Um Conto Sobre um Monte de Estrume escrita por Gabriel Campos


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

~Penúltimo Capítulo~
:(



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Música: Janta - Marcelo Camelo e Mallu Magalhães

Matei aula naquele dia por razões óbvias. Débora e eu tomamos um ônibus e fomos à praia. Naquele lugar, àquela hora da tarde, deserto, poderíamos conversar mais à vontade, à pedido dela. Sentamo-nos de frente para o mar e esperamos o momento certo para quebrar aquele silêncio absoluto. Ela quebrou.

─ Se você não tivesse me dito aquelas palavras, a essa hora talvez eu poderia estar a sete palmos do chão. Mas aceitei o tratamento. ─ finalmente ela olhou nos meus olhos e sorriu (era difícil de acreditar nisso) ─Eu não sei como eu vou te agradecer.

─ Não precisa me agradecer por nada, Débora. ─respondi ─ apenas queria saber uma coisa...

─O quê?

─ Por que me beijou? Daquele jeito, daquela forma? Enfim, me beijou?

Débora se levantou da areia. Achei que ela estava indo embora, e logo pensei na possibilidade de ela ter se arrependido de ter encostado seus lábios nos meus; ela, porém, estava envergonhada, talvez.

─ Você me chamou de egoísta, Lucas. ─ disse ela, de costas para mim, que continuava sentado na areia.

─ Me desculpe, minha intenção não era te magoar. Eu só queria que você acordasse pra vida, Débora! ─ depois de dizer aquilo, fiquei de pé. Ela se virou e ficou olhando nos meus olhos. Pegou minhas mãos, ficou segurando.

─E eu acordei. Eu acordei, Lucas! Não, você não precisa se desculpar por nada. Eu era uma egoísta, porque eu ia embora dessa vida deixando uma pessoa que gosta de mim e que eu repudiava como se fosse um cão sarnento. Eu te devo desculpas, eu que sou grata a você enquanto viver.

Débora me abraçou, colocando a cabeça no meu ombro.

─ Eu que me desculpo, Lucas. ─ concluiu ela, levantando a cabeça e olhando novamente para mim ─ pelo que você fez, eu esqueço até que você pegou minhas fotos no Google e construiu uma namorada de mentira ─brincou, dando uma pequena risada ─ Eu peço desculpas por só ter descoberto agora que te amo. Agora que eu vou ficar feia, uma aberração.

Aquela que parecia de bem com a vida novamente, pôs as palmas das mãos nos olhos e começou a chorar. Eu a abracei instintivamente.

─ Não! Você não vai ficar feia! Você é a garota mais linda que eu conheci. ─ falei.

─ Meus cabelos me deixavam linda! O tratamento está me deixando careca. Não sabia que quimioterapia faz isso com as pessoas?

Eu preferi ficar calado. Eu não gostava da Débora apenas pela sua beleza. Havia uma atração, algo cósmico. Sabia que muitas mulheres tinham pena do cabelo apenas até se cortassem alguns centímetros dele. Sabia também que Débora precisaria raspar a cabeça para que não sofresse aos poucos.

Alguns dias depois, Zoe Navarro e Júnior Dantas estavam no aeroporto de Tokyo, em direção ao Brasil. Mas o casal apaixonado não contava com uma mãozinha da sorte. Sim, parece mentira, mas num aeroporto a gente pode achar muitas pessoas. Levando em conta de que você está no Japão, e é difícil distinguir um japonês do outro pela aparência, Júnior também contou com a sua boa visão. Eles estavam acompanhados por Akira Nakayama, o rapaz que, junto com sua mulher, os hospedou em sua casa em quanto eles estavam no país.

─ Olha ela ali! Olha, Zoe!

─ Quem, Júnior? Eu não tô vendo ninguém que eu conheço!

─ Ora, é a dubladora do Pikachu! Corre, Júnior, vai falar com ela! A gente filma. ─ disse Akira.

Ikue Otani é uma seiyū (dubladora, em japonês). Com 45 anos, o seu trabalho mais famoso é a voz do Pikachu, do desenho Pokémon, que por sinal, Júnior sempre foi fã desde quando ele se entende por gente. Um ataque do coração “nerd” estava sendo sofrido por ele naquele momento, e suas pernas estavam tão trêmulas que ele não conseguia chegar perto da dubladora. Enquanto Zoe filmava, Akira tentava acalmar o garoto.

─申し訳ありませんが、彼はあなたが非常に好きであるということです。(Desculpe, é que ele é muito fã da senhora.) ─ disse Akira, quase tendo um ataque de risos.

─嬉しい!(Fico feliz!) ─ respondeu a dubladora, sorrindo para Junior, que quase teve um piripaque.

Resumindo a história, claro que Júnior pediu para que Ikue fizesse a tão famosa voz de Pikachu; Zoe continuava filmando e Akira sendo o tradutor de tudo. Divertiram-se bastante, a moça era bastante simpática. Porém, infelizmente, chegara a hora do voo.

─ Hora de se despedirem do Japão. ─ disse Akira. ─ boa sorte com a sua jornada, Júnior. Sentirei saudades dos dois.

─ A gente promete que um dia volta, não é? ─ disse Zoe. Os dois abraçaram Akira.

フォルタレザ、最後の呼び出しへの飛行!(Voo para Fortaleza. Última chamada!) ─ disse a atendente da companhia aérea.

Acenando para Akira, Zoe e Júnior partiram para dentro do avião.

Mais alguns dias se passaram. Débora voltou a frequentar as aulas e estava morando em uma pensão. Todos os dias ia até o hospital para realizar o tratamento; a quimioterapia estava levando seus cabelos loiros embora, e, mesmo eu insistindo tanto, ela continuava se recusando a raspar tudo de uma vez.

─ Vai ser melhor, minha linda. Pensa que no final de tudo, vai valer o sacrifício. Cabelo nasce, não se esqueça.

Ela pensava nisso dia e noite, claro. Estávamos namorando. A gente não disse isso um ao outro, mas como nós nos comportávamos como namorados, acho que não precisamos. Sei lá, nunca namorei sério, era estranho. Mas entendi o que o significado de verdadeiro amor era estar junto nas horas boas e ruins, dar apoio. Eu daria apoio à Débora, caso ela aceitasse, e ela aceitou, me ouviu. Débis rasparia a cabeça.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Gente, mais tarde eu posto o ÚLTIMO CAPÍTULO! e , claro, os agradecimentos :)
*Contei com o Google Tradutor para escrever as palavras em japonês. :)