Lembre-me! escrita por Jacqueline Sampaio


Capítulo 4
Capítulo 3




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-NOSSA! Essa é realmente a nossa casa? –Perguntei enquanto olhava freneticamente para o local pela janela do carro. Tinha um sorriso gigantesco no rosto. O terreno era enorme, arborizado, repleto de pássaros, borboletas, flores aqui e ali. Um jardim magnífico contornava toda a casa, o prédio principal mais parecia um palácio pelo tamanho, tinha uns quatro andares e era bem extensa, sua arquitetura era coloquial, uma restauração perfeita. Um pequeno palácio branco, um sonho. Edward guiou o carro para a lateral da casa, havia uma garagem lá. Entrou lentamente na garagem parcialmente iluminada por suas paredes serem de vidro.

-Essa casa é enorme! Quem mora aqui além de nós dois? –Perguntei a Edward olhando as lindas maquinas que estavam paradas no amplo estacionamento.

-Bem, moram os empregados responsáveis pela propriedade. –Edward estacionou ao lado de um carro preto incrível. Eu não reconhecia as marcas, mas sabia que deviam ser caros.

-Que carro é esse que você dirige? –Perguntei enquanto desafivelava o meu cinto assim como Edward.

-Um Volvo prateado. Eu o uso para ir ao trabalho. –Saímos do carro, um empregado veio nos recepcionar.

-Senhor Cullen, bem vindo. –Disse sorridente. Seu sorriso desmoronou um pouco quando me viu, parecia sorrir forçadamente. –Bem vinda senhora Cullen. Fico feliz em ver que está melhor. Soube que perdeu sua memória, o senhor Cullen nos avisou. Uma lastima. –Falou num tom falsamente pesaroso.

-Recolha os pertences da senhora Cullen. A propósito Bella... –Edward se pôs ao meu lado. –Este é Joel, nosso mordomo. –Edward apontou para o homem diante de mim, devia ter uns trinta, trinta e cinco anos, Era alto, magro e meio calvo. Joel pegou minha bolsa e caminhou para o interior da grande casa. Eu fiquei parada olhando os outros carros do local.

-E esse carro preto? É seu? –Apontei para um luxuoso carro ao lado do Volvo. Edward deu um meio sorriso.

-Sim, o carro é meu. É um Aston Martin. –Disse. O nome soou familiar e tardiamente me toquei de algo.

-Como é possível isso? Eu me lembro de lugares, comidas, objetos e tudo mais, mas não me lembro de pessoas. –Comentei. Edward olhava para seu Aston preto, vago.

-O médico disse que você teve uma lesão cerebral em uma região do cérebro responsável pelo arquivamento de lembranças de pessoas, algo assim. Ele certamente explicará melhor a você à medida que você for sendo submetida ao tratamento. –Falou. Meus olhos vagaram para o espaço enquanto eu assentia em concordância com sua explicação. Vi mais um carro um pouco afastado do Aston Martin preto, era um conversível vermelho.

-Aquele conversível vermelho é seu Edward?

-Não, ele é seu. –Ele disse com um meio sorriso. Eu andei cambaleante até o carro afastado alguns metros de nós. O que? Aquele carro incrivelmente lindo era meu?

-Eu sei dirigir? –Perguntei mais para mim mesma do que para Edward.

-Sim. Está carro é seu.

-No hospital me falaram que eu sofri um acidente de carro, com meu carro e que foi perda total. Foi este carro aqui? –Perguntei enquanto tocava na lataria, a pintura de uma cor reluzente.

-Era igual a este. Infelizmente o carro ficou em pedaços, mas a seguradora cobriu o prejuízo com este carro idêntico ao anterior. Aquela moto também é sua. –Edward tocou em meus ombros virando-me para o lado sul da garagem, havia uma moto linda de cor laranja no canto.

-Nossa! Eu também sei dirigir motos? Legal! Essa moto é linda! –Falei admirada rumando para lá. A moto era fantástica, me perguntei se conseguiria me lembrar de como dirigir.

-Depois que tal passearmos pelo terreno? Assim vamos ver se você ainda se lembra como dirigir sua moto. –Edward sugeriu sorrindo. Eu sorri também. E então ficamos nos olhando, o silêncio era insuportável. Mais uma vez eu vi nos olhos de Edward algo, um brilho imprudente nos olhos. Edward queria fazer algo, mas hesitava.

