Lembre-me! escrita por Jacqueline Sampaio


Capítulo 27
Capítulo 26




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/45916/chapter/27

Eu permaneci no chão frio do banheiro, me lastimando, por tempo demais. Ao cair na cama onde Edward repousava, dormi rapidamente.

Minhas coisas já estavam na casa, até mesmo pertences da época em que namorei com Jake. Quis me livrar daqueles pertences, mas não consegui. Optei por escondê-lo no labirinto verde, local que só eu conseguia entrar. A meu pedido Edward e eu não tivemos lua de mel, não viajamos nem nada disso. Carlisle decidiu nos dar a casa e passou a morar em um apartamento por algum tempo até a sede em Dubai estar pronta.

Edward havia assumido o comando da empresa que antes pertencia a seu pai. Por isso não estranhei quando, pela manhã após nossa primeira noite, eu não o encontrei deitado. Ele tinha seus compromissos afinal. Ainda sim Edward fez questão de deixar em seu lugar da cama uma rosa vermelha com um cartão. Nele estava escrito:

“Infelizmente preciso trabalhar. Estarei cedo para compensar minha falta. Sentirei sua falta pelo tempo em que estiver ausente. Eu amo você, mais do que você imagina.

Edward”.

Palavras bonitas, palavras que só enchiam meu peito de dor. Eu chorei naquela manhã segurando a rosa e o cartão.

...

Eu não deveria fazer isso, sabia disso. Edward ficaria preocupado se soubesse, mas eu precisava de um tempo de toda essa loucura de casamento. Olhei novamente para os comprimidos para dormir que havia comprado em uma drogaria naquela tarde. Peguei dois, sendo que um era mais do que necessário, e os engoli. Escondi a caixa de comprimidos na minha parte do closet. Fui para a cama trôpega, sabendo que quando deitasse minha cabeça no travesseiro, eu iria dormir rapidamente. Edward era um cavalheiro. Mesmo tendo direitos sobre mim como meu esposo ele não iria me tirar de um sono profundo para satisfazer seu corpo com o meu.

Dormi de imediato sabendo que, por mais que Edward não descobrisse que eu estou tomando remédios para dormir para evitá-lo, ele ficaria magoado com meu ato.

...

Manhã do dia seguinte. Minha cabeça estava pesada, tomei remédios demais. Edward já não estava no quarto. Escapei de um dia, mas sabia que não poderia fazer isso o resto de minha vida. Uma hora eu ia ter que encarar meu casamento com Edward. Notei novamente uma flor e um cartão com escritos lindos nele. Chorei. Edward não merecia isso, mas agora era tarde demais para voltar atrás. Procurei seguir com meu dia normalmente. Agora que estava casada não precisava trabalhar, uma condição que Edward sutilmente pediu, tinha um carro dado por Edward, um conversível vermelho, e nada para fazer. Decidi sair com Jessica e me distrair com qualquer coisa. Ficar naquela casa não estava me ajudando.

...

Eu evitei Edward por um dia tendo tomado remédios para dormir e pensei que poderia evitá-lo mais vezes. Conclui que isso não seria mais possível quando vi o seu carro na garagem. Estacionei meu carro ao lado do seu e respirei fundo. Eu ia ter que encará-lo após ter ficado um dia sem vê-lo.

“Vamos lá Bella. Até parece que Edward é desagradável!” –Pensei saindo do carro, uma sacola de compras na mão. Minha saída com Jessica foi um tédio, ela não sabia fazer outra coisa que não fosse falar da vida alheia. Ainda sim era melhor que ficar naquela casa chorando pela vida feliz que poderia ter tido com Jacob e chorando por saber que eu não conseguiria fazer Edward feliz.

Esbarrei com o mordomo Joel na porta. Ele sorriu falsamente para mim.

-Boa tarde senhora Cullen. O senhor...

-Eu sei, eu vi o seu carro. Onde ele está? –Perguntei com rudeza. Não é do meu feitio ser desagradável com uma pessoa, mas algo me dizia que aquele Joel não era de confiança.

-O senhor Cullen está no aposento. –Joel disse rumando para a cozinha enquanto eu subia as escadas. Suspirei pesadamente. Fazer sexo com Edward não tinha sido algo penoso como imaginei que fosse, mas também não tinha sido incrivelmente bom. A todo o instante enquanto ele me tocava eu pensava em Jake e isso doía.

Edward estava em nosso quarto, naturalmente.

-Boa tarde. Chegou cedo, o que houve para estar aqui? –Perguntei e só então notei que Edward segurava algo nas mãos. Meus remédios para dormir. DROGA!

-Bella, amor, por que você não me disse que estava tendo problemas para dormir? –Perguntou olhando para o remédio em suas mãos. Engoli seco.

-Não quis preocupá-lo. –Murmurei enquanto colocava a sacola de compras no chão. Eu sempre fui uma péssima mentirosa. Esperava que ele não percebesse que eu mentia.

-Tem prescrição médica para isso? –Ele ainda encarava a caixa e parecia farejar a verdade.

-Não, eu comecei a ter insônia um pouco antes do casamento. Não tive tempo para ir a um médico então eu comprei esse remédio para ajudar. Como você achou esse remédio? –Perguntei desconfiada. Como ele sabia? Vasculhou minhas coisas?

-Você estava estranha ontem e, bom, eu achei um comprovante de compra de remédio para dormir no chão. –Mostrou um papel num tom amarelado.

MALDITO DESCUIDO!

-Desculpe por não ter avisado. Não achei algo necessário.

-Tudo sobre você me interessa. Acho melhor marcarmos um medico para que ele avalie se você pode tomar um remédio pesado como este para dormir. Tudo bem? –Edward virou-se para me olhar. Eu assenti derrotada. Será que eu não conseguira escapar dele essa noite? Ele levantou-se da minha cama e veio até mim. Fiquei parada tentando manter uma expressão tranqüila enquanto meu coração batia acelerado. Edward ficou próximo de mim com uma mão acariciou meu rosto.

-Desculpe, acho que não estou me dedicando como deveria. Eu deveria ter pedido dispensa da empresa por alguns dias para aproveitarmos nossa lua de mel.

Coloquei minha mão sobre a dele que afagava minha bochecha.

-Não é preciso. Cuide de seus negócios. Eu ficarei bem. –Disse risonha. Sentia o olho de Edward avaliando-me.

-Se está tão bem então por que anda chorando? –Ele perguntou, suas mãos em meu rosto. Seus lábios roçando os meus.

Era o pior! Alguém estava contando a Edward como eu estava agindo, alguém me espionava! Por algum motivo pensei em Joel.

-Quem disse que eu choro? –Perguntei tensa. Edward encostou sua testa na minha, com os olhos fechados suspirou.  

-Bella, eu não estou fazendo você feliz? –Ele perguntou. Sua voz, assim como sua expressão facial, deixavam claro que ele estava sofrendo. Que bosta! Em menos de 48 horas eu já estava fazendo Edward infeliz!

