The last picture escrita por Nyo


Capítulo 4
Without you


Notas iniciais do capítulo

Cara, o nyah me odeia, sinceramente. Eu ia postar mais cedo, aí a pág resolveu não funcionar, quando eu voltei, as duas notas tinham sido apagadas. E eu tinha coisas pra falar pra vocês aqui, me irritei, desculpem.
Ok, sei que eu demorei, mas eu continuo mal por causa do meu word. Tenho que corrigir o capítulo umas três vezes, a ainda reorganizar os parágrafos pra ficarem decentes.
Queria agradecer por todos que estão lendo isso e não me abandonaram depois do desastre do capítulo anterior. E para todos que comentam, um abração



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– É o que? Você só pode estar brincando comigo! - Kasamatsu ralhou com seu chefe.

– Sr. Kasamatsu, por favor, controle-se. - o homem remexeu-se desconfortável. - Recebemos um comunicado do empresário de Kise Ryouta pedindo a troca da equipe fotográfica. Não podemos arriscar perder o contrato. O rapaz fez sucesso.

"Graças as minhas fotos" Complementou em sua mente. Havia aguentado cinco dias sem Kise, era como se o loiro nunca houvesse aparecido em sua vida. O que achou que seria uma benção, não precisar aturar um rapaz chato em sua volta, porém, depois do terceiro dia não aguentava mais. Suas fotos não pareciam as mesmas, faltavam-lhes o brilho que o jovem modelo possuía. E além de suas imagens, por todo aquele tempo via o casaco do loiro pendurado atrás da porta de seu quarto. Noite após noite, quando tinha crises de insônia, acabava por agarrar-se a peça de roupa, dormindo instantaneamente.

– Por que eles fariam isso? - perguntou irritadiço. - Minhas fotos não os agradaram? - se havia algo que não admitia, era que falassem mal de suas fotografias.

Vendo seu chefe ali, Yukio sentia-se realmente chateado pelo que falava, um senhor de idade que havia lhe dado um emprego e confiado a ele um trabalho importante. Porém, iria brigar com garras e dentes para conseguir o modelo no foco de sua lente novamente. Precisava daquelas fotos, ainda tinha milhões de coisas para testar, muitas fotos que queria tirar do loiro.

– Eu não sei. As explicações foram vagas, e não estávamos em posição de recusar.

Sentou-se novamente. Estava realmente bravo, consigo mesmo, com Kise, com o empresário, com a editora. Ninguém conseguia tranquilizar Yukio Kasamatsu quando estava 'puto da cara' com algo.

– Yukio, suas fotos são incríveis. Por isso você foi contratado. E eu mesmo avaliei as primeiras fotos do seu trabalho com o jovem Kise, estavam no nível dos melhores fotógrafos que nosso mundo moderno já viu. - percebeu a resignação forçada na voz do homem a sua frente. - Porém, como já lhe disse, não podemos fazer nada. Peço sua paciência, pretendemos argumentar com Kise e seu empresário.

Tentando controlar-se, Kasamatsu suspirou pesadamente. Não poderia fazer muito, não tinha como contatar Kise ou seu empresário - seria até possivelmente perigoso para sua reputação se tivesse - então teria que se contentar em esperar.

– Certo, muito obrigado Senhor. - manteve seus olhos fechados ao levantar-se, nunca aceitaria, mas teria que tentar aguentar.

O homem sorriu-lhe.

– Obrigado, Kasamatsu. Farei meu melhor para trazer aquele rapaz de volta para você. - nesses momentos, Kasamatsu perguntava se seu chefe era realmente uma pessoa intimidante como os outros diziam, para ele, parecia mais um tipo de pai.

Levantou-se, fazendo uma reverência. Seus passos estavam pesados enquanto dirigia-se para a saída. Teria um tempo livre antes do próximo trabalho, seria perfeito para descansar em sua sala "E quem sabe, tomar um café".

Ao chegar no estúdio - seu lugar preferido desde que começara a trabalhar - sentou-se encostado em uma parede. Não se importava que o vissem daquele jeito, e acreditava que ninguém iria até lá. Enquanto bebericava seu café, tentava evitar sua mente de voltar ao mesmo assunto. Sentia como se fosse enlouquecer, nunca havia pensado tanto em algo. Não era de seu feito.

Sabia que foram apenas dois dias, porém, detestava admitir, se apegava com certa facilidade à algumas pessoas. Não se abira, não falava de si, nem gostava de muitas perguntas, e se irritava facilmente. Coisas que muitas pessoas condenavam, por assim dizer. Então, sentiu-se parcialmente feliz por Kise não tê-lo descartado, e até ter tentado se aproximar dele. Se não desconfiasse de pessoas famosas, ricas, etc, poderia tentar - dando grande enfase ao tentar - tornar-se amigo do loiro.

