A Lenda dos Santos de Atena escrita por Krika Haruno


Capítulo 7
Sintonia


Notas iniciais do capítulo

E o almoço continua...



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Com ajuda de Mabel e Jules, Aldebaran pós a mesa. A refeição não era nada sofisticado, como disse o próprio brasileiro, sendo estrogonofe, arroz branco e salada. Para Shaka, que não comia carne vermelha, o taurino preparou peixe.

A mesa tinha apenas seis lugares e por isso apenas Shaka, Shion, Kamus, Rodrigo, Paula e Isabel sentaram, já que continuavam a conversar. Os demais espalharam pelo sofá, pelos pufes e almofadas.

– Mas eles permitiram sua vinda para o santuário? – indagou Rodrigo.

– Perceberam que meu destino era outro. - disse Shaka. - não tinham muito que fazer.

– Deve ser muito difícil ser tirado do seio familiar.

– É... - murmurou o indiano. O conceito família para ele era estranho, já que foi para o mosteiro com apenas três meses de idade. Shaka nunca quis saber sobre sua família, pois ao mesmo tempo que fora ensinado a não se apegar as coisas terrenas, como também por não saber por onde começar. Acabou por acostumar com a solidão dos mosteiros.

Ao lado...

– Sage vivia me falando que não entendia como eu era tão responsável, já que meu mestre levava as coisas menos duramente. - disse Shion. - até Yuzuhira era responsável.

– Mesmo assim deveria ter sido um grande mestre. - disse Paula.

– O melhor.

Enquanto isso a conversa sobre arte grega continuava...

– Achei Delphos encantador. - disse Isa.

– Foi ao museu? - indagou Kamus. - Dá última vez que fui ele estava em reforma.

– Fui. Fiquei fascinada e...

Como a maioria estava espalhada pela sala, copos podiam ser vistos pelo chão.

– Está uma delicia Aldebaran. - disse Gabrielle. - você cozinha muito bem.

– Obrigado Gabe. - sorriu envergonhado.

– Pena que o moleque não está aqui, ele gosta muito da sua comida. - disse Miro.

– Que moleque? - indagou Fernando.

– Kiki. - respondeu Mu.

– Por falar nele... - lembrou Suellen. - na série ele era criança...

– Já está com vinte anos. - disse um todo orgulhoso ariano. - cresceu muito rápido.

– E onde ele está?

– No Japão Sheila. Ele está morando com o Seiya e os outros. Está no quarto período do curso de Administração pela Universidade de Tokyo. - dizia com orgulho.

– Kiki está na faculdade? Ele não vai ser cavaleiro? - indagou Heluane.

– Ele terminou o treinamento para ser cavaleiro, mas por enquanto não vai assumir a armadura de Áries, enquanto isso ele estuda e trabalha na sede da Mitsui.

Jules quase cuspiu o suco.

– Ele trabalha num escritório?? O Kiki??

– Sim. Meio período. Atena que arrumou para ele.

– Quem diria o Kiki trabalhando... - murmurou Julia. - e a Shina?

– Está numa missão. - disse Marin.

Saga vez ou outra olhava para Cris, a curiosidade era muita.

– Se não quer que ela fique ressabiada com você, pare de olhar. - disse Shura num tom bem baixo.

– Eu não estou olhando. - deu atenção a ele.

– Não?

– Não...

Heluane e Kanon seguiam num papo animado, com cada um falando mais abobrinha que o outro. Enquanto Julia e Mask conversavam em italiano.

– Pois então, pretendo ir a Roma.

– Não antes de ir a Siracusa. Faço questão que fique na minha casa.

– Sério?

– De preferência no meu quarto. - deu um sorriso maldoso.

A paulista apenas sorriu.

O restante do almoço correu bem e a sobremesa foi disputada a tapa tanto pelos brasileiros quanto pelos dourados que já haviam apreciado a iguaria.

Aldebaran juntava os pratos, com a ajuda de Mabel que se prontificou a ajuda-lo.

– Terminaram? - indagou Mabel ao aquariano e a Isa.

– Sim. - Isa aproveitou e pegou o prato de Kamus, que apenas sorriu. - obrigada.

Mabel deu um sorriso cúmplice.

– Vai fazer alguma coisa agora? - indagou o francês.

– Não por quê? - ficou surpresa. - "ele vai me convidar para fazer algo??"

– Eu separei alguns livros para você, sobre sua pesquisa. Quer ver?

– Claro. - murmurou, sem demonstrar um pouco de desapontamento, mas o que esperar de Kamus de Aquário? Um encontro? Não. Apenas um tratamento cortês. - só vou avisar as meninas.

Isa levantou indo para perto de Ester, talvez a única que não faria um alarme, sobre ela sair com Kamus. A paulista parou perto dela.

– Vou ali, não demoro. - disse.

Ester estava prestes a responder, mas Isa a cortou, fazendo o sinal de silêncio. A garota sorriu. A paulista foi até Aldebaran e agradeceu pelo almoço. Kamus levantou, indo também ao taurino, despedindo-se. Estava indo para a porta, quando Saga o parou.

– Está indo embora? - indagou.

– Sim.

– Eu vou com você. - disse, para depois perceber que Isabel caminhava para a porta. - vou na frente.

– Por que...? - Kamus indagou sem entender.

Ficou sem resposta, pois Saga apertara o passo. Kanon notou a movimentação do irmão, despediu-se de Deba e foi atrás dele.

Miro sendo cavalheiro, levou os pratos dele e de Marcela. Aproveitou a deixa para despedir-se do cavaleiro, voltando para perto da brasileira.

– Já conhece o lago?

– Aqui tem um lago?

– Sim. Vem.

– Aposto que é um lugar isolado. - fechou a cara.

– Lógico, acha que te levaria para um lugar cheio de pessoas? - indagou, para depois dar um sorriso safado. - se bem que seria interessante no meio de muita gente. - disse no ouvido dela.

– Miro...

– Eu sou um safado.

– Com que frequência?

– O tempo todo...

Os dois trocaram um sorriso cúmplice.

– Você não presta, mas eu também não. Vamos.

Heluane aproximou de Julia e do italiano, mas sem olha-lo, ignorando-o.

– Vou subir, vamos?

– Sim.

– Eu vou com vocês. - disse Mask.

Heluane o fitou sério.

– Cara feia para mim é fome, se bem que no seu caso deve ser dor de barriga, pois comeu duas vezes.

– Vá para a put$%&@.

– Helu... - murmurou Julia. Era só provocação.

– Alguém já te disse que é muito grossa?

– Devolvo a pergunta. - disse cínica.

– Ainda vou colecionar a sua cabeça. - segurou o queixo dela. – se bem que sua cara deixaria minha coleção feia.