-Não Edward! Claro que não! De onde tirou essa idéia ridícula? –Perguntei apavorada enquanto segurava seu rosto. Edward abriu seus olhos e fixos nos meus. Eu não pensei mais. O puxei para beijá-lo me permitindo um beijo muito mais intenso do que os beijos que eu dava em Jake. Edward me ergueu do chão encaixando-me em seu colo levando-nos até nossa cama. Jogou-me lá muito delicadamente e passou a distribuir beijos por todo o meu rosto.

Subitamente parou. Eu estranhei seu comportamento, ter parado enquanto estávamos no maior amasso. Edward ergueu seu rosto para me olhar, tinha os olhos perdidos, muito embora olhasse pra mim.

-Me perdoe. –Murmurou baixinho, quase não pude ouvir. Aquilo me doeu. Edward achava que eu estava infeliz por sua culpa. Se ele soubesse a verdade...

-Hei. –O chamei. Edward pareceu finalmente me notar. –Por que pede perdão? Você não fez nada. Sou eu que estou deixando o passado bagunçar a minha vida. Eu não deveria permitir isso.

Acariciei seu rosto, a centímetros do meu, com minhas mãos. Edward pareceu relaxar e verdadeiramente apreciar o meu toque.

-Eu sei que Jacob está em primeiro lugar, eu não acho que vá remediar isto, mas... Se eu ficar em segundo, é mais do que o suficiente pra mim. –Ele disse e pude sentir a veracidade em suas palavras. De certa forma Edward sempre foi o segundo para mim, algo que não pude impedir de acontecer. Talvez fosse por que eu passava mais tempo com Jake e por que Jake e eu de certa forma éramos iguais, mesmo com a diferença de classes. E me perguntei, enquanto olhava para um Edward amargurado diante de mim, se minha vida tivesse sido melhor se Edward sempre estivesse em primeiro ao invés de Jake.

Ergui um pouco meu rosto e o beijei na testa, meus olhos presos nos dele.

-Jacob é meu passado. Você é meu presente e meu futuro. Super clichê, eu sei, mas é a mais pura verdade. E a propósito, eu amo você.

Pela primeira vez senti uma pontada de sinceridade em minhas palavras, isso desde que comecei a namorar Edward há dois meses. Talvez eu já o amasse de certa forma. Não um sentimento avassalador com o que sentia por Jake, mas algo que certamente não poderia ser ignorado.

Fizemos amor à tarde inteira e senti uma imensa satisfação por Jake, naquele momento, não povoar minha mente. Pude me concentrar em Edward e experimentei, mesmo com dúvidas sobre meus sentimentos, ter a esperança de que um dia eu pudesse dizer a ele a frase “eu te amo” de forma verdadeira, plena.

...

O centro do labirinto verde. Fui para lá com um objetivo. Caminhei até a fonte e peguei meu baú de madeira onde sempre coloquei as coisas mais importantes. Ao pegá-lo e abri-lo, procurei não olhar para os pertences que me lembravam Jake. Eu só queria uma coisa daquele baú: meu diário.

Naquele caderno eu escrevia apenas os fatos mais importantes. Evitava ler, haviam momentos que não queria recordar. Achei uma folha em branco. Peguei uma caneta de dentro do baú e fui me sentar em algum lugar mais confortável. Começaria a escrever.

Querido diário

Eu pensei que iria apenas sofrer estando casada com alguém que não amo, mas descobri que não há como sofrer tendo alguém tão maravilhoso como Edward ao seu lado.

Essa gravata está boa? –Edward perguntou para mim. Levantei da poltrona onde estava deixando o livro de lado. Edward estava de frente para o grande espelho do closet tentando ajeitar o nó na gravata.

-Está sim. Vermelho fica bem em você, mas a gravata está torta. –Disse aproximando-me dele e arrumando sua gravata. Notei que Edward sorria. Ele adorava esse nossos dia-a-dia como um casal.

Edward é maravilhoso. Sinto que só agora eu o estou conhecendo.

-Jantar hoje à noite? –Edward propôs enquanto beijava meu pescoço. Arfei.

-É difícil dizer não com você me beijando desse jeito, concorda? –Disse divertida.

A casa dia que passo ao seu lado, fico ainda mais encantada com ele. Jake e Edward sempre foram diferentes. Estou começando a me acostumar com o jeito de Edward, mas do que eu esperava.

-Que tal termos um filho? –Edward subitamente perguntou levantando sua cabeça para me encarar. Eu encarava o teto enquanto acariciava suas madeixas acobreadas.

-Sou muito nova, não acho que esteja preparada. Além disso, antes do casamento implantei um DIU no meu útero.

-Ah! –Edward disse deitando sua cabeça em meu colo. Eu sabia que minhas palavras o aborreceram embora ele não expressasse isso com clareza.

-Edward? –Eu o chamei. Edward ergueu a cabeça. Peguei seu rosto entre minhas mãos e o beijei. –Nós temos tempo. Muito tempo. Logo chegará o dia em que irei querer ser mãe e será você a me dar esse privilégio.

Minhas palavras tiveram seu efeito. Edward sorriu e beijou-me. Tudo foi esquecido enquanto fazíamos amor.

E realmente, meu amigo, eu estou feliz. Agora, com o passar destes dois meses de casamento, posso dizer que sinto algo por Edward. Quando digo “eu te amo” para ele, já não soa como algo falso. Pode não ser um grande amor, mas Edward sem dúvida alguma é alguém querido para mim. Eu estou completamente apaixonada por ele.

Fechei meu diário guardando-o no baú. Decidida a, quem sabe, deixar aquela caixa esquecida para sempre. Jake estava seguindo com sua vida. Eu também seguira com  minha.

Levantei-me e rumei para fora. Naquela linda manhã eu queria aproveitar, de preferência com Edward. Faria uma surpresa, sabendo que ele aprovaria. Iria ao seu escritório e o convidaria para almoçar comigo. Demorei alguns minutos para me produzir, querendo estar bem bonita para ele. Usei um vestido azul, Edward gostava de azul em minha pele. Enquanto saia em meu carro eu sorri para aquela beleza da natureza.

...

Segurando um pequeno buquê de margaridas que comprei para Edward no caminho, aproximo-me de sua sala. Uma secretaria risonha me recepciona.

-Senhora Cullen, boa tarde. –Diz em uma voz amável.

-Oi. Eu vim falar com o Edward. Ele está ocupado?

-O senhor Cullen está em uma reunião com seu pai, senhor Carlisle.

-Sei. Vou esperar. –Olhei em volta e vi cadeiras promissoras. Sentei ali.

-Deseja algo enquanto espera senhora Cullen? Algo para beber...