"Ainda existe a chance de ele ter fingido tudo. Afinal, chegou tão rápido quanto desapareceu" Pensava. Entretanto, sabia que realmente queria estar errado.

"Não adianta, parece que o que eu quero mesmo é esse maldito aqui"

Soltou um grunhido baixo e espreguiçou-se. Sabia que não se livraria daquilo, mas também não tinha todo o tempo do mundo. Estava na hora de mais uma seção.

***

Fotografar mulheres, nunca havia gostado daquilo. E não seria naquele momento que seria atraído. Não que sentisse aversão por fotografar mulheres em si, só sentia-se irritado. Elas usavam quilos de maquiagem, roupas justas e sempre queriam fazer alguma pose ridícula. O seu amor por fotografia não lhe permitia gostar de algo como aquilo, achava ultrajante, se uma pessoa fora feita de uma maneira, por que deveria mudar sua aparência e jeito de ser perante a lente de uma câmera?

"A perfeição não existe" É o que sempre disse, mesmo com paisagens, pessoas, objetos, nada é perfeito. "Pelo menos não deveria" Mais uma vez, um certo loiro lhe invadia os pensamentos. Sacudiu a cabeça tentando manter o foco, estava em meio a uma seção fotos de uma revista feminina, onde as garotas usavam roupas exageradas, e pareciam bonecas.

– Tudo bem, mova o braço um pouco para baixo e não dobre tanto o quadril. - pediu pelo que parecia a milésima vez para a jovem.

– Assim? - ela movimentou os braços, moveu o quadril, como o pedido, mas seus lábios formaram uma careta estranha que deram náuseas em Kasamatsu.

Ele suspirou. Não podia perder a paciência, por mais que estivesse com vontade de mandar a jovem moça para o lugar mais longínquo que pudesse imaginar.

– É, assim está bom. - ninguém poderia notar a dureza em sua voz.

Assim que falou, a modelo moveu-se novamente, de maneira imperceptível. Imperceptível, claro, para alguém que não estivesse atento como ele. "O que foi que eu fiz para merecer isso?". Já havia perdido a conta de quantos suspiros dera naquele dia, porém tinha certeza que somente na última hora em que esteve fotografando a mesma moça, haviam sido mais de dez.

Cansado de tentar algo que parecia incorrigível, simplesmente ajustou sua câmera e bateu a foto.

Assim que baixou os olhos para o visor, a imagem materializou-se.

"Poderia ser melhor, muito melhor" Se era exigente? Com certeza, acreditava que sempre poderia fazer muito melhor com qualquer coisa. E ultimamente, nenhuma de suas fotos agradava-lhe muito, mesmo que qualquer um que as visse dissesse que estão perfeitas. Acreditava que depois de ver ele pelas lentes, não conseguiria se contentar com nada.

– Certo pessoal, acabamos por hoje. - disse.

Normalmente, a equipe do modelo lhe cumprimentava pelo trabalho, elogiando-lhe, fazendo críticas, etc, mas não estava com paciência para ouvir um monte de pessoas falsas tentando conquistar sua simpatia. Não era assim com todos, se fosse procurar exemplos, poderia citar seu editor. Era um rapaz de muito crédito, Kazuki Toyama. Trabalhava bem, e geralmente conversava com Kasamatsu, sobre nada muito importante, nunca falava nada sobre suas fotos, e principalmente, não lhe enchia de questionamentos, mesmo que às vezes o tirasse do sério com piadas. O jovem editor parecia olhar através dele, como se soubesse o que pensava e onde deveria tocar para irrita-lo.

Apressou-se em voltar para a sede, pronto para finalizar aquele que seria seu último trabalho do dia. Assim que ajudou Toyama a selecionar as melhores fotos, e falar sobre algumas alterações que gostaria que ele fizesse, se despediu, ansioso para poder descansar finalmente.

Chegar em seu apartamento era torturante. Não importava o quanto quisesse arruma-lo, as caixas nunca diminuíam, tudo estava uma bagunça. Se tivesse que receber alguém, estaria completamente perdido. O único lugar impecável era o comodo que transformou em uma sala de revelação, até mesmo seu escritório estava cheio.

