Secrets escrita por Yukii


Capítulo 15
Secret 15 - Undoing a secret


Notas iniciais do capítulo

~Este capítulo se passa após o episódio 112 de Yu Yu Hakusho (ou seja, após o fim ;-.

~Entre este capítulo e o passado houve uma transição de dois anos (como ocorre no anime do capítulo 111 para o 112), é importante saber disso para entender bem essa parte da história.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/46003/chapter/15

A vegetação densa e natural proporcionava um frescor agradável ao templo de Genkai. Quando Botan se mudara para lá, nunca pensou que ali pudesse ser um local tão bom de se morar. Agora, enquanto aproveitava o calor para limpar o futon¹ do seu quarto, a guia refletia o quanto sua vida mudara nos últimos quatro anos, graças a Yusuke. O que era algo engraçado, porque ele fora a primeira e única alma que a afetara e mudara a direção do seu trabalho.

A ferry girl revirou o futon, procurando a esponja que estava usando para escovar a peça. Ela começou a se lembrar de tudo: de como achara a alma de Yusuke flutuando no céu, de como haviam lutado para que ele revivesse, dos dias de calmaria, do roubo no Reikai, do sequestro de Keiko realizado por Hiei... a mão desavisada da garota esbarrou com força na esponja, e ela apanhou o objeto de limpeza com dedos hesitantes. Estava se sentindo um pouco idiota. Fazendo um pouco de força mental, Botan retomou os pensamentos anteriores, tentando esquecer o pequeno distúrbio que uma lembrança em particular lhe fizera ter; mas não havia como. A imagem de um koorime de cabelos negros com seus catorze anos de idade, sorrindo maliciosamente para a figura de cabelos azuis que cuidava de uma Keiko desacordada lhe veio na mente, e ela sorriu consigo mesma, lembrando do medo que sentira de Hiei ao vê-lo pela primeira vez, e do olhar arrogante que ele despejara em cima dela. O sorriso de Botan se alargou, e ela sentiu uma vontade engraçada de rir. Hiei... mesmo não querendo, os seus pensamentos sempre acabavam volteando por ele. Pelos olhos rubros que ele tinha. Por aquele sorriso orgulhoso e indócil. Pela carícia suave que os lábios dele faziam nos dela, quando ele a beijava...

- Droga! Não quero pensar nisso! - gritou Botan consigo mesma, balançando a cabeça e derramando acidentalmente a embalagem de álcool que estivera usando para limpar o futon. Ela fez uma careta irritada, e, apanhando uma flanela qualquer, pôs-se a limpar o álcool derramado no chão.

Já se haviam passado três anos. Três anos desde aquela cena que ela tanto rememorava, aquela cena que se desenrolara atrás daquele templo. E faziam dois anos e meio que ela estava tentando afastar aquelas memórias e sentimentos que cismavam em pulsar dentro dela. A ferry girl sabia que Hiei não podia - nem queria - retribuir o que ela sentia. Naquele dia, há dois anos, quando ela acolheu o corpo desacordado dele e quis tocá-lo, mais do que nunca, ela entendeu o quanto ela o amava... e o quanto era idiota por isso. Hiei nunca poderia gostar de alguém como ela. Nunca. Por que ele a beijara, então? Por que prometera voltar? A ferry girl imaginava que deveria ter sido sadismo da parte dele, uma vontade particular que ele tinha de iludi-la, de fazer com que ela sofresse. Hiei não era burro, ele devia ter percebido o quanto ela gostava dele. Então, para o seu próprio divertimento, há três anos, ele a enganara daquela forma, com aquele beijo; pelo menos, era nisso que Botan acreditava. Não era, necessariamente, a verdade, e ela tampouco odiava Hiei por isso - gostava demais dele para poder odiá-lo. Apesar de tudo, o coração de Botan dava um salto ao lembrar da manhã em que acordara com a voz de Hiei a chamando, quando ele voltara do Makai, no mesmo dia em que brigaram. Era tão estranho... eles começavam um relacionamento, passavam seis meses sem se ver logo desde o primeiro dia de relacionamento, e quando se reencontravam, era apenas para brigarem por motivos idiotas.