-Ah, não precisa! Estou bem assim. Obrigada. –Disse a simpática funcionaria. Ele sorriu e afastou-se para seu trabalho. Olhei envolta, para a opulenta decoração, para os funcionários que transitavam por aquele corredor, só para poder me distrair. O tempo foi passando a minha impaciência crescendo. Levantei-me e rumei para a sala de reuniões. Ninguém pareceu notar que me dirigi para lá. A porta estava entreaberta e podia ouvir com clareza a voz de Edward e de seu pai. As vozes pareciam estar exaltadas por isso não entrei. Fiquei ouvindo a discussão.

-Edward, as coisas podem não acabar bem. –Carlisle disse a Edward numa voz que soava preocupada. –Você disse que a garota estava sofrendo. Acha que vale a pena tudo isso se o seu casamento não está feliz como imaginou?

-Isso foi antes meu pai, mas agora as coisas estão indo bem, eu posso sentir. Bella está sentindo algo por mim. Não sei por que está se preocupando. Pelo que sei a compra das empresas, o acordo todo, como sugeri, não gerou nenhum prejuízo.

-De fato não tivemos prejuízos Edward, mas eu me preocupe é com você. Eu acatei sua suplica e fiz o acordo. Bella casou-se graças a isso com você. Mas eu me pergunto se valeu a pena todo o seu planejamento. Compelir esta menina a deixar o rapaz que gosta para se casar com você não me pareceu algo bom.

E não ouvi mais nada, tudo o que eu precisava ouvir foi ouvido. As peças foram se encaixando em minha cabeça e pude enfim visualizar a verdade medonha que as palavras de Carlisle e Edward mostravam. Eu sempre odiei Carlisle por ter feito a proposta, minha mãe quase se matou com tudo isso. Se não fosse por essa proposta, se ela não tivesse acontecido, eu estaria casada com Jake, estaria feliz em uma vida simples e minha mãe não iria pirar.

Agora eu descobria que o único que pensei que valia meu sacrifício, Edward, era o responsável por isso. A mágoa me tirou o chão. Por que tinha que ser ele? Por quê?

As lágrimas saíram sem que eu quisesse. Não tinha mais por quem lutar, ninguém era digno do meu sofrimento e sacrifício. Ninguém.

Enquanto a tristeza transformava-se em ódio, uma mulher segurando um punhado de papeis entrou na sala. Edward e Carlisle viraram-se para olhá-la. Foi naquele momento que meus olhos encontraram os olhos de Edward. Antes que algum de nós pudesse dizer algo, a porta se fechou e senti que aquela não era a única porta que iria se fechar e nos manter afastados do outro.

Em poucos instantes eu estava correndo.

Edward ouve o barulho na porta, uma das empregadas do local. Vira-se para vê-la adentrando a sala carregando uma pilha de papeis. Sua atenção volta-se novamente para a porta. Ele vê a figura de sua esposa, de pé, os olhos num misto de espanto e dor. O buquê em suas mãos, de suas flores preferidas, cai no chão.

A porta se fecha.

Edward corre, assim que seu corpo o obedece, e vai até a porta. Ao abri-la não encontra nada além de um buquê no chão. Houve claramente o barulho da porta do elevador se fechando. Bella partiu e com ela a medonha verdade que tentou esconder.

Eu corri como louca sabendo que Edward devia estar em meu encalço. Não parei até estar no interior de meu carro. Ao dar a partida, eu estava voando pelas ruas. Durante longos minutos eu dirigi sem rumo, as lágrimas cortando meu rosto, e por fim parei.

Eu estava inconsciente de tudo, do modo perigoso como dirigi quase atropelando os pedestres que atravessavam a rua, tudo esquecido. Encostei minha cabeça no volante e respirei pausadamente. Novamente a verdade surgiu em minha mente e um torpor estranho me tomou. Meu lado racional pensava nas informações que eu havia captado naquela breve conversa entre Edward e Carlisle. Cheguei a conclusão que odiei a pessoa errada.

Edward sempre gostou de mim, eu sabia, mas ignorava o fato. As coisas mudaram entre nós após Jacob me pedir em namoro. Acreditei que sua indiferença e os muitos casos que teve fossem indicio de que Edward me esquecera, mas estava enganada. Edward nunca me esqueceu, estava apenas esperando pelo momento oportuno de me ter e o momento chegou após a morte do meu pai. Ele planejou tudo, convenceu seu pai a ajudá-lo e então...

Xeque-marte

Por culpa do egoísmo de Edward eu fui compelida a deixar o homem que amava para me casar com ele. Por culpa de Edward eu vi minha mãe tentar o suicídio. Por culpa de Edward eu sofri como um cão e esse tempo todo eu pensei que ele era o único que merecia meu sacrifício. O pior de tudo é que eu estava começando a ser feliz ao seu lado, a sentir algo por ele. A dor e o sofrimento que tanto tentei reprimir para que Edward não notasse veio de forma potente me assombrar. Deixei que a dor fizesse seu trabalho comigo, me deixasse em pedaços novamente. Por alguns instantes eu pensei que iria enlouquecer como quase aconteceu após meu primeiro encontro com Edward. Isso não aconteceu, para minha infelicidade.

Ergui a cabeça quando as lágrimas secaram. Alguém batia meu vidro insistentemente, devia ser o guarda. Eu não liguei. Tomada pelo ódio como eu estava, sai com o carro sem rumo certo, sabendo exatamente o que faria quando visse Edward novamente.

...

Não sei como consegui dirigir sem provocar nenhum acidente de transito, ou como consegui chegar à mansão no estado em que me encontrava. Passei o restante da tarde perambulando pelos bares, encontrando o consolo que me carecia na bebida. Bebi tanto que cheguei a vomitar, deve ser por ter vomitado que estava um pouco mais lúcida. Claro que Edward estava a minha espera, talvez estivesse esperando-me em sua casa desde que deixei a empresa.

Ele ficou parado enquanto eu entrava com o carro na garagem e o estacionava no lugar de sempre. Sai trôpega segurando uma garrafa de vodca que estava pela metade. Eu a bebi enquanto tentava recuperar o equilíbrio, encostada no carro. Ao esvaziá-la, fiz o caminho para entrar em casa.

-Bella. –Edward chamou, eu o ignorei. Continuei a caminhar. –Bella! –Chamou com mais potencia na voz. Segurou meu braço quando eu estava a um passo. Sem pensar em quebrei na parede a garrafa que segurava em minha mão livre e antes que Edward deixasse de segurar minha mão, projetei meu corpo para encará-lo de modo que eu pudesse feri-lo com a garrafa quebrada em minha mão esquerda. Edward esquivou-se, claro, mas não o bastante para sair ileso. A palma de sua mão foi cortada. Edward olhava para mim horrorizado.