O sangue da fluminense ferveu, mas antes que ela abrisse a boca Shura apareceu.

– Vamos embora Mask.

– Ok. - soltou Heluane, olhando para Julia. - vai para o templo?

– Sim... - murmurou.

– Por favor. - estendeu-lhe o braço.

Julia ficou sem saber o que fazer. Queria dar o braço a ele, mas Helu estava do lado e principalmente Shura. O que o cavaleiro pensaria dela?

– Vem logo. - Mask praticamente a puxou, sob o olhar incrédulo de Helu e impassível de Shura.

Heluane foi bufando atrás. Daria uma lição naquele sujeito, ah se daria...

Ester acompanhava o "pequeno" atrito entre a amiga e o canceriano. Mu aproximou.

Estava um pouco sem jeito, pois não sabia como perguntar e receber um não, como resposta.

– Ester... - tocou no braço dela.

Ela o olhou.

– Quer passear por aí? Claro se você quiser...

– Eu quero...

Os dois levantaram saindo.

– Vamos embora Suellen. - disse Cris. - Estou vendo que estamos sobrando...

A pernambucana olhou para os lados a procura de Kanon, não o viu.

– É estamos sobrando. - levantou. - vamos levar aquelas travessas para a cozinha e subimos.

– Certo.

Escadaria que leva a Gêmeos...

Mask continuava segurando o braço de Julia seguindo na frente. Shura estava atrás e depois Heluane. O capricorniano olhava fixamente para os dois. Mask deu uma olhada de rabo de olho, dando um leve sorriso.

– Shura. - parou de andar. - a Julia estava me contando que adoraria ver a estátua de Atena entregando a Excalibur.

Julia o fitou arregalando os olhos.

– Mostre a ela.

Shura arqueou uma sobrancelha.

– Não gostaria de ver Ju? – Mask a fitou com um sorriso cínico.

– Cla-ro.. " como ele gosta de me colocar em saia justa."

– E então? - Mask fitou o espanhol.

Shura voltou a andar e quando passou por ela...

– Venha.

Disse frio e por conta disso Julia achava que não deveria aceitar. Na certa, para ele, aquilo seria uma chatice.

– Quem sabe outro...

– Venha logo. - a interrompeu, mas sem olhar para trás.

– Vai logo Julia. - Mask a empurrou.

– Giovanni! - ralhou.

Ele apenas deu uma piscadinha, deixando-a vermelha. Ainda deu um sorriso lavado ao ver a expressão de Shura para ele.

O.o.O.o.O

Kamus e Isabel passavam pelas casas, numa conversa animada sobre arte francesa. O aquariano, acostumado, não sentia os efeitos da subida, já Isa estava cansada.

– Deve ser duro subir isso todos os dias. - disse.

– É questão de costume. Quer parar um pouco?

– Por favor.

Pararam entre Sagitário e Capricórnio.

– Eu não aguentaria subir todos os dias.

– Eu pensava assim quando cheguei ao santuário, hoje considero a distância normal.

– Veio com quantos anos?

– Com sete. Podemos continuar?

– Claro.

Kamus não acrescentou mais nada e Isa achou melhor não entrar no assunto, voltando para o tema de arte francesa. Minutos depois chegaram a entrada de Aquário. A brasileira sentiu na hora a mudança de temperatura.

– Quer que aumente?

– Não precisa. - sorriu. – “qualquer coisa me esquento com você.” – pensou.

O cavaleiro a conduziu para o interior da casa, andaram por alguns segundos, até pararem na porta de madeira que levava a área privativa da casa. Kamus abriu dando passagem para Isa. A brasileira ficou impressionada. Não era muito diferente da de Touro, com sala e sala de jantar conjugados, contudo a decoração era toda clássica, com diversos objetos de arte e quadros. Na primeira parte um sofá de três lugares na cor creme, ao lado dele duas cadeiras de madeira com estampas florais. Um tapete marrom claro estava sobre o piso em madeira clara. Uma mesinha de madeira no centro era o local onde um vaso descansava. A sala de jantar tinha uma mesa de vidro e pernas em madeira. O estofado das cadeiras combinavam com o do sofá. O teto era de gesso e sustentava um belicismo lustre de cristal. As janelas eram encobertas por uma cortina marrom glacê. As paredes eram brancas.

– É por aqui.

Entraram num corredor e ela contou cinco portas, sendo uma ao fundo.

– "Deve ser o quarto dele, um de visitas, banheiro e cozinha."

Kamus parou na penúltima, abrindo-a.

Isa arregalou os olhos. Nem eu seus mais loucos sonhos, imaginava que Kamus teria uma biblioteca como aquela. O cômodo tinha um tamanho médio e era oval. Em toda extensão da parede, prateleiras de madeira repletas de livros. Apenas numa parte, uma janela grande, toda em vidro fazia a iluminação. Num lado uma mesa de escritório em madeira, no centro uma mesinha e ao redor dela um sofá meia lua, num azul bem claro e duas cadeiras. Um tapete completava a decoração e pelo jeito do tapete Isa supôs que ele deveria ser bem caro. Ela ergueu o olhar ficando ainda mais surpresa. O cômodo tinha dois andares, o acesso era feito por uma escada em espiral. No andar superior, mais prateleiras de madeira e milhares de livros. O beiral também em madeira e no teto um lustre de cristal.

– Sua biblioteca é simplesmente fantástica!

– Obrigado.

– Quantos livros têm?

– Mais de mil. Herdei muitos livros de Dégel. Sente-se. - mostrou-lhe o sofá.

Isa ficou com pesar em pisar no tapete e quando sentou no sofá, soltou um suspiro. Era muito macio.

– Que delicia de sofá.

– Miro o que diga. - foi até a mesa, pegando três livros. - acho que pode começar por esses três. - a entregou sentando perto dela.

Isa abriu o primeiro, dando uma folheada. Kamus fitava-a, era a primeira mulher que conhecera que se interessava pelos seus livros. Não que tivera muitas namoradas, mas as poucas, duas e que não passavam de rolos, como diria o escorpião, não apreciavam tanto sua biblioteca.

Isa sabia que ele a fitava, mas não se atrevia a olha-lo.

– Vai me ajudar muito. - disse abrindo o segundo.

– Que bom. Se quiser tirar xerox de alguma parte, eu tenho uma multifuncional.

– Vou usar mesmo. - o fitou sorrindo.

– Que beber alguma coisa?

– Água se possível.

– Não demoro. - disse saindo.