Assim que largou seu material e limpou sua câmera, Kasamatsu dirigiu-se até a cozinha para preparar seu jantar. Não gostava de comida pré-pronta, mesmo que estivesse sendo obrigado a se acostumar a comer aquele tipo de coisa, preferia cozinhar ou até mesmo pedir algo de um restaurante. Desde pequeno havia aprendido com sua mãe a fazer alguns pratos básicos, e se considerava razoável na cozinha. Colocou um avental branco qualquer, escolheu uma receita simples na internet, e colocou a mão na massa.

Meia hora depois já estava sentado confortavelmente em seu sofá, comendo um prato de espaguete ao alho e óleo. Adorava culinária estrangeira, e tinha certo afeto por pratos italianos. Se dependesse dele, poderia comer massas o resto da vida, mas infelizmente, sua consciência nunca lhe permitiria aquilo.

Sentindo-se meio preguiçoso, começou a passar os canais da pequena televisão que havia comprado quando se mudou. Com sorte acabaria encontrando um filme agradável, ou programa que fosse de seu agrado.

"Só tem programas falando da vida das pessoas aqui, o que tem com essa gente?" Já estava desistindo de procurar algo, quando passou por um jogo de basquete. Seus olhos imediatamente prenderam-se a tela. Queria estar no lugar daqueles jogadores, em quadra. Desviou o rosto, sentindo um aperto.

– Só podem estar de brincadeira. - sussurrou para si mesmo, mudando de canal.

Acabou optando por um filme de terror sobre labirinto estranho em forma de cubo, no qual acabou não prestando muita atenção, nem sentindo medo. Não era uma pessoa muito medrosa, e aquela história era realmente muito ruim.

O filme terminou simultaneamente com seu jantar, portanto, não havia o que ficar enrolando. Mais por obrigação do que por vontade, foi lavar sua louça.
As pessoas diziam que era aplicado, e realmente era, porém, algumas coisas que fazia eram mais em peso de sua consciência do que por responsabilidade.

Assim que fechou a torneira, não pode evitar um baixo gemido de descontentamento, suas mãos naturalmente frias estavam congelando, e odiava essa sensação. Sua mãe sempre lhe disse "Mãos frias, coração quente". Não que duvidasse dela, mas não via sentido naquilo, era somente uma maneira carinhosa de explicar algo que a ciência já havia ensinado.

Assim que terminou de guardar as coisas, dirigiu-se para seu quarto, sentindo o frio instalado no ambiente. Bateu a porta, querendo somente atirar-se em sua cama, porém, ouviu o barulho de algo batendo no chão.

Uma lembrança lhe veio a mente. kise sorria, colocando o casaco - que naquele momento estava caído - em seus ombros. A memória o fez corar, perguntava-se quanto tempo mais iria pensar sobre o loiro, se deveria deixa-lo fazer parte de sua vida, e se o veria de novo. Sentindo uma onda de frio - ou seriam somente seus pensamentos? - se abater sobre ele, então dirigiu-se para o chuveiro.

A água caindo sobre seu corpo era tranquilizante. Sabia ser coisa de filmes, histórias inventadas, mas achava que o chuveiro era o melhor lugar para refletir e esquecer, "Como seu eu fosse conseguir esquece-lo". Estava se sentindo cheio de ter ter Ryouta em sua mente vinte e quatro horas por dia.

"Ele podia se explicar, achei que fosse uma pessoa boa, tinha razão de suspeitar. Não sou bom o suficiente para 'um modelo como ele'? Que se dane, eu não vou correr atrás, não fode. Tenho a minha vida"

Sua mente lhe dizia esquecer, e não dar bola, porém, é mais fácil falar do que fazer. Seu coração não o deixava em paz, logo aquele que ele odiava ouvir. Kasamatsu era racional, não impulsivo.

Mesmo sentindo o corpo revigorado, sua mente estava ainda mais pesada. Atirou-se na cama, pedindo a qualquer força maior para que conseguisse dormir. Teria trabalho cedo no outro dia, precisava estar bem descansado. "Mais mulheres" Supôs. Ainda não havia recebido nada concreto. Um grunhido lhe escapou. Uma vez, ao final de uma seção, lembrava-se que uma modelo o havia abraçado e deixou um bocado de pó em sua cara. Considerou aquilo muito desagradável, sendo que nunca gostou de maquiagem, principalmente em suas modelos. Houve também uma ocasião em que no meio de uma seção, uma modelo terminou com o namorado pelo celular. Aquele dia foi sufocante, a menina chorou, esperneou, e quase não terminou seu trabalho, além de ter ficado se jogando para cima dele. Claro, haviam sido apenas trabalhos da faculdade, afinal Kise foi seu primeiro trabalho de verdade envolvendo pessoas, mas sentira-se enojado.