Desde a ocasião do Torneio de Reunificação do Makai, Botan achava que não teria mais chances de ver Hiei. Ele aparecera, porém, uma ou duas vezes por ali, no templo de Genkai. Na primeira, o koorime fora apenas entregar sua pedra Hirui para Yukina e dizer que não havia encontrado o irmão dela, e que ele devia estar morto. O que era uma tremenda mentira, já que Hiei era o irmão de Yukina. Às vezes, Botan sentia uma enorme vontade de contar aquilo para Yukina, apenas para deixar a garota mais feliz. E, intimamente, Botan sabia que Hiei também se alegraria com isso. Apesar de tudo, a ferry girl ainda acreditava nas ameaças de morte que o koorime lhe lançava; não ousaria contar.

Enquanto limpava a última extremidade do futon, Botan se lembrou da segunda vez em que Hiei aparecera ali, no templo de Genkai, após o Torneio de Reunificação do Makai. Fora uma ocasião qualquer de reunião da turma, que Kurama o convencera a participar. Naquela ocasião, ele tinha se encontrado com Botan, mas nenhum dos dois havia trocado nenhuma palavra em especial. A ferry girl agira alegre e receptiva como sempre, e Hiei não fez nada contra isso. Botan havia esperado que, naquele dia, o koorime falasse algo com ela, mas ele não fez isso. Ele agiu frio e silencioso como sempre, como se nada mais importasse. Aquilo magoou um pouco a ferry girl, e reforçou sua decisão de esquecer - ou pelo menos deixar de lado - aquilo que sentia por Hiei.

O que ela não sabia é que Hiei havia esperado o mesmo dela. Devido ao fato de a guia espiritual ser sempre a mais altiva e decidida, o koorime havia esperado que naquela ocasião em que haviam se encontrado ela dissesse alguma coisa, nem que fosse umas duas palavras murchas sobre o que quer que fosse que havia entre eles. Hiei também não sabia que havia descansado no colo de Botan, durante o Torneio. Quando acordou, ela já havia ido, e ele ficou apenas com o cheiro dela preso no corpo, perguntando-se se estava enlouquecendo ao sentir o perfume dela nele.

Botan suspirou, sentindo-se pesada por dentro. Nunca imaginara que gostar de alguém fosse tão complicado. Tudo só se complicava mais ainda quando ela pensava que as chances do koorime gostar dela eram inexistentes, visto que ele tinha mil e uma coisas mais importantes na cabeça além dela, e que o que ocorrera há três anos, antes de ele partir para o Makai, não tinha relevância nenhuma,

- Chega! - gritou a ferry girl consigo mesma, fazendo um bico irritado com os lábios enquanto empurrava nervosamente o vidro de álcool e a esponja para um lado. Só então se deu conta que a "flanela" que estava usando para limpar o chão sujo de álcool era nada mais do que uma blusa sua, que, por um acaso qualquer, havia caído no chão. Botan gemeu. - Droga! Eu fico tão perdida pensando nessas coisas que me atrapalho toda!

- No que você está perdida, Botan-san? - a voz meiga de Yukina indagou com ar de preocupação, vinda de algum ponto detrás da ferry girl.

A guia se virou, deparando-se com a irmã de Hiei olhando-a com meiguice da porta, parecendo preocupada com o que ouvira Botan gritar. Em seus braços, a pequena koorime carregava alguns lençóis para o interior do quarto; as duas garotas dividiam o aposento.

- Yukina-chan! - Botan se levantou rapidamente, abandonando o tatami num canto isolado do chão e estendendo os braços para ajudar a amiga a carregar as cobertas. - Eu nem ouvi você chegar!

- Me desculpe por não bater na porta, é que...

- Não, sua boba! - Botan riu, ajudando a amiga enquanto elas se sentavam no chão, separando os lençóis por cores. - Esse quarto é nosso! Você pode entrar quando quiser. Eu só aproveitei que hoje está bem ensolarado, e resolvi limpar o futon, depois levarei para a grama e deixarei secando um pouco.