-Bella... –Balbuciou. Movida pela fúria tentei atacá-lo, mas Edward, por estar sóbrio, conseguir desviar-se retirando de minhas mãos minha arma tosca. Prensou-me na parede na tentativa de me parar, mas soltou-me quando comecei a me debater. Eu o segurei pela gola do casaco e o joguei com rudeza na parede. Edward ficou imóvel enquanto eu o encarava com todo o ódio que podia. Apontei para seu peito enquanto falava:

-Você vai pagar caro por tudo o que fez pra mim. Vou fazer da sua vida um inferno! Vai se arrepender por ter arruinado com a minha vida em troca da sua felicidade! –Disse libertando todo o ódio que esteve guardado em mim. Minhas palavras tiveram seu efeito. Edward estava em choque sem conseguir pronunciar nada. Bom. Eu o larguei e segui para um quarto, precisava dormir. Claro que não iria dormir no quarto com Edward! Felizmente um dos quartos de hospedes, o antigo quarto de Edward na casa, estava destrancada.

Cai na cama e apaguei.

...

-MERDA! –Gritei exasperada quando saquei onde estava. Eu não só estava deitada na cama de Edward como vestia camisola. Certamente foi ele que fez isso. Será que ele não tinha entendido meu recado? Minha cabeça doía tanto! Eu nunca fui de beber e, para quem não é de beber, comecei super mal. Mesmo com minha bebedeira eu me lembrava de tudo a respeito de ontem. Cerrei os punhos com força. Se Edward ainda não tinha entendido, eu o faria entender. Ele não iria gastar nada disso.

O começo

-Isso, coloquem o móvel aqui. –Disse a um funcionário da loja em que eu havia comprado mobília para o meu novo quarto. Edward não foi para o trabalho naquele dia. Ficou observando enquanto eu coordenava os funcionários. Nada disse.

E então a vingança foi se consolidando...

Edward apenas me olhava, fazia mais de dois meses que não me tocava, mal nos falávamos. Eu o olhei enquanto jantar na grande mesa, sozinho.

Joel, leve meu jantar para meu quarto. –Disse subindo as escadas.

Para aquele que já tinha tudo, seria difícil uma vingança

-Bella, o que pretende com isso? Se destruir? –Edward perguntou exasperado. Trôpega, segui para o banheiro de meu quarto a tempo de vomitar no vaso. Eu queria expulsar Edward de meu quarto, mas toda vez que abria a boca era para vomitar. Quando acabei, fui retirada de lá por Edward que me carregou e me deitou na cama. Estava tão cansada por ter passado o dia fora, bebendo e dançando por ai, que não tive forças para impedi-lo de me tocar. Edward não partiu de imediato. Sentou-se na cama, os olhos em mim. Não havia dinheiro que pagasse aquela cara deprimida. Sorri.

-E então? Já está arrependido de casar comigo? –Perguntei com um sorriso presunçoso no rosto. Edward colocou a mão no rosto, parecia exausto.

-Estou, mas não do modo como está pensando. Gostaria de fazer diferente. –Murmurou. Notei que ele ainda usava a nossa aliança. A minha eu havia tirado desde que nos separamos de certa forma. Edward abriu os olhos e ficou ali, sentado a me olhar.

-Sai daqui. –Disse. Ele suspirou e saiu.

Eu sabia como me vingar, mas para isso eu teria que me prejudicar

Não importava

Edward conversava com alguns homens com quem fazia negócios. Eu fui apenas por que sabia que poderia dar o troco a ele de alguma forma naquele jantar de negócios. Do outro lado do salão, olhando para mim, havia um rapaz. Eu sorri para ele e fiz um movimento com a cabeça para que ele me seguisse. Ele o fez prontamente. Ele não me atraia apesar da beleza, mas eu aceitava qualquer coisa que ferisse Edward. Quando chegamos ao banheiro feminino, felizmente vazio, eu o agarrei. Quando ambos estávamos sem fôlego pelo beijo, eu perguntei:

-Qual é o seu nome garoto?

-Meu nome é Alec.

E então fiquei satisfeita por saber que enquanto eu me despedaçava, levava Edward comigo

-O QUE DISSE? –Jacob perguntou exasperado. Eu o havia chamado e, pela primeira vez, ele atendeu meu chamado. Vê-lo novamente foi como um golpe no coração. Eu ainda o amava.

-O que você ouviu: foi idéia de Edward. –Disse com descaso tomando meu drink.

-EU VOU MATÁ-LO! AQUELE FILHO DA P... –Jacob levantou-se. Ele mataria Edward se o visse. Levantei e disse:

-Por quê? Você me abandonou, abdicou de seus direitos por mim. Não tem o direito de fazer nada contra Edward. –Minhas palavras fizeram seu trabalho. Jacob parecia mortificado.

-Sabe por que fiz isso. Não queria que você escolhesse entre mim e sua mãe. Fiz isso por você. –Disse com a voz embargada.

 -Ou talvez tenha feito isso por que não queria a garota-problema ao seu lado. –Disse sem me importar se o magoaria com as minhas palavras. Jake pareceu apavorado com minhas palavras.

-NÃO! CLARO QUE NÃO! Bella, eu sei que meti os pés pelas mãos, mas quero que as coisas voltem como eram.

-Ah, você quer? Se é assim que tal voltarmos a ficarmos juntos? Sermos um casal, o que acha? –Perguntei debochada sabendo como Jacob reagiria. Ele sempre foi homem honrado. Mesmo que Edward merecesse algo como uma traição, Jacob não iria querer fazer parte disso. –Quer saber de uma coisa Jake? Você é o único que ainda mantém essa pose de homem honrado. Ninguém mais faz isso ao seu redor.

Levantei da cadeira onde estava sentada, caminhando para a saída do restaurante. Jacob me chamou, mas eu o ignorei. Mesmo o amando, eu não conseguia perdoar seu ato, por mais que ele parecesse algo altruísta. Se estivesse no lugar de Jake e ele no meu, eu teria sido egoísta o bastante para pedir a ele para escolher entre mim e um familiar.

Ao chegar em minha casa, tarde da noite, Edward estava lá. Elegante em um smoke clássico, próximo ao seu carro. Não o cumprimentei. Queria demais me refugiar em meu quarto.

-Bella. –Ele me chamou. Eu o ignorei seguindo para o acesso da garagem a casa. –Tem um evento empresarial e eu gostaria de saber se você... Quer ir... Comigo. –Murmurou enquanto eu adentrava a sala. Para mim Edward era uma sombra que insistia em me importunar, mas que já não incomodava tanto.

Eu precisava de alguém louco e o encontrei no lugar mais improvável

-MERDA! –Resmunguei quando notei que não havia trazido dinheiro suficiente. Queria mais doses de algo alcoólico, mas não tinha como pagar. O bar man olhava para mim esperando pelo dinheiro. Sorri amarelo pra ele.

-Será que você me daria uma dose agora para ser paga depois? –Perguntei sabendo que ele iria se negar. Tão logo eu falo um rapaz sentasse em um dos banquinhos em frente ao balcão.

-Duas bebidas, pra mim e para a gatinha aqui. –Disse. Olhei irritada para o cara.

-Não preciso de favores. –Disse num tom petulante.