-Então... –Murmurou. –Vamos. Eu irei lhe mostrar a casa, ou pelo menos boa parte. –Passou a caminhar até uma porta larga que estava aberta desde a passagem do mordomo. Eu segui junto a ele, subindo uma escada encapetada na cor marrom. Quando nós chegamos ao salão principal eu ofeguei. O lugar era lindo em seu interior, uma casa de decoração antiga com direito a pinturas, esculturas, móveis antigos de sofisticação invejável. Um punhado de empregados, sete do sexo masculino e sete do sexo feminino, estavam colocados um ao lado do outro vestindo uniformes tradicionais das corres branca e azul escuro.

-Sejam bem vindos, senhor e senhora Cullen. –Falaram num coro. O mordomo descia as escadas agora.

-O quarto da senhora Cullen foi devidamente limpo e arrumado e o buque que o senhor comprou foi posto no local. –Joel disse. Eu estaquei. Meu quarto? Ah, claro. Claro que Edward providenciaria um quarto para mim, seria muito estranho ter que dormir com ele.

-Sirva o almoço. Bella deve estar com fome, não é? –Edward olhou para mim. Eu assenti.

-Eu gostaria de ir para o meu quarto tomar um banho e trocar de roupa. Tomei banho apenas pela manhã então...

-Tudo bem. –Edward olhou para Joel. –Joel, leve-a até o seu aposento. Eu tenho que dar alguns telefonemas e os farei antes do almoço. –Disse seguindo para outro lugar. Os empregados se dispersaram seguindo para seus afazeres. Segui o mordomo subindo a grande escadaria em forma de caracol. Eu me perdia com a opulência daquele lugar. Subimos um lance de escadas para o segundo andar e mais um lance para o terceiro. Joel parou em frente a uma porta dupla de cor de mogno, assim como as portas e janelas da casa.

-Este é seu aposento senhora Cullen. –Joel anunciou abrindo a porta. Eu adentrei e fiquei muda. O quarto era lindo, uma parede inteira de vidro com visão privilegiada para o jardim, uma cama king com cobertas vermelhas contrastando com a cor alva do quarto, os móveis vermelhos. Duas portas: uma devia ser do banheiro e a outra o closet, uma estante cheia de CDs e DVDs, uma tela enorme presa a parede com um DVD embutido na parede como a televisão. Era um quarto relativamente simples, mas sua simplicidade me impressionava.

-Uau! Edward preparou tudo isso pra mim? –Comentei para mim mesma. Para a minha surpresa Joel falou.

-Não senhora, este quarto foi decorado pela senhora. –Virei e o olhei, ainda estava na porta.

-Como assim? Eu sempre tive um quarto separado do de Edward?

-Sim senhora Cullen. A senhora nunca dividiu um quarto com ele... Alias... Dividiu por pouco tempo, mas depois exigiu um quarto só para a senhora. Mas ora... O que estou dizendo! Pela sua expressão surpresa, meu senhor nada disse sobre isso. –Joel disse confuso pela minha face espantada. E eu estava espantada afinal nós éramos casados. Não deveríamos dormir juntos? Tudo soava estranho, suspeito.

-Bom então eu desço logo para comer junto com o Edward. Diga para ele me esperar, por favor. Eu não quero comer sozinha. –Ao falar notei o assombro no rosto de Joel. –O que foi?

-Bem senhora Isabella, não é comum a senhora comer junto ao senhor Edward. O senhor Edward provavelmente comerá antes da senhora em algum lugar da casa.

Novamente fiquei surpresa. Não era comum Edward e eu comermos juntos? O olhei novamente espantada, tudo que eu estava descobrindo não estava se encaixando no que eu pensava ser um casamento.

-Vejo que o senhor Edward falou muito pouco de sua antiga rotina, não é? Bem não serei eu a contar. Perdoe-me por aborrecê-la. Se precisar de algo, senhora Cullen, basta chamar um dos empregados apertando essa campainha. –Joel apontou para um botão branco quase imperceptível próximo a porta. –Essa campainha esta ligada a cozinha. Alguém virá para auxiliá-la. –Falou dando um sorriso incrivelmente falso e saindo. Eu olhei desnorteada para tudo. Aquele era meu quarto, eu poderia saber as lembranças que me escapavam apenas vasculhando o lugar, mas antes... Corri para a porta e chamei por Joel que ainda caminhava pelo corredor.