O tempo passava, pensamentos iam e vinham, porém nada de sono. "Eu desisto". Com esse pensamentou, se levantou da cama, pegou um casaco pesado e saiu para a noite fria apenas com sua máquina fotográfica.

Não tinha ideia do que poderia fazer andando pelas ruas lotadas de jovens despreocupados. Passou-lhe pela cabeça a ideia de que se andasse por aí, poderia encontrar Ryouta, porém, duvidava que o modelo iria estar por lá em uma hora daquelas, principalmente se tratando de uma zona residencial, onde só se via no máximo, um bar ou outro.

Por instinto, dirigiu-se à um parque próximo. Quando parou para pensar, percebeu que nunca havia fotografado o local. Renderia belas imagens, com certeza. Os bancos espalhados, o pequeno lago com seus peixes a alguns pássaros que passavam para visitar. Mas para seu azar, não havia pego sua câmera digital, e sim aquela antiga que ganhou quando era pequeno. Adorava a máquina, porém seria impossível conseguir uma foto boa de um lugar escuro com ela.

Entrando em meio algumas árvores, colocou a câmera em frente aos olhos, tentando focar em algo, sem sucesso. Deu um giro pelo local para enxergar o que quer que fosse. Sem conseguir ver nada, dirigiu o foco para as pessoas que caminhavam em frente ao parque.

A câmera teria caído no chão, se não estivesse presa em seu pescoço. Em meio a muita pessoas, percebeu um amontoado de cabelos loiros curtos. Não fazia ideia se realmente era ele, porém sua mente não racionalizava. Após o primeiro momento de choque, sentiu suas pernas entrarem em piloto automático. Quando deu por si estava em meio a multidão, procurando um homem loiro que parecia ter simplesmente sumido. Correu cegamente por um tempo, antes que sua mente lhe permitisse desistir.

Não podia acreditar, havia visto Kise, o havia visto há pouco mais de um metro de si, e não conseguiu alcança-lo. Perdeu sua chance de conseguir respostas, de poder falar com ele. Ofegante, parou em frente a um lugar iluminado que chamou sua atenção. Sua correria havia levado-o para o café do amigo do loiro. Sabia que se voltasse para casa não conseguiria dormir, nem tinha vontade de assistir TV ou usar a internet, portanto, entrou no local.

– Oh, se não é o "amigo" gay do Kise. - Murasakibara o recepcionou sorrindo.

Sem saber exatamente o motivo, Kasamatsu corou. Inicialmente ignorando o comentário, dirigiu-se até o balcão, onde sentou em um dos bancos.

– Não venha falando assim de mim. Já disse que não tenho nada com ele, nem sou gay. - respondeu ríspido.

O outro rapaz riu, apoiando-se sobre os cotovelos.

– Sabe, Sr. Kasamatsu, não vai conseguir esconder do Kise por muito tempo que é gay.
Seu sangue congelou nas veias. Com muito esforço, fez sua voz sair.

– E-eu não sou gay. E não me acuse da algo assim. - gaguejou.

Murasakibara tirou um doce de sua sacola, como se aquela conversa fosse casual. Aquilo irritou um pouco Yukio.

– Por quanto tempo você esconde isso de todos?

O mesmo sangue que sentiu congelar, agora começa a ferver a mil por hora. Não deixaria um estudante falar com ele daquela maneira displicente.

– Já disse que não sou gay.

– Sério? Realmente não acho isso. Tatsuya raramente erra.

Tatsuya? Tinha certeza que conhecia... O amigo de Takao. O rapaz que lhe falou "Todos nós que nos envolvemos com um membro da geração dos milagres, não conseguimos mais sair. É melhor você se cuidar se não quer ser pego também" Havia se esquecido daquelas palavras até ali, como?

– Tastsuya Himuro? - perguntou com olhar meio perdido.

Murasakibara ergueu-se sorrindo abertamente.

– Sim, ele me contou que te conheceu na casa do Takao. Não sabia que você conhecia o tampinha.

– Hm. - respondeu simplesmente.

Não gostava de falar para os outros sobre si mesmo. Aquele rapaz estranho não precisava saber sobre ele.

– Então, o que vai querer? - Murasakibara lhe perguntou ao perceber que não receberia mais que um monossílabo.

– Um café. - falou automaticamente. - Forte.

– Não diria que é uma escolha sábia, desse jeito não vai dormir à noite. - o outro já estava se virando quando respondeu.

Suspirando, Kasamatsu apoiou-se no balcão. Aquilo era desgastante, como se não bastasse sua mente girar em torno de Kise, teria que aguentar alguém duvidando dele.

