Daquele morrinho, olhando para trás, eu só conseguia ver a floresta em chamas, fumaça para todo o lado... Com certeza se eu quisesse algum dia ser discreta, estaria sériamente ferrada...

–Ei!-Chamei a Louise, que estava brilhando ao sol da tarde- Onde essa Eleonore está?

–Érrr... Onde ela provavelmente poderia estar, você quer dizer?

–Como assim você não sabe?

–Ela fugiu de casa, está transtornada, agora precisarei confiar nos meus instintos para impedi-la de fazer algo ruim.

–Vamos começar procurando então.- falei com o tom mais cansado de todos, ao descer o morrinho com Louise, em direção a cidade.

Ao descer,Orann ao sol da tarde era uma cidade com tom bem amarelo, só haviam casas, nenhuma construção maior. Comecei a duvidar dos meus conceitos sobre cidade, ou se aquela era realmente uma. Comecei a pensar sobre todos que estavam na pensão... Provavelmente já teriam percebido que saí, começarei a preparar a minha língua e garganta, pois hoje uma série de explicações sairá delas.

–Por aqui. - Falou Louise me guiando, tentou abrir o portão, mas só conseguiu passar por ele sem sucesso... - Droga, esqueço disso as vezes, como irei viver desse jeito a partir de agora?

–Você não vai! Isso é só uma fase, não vai ser sempre assim, eu acredito que você só está nessa forma, presa entre mundos, por que sua amiga está em perigo. -falei com segurança, mas não acreditava muito no que eu dizia, sou mais o tipo "ver para crer" e nunca vi uma alma se libertar. Do fundo do meu coração eu desejava que isso fosse verdade.

–Obrigada... Isso me acalma.- Ela tomou o que eu falei como um conselho, será que os Olhos de Oris garantem tanta credibilidade assim?

–Deixa que eu faço as coisas, vai falando e eu vou seguindo- Falei abrindo o portão enferrujado. Como as pessoas confiavam em portões tão leves e frágeis para defender a entrada da cidade?!

–QUEM É VOCÊ? Nunca te vi por aqui!- Tomei um susto logo quando entrei- Identifique-se!

Havia um homem enorme que estava guardando o portão do lado de dentro, não vestia armadura, mas seu tamanho era igualmente assustador! Sua barriga estava próxima de mim mesmo ele não estando cara a cara comigo.

–Ele é um sentinela antigo daqui de Orann, é boa pessoa mas você terá de convence-lo...

–Sou Lisa! por favor me deich-

–O QUE? FALA MAIS ALTO MENINA!- falou me interrompendo, e chegando mais perto... agora ele estava cara a cara comigo ao invés de sua barriga- O que?!- ele me olhou assustado, abrindo os olhos rapidamente como se tivesse levado um susto...-Seus olhos! São vermelho sangue! Não pode ser!- Falou, segurando meu rosto como uma maça, nem ousei em impedir. Olhou de vários ângulos possíveis e chegou a uma conclusão- Bem vinda a nossa cidade Olho de Oris! Me desculpe pelo tratamento!- Finalmente me largou, um pouco recuado, parecia estar arrependido de ter me barrado.

–Tudo bem.- falei, mas ainda sim me assustava perder tanto tempo enquanto uma pessoa estava prestes a se matar!- Vamos indo agora ok? Tchau!

–"Vamos"? A quem ela poderia estar se referindo?

Finalmente conseguimos entrar na Cidade de Orann. Até quando vamos encontrar impasses?! Não aguento mais! Quem é essa Eleonore? O que eu devo fazer quando encontra-la? O que... -

–Estamos na parte comercial de Orann - Falou Louise me tirando no meu mundo mental de duvidas - Nossa casa é perto mas não acho que ela estaria lá...

–Onde você acha que ela estaria? Talvez em algum lugar importante pra ela... Pense em algum lugar.

–Eu tenho uma ideia! Me segue!- falou feliz mas a situação era bem complicada...

Chegamos a uma rua normal sem nada em particular... Até Louise apontar pra um espaço entre paredes bem estreito.

–Continue seguindo e você verá... Nosso lugar antes de termos uma casa.

–Tentarei- Me senti gorda ao passar por aquele beco estreito, com certeza era um lugar seguro para duas crianças ficarem, nenhum adulto iria conseguir alcança-las. Quando cheguei ao final do caminho cheguei em um lugar bem mais espaçoso, como se fosse um quarto, vi brinquedos sujos e enferrujados pendurados nas paredes, presos por fios e cola, marcas de pintura no chão, que delimitavam onde elas dormiam e muitos objetos provavelmente roubados por elas, mas nada disso ofuscou o que estava no meio de tudo isso, me olhando... com olhos muito tristes...

Era Eleonore, linda, alta, muito pálida mas nem de longe era uma mulher comum, pois pequenas bolas de fogo com cores negativas a rodeavam, flutuando e iluminando todo o beco.