- Hum... sim... mas... - Yukina lançou um olhar hesitante para a colega sorridente a sua frente. - Mesmo assim, Botan-san... me desculpe perguntar, mas... está tudo bem? Você parecia tão conturbada quando entrei... você disse que estava perdida...

Botan deu um risinho nervoso.

- Ora, aquilo era só besteira minha! Você não precisa se preocupar, Yukina-chan. Afinal, eu sempre estou bem! - ela sorriu de novo, enquanto empilhava os lençóis rosa.

- Sim... todos acham isso. Mas eu me pergunto se isso seria possível, Botan-san. - murmurou a koorime. Ao ver o olhar confuso de Botan, Yukina continuou: - Quero dizer... você sempre parece tão feliz... mas eu sinto que às vezes você fica triste, mas não conta nem demonstra para ninguém. Eu sinto como se você... como se você escondesse um monte de segredos, Botan-san. Como se você tivesse medo de demonstrar sua tristeza.

O sorriso da guia tremeu em seu rosto, mas ela não o desfez. Um ar melancólico muito leve preencheu as faces de Botan por alguns instantes, mas ela rapidamente se recompôs, admitindo o tom feliz de sempre.

- O quê? Eu já disse que você não precisa se preocupar comigo, Yukina-chan! Eu estou perfeitamente bem! - ela dedicou um pouco mais de atenção ao mirar a face da colega. - Mas... Yukina-chan, quem parece triste é você! Aconteceu alguma coisa?

Pessoalmente, Botan já sabia o porquê da pequena koorime estar tão triste, mas a guia queria apenas desviar o assunto para longe de si mesma, e a melhor maneira de fazer aquilo era focando a conversa na própria Yukina. A irmã de Hiei abriu um meio-sorriso triste, e disse com uma voz leve:

- Não... está tudo bem. Quer dizer... - Yukina suspirou baixinho. - Eu já devia estar preparada para isso... já devia esperar que algo assim acontecesse, mas... eu não pude... não pude evitar de ficar triste.

Botan sentiu seu coração apertar.

- O que houve, Yukina-chan? Me conte, por favor!

Yukina passou alguns segundos em silêncio, mirando suas pequenas mãos pousadas sobre o colo. Depois daqueles curtos momentos de reflexão, ela falou:

- Na semana retrasada... quando Hiei-san veio aqui, na visita antes da reunião da semana passada... ele me explicou que meu irmão estava morto.

A ferry girl mordeu o lábio compulsivamente. Sim, ela já sabia que Yukina estava triste há dias por causa disso. E doía demais para Botan ver sua amiga tão triste por algo que nem chegava a ser verdade. Botan não soube o que dizer, por isso permaneceu calada. A koorime continuou a falar:

- Na verdade, ele não chegou a dizer que meu irmão estava morto... Ele apenas quis me devolver minha pedra Hirui, dizendo que não havia encontrado meu irmão, e que ele provavelmente deveria estar morto. Eu já esperava por algo assim, mas... eu fiquei muito triste. Eu tinha muita esperança de poder encontrar meu irmão, de falar com ele, de poder chamá-lo de nii-san²... - Yukina sorriu tristemente - Eu sei o quanto isso parece bobo, mas... eram meus sonhos. Eu deixei minha pedra Hirui com o Hiei-san. Ele é tão bom comigo, que eu me sinto melhor deixando minha Hirui com ele... isso me fez um pouco mais feliz, porque eu vejo o Hiei-san como um irmão. Eu sempre pensei que, se o Hiei-san achasse meu irmão, eu queria que ele fosse daquela forma, tão bom quanto o Hiei-san. Você acha que eu fiz certo, Botan-san... Botan-san?!

Yukina se exasperou ao ver que sua amiga tinha lágrimas nos olhos ametistas. Botan tentava engolir o choro, limpando os olhos apressadamente nas mangas do quimono. Yukina não entendia a razão daquelas lágrimas, e se perguntava se falara algo triste demais para a guia. Botan, por sua vez, chorava pela culpa que sentia ao esconder de Yukina uma verdade que poderia lhe fazer tão feliz, e chorava também por ver a tristeza entre aqueles dois irmãos. Queria tanto que Hiei contasse a verdade... Botan não se importava se ele não amava ela, mas sabia o quanto ele amava sua irmã, e isso era mais do que suficiente para ela saber da verdade.