Poucos minutos depois, estava com seu café, observando Mursakibara trabalhar. Para o horário, o local estava consideravelmente movimentado.

– Por que vocês abrem essa hora? - perguntou repentinamente.

Ao ouvir sua voz, o mais alto levantou o olhar, mas em seguida voltou ao que fazia.

– As pessoas se sentem perdidas à noite, principalmente essa hora. Nem todos gostam de ficar em bares, ou festas.

– Você não estuda? Deveria estar dormindo essa hora.

Ele riu, deixando Yukio um pouco perplexo.

– Você não trabalha? É a mesma coisa. Eu simplesmente não consigo dormir. Ou melhor dizendo, não ligo. Consigo aguentar meu dia, estou acostumado, além de ser somente em dias como hoje que fico aqui.

Pensando um pouco sobre a resposta que recebeu, bebeu mais um gole de café sentindo o líquido queimar um pouco sua garganta.

– Não é a mesma coisa.

Com isso, deixou o dinheiro em cima do balcão, retirando-se. Não sabia se o rapaz atrás de si estava sorrindo, se estava sério, ou mesmo confuso, mas também não fazia questão de saber.

Assim que se deixou o ambiente, a diferença de temperatura o atingiu. Não havia percebido como o ar dentro do café era confortável. Seu rosto e pés ficaram instantaneamente gelados, suas mãos só mantinham a mesma temperatura por causa do café, ainda quente.

A necessidade de mais calor se fez presente. Imaginou como seria ter alguém lhe abraçando, poder sentir o calor corporal, o calor de um certo modelo, especificamente. A ideia o fez corar, segurou o copo com mais força, repreendendo-se. De onde havia tirado aquele tipo de pensamentos estranhos? Estava realmente precisando dormir.

Lentamente voltou para seu apartamento, tentando esquecer qualquer coisa que envolvesse Kise, ou mesmo seus amigos. Tinha curiosidade sobre o que Himuro havia lhe falado, porém, de nada adiantaria tentar refletir sobre aquilo durante a noite, seria somente algo a mais lhe tirando o sono, além de não ter mais certeza se veria o loiro novamente.

Continuava desperto e atento. Nem mesmo aquela caminhada o havia livrado de sua insônia. Olhar para sua casa vazia e silenciosa não ajudava. Novamente voltava para a questão de ter alguém ao seu lado. Quando morava com os pais, somente saber que eles estavam há alguns cômodos de distância já o deixava mais confortável, porém, lá ele estava completamente sozinho.

– Isso já está quase parecendo carência, melhor parar. - sussurrou para si mesmo.

Deitado em sua cama, sem tentar dormir, somente por estar, rodou os olhos pelo quarto, até se deparar com um pequeno objeto em seu criado mudo. Seu Ipod estava largado, junto com os fones de ouvido. Não lembrava da última vez que havia ouvido música, então pegou o aparelho, colocou os fones e passou os olhos pela lista que aparecia na tela.

Ria ao ver que quase todas as músicas que tinha eram rock, ou ritmos próximos. Variava entre bandas recentes e clássicos, como Beatles, Sex Pistols, Linkin Park, Avenged Sevenfold entre outros. Optou por uma música que havia baixado há muito tempo, e depois deixou o modo aleatório ativado.

Melodias iam e vinham, algumas lhe deixavam alegre, outras tristes. Era impressionante como seu humor era afetado por elas. O sono veio quando eram quase quatro horas. Nos ouvidos tocava Green Day, gostava particularmente daquela música, achava que tinha um ritmo bom de se ouvir, além da saber toca-la em sua guitarra.


"I lost my way, oh, baby
This stray heart
Went to another
Can you recover, baby?
Oh, you're the only one that I'm dreaming of
Your precious heart
Was torn apart by me and"

Conforme ouvia os versos, sentia uma certa familiaridade. Poderia uma música realmente decifrar os sentimentos de alguém? Descrever uma pessoa? Se sim, havia achado aquela que descrevia sua situação, por mais que não fosse admitir, nem para si mesmo.
Suas pálpebras estavam pesadas, finalmente estava começando a dormecer.


"Everything that I want
I want from you
But I just can't have you
Everything that I need
I need from you
But I just can't have you"

"Eu só preciso de você aqui" Foi a última coisa que passou por sua mente sonolenta que estava dominada pela música.

***

Quase não acordou a tempo na manhã seguinte, sentia-se esgotado, e somente com sorte não estaria começando a se resfriar. Não deveria ter saído na noite anterior.