-Senhor Joel?

-Sim? –Ele virou-se.

-Diga a Edward que vou descer rapidinho. Diga que gostaria que ele almoçasse comigo. –Assim sendo entrei no quarto.

...

Demorei mais tempo do que pretendia. Foi difícil entrar naquele banheiro fabuloso e ir diretamente para o Box tomar banho. O banheiro todo vermelho (eu realmente devia amar vermelho ou algo assim). Após o relaxante banho foi difícil escolher algo simples em meio a tantas roupas espetaculares e tantos acessórios, o closet era do tamanho do meu quarto, que já era grande, no mínimo. Encontrei algo simples no meio das roupas, um vestido escondido no interior da gaveta de lingeries, um vestido azul escuro de alça até os joelhos.

-Espero não ter demorado. –Disse ofegante, eu simplesmente corri até a sala de jantar (melhor não comentar que me perdi na tentativa de encontrar o lugar). Edward estava de pé em frente a uma das grandes janelas, dois empregados estava de pé próxima a mesa esperando para nos servirem.  

Edward virou-se sorrindo.

-Tudo bem. Vamos comer agora. –Edward sentou na ponta da grande mesa de mogno em uma cadeira da mesma cor forrada com veludo vermelho. Uma empregada aproximou-se de Edward com um sorriso de orelha a orelha. Senti algo emanar daquela empregada... Interesse em Edward, no mínimo.

Outra empregada veio me servir, ao que tudo indicava meu lugar era na outra ponta da mesa, bem longe de Edward. Nossa, por que precisávamos ficar tão longe um do outro? Levantei e chamei a empregada que me servia com o dedo. Ela veio e cochichei no ouvido dela.

-Por favor, pegue essas coisas e leve para a cadeira ao lado do senhor Cullen. –Eu disse. A empregada me olhou com assombro. Acabou acatando ao meu pedido. Edward ficou espantado quando caminhei até ele, sorrindo, e sentei em uma cadeira próxima a sua, a empregada colocando meu prato em frente a mim.

-Melhor assim né? –Sorri. Edward pareceu surpreso com minha atitude, uma surpresa que pareceu deixá-lo feliz. Fiquei quieta enquanto serviam a entrada.

O almoço foi um evento silencioso e constrangido de ambas as partes. Eu tinha muitas perguntas para fazer com o pouco que descobri ao meu respeito, mas tinha receio de perguntar. Algo me dizia que Edward era a última pessoa que deveria me dizer certas coisas. Mas se não fosse ele quem mais me diria?

-Edward, você estará ocupado após o almoço? –Perguntei sem querer ser inconveniente.

-Infelizmente tenho que ir a empresa resolver um assunto. Prometo que voltarei antes do jantar.

-E você vai agora?

-Sim. Perdão. –Edward disse. Eu dei de ombros.

-Tudo bem Edward. Eu vou ficar bem. Agente se fala a noite então. –Me despedi triste por que eu sabia que não me sentia bem estando sem ele naquela casa.

...

Era estranho. Tudo o que encontrei em meu quarto foram roupas, sapatos, bolsas, acessórios, produtos de beleza... Nada de álbum com fotografias ou diário ou qualquer coisa que me ligasse a alguém. Uma palavra surgiu em minha cabeça enquanto eu olhava os objetos do meu quarto: insensível. Eu era insensível em minha antiga vida? Como pode alguém não ter nenhum pertence que não seja valioso, um pertence que mostre que você se importa com alguém?

Aquele quarto, apesar de muito bonito e espaçoso, era frio. Frio por que a pessoa que o habitava parecia não ter apego a ninguém, exceto a objetos materiais e fui eu a antiga moradora desse quarto. Enquanto caminhava com os olhos distraídos pela extensão de meu quarto, olhei para a paisagem fora da parede de vidro que ladeava meu quarto. Uma paisagem bela cercada de flores e de... Piscina. Uma piscina linda!