-Não é o que parece. Vamos, não é como se estivesse carimbando sua testa com a frase “eu sou vadia” só por que está aceitando uma bebida. –Disse com um sorriso sensual nos lábios. Seu rosto era jovial, cabelos castanhos claros, um pouco compridos, presos num rabo de cavalo, olhos castanhos, pele branca, relativamente musculoso.

-Conheço você de algum lugar... –Murmurei.

-Eu devo ter tocado em alguma banda conhecida sua. –Dizia enquanto pegava sua bebida das mãos do bar man e sorvia o liquido de uma só vez. Senti seu olhar desafiador. Peguei minha bebida paga por ele e virei o conteúdo sem sequer engasgar.

-Puxa a gatinha aqui sabe beber! É das minhas!

-James. Agora sei que você tocava na minha banda preferida, era guitarrista.

-Certo.

-Por que saiu da banda? –Perguntei verdadeiramente curiosa. Ele deu de ombros.

-Dei uns pegas na mulher do vocalista. Ele era o dono da banda e me chutou de lá. –James dizia isso enquanto acenada para o bar man, um pouco afastado de nós, para trazer mais uma bebida. Eu sorri. Definitivamente era ele o que eu procurava, alguém que não se intimidaria com o fato de que sou esposa de um homem poderoso.

E aquele estranho foi útil apenas para provocar mais dor

Eu sabia que havia fotógrafos em frente à boate em que eu estava com James, mas ignorei. Pouco me importava se Edward descobrisse. Peguei a mão de James, meu amante e algumas semanas, e o puxei pra fora.

-Não se preocupa que nos vejam? –Ele perguntou. –Afinal você é casada.

-Não to nem ai! –Disse e James riu.

-Que se dane então! –Falou puxando-me para fora. Um fotógrafo nos clicou, mas não liguei.

-Vamos sair daqui. A noite é uma criança e quero ficar a sós com você. –James disse em meu ouvido. Eu sorri, um sorriso falso, como todos os que eu dava para ele.

Eu estava com James, não sei ao certo por que aceitei isso. Mesmo James sendo bonito, ousado, eu não sentia nada por ele. No entanto eu era compelida, pela vingança que me movia, a tê-lo, me entregar a ele. A satisfação surgiu quando o tal fotógrafo publicou em seu site a foto, eu a vi antecipadamente em meu lap top.  

O paparazzi não me decepcionou. A matéria deixava claro que James era meu amante. Ri enquanto via a foto comprometedora e a matéria. Eu sabia o e-mail de Edward e tinha um e-mail que usava que ninguém sabia que era meu. Mandei a matéria, pensando em como ele reagiria ao ver a noticia.

Ao anoitecer daquele dia eu soube.

Naquela noite eu não saí como normalmente faço. Fiquei em casa, sóbria, esperando pela chegada de Edward. Por algum motivo ele demorou a chegar, tanto que acabei por adormecer.

Enquanto o sono vinha deixando-me em um estado de semi inconsciência, eu ouvi passos silenciosos em meu quarto e soube que eram os de Edward. Ele devia ter visto a matéria, afinal ele verificava seu e-mail diariamente. Enquanto seus movimentos em meu quarto me despertavam aos poucos, procurei me manter imóvel como se estivesse dormindo. Senti quando alguém sentou em minha cama, bem próximo de mim. Ouvi um barulho vindo de Edward que a principio não consegui identificar. Como o barulho aumentava soube o que era: Edward devia estar chorando. Pensei que saber disso me encheria de felicidade, saber que o estava machucando a ponto de Edward chorar. Não senti felicidade. Meus olhos se abriram em choque quando o senti me abraçar, seu corpo colocado com cuidado sobre o meu. Edward não notou que eu estava acordada, seu rosto enterrado na curvatura do meu pescoço. Edward ficou por alguns instantes lá e senti na pele as lágrimas que ele derramava. Fechei os olhos quando ele se afastou.

-Eu não vou reclamar, eu mereço isso. –Murmurou beijando-me na testa. Sai. Não sei como Edward não percebeu que eu estava acordada. Meu coração palpitava freneticamente e agora minha respiração saia aos arquejos. Eu estava confusa. Se ele era o vilão, por que eu me sentia tão mal, como se tivesse feito uma atrocidade a ele? Nem mesmo quando beijei Alec, transei com James, até então, eu não tinha sentido nada, apenas a sensação de satisfação por sacaneá-lo. Agora era diferente.

Sentei-me na cama sentindo-me suja. Nunca até então meus atos me incomodaram, mas agora...

...

A situação era desconfortável. Desde a noite em que Edward adentrou meu quarto e o ouvi chorar, eu não me sentia mais confortável com a situação. Acabei por agir de forma mais ríspida com Edward. Eu não falava com ele e quando era obrigada a tal, era áspera. Passava a maior parte do tempo fora de casa ou com Jess, ou com James. Às vezes via Jacob, era a única coisa que Jake me concedia: a oportunidade de falar com ele.

-Bella, é verdade? –Ele perguntou naquela manhã enquanto tomávamos café juntos.

-O que? –Perguntei indiferente bebericando meu café.

-Aquela história com o tal James? –Ele não me encarava.

-Você não me quis. Procurei quem quisesse. –Disse indiferente e vi Jacob reagir. Ele me olhou com fúria.

-Você está... Está tendo um caso? –Perguntou com a voz perturbada.

-Estou tendo. Precisava de algo para movimentar minha vida. –Disse querendo que Jacob reagisse, que ele mostrasse ciúmes e deixasse sua honra de lado. Eu o queria como nunca quis antes, eu necessitava de Jake. Eu não sabia mais o que era ser tocada por alguém que eu amasse. Então algo aconteceu. Jake pareceu se recompor.

-Não concordo muito com o que está fazendo, mas quem sou eu para dizer o que deve fazer? Como você disse certa vez você não é mais minha. Você seguiu em frente e eu também segui. –Jacob levantou-se enquanto eu apreendia suas palavras. Um estalo ocorreu e num rompante eu me levantei pegando-o pelo braço.

-COMO É QUE É? –Gritei chamando a atenção para mim.

-Estou com uma pessoa. –Ele murmurou e saiu. Eu fiquei parada, em choque.

...

Se não fosse por Edward eu teria vomitado no chão. Ele me recebeu na garagem, ajudando-me a sair do carro, levou-me até meu quarto e levantou a tampa da privada. Lá estava eu, num estado deplorável até para mim, vomitando horrores pela quantidade de álcool que ingeri.

Eu sei que deveria repudiá-lo como sempre fazia, eu evitava a todo custo contato, mas estava mal demais para fazer algo. Após vomitar tudo o que tinha para vomitar, deitei a cabeça no vaso, respirando ofegante. Edward ficou ajoelhado ao meu lado, acariciando minhas costas. Eu o olhei.

