Correntes: Atados pelo Sofrimento escrita por Jacqueline Sampaio


Capítulo 14
Capítulo 13: Garantia de vida




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Eu estava fraca demais até mesmo para esboçar alguma reação. O que me despertou foi o grunhido que Edward produzia tal qual um animal. Seus olhos fixos na figura de James.

-Meu caro, está com algo que me pertence. –James disse polido, mas ameaçador.

-Bella não pertence a você. –Edward disse aparentemente calmo, mas eu podia sentir que ele estava se segurando para não bancar o selvagem. Seus braços pareciam se apertar mais e mais ao meu redor. Ele era a imagem de uma criança tentando proteger um brinquedo precioso. Eu permaneci calada.

-Ah, mas ela pertence sim! Bella é minha presa. Se está com sede, meu amigo, recomendo que procure outra para sustentá-lo. –Falou levemente divertido. Edward estava se enfurecendo. A única coisa que o segurava para não avançar em James certamente era eu. Edward olhou-me enquanto me baixava e me deitava confortavelmente no chão, retirou o casaco que usava uma jaqueta de couro bege por cima da camisa de gola rulê branca, e entregou-me.

-Bella, fique aqui quietinha. Eu irei me encarregar dele e iremos juntos para casa. –Falou numa voz afável. 

-Edward, não! –Murmurei amedrontada com a idéia de que os dois fossem lutar, temendo que Edward fosse ferido. Ele sorriu.

-Não se preocupe. Vai ficar tudo bem. –Disse e então os dois, ele e James, desapareceram. Ouvi ao longe um barulho estrondoso de coisas solidas chocando-se contra as árvores, causando uma grande destruição no bosque. Eu fiquei parada, sentada no gramado segurando a jaqueta de Edward. A vesti por cima de meu casaco e levantei-me. O sangramento nasal ainda era intenso e meu corpo estava dolorido pelos machucados feitos por James. Eu era inútil para ajudar Edward, mas não poderia simplesmente cruzar os braços enquanto alguém se sacrificava por mim. Mesmo sentindo-me fraca e sabendo que era inútil, levantei-me e caminhei para a direção de onde ouvia os barulhos. Eu sabia que caminhando para lá a morte me encontraria, mas ela me encontraria de qualquer forma então eu estava um pouco mais tranqüila. Que me importava minha vida agora. Tudo o que eu queria era garantir a vida de Edward, ele não precisava se sacrificar por causa de um cadáver. Eu continuei a caminhar, caminhar...

...

-Esse filme é tão romântico! É o meu preferido! Um homem sacrificando-se por uma mulher é simplesmente fantástico! –Mamãe disse naquela tarde de domingo enquanto assistíamos Romeu e Julieta.

-Eu não acho nenhuma graça nisso! Por que é sempre o homem a sacrificar-se por uma mulher? –Meu pai resmungou claramente chateado por não assistir ao seu jogo de basquete na televisão já que nós estávamos monopolizando-a. –Por que a tal de Julieta não se sacrificou por ele desde o inicio? Era ela a tomar o veneno ou o que quer que esse cara tenha tomado! –Meu pai resmungou enquanto mantinha sua vista nas páginas de um jornal. Minha mãe foi categórica.

-Ora, por que não tem graça à mocinha sacrifica-se pelo herói! –Mamãe disse e voltou sua atenção para a televisão.

Isso havia acontecido há um ano, mas as lembranças estavam vivas. Agora, para mim, realmente parecia ser algo belo e enaltecedor a mocinha sacrificar-se pelo herói. Eu fiquei diante de uma clareira e vi Edward ser violentamente jogado de encontro ao tronco grosso de um cedro centenário. Pude ver um Edward cansado e ferido, cortes pelo corpo sem de fato haver um sangramento. Fiquei horrorizada. James estava a uns quinze metros sem nenhum arranhão. Pude deduzir que ele era mais forte que Edward e isso encheu meu peito de dor. Quando Edward fez menção de se levantar, James correu até ele e o socou fortemente afundando boa parte de seu corpo no chão. Edward ficou imóvel.

-EDWARD! NÃO! –Gritei e em meu pânico corri para ele, mas não consegui chegar até onde ele estava algo me puxou pelo cabelo jogando-me para longe. Eu fiquei parada, arfante, desorientada, enquanto algo me agarrava pela gola do casaco de Edward tirando-me do chão.

-Não querida, você é minha. Não corra até ele, deixe que aquele lá procure sua presa. Você pertence a mim. –Disse aos sussurros e puxou-me para perto dele. Eu iria morrer, eu realmente iria morrer. O fim de uma agonia, mas também o fim de uma alegria. Eu não tinha dito a Edward o que sentia, eu queria dizer antes do fim. Bom, talvez fosse melhor assim, ficar calada. Eu fechei os olhos e então algo me afastou de James. Abri os olhos, sentei-me e vi que não fora Edward que interceptou o vampiro. Eram duas figuras macabras cobertas por um capuz negro. Eu fiquei parada enquanto via James ser imobilizado pelas duas figuras, ele a olhava, aterrorizado.

