Quebrando as correntes do destino escrita por Jose twilightnmecbd


Capítulo 48
Bênção inesperada


Notas iniciais do capítulo

POV Narrador
9 dias depois....



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23/07/1883. Segunda-feira.

─ Nove dias Alice, Nove dias sem minha mãe. – Isabella assoou no lenço que Alice acabara de lhe entregar.

Isabella estava de luto pela morte iminente de sua mãe, na noite do dia de seu casamento, dona Esme teve uma falência fulminante dos órgãos internos. A doença que alguns chamavam de câncer, levou dona Esme silenciosamente. Edward nem teve tempo de ir ao enterro. Estava sem poder andar por causa do tiro que tinha levado e agora imaginava como seria sua vida sem sua madrinha amada.

─ A sinhá precisa se acalmar, está chorando há dias! Dona Esme era uma pessoa boa e agora tá descansado com os anjos.

Alice a abraçou e Isabella relaxou um pouco naquele abraço amigo. Sem sua mãe e num estado distante do Rio de janeiro, Isabella só encontrava afago na companhia de Alice.

─ Alice? – chamou depois de alguns segundos, sentindo um cheiro forte vindo pelo corredor. – Que cheiro é esse? – falou tapando o nariz e a boca.

─ É o guisado que a Rachel tá preparando. Aquele que a sinhá trouxe a receita e disse que adorava. – Alice falou observando o rosto de Isabella.

─ Guisado? – Isabella fez cara de nojo. – Ai meu Deus! – mal deu tempo de Alice ficar de pé. Isabella segurou os cabelos e vomitou no chão perto da cama.

Alice engoliu em seco. Seu olhar devia estar revelando todo seu desespero.

─ Não precisas ficar com essa cara. – Isabella dobrou o lenço que segurava e limpou a boca. – Vá chamar Joaquina para limpar o chão, por favor.

Alice continuou estática.

─ Sinhá?

─ Hum. – Isabella se levantou e foi até a janela tentar respirar um ar limpo.

─ Quanto tempo tem da sua última... regra?

─ Que isso Alice? Eu acaso tenho tempo para me preocupar... – ela parou de falar e um arrepio percorreu toda sua espinha.

─ Sabe, sinhá. É que hoje mesmo tá fazendo um mês que cheguei e não vi nenhum paninho de regra seu. – Alice estava totalmente sem jeito para tocar no assunto.

─ Alice. – a voz de Isabella falhou. – Fale de uma vez, tu achas que eu possa estar...

─ Prenha.

Isabella inspirou com força. O cheiro do guisado agora misturado ao azedo do vômito, embrulhou seu estômago novamente. Ela olhou para baixo. Estava usando seu luto, um vestido de veludo todo preto de mangas compridas mas que ficava um pouco largo na cintura.

─ A sinhá anda com tontura não é de hoje, desde antes do casamento já tava desmaiando. Nesses últimos dias, enjoou com perfume e inté comeu aquela fruta do conde que disse que não gostava, comeu de se fartar!

─ Alice pelo amor de Deus! Eu ainda não consumei meu casamento por causa do luto, se eu estiver grávida esse filho... – ela levou as mãos à boca. Seus olhos se encheram d’água.

─ Minha mainha me ensinou a ver gravidez com o toque, se a sinhá quiser...

─ Quero! Quero, sim, por favor.

Assim que Rachel limpou todo o quarto, Isabella trancou a porta, aproveitando que Mike tinha saído a negócios com seu pai e deitou-se como Alice lhe pediu.

Alice retirou a mão do canal de Isabella e estava sentindo seu rosto queimar.

─ E então, Alice?

─ As vez dá errado... – ela não queria dar o veredicto final. Mas tinha absoluta certeza de que sua senhora estava grávida.

Isabella não precisava de uma confirmação maior, assim que Alice cogitou a possibilidade ela se deu conta. Havia um ser dentro dela, fruto de um amor impossível e condenado. Mas de uma coisa ela tinha certeza, ela já amava essa criança com um amor inestimável.

─ Vou precisar que me ajude a pôr em prática aquela tática de sua mãe, Alice. Tenho que me deitar com Mike o mais rápido possível.

Naquele mesmo dia, mais tarde, Mike foi recebido em casa de uma maneira estranhamente bem. Logo percebeu que a mesa do jantar estava arrumada para dois, com direito a luz de velas. Foi até seus aposentos e encontrou Alice terminando de preparar seu banho.

─ Onde está sua senhora?

─ Sinhá Isabella está dando as últimas instruções para o jantar, na cozinha, senhor Mike.

Ele franziu o cenho. Isabella estava de luto e nada fazia além de choramingar pelos cantos da casa o dia inteiro.

Mike tomou seu banho e sentindo o maravilhoso cheiro de peixe, foi para a sala de jantar. Uma sonata delicada estava sendo dedilhada ao piano. Ele apressou os passos e quase perdeu o ar ao ver Isabella lindamente sentada ao piano. Os cabelos em cachos arrumados e usava um vestido sem mangas, cor-de-rosa claro. O luto havia acabado.