Quando despertou, seu Ipod ainda tocava, provavelmente já havia passado por todas as músicas mais de uma vez. Assim que desligou-o, dirigiu-se para o banheiro.

Não tinha a menor ideia de qual seria seu primeiro trabalho do dia, então, dirigiu-se ao computador para ver seus e-mails. Provavelmente haviam lhe mandado algo naquela manhã, se não teria que esperar até chegar a editora.

Nada. Esperava não ter más notícias quando chegasse.

Mesmo tendo acordado relativamente atrasado, ainda poderia pegar seu caminho com tranquilidade. Comparado com a noite, aquela manhã estava boa para se ficar na rua. Durante seu caminho, reparou no parque que havia ido antes. Ficava na metade do caminho, dobrando duas quadras.

Sabia que não haveria escolha, automaticamente seus pés o levaram até lá. Pararam somente quando estava encarando o local onde esteve. Com um movimento rápido, virou-se, ficando de frente para a rua.

"Foi aqui que o vi" Pensou "Mas poderia nem ser ele"

Por que Kise estaria em um lugar como aquele? Ainda mais à noite. Estaria indo o loiro para sua casa? A ideia o fazia ficar nervoso, era tão ridículo, mas ao mesmo tempo queria estar certo. De alguma maneira o modelo poderia lembrar-se do caminho, e estaria procurando-o para se explicar.

– Besteira minha. - disse dando as costas para o lugar.

Retomou seu rumo, chegando ainda cedo em seu local de trabalho. Foi avisado de que teria uma reunião aquela manhã dali uma hora. No inicio de seu trabalho lá, havia sido avisado que a corporação fazia reuniões periódicas para avaliar desempenhos, decidir trabalhos mais amplos, discutir modificações necessárias, aquele tipo de coisa.

"Pelo menos será tranquilo". Imaginou se tinha sorte por não precisar aguentar novamente mulheres maquiadas e cheias de silicone reclamando de manhã cedo, ou se tudo acabaria ainda pior.

Dirigiu-se para sua sala, pensando como poderia matar o tempo. Não havia preparado nada para apresentar, caso fossem pedidas ideias, então não precisava se preocupar.

Ao entrar na sala, sua mente começou a trabalhar. Como havia conseguido aquilo? Não fazia ideia. Trabalhar em um local como aquele era seu sonho, poucas editoras poderiam dar as condições que aquela lhe dava.

Cada fotógrafo tinha sua sala, nada muito grande. Eram organizadas de forma padrão, com armários para documentos, fotos e o material de cada ocupante. As paredes eram em tom branco, combinando com o piso de cor madeira clara. Uma escrivaninha para trabalho bege, e uma cadeira mais escura. A editora disponibilizava câmeras para uso, caso os funcionários autorizados não tivessem a própria. A equipe era agradável em sua totalidade, porém não era possível se dar bem com todo mundo. Kasamatsu era o mais reservado dentre todos. Não que as pessoas tivessem receio de falar com ele, alguns até gostavam, já haviam se acostumado com suas respostas curtas, até um pouco grossas às vezes, mas quando o assunto lhe era interessante, gostava de ouvir e dava boas opiniões.

– Sr. Kasamatsu, perdão. - um jovem editor entrou na sala, receoso.

– Tudo bem. - ele respondeu levantando-se.

O rapaz parecia meio nervoso de estar entrando assim, olhava para todos os lados menos para ele.

– Não precisa ficar nervoso. O que foi?
Tentando passar um pouco de confiança para o rapaz, ele se encostou em sua mesa de maneira descansada, falando o mais casualmente possível.

– O senhor Toyama pediu para mim entregar algo para você.

O fotógrafo pegou a embalagem que o outro havia esticado.

– Muito obrigado. - agradeceu olhando curioso para o embrulho.

– E-então, se me der licença. - o outro fez uma rápida reverência e se retirou.

Sem se incomodar com a saída do rapaz, Yukio voltou para seu lugar. Analisou atentamente o que havia recebido. Era leve, em formato retangular. Estava criando uma ideia do que era, quando percebeu que preso preso no embrulho havia um bilhete.

"Achei que gostaria de ver isso, é apenas um 'rascunho', mas pode te interessar"

Assim que abriu seu "presente" ficou surpreso ao ver uma edição da Zunon Boy. Porém não era uma edição qualquer, era a do próximo mês, aquela que viria com um artigo sobre Kise, e o rapaz estrelando a capa.

