Contos em Miniatura escrita por Goldfield


Capítulo 3
O Vivido Rifle de Guerra




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/459481/chapter/3

O Vivido Rifle de Guerra

Lembro-me exatamente do dia em que nasci. Fui fabricado manualmente pelos soldados de um forte na Carolina do Norte, quando as armas ainda não eram feitas com máquinas, e logo fui enviado para a frente de combate. O ano era 1915 e lutei na Primeira Guerra Mundial nas mãos de um tenente britânico e dois anos depois passei para um sargento norte-americano, já que meu primeiro dono havia tombado durante uma batalha na França e fui resgatado por seus companheiros. Matei muitos alemães e no final da guerra fui para a casa do sargento, na cidade de Nova York.

Aproveitei a vida na “cidade que nunca dorme” por quase trinta ótimos anos, pendurado sobre uma simpática lareira que me aquecia, até que em 1941 veio a notícia que Pearl Harbor havia sido bombardeada e meu país entrava na Segunda Guerra Mundial: voltei para a Europa com meu dono, que já não era mais sargento e sim capitão. Orgulho-me de dizer que ajudei a impedir que Hitler dominasse o mundo agindo contra as tropas nazistas sem parar. Participei do desembarque na Normandia, entrei triunfante na Paris libertada, sempre ao lado do meu dono. Porém não fiz muitos amigos, já que as balas que entravam em mim iam embora muito rápido.

Mas o inevitável aconteceu: meu dono morreu em combate e fui abandonado no campo de batalha, ali ficando meses e meses, até o fim da guerra. Até que, num belo dia, fui recolhido por um casal de fazendeiros, que me levaram para sua propriedade na Hungria. Ali vivi contente cerca de dez anos, até que o filho do fazendeiro virou guerrilheiro e me levou para lutar contra as tropas soviéticas que invadiam o país. Voltei ao combate, agora como “arma antiquada”.

E por fim parei aqui, neste museu húngaro. Já estou velho e acabado, não paquero mais nenhuma pistola, garrucha ou baioneta, e raramente alguma criança ou jovem aponta seu dedo interessado para mim. Escrevo isto me lembrando de meus dias de glória, quando lutei contra poderosos exércitos.

Agora outros mais modernos e letais me substituem, visto que não cessa a sede humana por guerra.

John Winchester.

Luiz Fabrício de Oliveira Mendes – “Goldfield”.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Contos em Miniatura" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.