- Eu... eu apenas fiquei triste ao saber, me desculpe - disse Botan com a voz trêmula, tentando sorrir. - Mas... você está melhor, não está, Yukina-chan?

- Sim... - disse a koorime com lentidão. Sua voz não soou muito sincera. - O que mais me machuca é saber que... bem, enfim... eu nunca mais o verei... o que mais me machucou foi imaginar que ele pudesse estar morto. Eu poderia suportar viver longe dele, se pelo menos eu soubesse que ele estava vivo, mas... saber que meu irmão... meu irmão pode ter morrido...

A pequena koorime silenciou, e Botan sustentou o silêncio junto com ela. Os olhos ametistas da guia fixavam-se na janela, observando o céu pálido e amarelado de meio de tarde, e se perguntando se ainda haveria tempo de estender o futon na grama até que ele secasse. A ferry girl não soube dizer quantos minutos ficou olhando por ali, até ouvir soluços baixos vindos em algum ponto à sua frente. Botan se virou, assustada, ao ouvir um ruído seco e uma pedra Hirui redonda e lisa rolar pelo chão, logo em seguida acompanhada por outras, enquanto Yukina escondia o rosto nas mãos e chorava, soluçando alto.

- Y.. Yukina-chan... - Botan chamou enquanto sentia o coração apertar de novo.

A koorime se encolheu, os ombros mexendo-se compulsivamente enquanto ela chorava.

- M-me desculpe - pediu Yukina, tentando secar as lágrimas apressadamente enquanto as pedras Hirui cintilavam no chão, ao seu redor. - E-eu me descontrolei... me senti tão sozinha... - ela levantou o rosto cheio de lágrimas para a ferry girl - M-meu irmão... meu irmão está morto! Eu não...

- Ele não está morto! Seu irmão sempre esteve aqui! Hiei é seu irmão!

Botan gritou antes que pudesse se refrear. Um segundo depois de dizer, ela arregalou os olhos, um pouco surpresa por ter deixado aquilo escapar. Yukina piscou, confusa, engolindo as palavras que estivera prestes a soltar.

- Hiei-san... meu... irmão? - gaguejou ela baixinho.

O primeiro impulso da ferry girl foi voltar atrás no que disse, dizer que havia apenas se confundido, que nada daquilo era verdade. Mas dizer aquilo apenas machucaria ela mesma e Yukina mais ainda. Além disso, Botan não achava que conseguiria mentir duas vezes para a mesma pessoa; nunca fora boa em mentir.

- Sim... ele é seu irmão. - foi tudo o que Botan conseguiu dizer, numa voz baixa e assustada.


- Então, o que vamos fazer por hora, Kurama?

O ruivo escutou as palavras de Yusuke e fechou os olhos, pensativo. Realmente, era uma situação delicada, e ele era o melhor para lidar com aquilo. No quarto sombreado pela noite, estavam apenas o Reikai Tantei de olhos castanhos, Kurama e Botan, um pouco inquieta e nervosa.

- Me desculpem - pediu ela pela trigésima vez na noite. - M-me desculpem por isso... eu realmente não queria contar, mas...

- O que você está dizendo? - falou Yusuke, abrindo um sorriso maldoso. - Essa foi uma das coisas mais divertidas que já aconteceu nesses tempos! Imaginem só a fúria do baixinho quando ele souber!

- Y-Yusuke! - reeprendeu Botan nervosamente, apertando os dedos entre si. A ideia de um Hiei furioso nunca a assustou tanto quanto naquele momento.

- O que foi? - Yusuke lançou um olhar divertido para a porta. - Imagino que Hiei irá chegar quebrando tudo. Talvez tenhamos que esconder você debaixo da pia da cozinha, Botan.

- YUSUKE! - gritou a ferry girl inconformada, reprimindo a vontade de atirar uma almofada nele.

- O quê? Eu só estava brincando! - replicou o garoto, rindo.

- Yusuke, pare de assustar Botan - pediu Kurama com uma voz calma.