-por que faz isso? Por que me ajuda? Eu já não o humilhei o suficiente? –Perguntei. Edward continuou me fitando e nada disse. Fechei os olhos. –Odeio o seu altruísmo. Acha que ficar se sacrificando agora vai mudar o ódio que sinto por você?

-Não, mas ainda sim eu vou agir como acho que devo agir. –Pausa. Silencio. –Como está sentindo? –Perguntou.

Eu o olhei e então desabei. Não pude segurar. Chorei copiosamente enquanto lembrava-me das palavras de Jacob. Só de imaginar ele com outra eu sentia meu mundo ruir. Edward ficou afastado ouvindo meu choro, como ouvi o seu, certa noite. Quando abri os olhos e o vi condoído por mim ainda de joelhos no chão eu me enervei.

-Vai embora. –Murmurei. –Já não acha que fez muito mal pra mim? Ficar aqui só vai piorar. Vai embora. –Fechei os olhos e levantei, cambaleante, para o Box do banheiro. Eu precisava de um banho. Liguei o chuveiro e me molhei com roupa e tudo. Sentei-me no chão. Edward me acompanhou com o olhar. Levantou-se, fechou a tampa da privada dando descarga e sentou-se lá, em cima da tampa. Olhava o chão.

-Aproveitando que agora você está bêbada demais para se lembrar que não me suporta, posso fazer uma pergunta? –Ele disse sem olhar pra mim.

Eu poderia mandá-lo a merda, ignorá-lo, ou expulsa-lo. Qualquer opção era boa. Mas acabei por lembrar-se do dia em que o machuquei deixando que soubesse do meu caso com James. Ouvi-lo chorar doeu tanto que não toquei mais nesse assunto, nem mesmo vi James.

-Pergunte. –Disse encostando-me na parede, os olhos fechados enquanto recebia no rosto a água do chuveiro.

-Antes de você saber da verdade... O que sentia por mim?

Eu fiquei calada por um longo tempo. Poderia mentir, mas naquele momento, talvez por culpa do álcool, eu só conseguia dizer a verdade. Talvez se Edward soubesse da verdade, fosse bem pior que uma ofensa.

-Estava te amando, mas acabou. Você matou isso. –Falei com descaso, coisa que não sentia naquele momento. Edward ficou calado. Eu não ousei olhá-lo. Após alguns minutos ouvi a porta do banheiro ser fechada. Ele não estava mais lá.

...

-Hei Bella, está me ouvindo? –Jess perguntou com rudeza. Eu a olhei com descaso, minha mente em outro lugar.

-Claro. Você estava falando de sua nova conquista: Mike Newton. –Disse olhando para o campo onde o dito cujo jogava pólo com mais algumas figurinhas da sociedade, dentre eles Edward. Crispei os olhos ao vê-lo.

-Fiquei surpresa por você ter vindo com o Edward para cá. Não é do seu feitio. –Notei que Jess estava pensativa. Ela tinha a mente aberta, deve ter percebido que Edward e eu não agimos como um casal.

-Eu vim pra cá por que você me ligou e pediu. Nem sabia que Edward tinha jogo de pólo. –Disse com descaso e meus olhos acabaram encontrando novamente Edward, montado em um cavalo, jogando elegantemente pólo. Vê-lo agora, após os últimos acontecimentos, faziam eu me sentir estranha.

-Vai Bella, confessa, o que tá pegando entre você e o seu marido gostoso? Vocês agem como se não ligassem para o outro. Bom, você age assim. O Edward está sempre olhando pra você com cara de peixe morto então eu acho que ele te ama. –Ela murmurava enquanto acenava para Mike que cavalgava.

-Eu... Eu preciso de um pouco de ar. –Disse e me levantei da cadeira em que estava. Ignorando Jessica eu segui caminhando sem rumo pelo enorme clube.

Ainda doía a historia de que Jake tinha alguém, talvez fosse mentira, mas não havia como eu saber. E também havia meu relacionamento com Edward a cada dia mais estranho. Eu não estava mais suportando. Precisava fazer algo para esquecer tudo, esquecer minha vida caótica.

-CUIDADO AI! –A voz disse. Virei a tempo de receber uma bola de vôlei na cabeça. O impacto. Fui lançada para trás. Uma piscina impediu que minha queda fosse sentida, mas visto que eu não sei nadar teria sido melhor cair no chão.

-SOCORR... –Tentei gritar, mas afundei rapidamente. Eu não consegui encontrar força nos pés para emergir a superfície. Parece estranho pensar nisso agora, mas me veio a promessa que certa vez Jake fez a mim, que iria me ensinar a nadar temendo que um dia precisasse de tal conhecimento. Ele me deixou sem amor e sem conhecimento.

Após lutar para emergir eu parei. Por que não deixar que a água invadisse meus pulmões e me matasse? Talvez assim eu tivesse paz. Antes que eu decidisse alguém me puxou tirando-me na piscina. Tossi enquanto meus pulmões puxavam ar, a água saindo pela minha boca.  

-Hei, você está bem? –A voz masculina, desconhecida, perguntou enquanto colocava-me no chão. Quando abri os olhos encontrei os de um salva-vidas.

-Eu to bem. –Murmurei. Levantei-me.

-Talvez devêssemos levá-la a enfermaria. –Disse e notei que muitas pessoas me observaram. Caminhei apressada ignorando o salva-vidas e todos. Querendo sair dali. Fui até meu carro só para descobrir que minha bolsa estava com Jessica, assim como as chaves do carro.

-Bosta! –Esbravejei e, não querendo encontrar Jessica, Edward ou quem quer que fosse, fui em direção ao portão principal. Iria a pé para algum lugar.

...

Essa é uma das vantagens de ser rica, ou no mínino conhecida. Não precisei de nada além do meu rosto e posição de senhora Cullen quando fui até uma boutique comprar roupas. Também comprei uma moto para servir como locomoção, eu que não iria a pé pra casa. Na verdade a compra da moto foi mais por Jake. Eu tinha me esquecido como achava divertido andar de moto. Lembrei-me da época em que andava com uma moto aos pedaços, o vento no cabelo, Jacob com sua moto ao meu lado... Ah, como tinha saudades daquela época! Época esta que nunca retornaria. Estacionei a moto na garagem e lá estava ele, claro, sentado na escadaria que dava acesso a sala. Levantou-se assim que me viu, veio ao meu encontro. Seus olhos ficaram arregalados quando viu a moto e logo vi a cara dele mudar para algo como aborrecimento.

-Estava esperando por você. O que aconteceu? Por que foi embora do clube sem o seu carro e deixo suas coisas com Jessica? E que moto é essa?

Eu o olhei com desprezo. Odiava quando ele me impunha coisas, mesmo que fossem perguntas.

-Desde quando tem direito sobre mim a ponto de me questionar? –Perguntei entre dentes. Edward estacou finalmente percebendo que ele estava ultrapassando limites.

-Desculpe. –Murmurou. –Soube que você se afagou na piscina e...