Quando Kamus fechou a porta, Isabel soltou um suspiro relaxando. A presença do aquariano a deixava tensa, não que tivesse medo dele, mas ele tinha uma carga misteriosa tão grande e tão senhor de si, que pela primeira vez sentia-se intimidada. Claro que gostava disso, afinal esse era o motivo de gostar tanto dele: sua presença forte.

Dissipando tais pensamentos, reparou novamente na biblioteca. Sempre imaginou que a casa de Aquário teria moveis e decoração mais clean, modernista e em tons frios como azul, branco e cinza, no entanto era oposto. Seu estilo era clássico e em tons quentes como o marrom e o dourado. Achou aquilo um máximo.

Minutos depois Kamus voltou trazendo uma pequena bandeja.

– Obrigada. - Isa pegou o copo.

– Espere.

O francês tocou a parte de baixo do copo com o indicador. Isa arregalou os olhos, ao ver o copo congelando.

– Uau... - murmurou.

– Está gelada.

– É incrível o seu poder.

– Obrigado.

Ela bebeu dois goles, depositando o copo na bandeja.

– Esses livros são ótimos. Posso copiar algumas páginas?

– À vontade.

O.o.O.o.O

Mask ficou olhando Shura e Julia até eles sumirem.

– Interessante...

Sentiu um olhar sobre si.

– E você, pingo de gente? Não tem nada para fazer?

Aquilo foi a gota d'água. No impulso, Helu ergueu a mão, prontamente segurada pelo italiano.

– Atrevida.

– Você é um estúpido!

– Modere a língua. - aproximou do rosto dela. - ainda não descartei a ideia de colecionar sua cabeça. - o olhar dele era frio, beirando a assassino.

Helu ficou apreensiva, mas não demonstraria que estava com pouco de medo.

– Eu não tenho medo de você.

– Deveria.

– Conto tudo para Atena. Quero ver ficar com essa pose toda na frente dela. - o olhou desafiante.

– Não brinque comigo garota. - apertou o punho dela para machucar.

– Já disse que não tenho medo de você.

– Quer uma prova do que sou capaz? - sorriu cinicamente, vendo a mão dela ficando roxa. - vai se arrepender por ter passado pela barreira.

Depois de dizer isso os dois sumiram...

A escuridão predominava, foi tudo tão rápido que Helu ainda processava a informação. Segundos antes estava no pátio da casa de Touro e agora estava ali, naquele lugar escuro, sombrio e gélido. Abraçou-se para conter o frio e para evitar tremer, já que era claustrofóbica.

– "Que porra de lugar é esse?" – não via um palmo a frente.

Deu um pequeno passo, sentido que pisara em algo, quebrando, pelo tom seco que produziu.

– Seu filh@#$% que lugar é esse?

O silêncio foi sua resposta. Helu começou a sentir calafrios e uma péssima sensação. Um cheiro esquisito e uma solidão que parecia encobri-la. Fora a escuridão, os olhos encheram de água. Estava em pânico. O coração disparou e sentia que em algum momento iria desmaiar.

– "Que lugar é esse...?"

– Que saber que lugar é esse? - escutou uma voz perto da orelha.

– Ahhh! - gritou dando um salto.

Seus pés pisaram em algo, produzindo o som de estalos, logo em seguida uma risada.

– Quem está aí? - devido a escuridão não sabia para onde olhar e aquilo a deixou temerosa.

– Adivinha...

Tochas foram acesas. Helu protegeu os olhos com a mão por causa da claridade e do calor, quando eles acostumaram, abaixou a mão...

– AHHHHHH! - deu um grito de pavor. - Por Deus!!!

O local que estava, deveria ter uns vinte e cinco metros quadrados. As paredes e o teto eram de pedras, mas o que deixou a brasileira assustada era o fato de haver inúmeras faces de homens, mulheres e crianças no teto, nas paredes e no chão. Ela olhou para baixo, retirando o pé assim que viu que pisava num rosto. E não eram máscaras, eram rostos mesmo, como se estivessem sido mumificados.

– Não se preocupe, ele não se importam.

Ela ergueu o olhar, vendo Mask encostado numa parede fumando um cigarro.

– Que lugar é esse?

– O subsolo da casa de Câncer.

– E... esses rostos...?

– Lembra de como era a casa de Câncer quando o Dragão a invadiu? É uma parte da coleção.

– Mas... mas... - lembrou do episodio. - quando você morreu elas não sumiram?

– Só aquela parte. Havia cabeças no subsolo e em cima. As de cima foram levadas.

Heluane ficou com medo, jamais imaginaria que o cavaleiro ainda mantinha a sua "coleção". Uma coisa era ver na TV outra era ver ao vivo, e não eram de mentira e até tinha rostos de mulheres e crianças.

– Você é cruel.

– Não tanto como eu era, afinal desde que Atena nos trouxe a vida, não matei ninguém. Essa coleção está do mesmo jeito de quando os bronze invadiram o santuário.

– Como pôde matar crianças?

– Elas estavam no meio. - disse apagando o cigarro. - não deu para evitar. - disse simplesmente.

– Não deu? - o fitou com ódio. - como pode ter o sangue tão frio?

– Tendo. - jogou o cigarro fora. - não sou santo, nunca fui e nunca serei. - caminhava lentamente até ela, seu olhar era glacial. - então se continuar sendo atrevida, seu rosto ficará pendurado aqui.

– Não teria coragem.

Ele gargalhou e a brasileira ficou com medo. Com um sorriso sarcástico, parou a poucos centímetros de Heluane. Ela encolheu ao tê-lo tão perto, tinha a sensação que sua alma poderia ser arrancada a qualquer momento e não era no sentido literal!

– Sua vida é como dessas pessoas, não representa nada. Se eu quiser, sua vida termina agora.- segurou o pescoço dela, mas sem apertar.

– Mas tem Atena... - a sensação da mão dele envolta em seu pescoço era aterrorizante.

– Acha que não tenho meus métodos para sumir com alguém? Não está lidando com um amador Heluane e sim com Máscara da Morte. Se arrumar uma morte para alguém, já está no meu sangue mafioso, o que dirá sendo cavaleiro. - colocou um pouco de força.

Helu sentiu os olhos enxerem de água, não demoraria a chorar, mas segurou. Não poderia demonstrar que estava apavorada.

O cavaleiro notou medo nos olhos dela, ao mesmo tempo orgulho. Ela era do tipo de pessoa que não abaixava a cabeça. Gostou disso. Era sempre mais interessante enfrentar pessoas corajosas. Aproximou ainda mais a ponto de sentir a respiração descompensada dela. Não podia negar que ficara excitado, o medo misturado com a arrogância atiçava seus instintos.

