotinha lembrava-me na minha irmãzinha Prim, as duas não tinham nada a ver uma com a outra em aparência, mas os olhos revelavam a mesma pureza e eu tinha vontade de salvá-la daquele lugar. O garoto de seu Distrito, o tal de Nicholas parecia trata-la carinhosamente, tinha uma aparência bastante estranha principalmente para estar no Distrito 11, mas ele demonstrava afeto pela garotinha e tentava ajuda-la de alguma forma. Em minha mente imaginava se um garoto magro, pálido, pequeno e nada expressivo como aquele teria algum tipo de habilidade com armas. Esse ano os Jogos estavam confusos demais para mim.

Passei o tempo em alguns dos setores de sobrevivência e então resolvi olhar os outros tributos, Cato do Distrito 2 era monstruosamente assustador, ele tinha habilidade com quase todas as armas e tinha um tamanho considerado realmente grande mesmo para mim, fiquei imaginando o que aconteceria se Rue encontrasse aquele cara na arena, ou então o garoto magro do seu Distrito. Para a minha grande surpresa deparei-me com John Snow lutando com uma lança contra Clarissa do Distrito 2 usando uma espada, os dois pareciam ter afinidade com armas e a luta entre os dois era incrivelmente “profissional”. “Aquele é mesmo o John Snow que sorria amigavelmente a todo instante?” pensava para mim mesma, mas se eu olhasse bem para seu rosto, ele exibia um sorriso desafiando a garota que sorria da mesma forma, como se fossem rivais de alguma forma. Mais confusa ainda fiquei quando olhei no outro ringue e lá estavam a garota Júlia e o garoto magricela Nicholas lutando, ela usando uma lança e ele uma espada imensa com um uma incrível facilidade.

– Snow, maldito! – exclamou Clarissa tentando arrancar a cabeça dele num golpe extremamente rápido, porém ele era, para a minha surpresa, tão rápido quanto ela.

Eu não sabia o que pensar do que estava vendo, o mais incrível era o quanto pareciam todos eles amigos um do outro. Existia algo de estranho em toda aquela história, algo que me cheirava mal. “Abandonado pelos pais na floresta” foi o que ele disse, mas eu estava começando a desconfiar que exista mais do que isso em sua história...

– Oi. – disse uma voz feminina logo atrás de mim, eu me virei e deparei-me com Helena sorrindo para mim – Você é Katniss, certo?

Eu fiz que sim com a cabeça sem entender por que ela estava se aproximando de mim daquela forma, como se não fossemos ter de nos matar em alguns dias.

– John falou de você. – disse ela e então percebi que tinha um livro em suas mãos, ela lia sobre sobrevivência.

– Ah, é mesmo? – falei sem muito interesse.

– É, não o entenda mal, ele é lerdo daquela forma mesmo.

– Você fala como se tivesse convivido com John Snow por toda a sua vida.

– Eu sinto como se sim, digamos assim. – ela sorriu olhando para seu livro e passando para a próxima página – Foi muito bonito o que você fez pela sua irmã, oferecendo-se para que não precisasse participar.

– Não foi nada demais, você também se ofereceu.

– É, mas não foi por amor. Foi por... Por causa da minha religião, acho que dá para se dizer assim.

Estreitei meus olhos sem entender o que queria dizer, o que Deus tinha a ver com jogar-se num banho de sangue?

– Tanto não foi por amor que me ofereci e depois outra garota também se ofereceu e então tive de lutar para conquistar o posto como tributo. É ridículo, mas eu realmente feri aquela garota para vir até aqui para morrer.

Ela parecia mais sensata do que John Snow, não falava como uma carreirista e nem pensava como uma também.

– Você só a feriu. – observei – Mas normalmente o que acontece é o vencedor matar seu adversário para tornar-se tributo.

– Para que desperdiçar uma vida se ela já estava sem condições de lutar e ainda viva?

Choquei-me com aquilo que Helena disse. Era realmente uma carreirista que estava bem ali diante de mim falando aquelas palavras? Ela não tirava os olhos do livro.

– Realmente... – concordei.

– Imagino que quem olhe para mim não acredite que eu realmente derrotei aquela garota.

– Você parece... Frágil.

Ela riu enquanto passava a página, mas aquilo que eu disse não era uma piada, por que essa gente estava sempre de tão bom humor? Helena fechou o livro e voltou-se para mim novamente.

– Muito bom te conhecer, Katniss, nos vemos depois, eu tenho que ver como são as adagas da Capital. – ela se virou de costas para deixar o livro onde o achara e partira para manejar adagas.

Voltei para o setor de sobrevivência e não toquei nas armas enquanto os olhos dos idealizadores estavam sobre os tributos treinando.


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