-Me deixa! –Esbravejei seguindo para meu quarto, apenas para esperar o melhor momento de ir ao meu refugio, o labirinto verde.

...

Quero diário

As coisas estão difíceis, a cada dia mais. Jake me deixou, agora toca sua vida com uma vadia qualquer. Estou só. Eu não quero ver minha mãe que me insiste em ligar. Não quero mais meus amigos fúteis. Não quero ninguém. Todos aceitaram isso, aceitaram meu afastamento... Menos ele. Edward continua como uma sombra em meu encalço, isso me enerva. Por que ele fica o tempo todo sendo amável comigo? Por que ele não desiste de mim? Eu o odeio por sua amabilidade, sua complacência, por tudo!    

  Fechei o diário e deitei no concreto que forrava o centro do labirinto verde. Parecia o único lugar que oferecia um pouco de conforto para mim.

Eu não conseguia parar, não conseguia para de magoar Edward, mas não sentia mais nada com as coisas que fazia para machucá-lo.

-Bella, pare com isso. –Edward murmurou. Eu estava na privada, de novo, vomitando. Não fiz isso por ele. Tinha tido um encontro difícil com Jake. Jake era tão amável, eu não conseguia odiá-lo. E ficar próximo a ele, ainda que por alguns minutos, era causar muita dor.

-Me deixe. –Murmurei quando parei de vomitar. Levantei do chão e fui escovar meus dentes, a única coisa que faltava para eu cair na cama, já que eu já tinha tomado banho no motel em que fui com James um pouco antes de voltar para casa. Apesar de ter ido ao motel, eu não transei com ele. Tomei banho, inventei uma desculpa, paguei a estadia e sumi.

-Pare com isso. Não vê o que está fazendo com você? Por que insiste nisso? –Ele questionou.

-Quer saber o porquê? Por que eu sei que dói em você também. É isto o que me motiva. Ver o seu sofrimento, a sua culpa... –Eu disse com um meio sorriso nos lábios. Edward fixou seus olhos nos meus.

-Eu não vejo mais...

-O que?

-Não vejo mais aquele brilho de motivação nos seus olhos. Eu sinto que isso não mais a motiva, me machucar. Não como antes.

Eu estaquei. Edward estava dizendo tudo o que eu sentia. Ele captou o negócio. E eu odiava isso.

-Não pense que me conhece, por que não conhece. Sai daqui. Pára de me seguir como um cachorrinho! Acha que fazendo isso vai mudar algo? Não vai. Minha vida é um inferno por sua causa!

Ele ficou me olhando, como sempre fazia. Suspirou, derrotado.

-Se precisar de mim estarei em meu aposento. –Disse e se afastou. Aquilo me enervou. Aquela calma... Peguei um objeto qualquer da bancada e atirei em Edward, mas não acertou. Edward virou-se e me olhou chocado.

-PARA COM ISSO! PARA COM ESSA CALMA, ESSA AMABILIDADE! VOCÊ ME DÁ NOJO! SEU DESGRAÇADO! –Eu tive um surto. Comecei a pegar objetos da bancada e atirar em Edward sem, porém, acertá-lo. Edward desviou-se dos objetos.

-OLHA O QUE EU SOU! EU SOU UMA DESGRAÇA POR SUA CAUSA! –Disse e soquei o espelho diante de mim que refletia minha imagem. Edward segurou minhas mãos, ensangüentadas, tentando me manter parada, impedindo-me de me machucar. Eu me debatia em seus braços gritando, chorando, querendo que Deus fosse misericordioso o suficiente para lançar um raio na minha cabeça e me levar daquele mundo caótico. Edward me arrastou para fora do banheiro e me manteve o mais imóvel possível em seus braços. Eu fui relaxando aos poucos, os batimentos cardíacos e respiração diminuindo até se equilibrarem a um nível mais saudável. Meus pés fraquejaram e fui escorregando, com Edward ainda me segurando, até sentar no chão.

Eu não sentia as dores nas mãos onde o vidro as cortou. Deixei o torpor me dominar e fiquei calada, quieta nos braços de Edward.

-Estou tão cansada. –Murmurei debilmente. –Cansada. Tão... Cansada. De tudo. O salva-vidas não devia ter me tirado da água. Eu devia ter morrido afogada, devia... Ele seguiu com a vida dele. Eu também queria seguir. –Senti na testa os lábios de Edward, nas costas o passeio de seus dedos.

-Você ainda pode seguir. –Edward disse com brandura. Sacudi a cabeça em negativa. –Pode Bella. Deixe-me cuidar de você, deixe-me...

Eu o empurrei, os olhos no chão.

-Quero ficar só. –Murmurei.

-Deixe-me cuidar das suas mãos. Está sangrando Bella.

-Me. Deixa. Sozinha. –Disse pausadamente não com a voz raivosa de sempre, mas com a voz cansada. Edward me olhou de forma suplicante, querendo ficar ali, querendo cuidar de mim. Não, eu não o queria ali. Eu não queria sentir... Nada.

Um fragmento não está aqui na minha cabeça

Eu não consigo encontrá-lo

Algo está faltando, algo importante

Uma lembrança

Um sentimento que se perdeu após o acidente

As imagens das lembranças continuaram sem se interromper

Eu estava bêbada e dirigia perigosamente pela via. Mas estava sóbria o suficiente para me lembrar. Eu pretendia visitá-lo, dizer que estava tentando ser uma nova pessoa, descartei James, e então vi o convite de casamento. Jake iria se casar com Leah. Eu vi as provas em sua casa. Sai de lá rumo aos bares, enchendo-me de bebida. Quando o dinheiro acabou eu passei em casa. Edward estava lá, mais cedo que o normal, e apenas me olhou enquanto pegava dinheiro na minha carteira, em meu quarto.

-Bella... –Ele murmurou. Eu o olhei de forma mortífera.

-Você sabia, não sabia? É por isso que está aqui! –Vociferei. Ele ficou calado.

-Billy está trabalhando em uma das minhas empresas, como você deve saber. Ele comentou com alguns funcionários.

-Desde quando sabe sobre isso? –Sibilei. Edward mirava o chão.

-Há duas semanas ou menos.

-Por que não me contou? Por que Edward? Acho que você me devia pelo menos isso! –As lágrimas de raiva e de tristeza saíram sem que eu quisesse. Edward sacudiu a cabeça, parecia frustrado, triste.

-Ainda pergunta o porquê? Olhe para você. Acho que gosto de vê-la sofrendo? –O rosto bonito torturado pela angustia, a tensão do momento.

-Se não gostasse de me ver sofrer, nunca deveria ter me obrigado a casar com você! –Disse entredentes. Edward calou-se como sempre. Ele não tinha como contra-argumentar quando minha lógica era colocada.

-Eu sei o quanto lhe prejudiquei, mas eu não receberei a culpa sozinho. Jacob desistiu de você. Eu não pus uma arma na cabeça dele para largá-la. Ele decidiu isto. Se eu estivesse no lugar dele, nunca teria abandonado você. Por que eu sempre a amei muito mais do que ele.  