Mais três vultos surgiram, cobertos por um capuz negro, ficando por trás de James e dos dois vampiros que o imobilizavam, não pude ver seus rostos, estava escuro demais e o capuz dificultava as coisas. Fiquei imóvel e olhando a cena.

-Finalmente o encontramos, vampiro James. –Uma das figuras de capuz disse. –Pelo crime de expor nossa raça, será condenada a morte. –A figura foi categórica. –Nós, fiéis servos do clã Volturi, acataremos a ordem. –Disse e sacou algo na mão, brilhava minimamente, devia ser uma lâmina. Eu fechei os olhos e ouvi os gritos insistentes de James. Eles o estavam matando a poucos metros de mim. Meu corpo todo tremia, eu queria correr, mas não queria deixar Edward ali. Esse essas coisas tentassem feri-lo? Não, eu não iria permitir!

Os gritos cessaram. Eu abri os olhos e vi os cinco membros dos Volturi ao redor de uma pilha de cinzas. James estava morto bem como eles haviam ameaçado. Então um deles ergueu a cabeça e fitou-me.

-Temos uma evidencia viva. Precisa ser destruída. –A voz que havia falado com James disse. Eu parei de respirar. –Demetri. –Disse e um deles deu um passo.

Então eu havia sido salva por aqueles estranhos trajando negro, mas seria morta no final das contas. Quando Demetri, meu executor, deu mais um passo algo surgiu ficando entre mim e o grupo encapuzado. Era Edward. Arfava cansado, mas ajoelhou-se diante de mim e abraçou-me protetor.

-Ela não. –Murmurou tão baixo que uma pessoa comum não ouviria, mas suspeitei que eles não fossem pessoas comuns.  

-Sabe de nossas regras, vampiro Edward. –Disse a mesma voz que parecia ser a única a ter o dom da fala. –Humanos conhecedores da verdade devem morrer... Ou... Devem se tornar um de nós. Se essa humana que foi perseguida por James é tão importante para você então deve transformá-la aqui e agora. –A voz disse. Edward afastou-se um pouco de mim e me olhou. Quando vi sua expressão eu congelei. Era uma expressão de total desespero.

Edward não queria me transformar. Foi a minha conclusão.

-Bem... Seu silencio é tudo. –A voz polida disse e Demetri deu mais um passo. Eu me ergui e afastei-me de um Edward abismado, tirei o meu exame que estava enfiado no bolso interno de meu casaco e joguei diante daquele que parecia o interlocutor do grupo. Ele abaixo minimamente a cabeça e olhou o que eu havia jogado.

-O que é isso? –Perguntou claramente confuso. Eu mostrei total descaso e despreocupação com o que estava ocorrendo.

-Minha garantia de um pouco mais de vida. Olhe. –Eu disse e a figura encapuzada pegou o meu exame. O abriu e leu por alguns minutos. Mantive meus olhos nele sentindo a vista mais e mais turva. Rezava para não desmaiar enquanto decidia meu futuro.

-Ah, entendo. –Ele disse. –Bem então, já que sua morte é certa, o que deseja de nós, humana? –A figura perguntou. Eu fui clara.

-Me deixe morrer pela doença que carrego para poder me despedir das pessoas que amo. Só isso. Tem minha palavra de que nada direi. –Falei e sem duvida mostrei total sinceridade em meu olhar. Todos de capuz olharam para mim, olharam em seguida para o porta-voz. Ele deu seu veredicto.

-Que seja. Lhe daremos mais um tempo de vida. Mas acho que seria mais misericordioso matá-la agora, humana. Como queira. Vamos. Obrigado por nos falar a localização de James, vampiro Edward. –E então os cinco desapareceram, tão rápido que meus olhos não conseguiram acompanhar. Eu fiquei parada olhando para frente, para o lugar onde estavam os homens de capuz. Senti alguém se aproximar, Edward. Ele caminhou lentamente e pegou meu exame que fora largado lá. O abriu e leu. Eu continuei parada agora mirando meus olhos para ele. Os olhos de Edward pareciam se arregalar mais e mais à medida que lia o conteúdo do documento. Após ler e saber do que se tratava, Edward deixou o exame cair de suas mãos e me olhou aturdido, parecendo em choque.

-Por quê? –Balbuciou. -Por que não disse? –Falou e vi a fúria brilhar em seus olhos ocres. Eu dei um meio sorriso e simplesmente tudo se apagou para mim.


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