Heluane continuava imóvel, queria sair correndo, mas algo a prendia. Medo? Talvez, pois tinha a plena consciência que se ele quisesse mata-la faria sem pudor. Atração? Era loucura pensar nisso, mas estava atraída por aquelas iris azuis sádicas.

O canceriano tirou a mão aproximando ainda mais tocando os lábios dela, aproveitando que ela estava com a guarda baixa, prendeu os dois braços dela atrás, segurando-os com força. Helu nem teve tempo de pensar nos braços presos, pois o italiano a beijou de forma bruta. Ela queria se afastar, mas os lábios deles eram bastante atrativos.

O.o.O.o.O

Durante todo o trajeto de Touro a Capricórnio foi feito em silêncio. Julia até tentou conversar, mas foi desencorajada pela face fria do espanhol.

Já dentro da décima casa, Shura parou no meio do salão.

– Está com sede?

– Um pouco.

– Me acompanhe.

Eles dirigiram para a porta que dava acesso a área restrita.

– Entre.

– Com licença.

Julia ficou impressionada com o que viu. A porta dava numa longa escadaria entre as paredes. Shura seguiu na frente. Ao final dela, a brasileira percebeu um longo corredor, em que no seu lado direito tinha parede e no esquerdo uma área aberta. Constatou que era uma varanda, que dava para o salão principal de Capricórnio.

– Não sabia que essa casa tinha dois andares.

– O primeiro é onde ocorre as batalhas, o segundo é moradia. Venha.

Andaram alguns passos até pararem diante de uma porta de madeira. Shura a abriu dando passagem a garota que ficou surpresa. A sala tinha dois ambientes. A esquerda de quem entrava ficava a sala de estar com dois sofás cinza claro um de frente para o outro, tendo no meio uma mesinha branca. Do lado oposto, a sala de jantar com uma mesa com tampa de vidro e pés metálicos com seis lugares. Paredes pintadas de branco, assim como o piso. Bem diante deles um corredor. Shura seguiu por ele com Julia indo atrás. Percebeu que havia três portas. Duas a esquerda e uma a direita. O corredor dava numa cozinha que diga-se de passagem era linda. Não era muito grande. O piso era branco, na parede ficava os armários, listras em três cores: branco, cinza e marrom claro, as demais paredes num creme. Os armários eram todos pretos, com fogão e cia em inox. Num canto uma mesinha de quatro lugares em madeira clara.

– Quem decorou a casa? - não se conteve em perguntar.

– Eu. - disse pegando água na porta da geladeira. - depois que voltamos a vida, Atena reformou todas as casas, dando a liberdade para decorarmos como quiséssemos.

– Você tem muito bom gosto. Sua casa é linda.

– Obrigado. Sua água.

– Obrigada.

Julia bebeu rapidamente.

– Mais?

– Não.

– A estátua fica no primeiro andar. Venha.

Fizeram o mesmo trajeto até chegar ao primeiro andar. Pegando o rumo contrário ao da área privativa, Shura abriu outra porta de madeira. Julia arregalou os olhos ao fitar o teto. Ele era todo decorado com pinturas de anjos, cenas de batalha e homens empunhando armas. O piso era em mármore negro. Bem no centro, erguendo sobre um pedestal uma estátua de quatro metros toda feita em mármore. A figura feminina era Atena segurando com as duas mãos uma espada, a outra figura, um homem, estava ajoelhado diante dela.

– Uau... que linda! - Julia aproximou. - muito linda!

– É realmente uma bela estátua.

– Ela está aqui desde quando?

– Nem Shion sabe. A datação da estátua perdeu-se com o tempo, mas seu significado não foi esquecido.

– Atena entregou a Excalibur para seu cavaleiro mais fiel.

– Isso mesmo. - o rosto do espanhol entristeceu. Ficou aliviado por Julia está com a atenção na estátua. - desde então ela permanece em Capricórnio.

– É fascinante. - o fitou. - posso tocar?

Balançou a cabeça afirmando. Colocou a mão no pedestal, que por si só media dois metros de altura.

– Sempre tive a vontade de ver essa estátua e pensar que estou bem diante dela... me deixa muito feliz. - voltou a atenção para ele. - obrigada.

– As ordens.

Julia circulou a estátua para ver de todos os ângulos. Shura a observava.

– Por que sabe italiano? - indagou, surpreso com a própria curiosidade.

– Eu gosto da língua. Além dela sei espanhol por causa do meu pai.

– Seu pai é espanhol?

– Peruano. Julia Franco Lhanos.

– Existem muitos Francos na Espanha.

– Mas esse Franco é italiano. Sou descendente dos dois países.

Aquilo explicava muita coisa, pensou o espanhol.

– Justifica o fato de conversar com Giovanni.

– Sim. - respondia a todas as perguntas sem tirar o olhar da estátua, apesar de está feliz por conseguir estabelecer um dialogo com Esdras.

O.o.O.o.O

Suellen entrou em Gêmeos, a passos lentos. Despediu-se de Cris, pois ela queria conversar com Kanon. A mineira não se importou seguindo em frente.

– O que faz aqui?

Assustou-se com a voz.

– Que susto. - levou a mão ao coração.

– O que quer? - Kanon caminhava em sua direção.

– Será que posso falar com você um minuto?

– Fale. - parou a pouco dela.

– Ontem. Quero pedir desculpa por ter esquecido seu nome.

O grego arqueou a sobrancelha.

– Não me lembro de ter falado com você. Só com a Cristiane. - disse, passando-se por Saga.

Suellen o fitou diretamente. Será que era mesmo o Saga? Olhou nos olhos e aquele olhar era claro.

– Sem brincadeiras Kanon. - disse.

– Como sabe que eu sou o Kanon? - indagou um pouco surpreso.

– Pela sua maneira de olhar. Mas voltando o assunto. Eu sou péssima para associar o nome a pessoa. Eu sabia que era você.

– Não pensou que eu fosse meu irmão?

– Não.

Cruzou os braços sobre o peito, não muito convicto da explicação.

– Venha. - deu lhe as costas caminhando por entre as pilastras.

Suellen foi atrás. O grego abriu a porta, deixando-a surpresa. O projeto era o mesmo para todas as casas: sala de estar e de jantar conjugados, dois quartos, banheiro, cozinha e lavanderia. E em Gêmeos não seria diferente, entretanto havia três ambientes. Uma sala de estar, com pisos e paredes brancas. Dois sofás cinza claros, uma mesa de centro negra, quadros modernos em preto e branco. A sala de TV era oposta. Um grande painel de madeira escura fazia a função de estante e nela uma grande TV e objetos decorativos, um grande sofá na cor creme e naquela parte, a parede e o chão eram bege. Sobre o sofá um grande quadro da ponte do Brooklyn. Já a sala de jantar, seguia os moldes da sala de estar. Paredes e chão brancos, uma mesa de vidro com os pés negros e de seis lugares, sendo que as cadeiras eram de pano cinza claro. Um grande quadro com folhas em branco e preto.