- Tá bem, já estou quieto. Enfim, o que você pretende fazer?

O youko suspirou, um pequeno vinco na sua testa.

- Eu vou ter que chamar Hiei, é claro. Ao menos contar para ele. É o mínimo que podemos fazer, por agora.

Botan se encolheu no lugar, esperando que ninguém enxergasse seu rosto nervoso no escuro. Na hora que contara para Yukina, aquilo lhe parecera tão certo! Agora, estava tudo errado, graças a aquilo. Agora, Botan tinha plena certeza de que Hiei jamais poderia ao menos sentir simpatia por ela; ele a odiaria para sempre, por ter revelado um segredo que ela guardara sob tantas ameaças de morte.

- E quanto a Botan? E se Hiei machucá-la? - perguntou Yusuke, sério.

A ferry girl levantou o rosto, sentindo que ela estava empalidecendo.

- Eu não acho que... bem, Botan, você pode sair daqui por alguns momentos, se quiser - ponderou Kurama, pensativo, enquanto olhava a guia encolhida no seu canto do chão. A frase dele pareceu assustá-la, e Kurama rapidamente se corrigiu: - Bem, não é que eu ache que Hiei vá lhe fazer mal ou algo assim... quero dizer, ele pode ficar muito irritado, mas não chegaria a machucar você, ele não é covarde.

- Não é que ele seja covarde, entende, mas ele odeia Botan, ele nem a chama pelo nome - comentou Yusuke despreocupadamente, atirando-se para trás e se recostando na parede de madeira. O garoto sentiu o olhar de Botan fulminando-lhe, e replicou: - O que foi? Não estou contando nenhuma mentira, estou?

Botan sentiu-se tentada a gritar na cara dele que eles não se odiavam, que já haviam se beijado, e que ela amava aquele koorime estranho e malvado. Reprimindo sua vontade, a ferry girl se encolheu um pouco mais no chão, sentindo uma tristeza horrível rodando dentro dela.

- Então? Já se decidiram? - perguntou uma voz vinda da porta.

Genkai estava ali, segurando uma pequena vela em cima de um pires de porcelana, que ela pousou no centro do quarto, iluminando parcialmente a face dos quatro que agora estavam ali.

- Yukina está muito ansiosa - continuou a velha, sentando-se próxima a Yusuke. - Ela quer ver o irmão. Hiei terá de vir aqui.

Botan engoliu em seco.

- Sim, eu estava mesmo pretendendo chamá-lo - disse Kurama.

- Certo, mas quanto a Botan?! - objetou Yusuke, apontando a guia. Ela estava assustada. - Nós não podemos fazer ideia do quanto irritado Hiei irá ficar!

- Eu tenho certeza que ele não fará nada de ruim para Botan - disse Kurama com firmeza.

Yusuke levantou uma sobrancelha, incerto.

- Como você pode ter certeza, Kurama? Se Hiei ficar irritado, ele pode fazer o que bem entender! E ele nunca teve muito gosto pela Botan mesmo!

- É verdade que ele ficará irritado - concordou o youko, fitando o rosto de Yusuke por cima da luz dourada da vela. -, mas acho que a reação de Yukina amenizará a raiva dele. Ele sempre achou que Yukina não gostaria de saber que alguém como ele era seu irmão, mas ela ficou muito contente. Isso vai ser uma novidade para ele.

Yusuke girou os olhos, como se não concordasse, e ficou olhando a chama da vela dançar em cima do pavio, um sorriso maroto brincando em seu rosto a imaginar a reação enfurecida do koorime. Em seu lugar, a guia espiritual mordia os lábios nervosamente. Hiei lhe odiaria para sempre. Como sempre, ela acabara fazendo alguma besteira que o irritava. Botan sentiu raiva de si mesma por gostar tanto dele.

- Eu ainda acho que deveríamos esconder Botan debaixo da pia. Ou dentro de um armário. - disse Yusuke em tom calmo. Meio minuto depois, ele começou a rir da própria piada.

- Idiota! - murmurou Genkai, dando uma pancada nada suave na cabeça do discípulo. - Você está assustando a garota.