Eu poderia contestá-lo, mas a lógica dele suplantou a minha. De fato Jacob desistiu de mim, por mais altruísta que tenha parecido seu ato. E Edward fez de tudo, com o risco de me magoar e magoar outras pessoas, só para me ter. Contentou-se em me ter por perto, agüentando minha rudeza, os impropérios que gritava para ele...

-Você não é melhor que ninguém. Não é. –Afastei-me ainda com os olhos fixos nele e quando dei por mim eu estava correndo enquanto uma verdade estranha penetrava minha mente, ainda mais do que em outros dias, deixando-me aturdida, assustada.

Eu sabia que Edward me seguia, preocupado com meu estado, mas em momento algum olhei para trás. Quando dei por mim estava em meu carro, correndo, sem saber ao certo se voltaria.

Eu bebi, eu corri, eu chorei

Eu bebi, eu corri, eu chorei

Eu bebi, eu corri, eu chorei

Meu carro em direção a ponte, minha mente cheia de lembranças terríveis. Eu me perguntei freneticamente o que me motivava a viver. Ouvi um barulho alto, um carro a toda velocidade. Olhei pelo retrovisor e vi um brilho prateado conhecido, mas estava desorientada demais para pensar em quem poderia ser se era ELE. O carro oscilou enquanto eu estava na ponte e vi então uma carreta seguir caminho contrário. Pensei em meu pai, como tinha saudades! Ele devia estar em um lugar bonito e me perguntei se iria para lá, se meus pecados seriam perdoados e eu poderia encontrá-lo no céu. Era tão tentadora essa alternativa! Meu carro foi lentamente para a pista oposta, de frente a carreta. Ouvi buzinas, mas ignorei. A carreta, com seu brilho vermelho, exercia um poder hipnótico em mim, como uma serpente. Fechei os olhos esperando pelo impacto.

O impacto veio do lado errado e quando dei por mim eu estava girando. Tudo foi caos em volta de mim enquanto meu carro capotava, mas não imaginei que iria cair no lago. A morte que um dia ansiei em ter certa vez no clube me tomava novamente.

Tudo era caos, tudo era dor, mas havia por detrás de tudo um conforto,

Eu vi a silhueta conhecida adentrar a água e se aproximar, o rosto numa mascara de agonia. Fechei os olhos tendo como ultima imagem o rosto daquele que fora meu algoz: Edward.

E as peças se encaixaram. A Bella que surgiu após o acidente era uma pálida figura se comprada a Bella real, de personalidade forte e esmagadora. Tudo de encaixou. Todas as lembranças estavam ali em minha cabeça. Tudo era caos, ódio e lágrimas novamente.

...

-Senhora Cullen? –A voz masculina soou na cozinha. Eu o olhei com descaso. Era Joel e olhava-me aturdido. Na certa estranhando as vestes que me cobriam, ousadas em todos os seus detalhes, coisa que não usava quando era a patética Bella pós-acidente.

-Minhas garrafas. Onde estão?

-O que?

-Comprei algumas garrafas e as estoquei aqui. Onde estão? –Meus olhos voltaram-se novamente para a adega. Não havia nada.

-Senhora Cullen, a senhora não comprou nenhuma bebida, pelo menos não recentemente.

-Eu sei disso! –Sibilei. –Foi antes da porcaria do acidente! O que fizeram? Vocês beberam? –Eu o olhei com fúria.

-Bem o senhor Cullen disse que... –Joel murmurava parecendo nervoso.

-Ah! Entendi! –Falei com sarcasmo. –Então Edward pediu para que vocês se livrassem das bebidas. Sabe quanto tudo me custou? E vocês beberam! Que ótimo! –Fechei com aspereza a porta, as chaves de meu carro nas mãos. –Vou sair pra beber.

-Espere senhora Cullen! –Joel me seguiu enquanto falava. –Eu acabo de ligar para o senhor Cullen para perguntar o que deve ser servido no jantar de hoje e... –Virei com as suas palavras. Joel estacou.

-Não, você ligou para contar a ele que estou estranha. Esta tem sido sua função, não é? Ficar bisbilhotando minha vida e repassando para Edward como um maldito garoto do recadinho! –Esbravejei já na garagem. Entrei em meu veiculo ligando-o com a chave. Joel ficou parado, olhando-me mortificado.

-Vai, corre e liga para a portaria dizendo a eles, para não liberarem minha passagem! Garanto que serei mais rápida! –E então arranquei com o carro sem saber se voltaria para aquela casa, sem saber que Bella predominava em minha mente, sem saber como ficaria Edward e eu. Tudo estava sendo temporariamente esquecido enquanto eu me distanciava daquele local, daquelas lembranças, daquela vida.

Como imaginei eu consegui sair antes que Joel alertasse os seguranças que ficavam na portaria.

...

Os passos apressados denunciavam sua tensão. Adentrou na sala encontrando seu mordomo ladeado de alguns empregados.

-Senhor Cullen, que bom que chegou. –Joel murmurou.

-Onde ela está? –Perguntou já seguindo o caminho de seu quarto. Joel o seguiu. Os demais empregados permaneceram na sala.

-A senhora Cullen saiu para beber.

Edward estacou e olhou surpreso para Joel, tal o absurdo de suas palavras.

-Como assim? –Perguntou com aspereza.

-Ela não achou as suas bebidas na adega e disse que iria sair para beber. –Joel disse, fitava o chão. Edward olhou para ele confuso.

-Senhor, eu não quero alarmá-lo, mas... O modo como à senhora Cullen estava agindo... Lembrou-me seu “eu” antes do acidente. Eu acho que ela...

Edward não esperou pela conclusão das palavras de Joel. Notou que a porta do antigo quarto de Bella estava entreaberta e adentrou o local. O chão estava um pouco úmido, a porta do banheiro completamente aberta. Notou que havia objetos no chão e quando os viu ficou paralisado.

Ajoelhado no chão, tocou cada um dos objetos próximos a ele: uma fotografia de Bella com Jake na moto, um colar, um urso, cartaz de amor...

O desespero o incapacitou por longos minutos enquanto a verdade terrível penetrava em sua mente. As lágrimas cortaram o rosto bonito, agora desfigurado em uma máscara de desespero. Levou as mãos à cabeça segurando dolorosamente os cabelos entre seus dedos.

-Não... –Murmurou com a voz débil não querendo ver o que estava diante de si. O espetáculo, os momentos de felicidade, acabara. –Não. Não... –Murmurou mais algumas vezes enquanto sacudia a cabeça em negativa. Joel olhou com pena ao senhor que servia.

-Sinto muito, senhor Cullen. –Murmurou sabendo que este era o único consolo a oferecer aquele que parecia inconsolável.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

desculpem a demora, mas tive problemas para postar. deixem muitos reviews. proximo cap é o ultimo e depois vem epilogo (eu axo). bj