Daydreaming escrita por A Stupid Lamb


Capítulo 14
Começando uma pequena tempestade.




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“Nossa... Quanto tempo” Meu pai falou, passando a mão desajeitadamente pelo cabelo, como se tentasse esconder o nervosismo.

“Eu imaginei que nos reencontraríamos” A mulher começou, um sorriso gentil e confiante iluminando seu rosto. “Mas em nenhuma das vezes eu imaginei que seria assim”

Eu olhava para Soph, vendo minha confusão refletida nos olhos da menina.

“Você imaginou que nos reencontraríamos?”

“Não duvidei disso em nenhum momento, você sim?” Vi meu pai sorrir amplamente, envolvendo a mulher em um abraço forte.

Soph pegou minha mão e passamos por eles evitando fazer barulho. Ela me guiou até uma porta que tinha debaixo da escada da sala.

“Tudo bem” Disse, parando de frente pra porta. “Você ser viciada em filme eu até entendo, mas aponto de dormir debaixo da escada? Isso é doença” Ela revirou os olhos.

“Você é a pessoa mais insuportavelmente sem graça que eu conheço” Ela abriu a porta e me puxou pela mão.

Descemos uma breve escada de madeira. O locar estava no escuro quase completo, a única luz que vinha era a de cima, já que a menina deixara a porta aberta.

“Já descemos as escadas, por que você não acende a luz?” Perguntei depois de um tempo.

“Estou tentando me lembrar se o quarto está arrumado ou não”

Passado mais um tempo, ela finalmente acendeu a luz, revelando um quarto que fez meu queixo cair.

Era um lugar realmente enorme, muito bem cuidado e organizado. O papel de parede ia de ponta a ponta do quarto, uma enorme fotografia em preto e branco das mais diversas cenas de filmes, com frases pontuando cada uma. Algumas reconheci, outras nunca tinha visto. Uma cama de casal estava em um canto com pouca iluminação, na parede oposta, um grande piano branco brilhava esplêndido. Em outra parede, tinha uma grande estante, repleta de caixas de DVD’s, com uma enorme televisão centralizada e grandes almofadas de frente para ela. Do lado oposto desse mine cinema, haviam CD’s, assim como um rádio. Algumas fotografias dos mais diversos lugares pendiam do teto. Parei para analisar algumas.

“São seus pais?” Perguntei, apontando para uma foto que se via uma menina pequena, com cachos revoltados que sorria entre um casal. O homem forte, de expressão firme, os cabelos grisalhos, mas a barba por fazer denunciava que era ruivo, segurava a menina no colo com certa doçura que contradizia seu porte rígido assim como o sorriso não combinava com sua expressão; já a mulher, era delicada, porém os olhos cinzas, iguais ao par que eu me apaixonei, eram firmes.

“Sim, são eles” Ela tinha a voz baixa e doce, um sorriso encantador nos lábios. Ela analisava a foto como se voltasse no tempo, direto para o momento em que a foto fora tirada. “Então” Ela voltou a me encarar, abrindo os braços. “O que achou”

“Incrível” Respondi sorrindo.

“Sabe, quando estive no seu quarto, se não soubesse que era seu, nunca imaginaria” Arqueei uma sobrancelha, a fazendo sorrir. “Bom, você pode não ter jeito, mas tem cara de patricinha. Loira, olhos claros, cabelo liso, alta” Ela deu de ombros. “Por mais que eu te conheça bem o bastante para saber que você não é assim, é inevitável não te ligar a um quarto todo rosa, com flores e borboletas.”

Desviei o olhar, voltando a analisar o cômodo, notando algo que não vira antes.

“Uau” disse, caminhando para o canto que o objeto se encontrava, ao pé da cama. “Isso... É incrível” Eu falava, minhas mãos pairando no ar ao redor do objeto. “Funciona?” Eu a olhava, sabendo que tinha um brilho diferente no olhar.

“Sim” Ela franziu a testa. “Por que eu teria algo que não funciona?”