- Ora, mas não é óbvio? Hiei disse que ia matar quem contasse. - Yusuke disse, e, após uma pausa, acrescentou com um ar risonho: - Ele vai querer matar alguém que leva os mortos embora! Que coisa mais bizarra!

- Yusuke - disse Kurama calmamente, observando que, por alguma razão, Botan estava prestes a chorar. - Você poderia se conter um pouco? Imagino que você deva estar tão preocupado quanto nós.

- Eu estou! - afirmou o garoto. - Mas, cara, vocês estão se preocupando demais! Eu não acho que aquele baixote vá se irritar tanto assim. Ele só falou em matar porque gosta de assustar a Botan.

- Eu também não acho que ele vá fazer algo contra a Botan, mas isso não impede que ele a assuste ou algo do tipo. Hiei não volta atrás no que ele diz, mas... - Kurama falava, até reparar na face assustada de Botan. Ele rapidamente se corrigiu: - ... como eu já disse, não acho que ele vá matar você!

- Por que ele me odeia tanto?! - protestou Botan em voz alta, com voz chorosa. - Eu apenas fiz o certo! Eu não podia esconder algo tão importante da Yukina-chan, ela estava tão triste! Ela achava que o irmão dela estava morto, graças ao que Hiei disse para ela!

- Eu entendo seu lado, Botan - disse Yusuke com ar de concordância -, mas você sabe como ele é cabeça-dura, certo? Mas Botan fez o certo, não fez, Kurama? Kurama?

O youko passara os últimos minutos de olhos fechados e sobrancelhas contraídas, como se estivesse pensando em algo muito complicado. Depois de alguns minutos passados após o chamado de Yusuke, ele abriu ambos os olhos, e disse:

- Está feito. Eu chamei Hiei.

- Como? - Yusuke piscou, incrédulo.

- Pela mente - respondeu Kurama com simplicidade.

- Você... você contou tudo? - quis saber Botan, hesitante.

O youko deu um sorriso quebrado.

- Pode-se dizer que sim. Eu tive alguma dificuldade de conseguir me conectar com a mente dele, mas acabei conseguindo. Então, avisei que havia um pequeno problema envolvendo Yukina aqui, o que acabou sendo a coisa errada de se falar, porque ele ficou um pouco nervoso, achando que algo de ruim havia acontecido com ela.

Botan não pôde deixar de sorrir ao escutar isso.

- Com isso - continuou Kurama -, eu disse que tudo o que tinha acontecido era que Yukina já sabia da verdade, e ele ficou... - o youko pareceu escolher as palavras certas - um pouco "irritado", eu diria... mas nada de muito grave. Só um pouco.

- Eu imagino. - comentou Yusuke sarcasticamente. Botan sentiu um calafrio.

- E você contou sobre mim? - quis saber a guia, hesitante.

- Não ainda - disse o youko com um meio-sorriso. - Ele me pressionou muito para dizer, ele estava bem enraivado, para ser sincero. Eu disse que se ele quisesse saber teria de vir aqui, e falar com a irmã dele também, que quer vê-lo.

- E o que ele respondeu? - quis saber Yusuke, com um sorriso maldoso.

- O de sempre. Disse que iria me matar por não contar, e depois mudou, dizendo que mataria todos... - Kurama falou com naturalidade. - Eu já esperava isso.

- E como você pretende cuidar da situação? Não vai contar a verdade para ele? - quis saber Genkai.

- Claro que vou. Mas apenas quando ele chegar aqui. - Kurama se virou para Botan, lançando um olhar compreensivo para a ferry girl. - Botan, acho melhor você sair por essa noite.

- Ele... o que? - gaguejou Botan. - Você também está achando que ele vai me matar?

- Não - disse Kurama rapidamente -, se este fosse o caso, você poderia ficar aqui, bastaria que eu, Yusuke e Kuwabara protegêssemos você. Mas... bem, estou aconselhando você a sair para evitar qualquer confusão, Botan. Não se preocupe, eu sei que Hiei não fará nada contra você. - ele sorriu gentilmente.

- Como você pode ter certeza? - protestou Botan em tom choroso.

Kurama olhou para o teto por um momento, um sorriso bobo brincando em seus lábios.

