O cantor desaparecido escrita por Sophie Claire


Capítulo 4
Pista falsa


Notas iniciais do capítulo

Olá novamente! Nossa! Já estamos aqui, sem nenhum assassinato! O.o
Só tenho uma palavra para esse capítulo... você pode me dizer qual seria?



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Anita havia acabado de chegar. Era realmente conforme a descrição dada pela manhã, usava um vestido escuro, como o clima não era frio demais, sua maquiagem era discreta que consistia em batom rosa antigo e rímel.

Aproximou-se perto da mesa em que o detetive estava, mas este não se moveu.

—Mal posso acreditar que você veio! –ela exclamou com os olhos marejados.

Ficou em expectativa para vê-lo cara a cara.

—Sente-se, por favor –Sherlock pediu educadamente.

Anita estranhou a voz e sem entender o que acontecia, recuou dois passos para trás, John que estava a postos segurou-a delicada, mas firmemente em seu braço.

—Sente-se conosco.

—O que é isso? Uma armadilha? Quem são vocês?

—Acalme-se, não vamos fazer uma cena. –John cochichava.

—Olá Anita Hernández! –Sherlock cumprimentou tranquilamente.

—Oh não! Foi com esse impostor com quem troquei e-mail e mensagens?

—Veremos quem é a impostora aqui. Porque concordou em vir aqui, quando já sabia o que estava acontecendo?

—Do que está falando? Recebi e-mails de Nick e tudo o que vejo é um pilantra e seu comparsa. Onde ele está?

—Vai nos dizer que desconhece o fato de ele ter desaparecido ontem? –John pressionou.

—Vocês... não fariam isso. Vocês o mataram? –a jovem gaguejava e chorava.

—Ok, é melhor parar de dar voltas no assunto e de atuar, mocinha! Responda: o-que-você-sabe-sobre-Nicholas-Staunton? –falou devagar.

–Eu? Há meses que não vejo, terminamos há quase um ano, porque eu não suportava a ideia de ele gostar mais daquele projeto estúpido de formar uma banda. Passava mais tempo com William do que comigo. Comecei a me perguntar se ele era gay.

—E ontem?–o detetive perguntou tentando esconder sua impaciência.

—O que tem ontem?

—Não finja que não entendeu! Onde você estava?

—Estudando e mais tarde com amigos, por quê?

—Álibi bem comum... Tem certeza que não fez uma visita a Londres, ou melhor, a Staunton?

—Agora eu entendo. O e-mail que você me enviou dizendo ser ele perguntando eu ter ido a Londres, mas eu pensei que ele arrumava uma desculpa para me paquerar.

Inicialmente a dupla era convencida que Any era cúmplice no desaparecimento. Agora cogitavam a ideia de que ela sequer esteve lá.

—Preste atenção Anita: a banda Straight Idea da qual seu ex era o vocalista viajou ontem para a capital com objetivo de se apresentarem amanhã. No entanto, horas depois, Nicholas desaparece. Fui contratado por os amigos dele para encontrá-lo. O porteiro do hotel em que estão hospedados relatou que uma moça com suas características, chamada Any procurava por Staunton, minutos mais tarde este some. Isso soa familiar?

—Eu nunca estive lá! Pera aí... Vocês são da polícia?

—Não exatamente.

—Por acaso um dos rapazes diz ter me visto?

—Para sua sorte, não. Somente o porteiro, aparentemente Lewis que dividia o quarto com ele não reconheceu o apelido e Jack não te conhece. Só após o desaparecimento Overton soube da sua visita.

—Então não tem provas –seu tom não era ameaçador, apenas aliviado– Como posso saber se não são vocês que estão mentindo?

—Acha que perderíamos nosso tempo vindo procurar uma garota em outra cidade para sermos insultados?

—Eu não tenho nada a ver com isso. Ao menos sabia que eles viajaram. Sou amiga de William no facebook, mas talvez ele se esqueceu de me excluir assim como Nick fez. Eu nunca faria mal a ninguém, quanto mais a ele porque ainda o...

—Ama, eu sei. O amor é um motivador muito perigoso –olhou para Watson.

—Parece que você fala a verdade. Então, quem se passaria por você? –John questionou.

—Overton – Sherlock respondeu com a voz rouca.

—O quê? –John e Anita falaram ao mesmo tempo.

—Ele foi o último a “saber” de sua visita, o único que a conhece pessoalmente. O porta-voz do grupo, o mais preocupado com Staunton, ficou nervoso quando fui ao seu quarto.