– A sala da TV é diferente...

Kanon a fitou ferino.

– Por quê? É feio? - o rosto contraiu.

– Não. Muito bem decorado, é só... é diferente desses dois cômodos.

– Sala de estar e de jantar foi Saga que escolheu a decoração, eu fiquei com a da TV e a cozinha.

– Entendi...

– Quer beber alguma coisa?

– Não. Obrigada. Só vim mesmo me desculpar.

– Por que eu acreditaria em você?

– Porque é a verdade. Pode perguntar para as meninas.

– Te perdoo com uma condição.

– Qual?

– Responder uma pergunta minha.

– Qual pergunta? - ficou temerosa.

– Por que todas morrem de amores pelo meu irmão? A cara de culpa dele atrai mais? Pois só pode ser isso. Quando vocês entraram ontem, ficaram surpresas por nos conhecer, mas os olhares era mais para ele do que para mim. E somos Gêmeos!

Suellen franziu o cenho. Sempre achou que Kanon tivesse algum complexo em relação ao irmão, estava certa. Agora entendia o motivo dele ter ficado com raiva, ele pensava que ela achava que se tratava de Saga e não dele. Sorriu.

– Qual é a graça?

– Você com raiva.

– Eu não estou com raiva.

– Está morrendo de ciúmes do seu irmão.

– Eu? Imagina! Sou muito mais eu. - virou a cara.

– Pois deveria ser mesmo.

A fitou na hora.

– Confesso que em Poseidon te odiava.

– Por quê? - indagou indignado.

– Você levou Saga para o mau caminho.

Kanon deu um sorriso nervoso.

– É... a culpa é só minha. - disse irônico. - não diga algo que não saiba. Não sabe nem um por cento do que Saga e eu passamos.

Suellen ficou intrigada.

– Por isso digo que em Hades ganhou o meu respeito.

O rosto dele amenizou.

– Você se redimiu e provou ser um autentico cavaleiro.

– Não está falando isso para me enganar?

– O que eu ganharia te enganando? Em fim, não precisa ficar achando que é apenas uma sombra do Saga, você é forte por si só.

– Sério mesmo? - indagou não muito convicto.

– Sim.

Ele ficou calado por alguns instantes, não desviando o olhar de Suellen, que a essas horas começava a ficar vermelha.

– Então me perdoa?

– Vou pensar.

Ela riu. Kanon parecia uma criança emburrada.

– Ok. Pense e depois me fale. Já vou indo.

– Pode me responder só mais uma coisa?

– Diga.

– O que a Cris quis dizer que o olhar é diferente entre Saga e eu?

– Ela tem a sua própria interpretação. A diferença que eu vejo é no seu olhar sedutor.

– Hum...

– Poderia me dar um copo com água?

– Claro. Senta, eu não demoro.

O.o.O.o.O

Miro e Marcela saíram pela frente de Touro. Passaram por Áries até ganhar um caminho de pedras em meio a arvores densas.

– Para onde está me levando?

– Não se preocupe. Não vou te agarrar.

– Sei...

– Não te disse que te levaria até o lago? Pois então, ele fica a caminho de Rodorio.

– Eu não confio em você.

– Pois deveria, eu tenho as melhores intenções. - sorriu.

Andaram mais um pouco e então Marcela pode comprovar que ele falava a verdade. A esquerda do caminho havia um lago, não era muito extenso, mas muito bonito. Os dois sentaram na beirada, abrigados na sombra de uma árvore.

– Como aqui é lindo.

– Eu não te disse?

– Você venceu.

Ele sorriu, voltando a atenção para o lago. Uma brisa soprava aliviando um pouco o calor, e que Marcela pouco se importou. O vento balançando as madeixas azuis era a visão do paraíso. Como aquele homem perfeito poderia existir? E ainda mais está do lado dela? Miro notou o olhar.

– Se olhar tirasse pedaço, seria um toco de gente.

– Eu não tenho culpa de você ser tão bonito.

– É eu sei que sou perfeito.

– Esqueci do convencido.

Ele sorriu.

– Posso te perguntar uma coisa? - indagou a brasileira.

– Pergunte.

– Sua unha fica vermelha mesmo?

Miro gargalhou.

– Claro que sim. - ele estendeu a mão direita. Segundos depois a unha do indicador cresceu ficando vermelha.

– Caraca é de verdade!! Posso tocar?

– Com cuidado para não se machucar, o veneno em pessoas normais é fatal.

Marcela tocou a unha levemente.

– Caraca.... - murmurou. - pode ser o cavaleiro da dedada, mas é muito foda.

– Cavaleiro da dedada? - indagou contraindo a unha.

– Me desculpe, mas seu golpe é da dedada. Receba a minha dedada e sofra. Fala sério...

– Acho que você está a fim de provar a minha dedada e não estou falando em sentido figurado, nem no sentido prazeroso.

– Foi mal. - ergueu os braços em sinal de rendição. - desculpe.

Ele não disse nada, voltando a atenção para o lago.

– Você e Kamus são amigos desde pequenos? - indagou querendo mudar de assunto.

– Sim. Ele chegou uma semana depois de mim. Era nojentinho, cheio de não me toque e com aquele nariz empenado, falando fazendo biquinho.

A brasileira riu.

– Deixa ele ouvir isso...

– Ele sabe disso, cansei de dizer. Ruivo metido a sabichão. Mas sabe o que era pior?

– Não.

– Ele realmente era sabichão. Nas provas teóricas que fazíamos ele tirava sempre dez.

– Sério?

– Sim. Era o destaque do alojamento.

– E qual nota você tirava?

– Um, dois quando não era zero. Nunca gostei das aulas teóricas, gostava mais das práticas.

– Da porrada você quer dizer. - riu.

– Isso mesmo.

– Eu batia, sem dó. Kamus sempre me repreendia, mas entrava por um ouvido para sair no outro. Todos ficavam surpresos pela nossa amizade. Éramos opostos. E com todos os percalços ele se tornou meu melhor amigo, alias meu irmão. O considero demais.

– Deve ter sido difícil na batalha de Hades.

– Não imagina o quanto. Pode parecer frescurada, mas vê-lo vestido como um espectro de Hades, era como se meu coração tivesse sido transpassado por uma espada. Doeu.

– Imagino. Você pensou que ele tivesse traído Atena.

– Não apenas traição a Atena, como aos nossos ideais. Eu me senti traído.

– Entendo. Como foi o treinamento?

– Difícil... bem intenso.

