Contos em Miniatura escrita por Goldfield


Capítulo 7
O Mal Que os Homens Fazem




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O Mal Que os Homens Fazem

Dedicado à Dra. Sônia Monteiro,

por todo o apoio e incentivo.

Olhou mais uma vez para o relógio em seu pulso. Não podia se atrasar. Passaria por cima de todos para não perder mais nenhum minuto. Em seu trabalho, aguardavam sua charmosa secretária e uma reconfortante xícara de chá, como todos os britânicos adoram.

As portas do vagão de metrô se abriram. Ele caminhou para dentro do trem, maleta em mãos, esbarrando em inúmeras outras pessoas apressadas, cujo principal transporte utilizado, assim como o dele, era o “Underground”. Aturdido, sentou-se num banco. A viagem seria rápida, poucos minutos, mas tempo suficiente para que ele refletisse sobre como seria mais um dia de trabalho, naquele caso, uma quinta-feira.

Olhou brevemente para as pessoas dentro do vagão. Uma senhora carregando uma bolsa, um rapaz com livros de estudo, uma jovem atraente... Os olhos dele fixaram-se nela. Sorriso bonito, cabelos compridos. Ele achou-a linda, e viu-se, em seus pensamentos, beijando aqueles lábios, abraçando aquele corpo... Pensou em levantar-se para se sentar ao lado dela, mas não o fez. Aquele sonho morrera ali.

Fitou a janela. Lá fora, a parede do túnel corria rapidamente, como se estivesse tão apressada quanto os ocupantes do metrô. Estava viajando num trem de ferro sob as pacíficas ruas de Londres. Era essa sua rotina. Ele tinha sonhos, ambições, uma vida inteira pela frente.

Foi quando veio o clarão, o som ensurdecedor, a explosão de fogo e fúria, provocada por mãos que há tempos se mancham com sangue inocente. Ouviu gritos, choro, lamentos. Seus olhos, ardendo, revelaram uma visão infernal. Pessoas mortas, mutiladas, queimadas. O vagão fora tomado pelas chamas e pelo desespero. A bela jovem que fitara era agora apenas um desolador cadáver, sem qualquer essência ou beleza.

Não sentia mais suas pernas. Percebeu que lhe escorria sangue pela boca.

Aos poucos, a vida e todas as suas promessas lhe abandonavam. Por quê? Qual a razão para aquela barbárie? No que crer, em que pensar naquele momento de tanta angústia? Deu seu último suspiro.

Londres, sete de julho de 2005.

Luiz Fabrício de Oliveira Mendes – “Goldfield”.


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