“Eu nuca vi um de perto” Confessei.

“Mesmo?” Meneei a cabeça. “Bom, eu só ligo a noite, me ajuda a dormir, de dia só cd. É mais toque do que outra coisa” Me virei para ela, a puxando pela cintura.

“Acho que isso é apenas uma desculpa para eu dormir aqui”

Ela passou seus braços pelo meu pescoço, sorrindo misteriosamente.

“Pode ser” Nos beijamos brevemente, até que ela nos separou. “Não vai falar do piano?” Seu tom de voz fez parecer que eu cometera um crime.

“E o piano?” Disse, sorrindo. “Você toca desde quando?”

“Quando nasci, praticamente”

Ela me guiou até ele. Sentei me ao lado dela, que fechou os olhos e tomou fôlego. Ela sorriu para mim suavemente, e então iniciou a música. Sua voz era suave, assim como o ritmo que ela impôs à música, seus olhos estavam fechados e ela balançava sutilmente seu corpo, enquanto seus dedos, com uma destreza e leveza surpreendentes, passavam pelas teclas do piano. Senti meu corpo ficar cada vez mais leve e meus olhos também se fecharam, completamente entregue a voz doce da menina.

A música acabou, mas permaneci um tempo de olhos fechados. Quando os abri, a menina me olhava cheia de expectativa.

“Nunca pensei que alguém seria capaz de me fazer gostar de Born To Die”

O sorriso da menina aumentou, e ela segurou meu rosto com as duas mãos, me puxando para um beijo delicado.

“Meninas.” A voz gritou, fazendo com que nos afastássemos. “Podem vir aqui”

Ela me deu um selinho, segurando minha mão e nos guiando para o andar de cima.

“Hora de enfrentar os leões”

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“Fico feliz que a senhora tenha vindo” O menino disse, puxando a cadeira para a senhora se sentar.

“Se você sabe onde minha filha passou a noite, por que eu não viria?” Ela perguntou, áspera. Sua aparência denunciava que passara a noite acordada.

“Não é uma coisa que eu gostaria de saber, mas já que eu sei, acho que é meu dever compartilhar com a senhora, já que a senhora é a mãe” Ele nada mais disse, apenas estendeu o celular por cima da mesa. A mulher prontamente o aceitou, olhando sem expressão nenhuma as fotos. Quando acabou, devolveu o aparelho para seu dono e se levantou, sem nenhum aviso. “Dona Stewart, se quiser um posso te falar o que fazer” O garoto corria atrás da mulher, que se virou, o encarando aturdida.

“Você foi de excelente ajuda, mas ela é minha filha. E da minha filha, cuido eu”

“Se quiser alguma ajuda, sabe onde procurar”

A mulher nada disse, voltou a fazer seu caminho, segurando para se manter firme e não sucumbir as lágrimas.

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A menina voltava para a casa acompanhada do pai. Nenhum dos dois falavam, apenas caminhavam lado a lado, cada qual com a mente vagando para uma lembrança diferente, mas ambos com o coração acelerado pelo mesmo motivo.

Quando as meninas subiram, depois de escutarem um longo sermão de como fora imprudente a atitude da noite passada, acabaram por descobrir que seus responsáveis, não só se conheciam como se amavam.

Ela parou na porta de casa, engolindo em seco. Sentiu seu pai aperta-lhe o ombro e dar-lhe um abraço forte. Entrou, evitando fazer barulho, mas, ao fechar a porta e se virar, encontrou sua mãe ao pé da escada, os braços cruzados e a expressão fria, porém seus olhos vermelhos e inchados denunciavam que havia chorado.

“Senta” Seu tom era seco e frio, com se as palavras saíssem arrastadas de sua boca. “Precisamos conversar”

A menina sentiu o corpo e o ambiente ao redor gelarem, o ar pesar ao seu redor de tal forma que talvez pudesse até ser pego e um frio percorrer a espinha.


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Notas finais do capítulo

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