Miro encostou-se no tronco da árvore, começando a contar de seu tempo como aspirante.

O.o.O.o.O

Quando chegou ao templo, Cris não foi direto para o quarto e sim para a biblioteca. Quando entrara ontem, nem tinha reparado como era ela. O teto e o chão eram brancos, várias prateleiras estavam dispostas uma atrás da outra e fileiras delas formavam longos corredores. Cada prateleira ficava dispostas entre duas colunas gregas que formavam arcos.

– Tem tantas coisas para ler... – disse em voz alta. – nem sei por onde começo.

Atrás das prateleiras principais, Saga lia um livro. Atena havia lhe pedido que fizesse uma pesquisa para encontrar uma maneira que pudesse evitar a entrada de estranhos no santuário, além de procurar uma maneira que pudesse forçar um vértice a abrir. Assim que saiu da casa de Touro foi direto para lá. O grego lia atentamente quando escutou uma voz. Tombou o rosto para ver.

– “Ela gostou mesmo daqui.”

– Quantos livros sobre mitologias... – Cristiane olhava um por um. – olha só esse...

Saga apoiou o rosto com um das mãos passando a fita-la, da posição que ela estava não podia vê-lo.

– “Isso é mania de geminiano, falar sozinho...”

– Será que tem algum livro especifico dos Olimpianos? – procurava por livros em inglês. – idiota claro que tem. Estamos num templo de Atena...

– “E de responder as próprias perguntas.” – passou a reparar nela, era alta, tinha cabelos negros ate o meio das costas. Usava ósculos. Pele negra. – “os seios são pequenos e...” – o cavaleiro arqueou a sobrancelha. - “ no que estou pensando?? ” – voltou a atenção para o livro, mas não durou muito. – “ela parece gostar de leitura...” – sorriu. – “alguém interessante para conversar.”

Cris continuava a olhar os livros até que achou um que falava sobre mitologia brasileira.

– Mitologia brasileira? – procurou por algo que pudesse usar para subir, pois o livro estava na segunda prateleira de cima para baixo. – eu preciso ver.

Achou um banco um pouco mais alto. Apoiando-se nas prateleiras subiu, contudo a altura ainda não foi suficiente. Firmando numa coluna, ela ficou nas pontas dos pés, enquanto a outra mão tentava ao menos tocar no livro.

– Só mais um pouco...

Os dedos tocaram o livro de capa verde escura, contudo ela desequilibrou. Foi tudo rápido e quando percebeu estava sendo carregada.

– Temos uma pequena escada lá nos fundos.

– Eu não sabia... obrigada. – o fitou. – onde estava?? - assustou-se ao ver Saga.

– Te vendo falando sozinha. – riu.

– Eu tenho essa mania... – ficou sem graça.

– Kanon e eu também temos. – a soltou. – não se machucou?

– Não. Fui salva por um legítimo cavaleiro de Atena. – sorriu. – ainda é difícil de acreditar que vocês existem.

Saga ficou sério, ela percebeu.

– Desculpe.

– O que Kurumada escreveu foi apenas uma parte das coisas que eu fiz. – disse.

– Como assim?

– É melhor sentar, a história é longa.

Em uma parte da biblioteca havia um pequeno sofá, com uma mesinha. Ele a conduziu sentando lado a lado. Saga esfregou as mãos no rosto.

– Kurumada disse que Aiolos salvou o bebê de um ataque meu e que depois enfrentou Shura e por está muito ferido, apenas conseguiu entregar o bebê para o Naruhito Mitsui.

– Sim.

– Eu matei Aiolos. Quando Shura o acertou ele realmente caiu no penhasco, mas não estava tão ferido quanto nós pensávamos, Shura ainda não era um cavaleiro de ouro, portanto não tinha força suficiente para mata-lo.

– Não era cavaleiro??

– Não... Aiolos entregou Atena para o Mitsui e partiria com ele, contudo queria buscar Aioria, foi quando eu o encontrei. Ele carregava algo nos braços que de longe, achei que fosse Atena. Sem pensar duas vezes o ataquei pelas costas. Ataquei com tanta força que a área onde ele estava cedeu, para mim Aiolos e Atena tinham morrido soterrados.

A brasileira ficou calada.

– Não prendi Kanon no cabo Sounion, eu o bani do santuário. Nunca existiu Ares, auxiliar do mestre, eu matei o Shion, dentre outras coisas...

– Ele não contou tudo...

– Ainda bem que não. – a fitou. – eu não sou seu valoroso cavaleiro.

– Mas não se redimiu? Não se arrependeu?

– Sim... mas...

– Mas?

– Na obra tenho duas faces, não é? Ares e Saga.

– Sim...

– A partir de dois anos, comecei a demonstrar um comportamento um pouco diferente. Na época, meus pais não entendiam, também a medicina não era tão avançada, mas hoje sei que era as primeiras manifestações do transtorno bipolar. Você sabe o que é?

– Mais ou menos...

– Dos dois aos sete anos tive quase todos os sintomas. Ficava muito aflito quando meus pais saiam, tinha uma preocupação excessiva em manter meus brinquedos sempre arrumados, era hiperativo. - sorriu, ao se lembrar. - Kanon sempre foi de aprontar muito e quando eu estava nesse estado, éramos o terror dos vizinhos. Tinha o sono muito agitado, isso quando eu dormia. Minha mente trabalhava rapidamente e eu sempre inventava coisas. Eu era muito criativo...

Silenciou-se lembrando do passado. Cris não ousou dizer nada.

– Tinha altos e baixos diariamente. Em alguns momentos me isolava, me achava um idiota, sentia que todo mundo me criticava, em outros estava normal. Obediente, estudioso, um bom menino e em outros... não recebia ordens, me irritava facilmente, não cumpria as regras, culpava o Kanon quando eu fazia alguma coisa errada, - a fitou. - insultava os meninos da rua, eu era uma criança! Como Kanon nunca foi santo, e na maioria das vezes, eu era "bom", ou era "quieto", meus pais achavam que era ele que me influenciava. Kanon já apanhou muito no meu lugar.

– Normalmente é o irmão mais velho que paga o pato...

– Inverteu. - voltou a fitar a estante. - esses "sintomas" eram constantes, contudo quando eu fiz quatro anos tive um ataque de fúria. Surtei. Meus pais custaram a me controlar e quase matei meu irmão... acho que por ter acontecido apenas uma vez, meus pais não ficaram tão preocupados, a ponto de procurar ajuda, ou tinham medo... sempre achei que eles tinham medo de mim.. - suspirou. - Poucos anos depois eles morreram e então fui morar com meus avós, já estava com sete anos e dessa data em diante não tive mais nada. - a fitou. - todos aqueles sintomas sumiram, todos! Transformei-me no Saga responsável, cumpridor de seus deveres. Eu era o santo enquanto Kanon o demônio. Se soubesse que aquele ataque era o prenuncio de outra coisa...