“Nossa! Será que posso nadar?” –Pensei e não esperei para ter meu pensamento respondido. Graças a minha tarde fuçando meus próprios pertences eu sabia onde ficavam alguns dos objetos no fabuloso closet. Peguei um maiô preto, o mais discreto dentre todas as peças que consegui, e o vesti. Peguei também um roupão vermelho que vesti por cima do maiô. Consegui driblar os funcionários e sair sem ser percebida, eu não queria uma platéia observando-me. Felizmente todos estavam ocupados demais com os preparativos do jantar.

Eu não havia percebido que tinha escurecido, perdi tempo demais analisando meu novo quarto. A noite estava fria, mas isso não me fez recuar. Ainda sim sai pela porta lateral da casa que dava para a garagem e, após passar pela garagem eu caminhei para o lugar onde devia ficar a piscina. A achei sem problemas.

“Acho que dá tempo de um mergulho antes do jantar.” –Pensei enquanto me aproximava da borda da piscina. A piscina, como tudo na casa, era espetacular. Havia um trampolim em um canto e uma escadaria mais afastada. Cadeiras brancas rodeavam a área da piscina. Retirei o roupão deixando-o em uma cadeira. Estremeci com o frio. Aproximei-me da borda e toquei a água com a mão, estava morna. Sorri. Caminhei pela borda em direção ao trampolim. Caminhei lentamente para a borda do trampolim e dei pequenos saltos para ganhar altura.

Um pulo.

Dois pulos.

Três pulos.

Eu saltei e consegui distancia afastando-me consideravelmente da borda e mergulhando.

Ah, a água estava muito agradável! Era tão cristalina e as luzes ao fundo da piscina faziam com que tudo pudesse ser visível. Eu me permiti ficar um pouco no fundo, segundos eu diria e então tentei emergir... Tentei. Estranho, eu não tinha força nos pés para emergir. Fiz o possível, mas notei, tarde demais, que eu não sabia nadar. Eu não sabia nadar. Essa conclusão aterrorizante entrou em mim assim como a água cheia de cloro que estava a minha volta. Eu nem poderia gritar, abrir a boca só faria a água entrar mais e mais nos meus pulmões.

Eu iria morrer.

A frase veio potente. Estava desorientada e não percebi que uma figura de vestes negras estava na água e agora me envolvia puxando-me para a superfície.

-RESPIRE! –Gritou. Eu tentei respirar, mas tudo o que saia de minha boca e narinas era água. Um braço me envolvia pelo tórax e fui arrastada para a escadaria. Foi um alivio sentir as escadarias abaixo de mim. Fui deitada no chão e pude ver nitidamente quem estava comigo. Era Edward, estava com o terno molhado, tinha o rosto assustado.

-Bella, você ta bem? –Perguntou, a voz falhando. Eu ainda tossia e estava desorientada. Edward virou-me de bruços e deu tapinhas em minhas costas, a tosse foi cessando. Endireitei-me e sentei, Edward estava sentado bem próximo de mim, quase de frente. Ele colocou as mãos nos meus ombros e vi algo brotar nos seus olhos, raiva.

-O QUE DEU EM VOCÊ? POR QUE ENTROU NA PISCINA? VOCÊ SABE PERFEITAMENTE QUE NÃO SABE... –Ele estacou. Eu o olhava, assustada. –Bella, você sabia? Que não sabe nadar? –Eu apenas neguei com a cabeça. Eu não sabia desse fato e isso quase custou minha vida.

Edward suspirou pesadamente.

-Onde estão os empregados? Por que ninguém estava de olho em você? –Ele perguntou enquanto se levantava.

-Não os culpe. A culpa foi minha. Eles estão atarefados com o jantar então... Eu consegui sair sem ser percebida. –Disse, a voz falhando pela garganta dolorida. Levantei e cambaleei, acabei sentando em uma das cadeiras de plástico para não cair. Edward não estava ao meu lado, havia ido até o outro lado da piscina para pegar meu roupão. A golfada ártica dos ventos daquele fim de tarde me tomou fazendo meu corpo tremer vertiginosamente. Mais rápido do que pensei, Edward estava ao meu lado ajudando-me a vestir meu roupão.

