Zachary se esqueceu de tudo quando entrou no quarto. Valentina colocara uma camisa sua e estava aninhada em meio as cobertas, fitando o nada. Moveu a cabeça lentamente ao vê-lo entrar e fez esforço para se sentar. Ele a acompanhou.

– Está vivo. – Valentina tentou quebrar o gelo, conseguindo apenas um sorriso cansado.

– Alguém entrou aqui? – Ela negou. – Vamos comer aqui mesmo, se importa? – Negou outra vez.

Valentina ignorou sua curiosidade, sabia que ele falaria quando estivesse pronto, apenas abraçou o rapaz e o deitou, pressionando seus lábios contra o pescoço dele. Zachary suspirou e passou a mão pelo pescoço dela, puxando os cabelos de sua nuca. Estava pronto para beijá-la, mas a batida na porta os separou.

A garota se envolveu nas cobertas, entretanto apenas uma senhora sorridente entrou empurrando um carrinho de comida. Ela cumprimentou o príncipe com um olhar materno, mas não conteve a surpresa ao ver a acompanhante. Saiu o mais rápido que pode, assim que Zachary se ofereceu para servir a própria comida.

– Essa que é a Madeleine. – Ele disse depois que a mulher saiu, colocando as bandejas na cama. – Minha babá.

– Parecer ser legar. – Respondeu assustada com a comida. – Não acha que é um pouco demais?

– Só queria que te mimar um pouco. – Terminou de passar geleia em uma torrada e a ofereceu para a garota.

– Antes de me mandar de volta para casa? – Esperou pela confirmação com um sorriso nos lábios, mas este sumiu quando ele não respondeu. – Zachary, o que está fazendo?

– O que estou fazendo? – Ele repetiu, incerto.

– Ontem me deixou ficar aqui. Você nunca nem me deu a chance de considerar passar a noite com você, sempre foi o primeiro a sair vestindo as roupas. Hoje me traz este café da manhã, um pouco de cada coisa que eu gosto. Eu... – Procurou palavras. – Você está tentando me deixar deslumbrada com a vida ao seu lado para eu te pedir para ficar. Não vou fazer isso.

– Não mesmo. – Ele fitou as mãos. – Não estou tentando te convencer a ficar, estou te mostrando como vai ser a sua vida daqui para frente. – Suspirou e olhou para a ruiva, que o encarava boquiaberta. – Eu sei que é ridículo da minha parte, mas a partir do momento que A Seleção começou, eu vi o risco de te perder para sempre. E vi que não poderia suportar isto.

– Não pode me forçar a ficar.

– Não posso ficar sem você! E não me importo com os motivos. Pode ser o meu corpo, a minha coroa ou-

– Não pode me forçar a ficar! – Ela o cortou com um grito. – Eu vim aqui só para ajudar os nossos irmãos, você sempre soube disto.

– E você sempre soube que eu estava disposto a prolongar esta merda até você decidir ficar. Mas não tenho mais tempo.

– Foi o seu pai? Se foi, pode me falar. Só não fala assim comigo. – Valentina se levantou, claramente perturbada.

– Ele vai renunciar. Eu preciso estar casado para assumir o trono. E eu preciso de você para estar casado.

– Não vou ser rainha! – Gritou o calando. Sua voz se atenuou a um mero sussurro. – Não vou ser...

Zachary se levantou e a alcançou fazendo-a olhá-lo como fizera mais cedo. Limpou algumas lagrimas que escorreram pelo rosto da garota e tentou não derramar nenhuma.

– Eu disse a você. – Engoliu em seco. – Que resolveria o problema deles. Disse que só precisaria de você aqui como uma Selecionada. E mesmo assim você se inscreveu.

– Você está me assustando. – Sussurrou.

– Eu sei. Eu estou desesperado. – Largou-se de joelhos com a cabeça baixa, quando a levantou, seus olhos estavam avermelhados. – Eu te prometo que não vai ter que fazer nada a não ser sorrir e acenar. E que quando quiser se meter no Reino, eu vou te ouvir com toda atenção do mundo. Vai poder escolher os nomes dos nossos filhos e-

– Ei. – Ela se ajoelhou a sua frente e fez o mesmo: segurou o rosto dele com as mãos. – Não faz isso, Encantado. Por que não me conta o que aconteceu?

– Ele vai renunciar. – Repetiu, fechando os olhos e permitindo uma lágrima escorrer. – Eu pedi apenas que ele deixasse minha irmã e a minha mãe serem felizes e escolheu renunciar e pedir o divórcio. Eu... Eu entendo que você não queira ser rainha. Porque eu também não quero ser Rei. Mas não posso te perder, Valentina.

– E não vai. Você é o meu melhor amigo. Mas não pode me obrigar a ficar.

– Então escolha ficar. – Implorou. – Me escolha.

Valentina não respondeu, fechou os olhos e abaixou a cabeça, ele colou suas testas e segurou suas mãos.

– Por favor... Me ajuda. - Pediu suplicante.

– Você é o meu melhor amigo. - Ela repetiu entre lágrimas. - Eu sei que mais ninguém me faria feliz como você poderia, mas eu não te amo assim.

– Me da uma chance. Eu posso fazê-la se apaixonar por mim, fazê-la feliz ao meu lado, só... Colabora comigo.

– E se não conseguirmos?

– Então teremos tentando! E você vai poder jogar na minha cara que sou leviano e imaturo.

Valentina fechou os olhos e e soltou a respiração antes de responder.

– Vou me arrepender tanto disso.

– Não vai, eu prometo.

Sem dá-la chance de mudar de ideia, passou as mais por seu pescoço e a puxou para um beijo. Segurava-a firmemente, temendo sua fuga, mas esta não ocorreu. Valentina retribuiu o beijo receosa, mantendo as mãos na perna dele, que apertava vez ou outra tentando aliviar a insegurança.

Zachary puxou os cabelos da nuca da garota levemente e formou um rabo de cavalo, deixando o rosto livre para ser apreciado. Quando se afastou, ainda segurando os cabelos dela, seus olhos brilharam.

– Só não diz que me ama. - Ela pediu.

– Não vou. - Confirmou com a sombra de um sorriso. - Não sou tão submisso assim.

Valentina não pode evitar rir do príncipe. Por mais que quisesse batê-lo pelo acesso de raiva, sabia que ele não fazia por maldade. Estava desesperado, como o próprio dissera. Não poderia culpá-lo. Receber as notícias que recebera antes mesmo do café da manhã não deveria ser uma das melhores sensações do mundo. Ela mesma já havia feito algo semelhante com ele no dia do enterro do pai, mas estava tão descontrolada que mal ser lembrava do que acontecera. Contudo se lembrava bem o bastante do que sentira para saber que não poderia oferecê-lo nada mais do que sua companhia. E assim o fez durante aquela manhã.

As carícias dele a fizeram se esquecer da raiva sentida pelas palavras e logo se entregou completamente a ele, sem se importar se seria por mais uma noite ou pelo resto se sua vida.