O caso havia dado uma reviravolta.

—Sherlock você não pode fazer uma acusação tão séria, eu não acho que ele seria capaz...

—Ah! Não me diga que se afeiçoou a ele!

—Está com ciúmes? –os dois se encararam, ignorando a presença de Any.

—Er... estou atrapalhando?

—Não, vamos voltar ao caso: conte-nos tudo o que sabe sobre William Overton.

— Conheço-o desde a época do namoro, embora ele e Nick já fossem amigos muito antes. Para piorar quando inventaram de formar o grupo, passavam muito tempo juntos e fui deixada de lado. Só eram os dois quando terminamos, por isso não tive contato com os outros dois garotos.

—Foi você quem terminou o relacionamento, certo? –John assumiu a posição de interrogador.

—É –Anita abaixou a cabeça.

Sherlock admirou-se.

—Você ficou irritada com a falta de atenção dele, tentou reconsiderar, e Nicholas se afastou ainda mais. Cansada disso e como você mesmo se questionou sobre... –John procurava as palavras– as preferências do namorado –pigarreou– então você rompeu. Mas é claro que ainda sente algo por ele.

Sherlock ficou de boca aberta (literalmente) com as habilidades de Watson.

—Olha, queremos ajudar a encontrá-lo.

—Realmente pensaram que eu fui a mandante do suposto sequestro?

—Era apenas uma suspeita, –o detetive respondeu– lamentamos perder o nosso tempo.

—Ele quis dizer, incomodá-la –beliscou a coxa por debaixo da mesa, Sherlock contorceu o rosto.

—Por favor, ache-o senhor...

—Holmes.

—Watson –acrescentado de um ‘caso alguém queira saber’.

Any segurou a mão de cada um, com lágrimas nos olhos.

—Garanto que até então não sabia de nada, podem contatar as pessoas com quem estive ontem que eles lhes confirmarão. Se minha ajuda for necessária, será um prazer.

John ouvia condicente, Sherlock tentava soltar a mão. Conversaram até umas 20:30. Agora tomavam drinques o que Sherlock achou uma má ideia. Finalmente Anita disse que precisava ir, pois ficou abalada com a enxurrada de notícias. John se ofereceu para ir andando com ela, mas o outro interveio.

—Com a investigação furada, não temos mais o que fazer aqui. Voltaremos para Londres hoje mesmo.

Este se afastou um pouco e Watson foi desculpar-se com a moça.

—Me desculpe, mas tenho que voltar imediatamente para a hospedaria –sorriu sem graça.

—Entendo. Seu namorado acha que você está interessado em mim.

—Ele não é meu... –ia corrigi-la.

—JOHN! –Sherlock gritou.

—Isso não deve ter causado uma boa impressão.

—Olha, aqui está meu número se vocês precisarem –entregou um pedaço de papel.

—Obrigado –ele pareceu lembrar-se de algo– Como você costumava chamar Nicholas, digo algum apelido ou algo assim?

—Chamava-o de Nick, como vocês perceberam.

—Nunca o chamou de Staunton?

—Acha que éramos um casal de velhos? ­–ela riu confusa sobre a intenção da pergunta.

—Não, era só... curiosidade.

Ele se sentiu ser arrastado pelo braço na direção oposta. Seu amigo havia perdido a paciência de esperar e dava um “show”.

—Adeus Watson!

—Doutor Watson para você! –o detetive corrigiu já de longe.

–X-

Era mais de dez da noite quando retornavam a Londres. Após perceber que não conseguiram muita coisa na cidade universitária e com o depoimento de Anita ficou claro para Sherlock que seu maior suspeito estava todo o tempo bem debaixo de seu nariz.

John tinha os olhos fechados, mas não dormia.

—Eu estava certo –Sherlock murmurava para si mesmo como um mantra– Eu sempre estive certo...

—Não é capaz de admitir que se enganou? Anita não é culpada. Fomos à Cambridge para nada.

—Comprovei que uma de minhas teorias estava certa, nunca iria ter certeza de que Anita era inocente se não fosse até lá. Eu perdi um precioso tempo, como previ caso seguíssemos a pista errada.

—Porque me arrastou e nem me deixou me despedir como uma pessoa normal?

—Não tínhamos mais nada para falar com ela –respondeu indiferente.

—E nem jantei. –o doutor lamentava.

—Pare de choramingar, você já é um homem crescido.