–O que você... está fazendo aqui? - Falou e as bolas de fogo apontaram para minha direção como facas.

–A Louise precisa falar com você.- Falei e ela me olhou com tristeza- acredite em mim- cheguei mais perto- Vocês precisam conversar!

–Pare de brincar! Eu não vou acredi- Ela parou de falar- Esses olhos!- chegou bem perto e o fogo se dissipou, parecia que ela tinha comandado... tudo ficou escuro.

–Sim! Olhos de Oris- falei quase me venerando para dar mais enfase- E eu vejo a Louise! Ela precisa falar com você urgentemente!- Segurei na mão dela- Vamos sair...- Passamos pelo caminho estreito. Quando chegamos lá fora o sol da tarde iluminou Eleonore. Seu cabelo era longo e roxo muito escuro, da cor de seus olhos. Ela estava com um vestido preto de ombros a mostra, tinha uma presilha em forma de borboleta na franja lateral e usava uma sombra bem escura.

–Não sei como fazer vocês conversarem mas- Senti um tremor, elas também sentiram... Do chão brotaram sombras, tinha que fazer algo... preparei a magia dentro de mim.

–Deixa comigo, vou proteger você! - As bolas de fogo surgiram novamente e ela correu para cima das sombras como se fosse a coisa mais normal de todas... Ela acenava e o fogo meio azulado obedecia, queimando as sombras, mas por alguma razão as sombras se juntaram formando uma maior ainda e a atacaram, deixando Eleonore inconsciente.

–Vou para-los!- Fui em direção da sombra maior e atraí sua atenção, me concentrei, fechei meus olhos, mas nenhuma magia saiu. Já havia uado além dos meus limites, então corri para trás de um banco de pedra,a sombra seguiu, mas esbarrou no banco e caiu. A sombra ficou se debatendo no chão tentando se levantar mas quando estava prestes se erguer uma flecha o acertou e a sombra desapareceu soltando um rugido. Ao fundo vi algumas pessoas se aproximando... Eram Arthur, Phill e Belinda.

–PORQUE VOCÊ ESTÁ AQUI? Eu pensei que alguém tinha levado você - Arthur falou gritando e me abraçou muito forte... Corei imediatamente e o abracei de volta, mas me lembrei daquela noite e recuei envergonhada.Belinda e Phill nos olhavam estressados.

–Vimos o chão em volta da pensão destruído e fumaça na floresta, conseguimos seguir seu rastro até essa cidade- Falou Belinda

–Eu percebi a sombra te seguindo e atirei uma flecha nela de longe- falou Phill com o tom mais egocêntrico do mundo.

–Preciso ajudar a Eleonore, ela parece estar inconsciente.

–Quem é essa? -Arthur perguntou,

Quando chegamos perto da Eleonore, que estava no chão inconsciente encontrei Louise ao lado dela chorando. Expliquei a situação para eles e tentei acalmar Louise.

–Ela só está inconsciente, não se preocupe...-peguei na mão da Eleonore e pus minha outra mão através do corpo de Louise, a minha magia ligou-as e elas se comunicaram mentalmente.

"-Eleonore, eu entendo tudo o que aconteceu e te perdoo, não se culpe! Viva feliz! Agora eu sou sua magia, foi a minha alma que a devolveu para você, use-a para ajudar o Olho de Oris,quer dizer,para ajudar a Lisa pois ainda há muitas coisas para acontecer. Não tenho muito tempo aqui então saiba que eu te amo e estarei sempre com você, minha amiga!"

Eleonore acordou sorrindo. Não encontrei mais a Louise, ela finalmente tinha partido... Os três estavam olhando a cena, mas não enxergavam o que realmente tinha acontecido.

–Eu vou te ajudar em tudo o que precisar, minha magia está a sua disposição Lisa! Vou também procurar sobre o mago que me enganou...

–Obrigada Eleonore, não te conheço muito mas sei que você é uma ótima pessoa, Louise me contou sobre vocês, estou feliz em ter ajudado- falei sorrindo.

Fomos a casa dela, para pegar algumas coisas para a nova integrante do "grupo".

–Estou pronta! -Falou Eleonore com uma bagagem enoooorme.

–Pronta só se for nos seus sonhos! É o essencial que precisamos levar, ou você não vai durar um dia fora de casa... - Falou Arthur ironicamente e todos riram.

–Oh!- A face dela murchou ao voltar para desfazer a bagagem.

Depois de termos resolvido tudo isso saímos no final da tarde e chegamos na pensão de noite.O humor de Eleonore havia mudado muito, era uma pessoa muito gentil, apesar do poder assustador. O clima estranho entre eu e Arthur continuou, não dava para esquecer o beijo, mas não sabia o que ele realmente queria, minha cabeça estava uma confusão... E assim acabou mais um dia "normal" em minha vida...