- Digamos que eu apenas sei - disse o ruivo, ainda sorrindo.

- Ei, o que você está escondendo? - quis saber Yusuke, estreitando os olhos.

O ruivo assumiu um ar inocente.

- Nada. Botan, acho melhor você ir agora, Hiei está vindo do Makai nesse exato momento, e do jeito que ele está, tenho certeza que não vai demorar muito para chegar.

A ferry girl assentiu, um pouco nervosa. Não queria fugir do koorime daquela maneira - seu coração estava machucado. Tinha vontade de ficar ali e enfrentar a raiva dele, fazê-lo enxergar que não fizera nada de errado. Mas sabia que não podia. A guia atravessou a porta da sala e saiu apressada, mal ouvindo o que Genkai dizia para Kurama.

Quando chegou no salão principal do templo, encontrou Yukina e Kuwabara. A irmã de Hiei estava ansiosa, andando de um lado para o outro e apertando as mãozinhas, enquanto Kuwabara a seguia confuso, tentando entender a ansiedade de sua querida koorime. Quando ela viu Botan, deu um grito:

- Botan-san! O que vocês resolveram?

- Bem... - Botan abriu um sorrisinho que tentava ser confiante, mas tremia demais - Eu estou saindo agora. Não sabemos como ele vai reagir quando souber que... que eu... - Botan não terminou a frase, e Yukina lhe lançou um olhar preocupado. A ferry girl segurou os ombros da amiga, encorajando-a com um sorriso: - Boa sorte com seu irmão, Yukina-chan!

A koorime sorriu alegremente, uma lágrima tímida escorrendo por um dos olhos.

- Obrigada, Botan-san! Estou tão feliz! Muito obrigada por tudo! Eu sempre serei grata por isso que você me contou!

- O quê? Irmão? Ele? Quem diabos é ele? Ei, onde você vai, Botan? - balbuciou Kuwabara, confuso, observando a guia montar no remo.

Poucos segundos depois de Botan subir no remo, ouviu-se um estrondo na frente do templo, como se um enorme animal tivesse aterrisado ali. As paredes de fibra e madeira tremeram, e as mãos de Botan se agarraram no remo nervosamente. "Hiei...!"

- O que diabos é isso? - quis saber Kuwabara, olhando assustado para a direção de onde viera o barulho. - Tem um leão aterrisando aqui?

- Botan, você tem que ir! - gritou Yusuke, aparecendo por uma das portas acompanhado por Kurama e Genkai. - Hiei está aqui!

- O que o baixinho quer aqui? - questionou Kuwabara.

- Mas... - Botan olhou para a porta com um ar choroso. Não queria ir embora. Queria poder argumentar com Hiei.

- Vá! - pediu Kurama.

A ferry girl não teve tempo de ver mais nada; em um segundo, ela montou no remo e disparou janela afora, contra sua vontade. Fazia isso apenas pelo pedido dos amigos. Botan lançou um olhar preocupado em direção a frente do templo, mas não conseguiu divisar Hiei no escuro.

No chão, um koorime de cabelos espetados observava a silhueta da garota que voava contra a lua, até que desaparecesse no escuro da noite.

- Onna. - murmurou.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

¹Futon: é um tipo de colchão usado na cama tradicional japonesa. Os futons japoneses são baixos, com cerca de 5 cm de altura e têm no interior algodão ou material sintético. (from Wikipedia )

²Nii-san: tratamento carinhoso para irmão, em japonês.

N.A.: Me desculpem a demora! Tentei fazer um capítulo longo, mas acho que não consegui XD Em todo caso, esse capítulo é uma transição para o que virá a seguir... me desculpem se ficou muito angustiante, eu tentei! ;-; Em todo caso, a parte em que o Hiei diz para a Yukina que o irmão dela deve estar morto foi retirada de um OVA de YYH, eu só fiz usá-la para criar essa situação. A fanfic está chegando perto do final (eu acho ), eu acredito que eu deva terminar por volta do capítulo 20, ou algo assim... obrigada a todos que estão acompanhando, espero que estejam gostando! Beijos e até o próximo capítulo, eu garanto que será melhor