A primeira coisa que sentiu foi orgulho, a foto de capa estava perfeita. Kise estava em pé, segurando um chapéu em sua cabeça. Um sorriso estampava seu rosto, e o olho direito estava entreaberto. "Lindo". A escolha de cores que havia combinado com a responsável pelas roupas do modelo também haviam ficado incríveis, os efeitos de luz, o contraste, tudo. Estava simplesmente perfeito. Havia ficado fascinado, tinha certeza que mesmo sem o trabalho dos editores aquela foto seria magnífica, mas com ele, com todos os preparativos e ajustes que eram necessários para que a imagem pudesse ser utilizada, estava incrível, perfeito.

Sem nenhuma cerimonia, Kasamatsu procurou a página na qual o artigo sobre Kise começaria. Não pretendia ler, somente verificar como haviam ficado as fotos, suas fotos.

O fundo do artigo se fundia com uma foto do modelo sentado no chão, as pernas cruzadas. Uma das mãos estava apoiada ao lado do corpo, e a outra estava pousada em sua nuca. Suas feições eram leves, ele mostrava um sorriso maroto, parecendo estar realmente feliz por estar ali. "Um sorriso encantador. Perfeito para as fotos" Refletiu o fotógrafo novamente.

Haviam muitas outras imagens do loiro em diversas posições, com várias feições, todas tiradas por ele. O que mais lhe surpreendia, era a naturalidade do jovem, era como se ele não tivesse planejado, como se os sorrisos simplesmente existissem.

Sentia que poderia explodir de orgulho. Tinha vontade de pegar o modelo e mostrar as fotos para ele, explicar tudo, falar tudo e- "Mas o que diabos estou pensando?" Por que queria mostrar para Kise o quanto seu trabalho era bom? Por que queria que o modelo visse e dissesse que as fotos estavam magníficas, que nem ele achava? Haviam muitas pessoas melhores que o loiro para avaliarem seu trabalho, pessoas especializadas naquilo.

Mudando o rumo de seus pensamentos, perguntou-se se o loiro receberia essa mesma edição primária. Fechou a revista, sua mente começando a vagar. Olhou novamente para a imagem em destaque. Começou a notar não as características da sua fotografia, mas sim do modelo que estava nela. Percebeu o quanto o cabelo de Kise era claro, seu comprimento; os olhos de cor penetrante estavam alegres; a postura relaxada.

– O que ele está fazendo comigo? Maldito modelo idiota. - sussurrou para si, atirando sua cabeça para trás deixando suas pálpebras caírem. - Quando eu vê-lo novamente, ele vai sofrer as consequências, e eu vou me certificar disso.

Manteve seus olhos fechados por mais um tempo. Não queria pensar naquilo, mas era inevitável naquele momento. Estava afetado, qualquer um poderia ver isso. Desde que viu Kise pela primeira vez, soube que ele era perfeito para sua câmera, mas não imaginou que seria algo tão grande que também não sairia de sua mente.
"Será que é justamente por isso?" Questionou-se. Seria por ser perfeito para sua câmera que o loiro também era perfeito para sua mente? Já havia admitido que não era normal ver alguém tão lindo ou talentoso quanto Kise, mas era tudo profissionalismo. Ele teria que admitir aquilo para poder fazer as fotos perfeitas.

"Ele é só um rostinho bonito" Tentava enfiar em sua mente. Ainda não tinha certeza se deveria acreditar no modelo. O jovem era bonito, era talentoso, mas nada garantia que era uma boa pessoa. E ele não tinha certeza se queria descobrir.

Nesse momento as palavras de Himuro ecoaram novamente em sua mente "Todos nós que nos envolvemos com um membro da geração dos milagres, não conseguimos mais sair" Ele não seria mais desses, não iria entrar naquele mundo, queria distância. E ainda havia o ponto. O que seria a "Geração dos Milagres"? Ainda teria que descobrir aquilo se quisesse saber o motivo das palavras de moreno. O nome em si não lhe era estranho, só não sabia onde poderia já ter ouvido falar.

– São coisas demais para eu de menos. - resmungou.

Em respeito, voltou a olhar a revista, dessas vez prestando atenção nos outros artigos e fotos. Não queria se gabar, mas achava que o seu trabalho era o melhor - não sabia se por suas fotos serem perfeitas, ou se por Kise ser perfeito.

Sempre prestou atenção em revistas - por mais que não costumasse compra-las - por causa de sua adoração por fotografia. Não era a primeira vez que via uma edição da Zunon Boy, e sabia que não seria última. Sempre observou os jovens que participavam da revista, e não havia se surpreendido ao saber que alguém como Kise estaria entrando também.