—Sim, mamãe –brincou– Any disse que meu namorado é ciumento.

—Agora você fala como se eu tivesse ciúmes o tempo todo –o mal-humorado rebateu sem pensar.

—É melhor você pensar antes de falar! –John disse enquanto perguntas dançavam em sua mente “O QUÊ?”, “ELE DISSE ISSO?”.

—Sempre penso, analiso e pondero antes de falar. Não demorou muito até eu perceber que ela é só uma idiota apaixonada, sua linguagem corporal falou muito mais do que suas palavras. Observou suas roupas? Chegou cheirando a perfume doce, depois de pegar em minha mão a fragrância era uma mistura de almíscar, cedro, sândalo, âmbar e baunilha. Ela faz o tipo delicada, porém séria, queria impressionar o rapaz com quem tinha a esperança de falar. Sem parecer atirada.

—Estamos chegando! –John avisou– Imagino que vamos diretamente para o hotel ou ligar para Overton.

—Errado! Vamos para casa.

—Fazer o que lá? Descansar que não será...

—Correto –Sherlock deu um sorrisinho malicioso.

–X-

Baker Street os aguardava silenciosa. O flat era escuro e sem sinal da senhora Hudson. John foi direto para a cozinha procurando algo para comer. Sherlock tinha no estômago somente uma xícara de chá desde a manhã.

—Pão de duas semanas, queijo mofado, resto de geleia, acabaram os biscoitos –listava as opções– Argh! O que é isso no congelador?

—Experimento.

—O que você fez com o leite que eu comprei?

—Experimento.

—A que maldita hora? –o loiro faminto passava a mãos sobre os olhos.

—Foco, John. É exatamente o que perdi. As dúvidas do início do dia ainda permanecem, voltamos à estaca zero.

—Adoraria ajudá-lo, mas agora estou um pouco ocupado tentando encontrar algo que não esteja estragado para comer.

—Vejo que está mantendo sua irritação sob controle.

—Há algo mais? –John perguntou sarcasticamente.

—Está com fome. Por isso acabo de encomendar comida para você. O que me diz de comida caseira?

Sherlock precisava da atenção voltada ao caso e sabia que um John distraído com trivialidades como alimentação iria ser irritante. Conversavam à metros de distância.

—Preciso de uma segunda opinião. –bateu na poltrona indicando para o outro se sentar– Tenho alguns indícios e preciso ser seletivo, informações que a princípio ignorei, mas não de um todo, serão importantes. Overton é um forte candidato para estar envolvido. Mas qual seria sua motivação?

—Alguma mágoa do passado, talvez ele gostasse de Any –sugeriu sentando-se.

—Tem mais alguma ideia? –Sherlock ficou na borda de sua respectiva poltrona.

John inclinou-se para trás de olhos fechados tentando conciliar suas hipóteses.

—Hmm. Foi ele quem mencionou o tio rico de Nicholas.

—Brilhante! –o moreno exclamou sem emoção na voz.

—Sério?

—Não. Você vê, mas não observa. Não perceberia nem se alguém que estivesse na sua frente fosse apaixonado por você!

—Perdão? –o loiro abriu os olhos.

—Isso foi uma metáfora. –respondeu olhando para o chão– Enquanto você ficou no quarto, eu aproveitei para investigar a vida que a banda normalmente levava na cidade. Como um “plano b”.

—Mas o resultado não foi frustrante?

—Isso foi o que pensei antes de irmos ao pub. Tenho os dados e ainda hoje encontraremos as respostas. Como disse, fui ao Trinity College e conheci muitas pessoas.

O entregador interrompeu a linha de raciocínio e logo mais John jantava na sala.

—Vai comer?

—Comer me deixa lento.

—Pelo menos uma garfada! –trouxe o talher próximo a Sherlock. Este olhava do garfo para John.

—Seria amável jantarmos juntos, entretanto esse é o tipo de distração que prefiro evitar. O criminoso nos tirou do caminho para ganhar tempo. Significa que ele está próximo. –Pegou uma pasta contendo alguns arquivos– Quando cheguei à Universidade estava ciente que não obteria informações na reitoria, fui até seus quartos, mas o que dizer de um desconhecido fazendo sábado de tarde em uma universidade? Fingi ser amigo de Staunton e Overton há muito tempo planejava ir lá vê-los, mas morava longe. Ao me informarem que eles não estavam nunca estive mais triste. Umas moças e rapazes também foram muito solícitos, você precisava ver como fui simpático e até tímido! Fofoca é uma coisa útil em determinadas situações. Joguei um verde sobre a amizade entre eles dois e eles disseram que andavam sempre juntos. Obtive as mais variadas afirmações que julguei inúteis, mas armazenei aqui. –Apontou o longo dedo para a cabeça– Como bônus fiquei com alguns arquivos! Não poderia dar com a língua nos dentes e revelar minha real missão ali.

