Eu trabalhava em uma lanchonete pequena num bairro de periferia. Os dias não tinham quase movimento, eu passava a tarde toda sem fazer nada o máximo que poderia acontecer era vir muita gente do fórum em frente à lanchonete.

Por esse motivo de pouca gente eu ganhava mal e tinha que fazer alguns “bicos”, o que eu não me orgulhava muito, mas era o que punha dinheiro em casa. Naquela tarde um de meus clientes apareceu deixou o envelope em cima do balcão pediu um café e saiu, eu peguei o envelope e lá continha o de sempre, uma parte do pagamento e as instruções do roubo, sim do roubo eu era uma ladra, roubava de tudo para quem fosse desde que pagasse bem e não me envolvesse em problemas.

Dessa vez o roubo seria de um conjunto de joias - um colar, um par de brincos e uma pulseira – eles estariam em um cofre particular no centro da cidade. As fotos mostravam que a casa era grande, mas desprotegida, seria fácil chegar até o cofre, o problema seria a tranca porque ela era de última geração e...

Meus pensamentos foram interrompidos pela chegada de um cliente, que por um acaso era Tomás, eu guardei tudo correndo, já que ele adorava bisbilhotar tudo.

– Boa tarde Ana, você pode me ver seis cafés puro e dois com leite, por favor.

– Boa tarde Tomás, é só isso que você vai querer? – Eu disse anotando o pedido.

– Quero dois bolinhos também, de chocolate, por favor.

– Nossa você é educado.

– Tem que ser se não mamãe briga – Ele piscou e sentou em um dos banquinhos ficando bem na minha frente. Nós ficamos nos encarando até que o pedido do Tomás ficou pronto, eu entreguei a ele e aproveitei para uma pergunta:

– O que você faz aqui?

– Compro cafés e bolinhos? – Ele deu um sorrisos maliciosos tosco

– Você sabe o que eu quis dizer, o que faz nessa parte da cidade uma hora dessas?

– Eu trabalho no fórum, sou assistente do juiz e as vezes ajudo com alguns casos, caso você tenha reparado sou muito bom em prestar atenção nas coisas. – Ele pegou o pedido deu outro de seus sorrisos maliciosos e saiu.

Eu sai do meu turno às sete horas quando já começava a escurecer, por estarmos no verão eu ficava sempre um pouco mais no trabalho, quando peguei o ônibus tive que parar de pensar em meu bico, pois Tomás entrou após de mim e nós ficamos juntos mais uma vez.

– Então como foi o trabalho? – Ele perguntou me olhando

– Normal. Porque me pergunta as coisas como se já nos conhecêssemos?

– Porque segundo especialistas isso nos deixa mais próximos.

– Claro mais uma vez voltamos a história do sermos íntimos.

– Sim, acho que voltamos, mas também pararemos por aqui porque eu irei descer, ele levantou e eu deixei que passasse, mas antes de descer ele ia me dar um beijo na bochecha, mas o ônibus freou e ele acabou me roubando um beijo antes de quase cair. Ele recuperou-se rápido e saltou do ônibus rápido para não me dar tempo de falar sobre o incidente.

Chegando em casa eu tomei um merecido banho e fui ver minha avó no quarto. Ela que cuidava de mim desde os três anos, e desde aquela época nós vivemos no aperto. Mesmo assim ela fazia questão que eu estudasse em uma escola particular, dizia que o estudo era a prioridade da vida de alguém bem sucedido, então ela pagava minha escola e seus remédios que eram muitos com a aposentadoria e eu pagava as contas de água, luz, a comida e telefone, só o básico para viver.

– Oi vó já cheguei e vou preparar a janta. – Eu falei na porta do quarto.

– Está bem, mas faça algo leve que eu estou meio mal hoje – Ela tentou sorrir, mas eu percebi que ela estava mal mesmo.

– Ok, eu vou caprichar num jantar leve e gostoso para você.

Fui para a cozinha e fiz uma salada um filé de frango grelhado e um suco, levei para minha avó em uma bandeja e esperei ela comer, o que demorou um pouco, mas ela comeu tudo o que foi um milagre, depois fui para o quarto jantar e estudar, quando entrei meu celular vibrou e tinha uma mensagem de um número desconhecido

“Boa noite e durma bem

Bjs Tomás”

Aquilo me pegou de surpresa e eu não sabia o que responder, então joguei o celular na cama e depois de me matar na lição de Física escrevi para ele:

“Como conseguiu meu número?”

“Vanessa me passou”

“Você é um cretino”

“Só porque pedi seu número?”

“Sim! Você não tinha esse direito e eu vou bater na Vanessa amanhã por ela ter passado”

“Relaxa eu não vou pedir cola da prova, só queria te dizer Boa Noite só isso agora valou vou dormir”

“Boa noite”

Eu coloquei o celular do meu lado esperando uma resposta, mas ela não veio, então sai do quarto e fui ver como minha avó estava, e ela estava dormindo bem e tranquila então pus meus tênis e resolvi que ia olhar o local do meu trabalho.