Voltava a perguntar para si mesmo o que havia realmente levado o loiro para aquele mundo. Certo, o próprio havia lhe falado que sempre gostou daquilo, porém não era nada fácil entrar nas câmeras, e principalmente começando tão bem em uma revista famosa como aquela. Yukio suspeitava que havia algo mais por trás de tudo aquilo.

Estando distraído com seus pensamentos, não percebeu alguém entrando na sala.

– Sr. Kasamatsu? - Toyama pronunciou-se.

Kasamatsu levou um certo tempo para perceber que falavam com ele. Estava completamente imerso em sua reflexão sobre Kise. Em vez de encontrar respostas para suas perguntas, encontrava somente mais e mais perguntas sem respostas. Precisava encontrar com Kise. Por mais que sua consciência dissesse que não deveria, que tinha que ficar longe de tudo aquilo. Mesmo que realmente não quisesse se envolver, uma parte de sua mente continuava atirando-o fundo naquele jogo. Eram os dois lados de uma mesma moeda. Aquele que gritava para se afastar e aquele que o empurrava cada vez mais dentro daquilo tudo. Tinha medo de qual lado ganharia.

– O que foi Toyama? - voltou seu rosto para o editor, grunhindo.

– Nada. - o rapaz riu. - Só vim lhe avisar que está quase na hora da reunião, deveria se apressar.

O moreno se levantou, sentindo sua cabeça rodar um pouco. Precisava descansar, duas horas de sono e café não eram, nem nunca seriam, uma maneira de mante-lo de pé durante um dia inteiro.

– Eu já estou indo. - resmungou.

Assim que o outro fez menção de sair da sala, Kasamatsu chamou-o novamente.

– Toyama, por que me mandou isso? - perguntou apontando para a revista.

Sabia que o outro não precisava olha-lo para saber do que falava. No mesmo instante o editor voltou-se para ele com um sorriso displicente.

– Só achei que você iria gostar, estava tão animado com seu novo modelo.

O fotografo corou. Não esteve animado, Kise não o deixou animado. O loiro era somente uma pedra em seu sapato, uma praga, alguém que ele não conseguia esquecer.

– Não venha brincando comigo. Não fiquei animado por causa dele. - suas palavras foram praticamente cuspidas.

O rapaz fingiu estar ofendido por seu jeito grosso de falar. Colocou uma mão em cima de seu peito, como se estivesse ofendido.
– Ora, eu não sabia senhor. Parecia feliz de ter encontrado alguém que satisfizesse suas fotos.

O moreno não tinha mais o que falar, não conseguiria mentir sobre aquilo. Sem opções, simplesmente pegou a revista, indo em direção ao editor. Enquanto passava pela porta, pressionou-a contra o peito do rapaz

– Fique com ela então. - resmungou.

Podia ouvir a risada de Toyama atrás de si.

– Você adora negar as cosias a si mesmo Sr. Kasamatsu. Eu só estou querendo fazer você enxergar.

Tentou ignorar o outro e esquecer aquilo, antes que fosse algo a mais para incomoda-lo. Porém parecia ser tarde demais. Kise já ocupava sua mente completamente, então o que seria somente mais uma questão envolvendo o loiro? Somente algo mais para lhe tirar o sono e aprofundar seu novo vício, Kise Ryouta.

Com passos duros dirigiu-se para a sala de reuniões, ignorando qualquer olhar que estivesse lhe sendo dirigido por causa de seu rosto vermelho.

"Eu não estava animado por ter achado o modelo perfeito. Dane-se isso. Ele era só um idiota."


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Notas finais do capítulo

Então, podem vir, estou pronta pra morrer. Só porque o Kise desapareceu em uma nuvem de purpurina, não quer dizer que ele não vai aparecer, ele só não vai ter contato com o Kasamatsu por um tempo. Fica a dica~
Me desculpei pelo apelido do Midorima? Não? Bom, enfim, desculpa gente. Ficou uma droga, então, Takao vai chamar o Midorima de Shintarou. Todos os apelidos vão mudar (Shin-chan, Muro-chn, Dai-chan [se aparecer]).
Ah, quem conhece o filme que o Kasamatsu assistiu? (Entendeores entenderão, madame [me ignorem]) Eu não recomendo assistirem, sinceramente. Se gostam de terror, vejam O chamado, ou algum assim.
Críticas, elogios, correções (não tenham medo de me corrigir, eu escrevo muita besteira). Aceito o que vier.
Bom, se você leu estas notas finais, quer dizer que o nyah não me sacaneou de novo, e eu não me irritei e desisti. Isso é uma boa notícia, afinal, duas vezes escrever tudo isso é demais pra mim.
Até o próximo (vou tentar não morrer de novo)



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