—Seu filho da mãe! Se fazendo de coitadinho condescendente quando voltou do passeio!

—Minhas habilidades de atuação são ótimas! –provocou, sabendo que em parte era mentira, pois naquela situação ele havia se sentido ridículo e impotente.

—Pense bem, Sherlock! Você não pode simplesmente acusar Overton quando não temos provas concretas! Você mesmo que diz “nada é mais enganoso do que um fato óbvio”!

— Você é minha consciência. Ou melhor, minha parte humana. –Não havia deboche, mas sinceridade nas palavras– Por isso eu preciso passar essa noite com você!

John começou a tossir com a comida que mastigava, incrédulo com que ouviu de seu amigo que parecia fora do personagem.

—C-como? –gaguejou.

—Eu disse que encontraria a solução ainda que levássemos a noite toda? Por favor, não durma!

Seu próximo passo era lançar um raio de luz na escuridão onde se encontravam. Uma vez Any descartada, o pensamento de que o festival seria no dia seguinte, desapontar os clientes, não encontrar o jovem com vida. O suspeito em potencial.

Sherlock fechou os olhos e sua mente regressou aos primeiros acontecimentos “Eu não entendo senhor Holmes!” foi o que Will disse. Rápidas deduções surgiam daquele primeiro contato com William Overton, letras brancas se revelavam: preocupado, ansioso, triste, frustração, medo, solitário, TOC, guardião. Mas não havia nada de incriminador nele.

Em umas das salas de sua mente surgiu uma mulher de jaleco e cabelos preso em rabo de cavalo.

—Molly!

—Não consegue se concentrar? O que te distrai? –seu tom era decidido, Sherlock não respondia– Não é ele!

Adiante de si via figuras humanas sem rosto que poderia ser qualquer um.

—Não é ele! ­­– ela repetia.

Watson apoiando o queixo na mão esquerda procurava alguma coisa nas folhas da pasta sem retirar a atenção ao homem a sua frente. Tão concentrado, somente seu corpo estava ali, o ar graciosamente subia e descia em seu peito. O homem parecia autossuficiente. Então porque sua opinião poderia ser necessária? Sua presença se revelava insignificante. Depois da refeição John tinha a visão embaçada: pequenas bolhas brancas o rodeavam. A bebida do pub foi adulterada? Sherlock poderia tê-lo usado como cobaia para algum teste?

[...]

—Sherlock, ouço um barulho! –com o indicador erguido–Vem das escadas! –John revelou apavorado.

O moreno parecia não ouvir. O loiro se aproximou dele e reunindo toda coragem que podia segurou seu rosto, o outro suspirou com o contato.

—Há uma sombra à porta –Watson cochichava em seu ouvido. Sherlock abriu os olhos lentamente enxergando pavor em seu rosto sem entender o motivo.

—O que há de errado com você, Jawn? –seu olhar se desviou para a porta, os dedos do mais baixo não abandonaram seus ombros– Pela sombra julgo ser um homem alto, quem será?

—Sherlock Holmes! –uma voz masculina desesperada chamou.

Os dois trocaram um olhar espantado. Mas o detetive colocou o dedo sob os lábios para indicar silêncio. Levantou-se e foi abrir a porta.

—Por favor, abra! –insistia.

—Quem é?

—Veja você mesmo!

A porta foi aberta e a figura não poderia ser mais alarmante: um jovem loiro, olhos claros, roupas rasgadas, ofegante, um desconhecido reconhecível:

—Nicholas Staunton!!! –John exclamou em um tom estrangulado.

Nesse momento John pulou da poltrona assustado, procurando com os olhos o rapaz pelo apartamento. Ele nem notara o grito que escapou de sua garganta e fez o detetive sair de seu estado de transe.

—O que há de errado com você, John?

—Tive um pesadelo. Acabei cochilando e sonhei que Staunton aparecia aqui –explicou sentindo-se um tanto envergonhado.


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Notas finais do capítulo

Notaram algumas frases (ou adaptações)? Estamos na reta final, não é uma história longa!
See ya!



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