─ Como vai meu senhor? – ela perguntou dando as últimas notas e encerrando a sonata.

─ Vou bem. Vejo que encerrou seu luto, finalmente.

Isabella quase deixou cair seu falso sorriso emoldurado ao notar a frieza com que Mike tratou o assunto da morte de sua mãe. Ela precisaria de forças. Passou disfarçadamente a mão pela barriga, como quem ajeita o amassado do vestido. Era dali que tiraria sua força.

Ela conduziu o marido à mesa e falou com propriedade de todas as comidas que foram servidas. Estavam agora provando um Crème brûlée.

─ É uma receita à base de gemas de ovos e leite, com uma pitada de farinha. Depois de cozido é preciso adicionar bastante açúcar por cima do creme, além do açúcar já contido, e queimar o creme, de modo a adquirir essa bela cor dourada.

─ Aprendeste essa receita na Europa? – Mike a devorava com o olhar.

─ Certamente. – Isabella enfiou uma colherada na boca. Estava sentindo um frio na barriga, talvez um sentimento muito parecido com o medo.

Após a refeição, convenceu Mike tomarem uma bebida, ela bebericou um licor de cacau enquanto ele tomou dois copos grandes de uísque.

─ Minha cunhada deve estar gostando muito de sua estadia na América, aguardo ansiosa por uma correspondência. Quero muito saber como vão.

─ Jéssica é uma mulher versátil, pode se acostumar as mais diversas situações. - ele deu um grande gole tomando toda bebida restante de uma vez.

Era chegada a hora, não tinha mais como adiar.

No quarto, Isabella conduziu seu marido, ligeiramente bêbado para cima da cama. Apagou todas as luzes, ficando num breu total. Mike deitou-se na cama e retirou as calças de baixo, as camisas, ficando apenas com a camisola de dormir e as pernas de fora. Isabella parou de pé na beira da cama e simplesmente tirou as alças do vestido e ficou literalmente nua na frente dele.

Mike já tinha se deitado com outras mulheres, não muitas, sempre preferiu os estudos e os negócios da fazenda do que a baderna. Mas ele tinha certeza que não havia mulher mais linda do que Isabella. Ele não esperava que ela ficasse totalmente nua, sabia de mulheres que passavam mais de quarenta anos casadas dormindo cheias de roupas e embrulhadas. Mas Isabella era diferente, ele sabia disso.

Isabella respirou fundo, esperava que o sonífero que colocara no uísque fizesse efeito no tempo certo. Não queria que ele tivesse dúvidas se a havia penetrado ou não. Ela se deitou ao lado e tentou fingir não saber o que fazer.

Mike se virou rolando para cima dela. Ela virou o rosto quando ele tentou beijá-la. Ele não se importou, beijou seu pescoço, orelha, queixo e de repente ficou frenético, abriu as pernas dela sem o menor cuidado e a penetrou sem sequer se preocupar se já estava preparada. Uma lágrima rolou pelo rosto dela. Outras rolaram a cada estocada forte e dolorida que ele lhe dava. Ele tinha o corpo muito alvo e magro, sua pele era fria como uma lagartixa. Quando ele terminou, caiu para o lado ofegante. Isabella se virou e colocando a cabeça para fora da cama, vomitou.

Ao sentir que a respiração de Mike estava pesada, Isabella puxou, debaixo do colchão, o pequeno punhal que conseguira na cozinha e cortou seu braço na parte interna perto da dobra do cotovelo. Deixou que as gotas de sangue sujassem o lençol entre suas pernas. Levantou-se e dirigiu-se para seu quarto de banho. Estava feito.

Depois daquela noite, todas as outras ela teve de suportar Mike a possuindo como um animal, um ser irracional e sem coração. Ela tinha aprendido a fingir bem, mas com ele nada funcionava. Nem sequer imaginar Edward no lugar dele ela podia. Edward era o fruto proibido, ele era seu irmão e também o pai do filho que ela já carregava na barriga.

Passado um mês ela chamou seu sogro para almoçar e anunciou:

─ Vamos ter um bebê.

─ Como podes estar tão certa? – Mike perguntou tentando disfarçar sua desconfiança.

─ As mulheres sabem disso. Minha regra sempre foi muito certa e está atrasada. Daqui para frente, aguarde, minha barriga ficará cada vez maior! – Isabella fingia tão bem que conseguiu contagiar a todos.

─ Bom, serei avô novamente, que alegria! – senhor Newton era o único realmente feliz com a notícia. – E que seja um potrão!

Isabella desfez o sorriso com esse comentário infeliz. Os cavalos eram a paixão de seu sogro e também de seu marido. Mas ela não queria que seu filho tivesse qualquer designação que não fosse apropriada. Fosse menino ou menina, ela já o amava. Mesmo assim ela resolveu desconsiderar. Ergueu a taça e antes de tomar um gole fez um gesto imperceptível com os olhos para Alice que estava de pé no fundo da sala. Alice deu um sorriso selado e fez uma leve reverência em direção a Isabella.


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Notas finais do capítulo

O capítulo encerra no dia 23/08/1883.
Fiquem ligados, pois o tempo vai começar a correr....



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