-Tem certeza que está bem? Podemos ir a um hospital ou eu posso ligar para um médico vir aqui e...

-Eu to bem Edward, não foi nada graças a você. Obrigada, você salvou minha vida. –Disse e minha voz ferveu de gratidão. Num impulso estranho eu me inclinei e o abracei fortemente. Edward lentamente sentou na mesma cadeira que a minha sem sair do abraço e ficou ali, sendo abraçado por mim. Os braços timidamente contornando-me pela cintura, puxando-me para mais perto dele.

-Deixemos pra lá, o pior já passou. Felizmente eu estava chegando quando vi você no trampolim. Se eu não tivesse corrido rápido você... –Edward se interrompeu e afastou-se de mim. –Está tudo bem, não está? –Ele perguntou inseguro.

-Sim. Vamos pra casa. O Jantar já deve estar sendo servido há essa hora. –Sorri e me levantei. No mesmo instante em que o fiz eu cambaleei. Meu equilíbrio não havia voltado. Edward levantou-se para impedir minha queda.

-Tem certeza de que está bem? –Ele perguntou cheio de duvida.

-Sim, só estou um pouco sem equilíbrio e... –E quando me toquei Edward havia me erguido. –EDWARD! –Gritei em pânico. –ME PÔE NO CHÃO! –Exigi completamente sem graça. Edward pareceu se divertir com meu constrangimento.

-Vamos, eu só não quero que caia ou algo assim.

-MA-MAS O QUE OS FUNCIONARIOS VÃO PENSAR!

-Que somos marido e mulher, ora! –Disse divertido. –Não se preocupe, eu vou entrar sem ser percebido. –Murmurou em meu ouvido. Fiquei vermelha como uma pimenta. Bem como Edward prometeu, ninguém percebeu que nós estávamos no interior da casa. Os funcionários conversavam animadamente na cozinha, era possível ouvir as vozes estridentes e o assunto envolvido. Fiquei surpresa quando notei qual era o assunto dos empregados: eu.

-Não dá para acreditar que ela perdeu a memória! –Uma voz estridente dizia. –Deve ter inventado isso por causa de todas as burradas que fazia.

Eu estaquei com as palavras. Estava rígida nos braços de Edward. Eu não ousei olhá-lo. Sacudi-me levemente nos seus braços e Edward entendeu que eu queria que ele me descesse. Ele o fez, calado.

-Eu vou tomar um banho e vestir roupas limpas. Eu acho que vou querer comer no meu quarto. Pode pedir para alguém levar? –Perguntei sem vê-lo fingindo me distrair com o roupão, ajeitando-o.

-Tudo bem. –Eu o ouvi murmurar e então caminhei, ou melhor, corri para o meu quarto. Por que eu fiz isso? Simples: era aterrorizante existir pessoas ao seu redor que sabiam mais sobre você do que você mesma. E o pior era que eu agora me sentia assustada em descobrir quem eu era.

Tomei um demorado banho. Quando sai a comida estava servida em uma mesinha branca com uma cadeira, colocadas lá. Vesti uma camisola da Victoria Secret preta, longa de alças e comi a comida ofertada. Eu estava me sentindo mais estranha nesta casa do que em qualquer outro dia. Parecia que eu iria enlouquecer não importava que lugar da casa eu escolhesse para ficar. E eu desejei sinceramente ter aceitado a idéia de Edward de ficar com minha mãe. Um barulho de vozes me tirou de meu devaneio. Eu deixei o prato de lado e abri a porta. Caminhei lentamente até o ultimo lance de escadas que dava para a sala de visitas, vi Edward de pé olhando furioso para uma das empregadas, reconheci a empregada que chorava copiosamente diante de um Edward colérico, era a empregada que havia me servido no almoço e quando ouvi sua voz percebi que era ela que também havia tecido aquele comentário maldoso sobre mim.

-Por favor, senhor Cullen... –Ela implorava tremula para Edward. Ele foi categórico.

-Pegue suas coisas e rua! Saia daqui amanhã sem falta, você receberá seus honorários. –Falou e senti que o assunto encerrara. Convergiu para a mesma escada em que eu estava. Praticamente corri para meu quarto. O que foi aquilo? Edward demitiu a empregada? Por quê? Teria sido por mim? Coisas e coisas giravam na minha cabeça e me senti incapaz de comer, eu estava confusa demais para ingerir algo.