– E o que aconteceu?

– Meus avós morreram dois anos depois e Kanon e eu viemos para o santuário. Aquele fato tinha caído completamente no esquecimento até que eu surtei novamente. – a fitou. – já sabendo utilizar o cosmo as coisas saíram bem piores. Aiolos e Kanon que me detiveram. Eram os únicos que sabiam dessa minha condição. Todos os sintomas voltaram, com a acentuação do humor irritável, os acessos de raiva. Esses meus acessos se tornaram mais frequentes e digamos mais cruéis e violentos. Minha sede de poder, só aumentava. Até então, eu não tinha muita consciência quando estava nesse estado, mas depois de outro surto, aí percebi.

– O transtorno voltou mais forte.

– Não. - deu um meio sorriso. - seria muito mais simples se fosse... isso aqui. - apontou para a cabeça. - não funciona bem. Eu não me transformava a ponto de ficar com o cabelo cinza e olhos vermelhos, mas o meu comportamento foi exatamente aquilo e era consciente. Eu sabia que o "Ares" estava fazendo, mas não conseguia ter o controle das ações "dele."

– Mas o que você tem?

– Eu tenho dupla personalidade. Os meus surtos nada mais são que a minha outra face assumindo o controle. Os médicos dizem não saber. - levantou. - Depois que Atena nos ressuscitou tive mais um surto, mas por milagre não feri ninguém e nem tive uma crise tão prolongada. Atena me “curou” com seu cosmo, mas fui a neurologistas, psicólogos e psiquiatras. Não me deram um diagnostico certeiro. Uns diziam que era apenas o transtorno bipolar, outros além do transtorno, o transtorno dissociativo de identidade, - andava de um lado para o outro. - outros disseram que era transtorno de Bordeline. Por ter ficado com depressão, disseram que era depressão profunda com surtos psicóticos.

– Por quanto tempo ficou em depressão?

– Fiquei um ano assim. – a fitou.

– E ela veio por causa do transtorno?

– Um dos sintomas é a depressão, mas foi agravado pelo remorso de tudo que fiz. Como poderia encarar todos depois de tudo? Eu mandei matar muita gente!

Saga respirou fundo, falar daquilo o fazia se sentir muito mal.

– Continuando a história... - voltou a sentar. - Kanon sempre presenciou tudo e aí... - respirou fundo. - viu que poderia conseguir as coisas mais facilmente se eu o ajudasse. Em meu período normal, era auxiliar de Shion, juntamente com o Aiolos, portanto tinha acesso livre no santuário. Shion havia escolhido Aiolos para ser seu sucessor, eu na minha face boa não me importava, mas meu outro lado estava inflado e Kanon sabia disso e queria se aproveitar. Tivemos uma briga feia. "Ares" veio a tona, mas felizmente consegui voltar a ser eu mesmo, foi o bani. – ficou em silêncio. – dias depois surtei novamente e matei Shion. Aiolos começou a desconfiar de mim e quando tentei matar Atena... não tive outra opção.... o resto você já sabe. - abaixou o rosto.

– Você... - não sabia se perguntava. - já usou drogas?

– Por incrível que pareça nunca usei. Nem bebida. Meu estomago nunca foi forte para álcool. Se tivesse o costume de beber ou usar entorpecentes, o meu problema triplicaria.

– Na última luta quando você partiu para cima da Atena, você...

– Só tinha uma maneira de parar. - a fitou. - eu me matei, mas Kurumada retratou de duas formas: no anime com o báculo, nos quadrinhos com os próprios punhos. Era o único jeito para acabar com tudo e me redimir um pouco de tudo que eu fiz.

Ela não sabia o que dizer.

– Depois de muitos exames me deram o diagnostico, aqueles diagnósticos. Tomei muitos remédios para o meu problema, para a depressão, fiz terapias e fui em tudo que começa com "psico" e hoje tomo remédio todo dia como prevenção e quando sinto que não estou bem e a ponto de.... - calou-se. - trocar minha consciência... tomo outra medicação, além do tratamento com Atena.

– Com Atena?

– O cosmo dela acalma meu cosmo. O remédio é para o tratamento físico e o cosmo dela para o mental. Ainda não compreendo como ela pode fazer tanto por mim, depois de tudo que eu fiz.

– Você se arrependeu.

– Mas ela corre risco, todos correm risco, inclusive vocês. Eu posso assumir meu lado Ares a qualquer momento.

– Por isso passa boa parte do tempo aqui?

– Tento evitar o convívio. Eu viro um demônio Cristiane. – disse triste. – se um humano normal é capaz de fazer atrocidades e eu que tenho cosmo?

A mineira ficou com pena. O caso dele era bem mais grave do que o retratado. E parecia que ele ainda não tinha se perdoado por tudo que fizera.

– Dê tempo a tempo. Se está se cuidando não tem porque se preocupar. Você não vai virar “Ares”.

– Parece fácil... tem dias que acordo bem disposto, chega a tarde bate um desespero, no outro dia acontece o contrário... é raro os dias que fico o dia inteiro num estado só... o transtorno bipolar piorou depois de Hades e só está sendo controlado, a base de remédios, somado a isso...

– Não é fácil, mas não é impossível.

– As vezes penso que tudo é fruto da minha cabeça.

– Como assim?

– Acho que a minha natureza sempre foi maligna, que eu sou cruel e que invento a bipolaridade e a dupla personalidade para esconder minhas reais intenções. Não sou uma pessoa boa. Sou mesquinho, egoísta, arrogante e falso, pois me escondo embaixo de uma "doença."

– Isso não é verdade. - o tocou no braço. - Você se arrependeu, deu sua vida naquele muro para salvar o mundo e sei que faria de novo se fosse preciso. Você é um homem bom Saga.

O cavaleiro ficou em silêncio, por alguns segundos.

– O que faz no Brasil, além de trabalhar em banco? – ficou curioso a respeito dela.

– Vou me formar em relações internacionais e pretendo prestar concurso para a área de diplomacia. Não sei ao certo...

– Tem pais?

– Sim. – ajeitou os óculos. - Moro com eles e mais um irmão. O outro é casado.

– A área que escolheu é muito boa. Atena tem um departamento disso na Mitsui.

– Tem alguns campos... ainda não tenho tudo decidido.

– Por que se interessou por nossa história?

– Eu gosto de animes e também adoro mitologias. Gostei da proposta.

– Seiya que se deu bem. Virou o destaque.