Eu estava um caos, tudo estava claro e escuro demais para mim. Minha vida parecia aberta como um livro e ao mesmo tempo fechada. Quem eu sou? Acabei sentando próxima a porta, os olhos no nada. Ouvi uma leve batida. Levantei e atendi a porta sem me preocupar em vestir um hobby por cima da camisola. Era Joel, o mordomo.

-Senhora Cullen, terminou sua refeição? Vim para levar a louça suja e para perguntar se deseja mais alguma coisa.

-Eu não terminei de comer, mas você pode levar. Perdi o apetite. Obrigada. –Dei espaço para Joel entrar, ele prontamente o fez recolhendo a comida. Olhou o prato com a testa franzida, eu praticamente não comi nada. Assim que Joel saiu com os pratos segui para o banheiro a fim de escovar os dentes, fiz o processo bem lentamente. Quando o conclui pensei em seguir direto para a cama, mas outra batida na porta ecoou quebrando o silencio.

-Bella, eu posso entrar?

Edward.

Peguei meu hobby preto em cima da cama e o vesti.

-Entra. –Disse após sentar na cama. Edward entrou cauteloso, notei que vestia roupas próprias para dormir, eu não tinha percebido que ele havia trocado de roupa, era a primeira vez que eu o via com roupas casuais. Calça moletom preta com camisa preta, um hobby preto cobrindo-o, mas aberto na frente. Ele estava sério, ainda resquícios a mascara de fúria que vi tomar seu rosto há poucos minutos na sala.

-Você está bem? Eu vi Joel com sua refeição e você quase não comeu. Se for pelo episodio lastimável agora a pouco eu resolvi o assunto. Demiti a empregada.

-Não deveria fazer isso Edward. Se ela é competente então a mantenha como sua empregada. Se você for demitir todo e qualquer funcionário que não gosta de mim, você terá que fazer a manutenção da nossa casa. –Brinquei e sorri falsamente.

-Não tire conclusões precipitadas por um ou dois comentários. Você não é assim, aquela empregada mentiu. –Ele murmurou e não fitava meus olhos, ele claramente mentia.

-Eu não te conheço direito, mas... Você... Você está mentindo, não é? –Eu disse sorrindo tristemente para ele. Edward emudeceu. –Eu preciso saber quem sou eu Edward e sei que, no momento, só você pode me dizer. –E eu vi a hesitação nos olhos de Edward. Poderia apostar que ele não queria que esse tipo de situação acontecesse, quando o coloco na parede para que ele responda meus questionamentos.

Silencio.

Eu estava prestes a desconversar quando ouvi a voz de Edward com uma emoção que me queimou até a alma.

-Você é a pessoa mais maravilhosa que já conheci. Nunca duvide disso Bella. Não se preocupe com quem você foi, apenas viva.

Foi libertador! As palavras de Edward foram como um bote salva-vidas em meio a um naufrágio. Eu levantei da cama, caminhei com certa urgência e o abracei. Eu comecei a chorar. Lembrei-me que até então eu não tinha chorado, as novidades eram tantas que eu não parei para pensar na grande confusão que era minha vida. Mas agora, após estar em uma casa estranha cercada por estranhos que não gostavam de mim, eu me senti desorientada e triste, muito temerosa. Não mais. Naqueles braços que gentilmente me abraçava eu me senti quente e protegida. Era tão bom estar nos braços de Edward, a melhor coisa que já experimentei desde que acordei para minha vida, minha nova vida.

“...Não se preocupe com quem você foi, apenas viva.” –Lembrei-me das palavras de Edward e me senti bem. Eu não iria viver minha antiga vida, eu viveria uma nova vida. E Edward indiscutivelmente ia estar ao meu lado.

Poderia soar estranho pensar nisso, mas... Agora eu sabia por que eu havia me apaixonado por ele.

 


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Notas finais do capítulo

Leiam também minha fic chamada "Internato Cullen: um amor avassalador" que está sendo postada aqui por uma leitora. Como ela começou a postar eu não vou postar. Se quiser podem deixar comentários daquela fanfic aqui para eu saber o que vocês acham.