– Mas quem tem mais fãs são vocês cavaleiros de ouro. Tanto do público masculino quanto do feminino, alias as mulheres ficam doidas por vocês.

– Espero que eu não tenha fãs, elas ficariam decepcionadas. – fitou um ponto qualquer.

– Não tem fãs? - riu. - É uma briga! Nas tais fanfics de SS quando pode escolher o par, você é disputado a tapa! Rola o maior Fight! - riu.

– Sério? Que ingênuas... escolher um cara como eu... além de problemático, velho.

– Não faça pouco caso de você. – sorriu. – todas são apaixonadas por você.

– Inclusive você? – a olhou. - por que tem um boneco meu?

Cris ficou calada. Não esperava aquela pergunta e nem sabia o que responder.

– “Sim inclusive eu.” – pensou, apenas pensou.

Saga continuou a encara-la, era estranho saber que tinha tantas fãs, que se diziam apaixonadas por ele. “Doidas”, pensou. Mas por um momento gostou. Talvez tivesse uma no meio delas que gostaria dele, mesmo com todos os problemas. Nunca se apaixonou, apenas aventuras no seu tempo de Grande Mestre. Se pudesse queria ter alguém, entretanto julgava impossível. Primeiro por ser quem é, com problemas psicológicos, segundo por ser um cavaleiro. Esse tipo de união não era possível, mesmo Atena modernizando algumas coisas no santuário, certas regras eram imutáveis.

A brasileira percebeu que ele estava pensando em algo. Já imaginava que seria o fato de sofrer com seus surtos, mais ser um cavaleiro. Ate pouco tempo pensava que se tivesse oportunidade de encontra-lo, não perderia a chance, todavia agora que estava bem diante dele tinha dúvidas. Aquilo era a realidade e talvez nessa, esse sonho não seria possível. Literalmente eram de mundos diferentes.

– Vou pegar seu livro. – Saga levantou. Não queria ouvir a resposta. Primeiro por ouvir um não, segundo porque não queria alimentar falsas esperanças.

Ela o fitou se afastar, não imaginava que um "personagem" pudesse sofrer tanto.

– Aqui está.

– Obrigada. - fitou o livro. - prometo devolver em breve.

– Fique o tempo que precisar. - esboçou um sorriso. - agora vá.

– Está bem... - queria ficar mais um pouco com ele, mas... - nos vemos depois.

– Certo. - recuou um passo dando as costas para ela.

A brasileira olhou mais uma vez para o livro e virou-se, antes de sair ainda o fitou de longe. Saga voltou a sentar, soltando um longo suspiro. Olhou para o livro, estava a procura de formas de faze-los voltarem ao mundo real. O geminiano desviou a atenção para onde, antes, eles estavam sentados. Ela iria embora a qualquer momento.

O.o.O.o.O

Mu e Ester desciam as escadarias que levavam a Áries conversando. O ariano estava surpreso pela facilidade que ela tinha em ler seus lábios e digitar no tablet.

– Shaka tinha razão, sua visão e seu tato são bastante apurados.

O meu olfato também.

– Seus pais devem ter muito orgulho de você.

Eles têm...– disse um pouco triste, o que foi notado pelo ariano.

– "Algum problema Ester?"

A garota o fitou na hora. Ainda se surpreendia pelo som da voz do cavaleiro em sua mente.

– "Nenhum." - sorriu. - "onde vamos?"

– "Onde você quiser."

– "Posso conhecer sua casa primeiro?"

– "Claro."

Acabaram de descer e Mu a conduziu para a área privativa do templo. Ester ficou surpresa pela decoração. No primeiro espaço ficava a sala de estar, com um grande sofá de canto num marrom claro. Uma mesinha quadrada no centro e duas cadeiras decorativas. Numa mesinha de canto alguns porta retratos. O segundo cômodo, conjugado, ficava a sala de jantar, com uma mesa de madeira escura com seis lugares. As paredes eram brancas e o piso em mármore claro. Saindo ao lado da mesa de jantar uma escada em madeira clara, com corrimão em aço cromado.

– "Sua casa é linda."

– "Obrigado."

Mu estava tão a vontade com Ester que se esqueceu de manter sua telecinese sobre o controle. Não demorou muito para os objetos do local começarem a voar.

– Agora não... - murmurou.

O que está acontecendo Mu?

Ester via as almofadas do sofá, porta retratos, pequenos vasos e objetos de decoração voarem.

– Minha telecinese, é muito instável. Quando estou fora de casa, me controlo para que os objetos não saiam voando por aí...

Ester viu passando diante dela um porta- retrato. Ela pegou vendo uma foto do cavaleiro com Kiki ainda criança.

Sempre o achei uma graça.

– Ele é um bom menino.

Sente falta dele?

– Sinto. Ester sente-se, vou tentar colocar o meu poder sobre controle.

Tudo bem.– mal acabou de falar, sentiu o corpo ficar leve, os pés não tocavam mais o chão. – “Mu...”

O cavaleiro a segurou pela mão e a puxou, segurando-a no colo.

– Me desculpe.

– Isso foi demais.... pode me soltar?– o fitou sorridente. – só um pouquinho.

– Claro.

Ele a soltou. Ester começou a flutuar, achando aquilo um máximo. A sensação de voar era incrível.

– "Que demais." - pensou.

– "Não está com medo?"

– "Não. Queria muito aprender a fazer isso." - tocou o teto. - "deve ser assim que os astronautas se sentem no espaço."

– "A sensação é igual."

A garota deu um giro no ar dando um sorriso.

– "Que legal!"

Mu sorriu. Ela parecia uma criança.

– "Poderia ficar o dia inteiro assim."

No segundo seguinte, os objetos foram ao chão. Ester também, sendo segurada pelo cavaleiro.

– "Me desculpe, as vezes minha telecinese desaparece de repente. Não se machucou?"

– "Não. Isso foi muito divertido. Podemos fazer mais vezes?"

– "Sempre que quiser."

– "Obrigada."

– "Quer conhecer o terraço?"

– "Aqui tem?"

– "Venha comigo." - só então percebeu que ainda a segurava. De forma delicada ele a colocou no chão. Subiram as escadas que davam num longo corredor e nele três portas. Ao final do corredor uma porta branca. Mu a abriu revelando uma escada em espiral, subiram.


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Notas finais do capítulo

Síndrome de Borderline é uma doença psicológica causando oscilações de humor, impulsividade, etc. Começa na adolescência e tornam se mais frequentes na fase adulta.
O tratamento é com acompanhamento psicológico e medicamentos principalmente os anti-depressivos, estabilizadores de humor e tranquilizantes. Não tem cura, mas com o tratamento as crises de personalidade podem diminuir.



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