O cantor desaparecido escrita por Sophie Claire


Capítulo 3
Disfarces


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas! Esse capítulo está um pouco maior que os anteriores, prestem atenção aos detalhes! Espero que seja divertido a leitura assim como é para mim escrevê-la! ^-^



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O restaurante era simples, caseiro com ares de vitoriano. Havia poucas pessoas no local, contudo John não reparou esse detalhe, pois há dias ele não tinha uma refeição decente.

Quando finalmente se sentaram à mesa e o doutor já havia feito seu pedido, seu acompanhante estava muito entretido folheando um pequeno caderno, de cabeça baixa.

Você não vai pedir nada?

Não negou fazendo bico.

Há algo que queira me contar?

Aqui está! Sherlock apontou para a página O bilhete encontrado no quarto de Staunton era na verdade um trecho de música O verso inferior escrito But I feel estava incompleto, aqui se lê a continuação: But I feel fear.

Deixa ver se eu entendi Watson esqueceu-se da fome Quando Nicholas está prestes a desaparecer ele se lembra dessa música dizendo que algo fora de seus planos aconteceu e não quer desapontar... Quem?

Ela, a garota! Tenho quase certeza, Staunton certamente ainda sente algo por a antiga namorada. Após sua ida ao hotel ele escreve isso, estranho não?

Como sabe que foi depois disso que ele escreveu?

Ora, é simples: o bilhete não está em uma folha de papel comum. É um guardanapo! Contém o logotipo de um estabelecimento não muito longe. Isso foi antes de eles retornarem ao hotel de seu passeio ontem à noite. Estava em seu quarto, a única maneira disso acontecer é depois da visita de Any. Staunton fica pálido quando é informado sobre a moça. Olhe essas letras, John! Indica instabilidade, inclinadas, mas esses não são seus traços normais. Agora compare com a letra do caderno!

Lia-se claramente:

Compositor: Nicholas Staunton

Straight Idea

Circumstances

Só pode ser sua caligrafia. Além de estar em sua guitarra. Note a semelhança, a do caderno está mais legível por que a situação era outra.

Uau!

Faço o que posso o orgulhoso Sherlock Holmes ajeitava seu cachecol.

Uau! O espaguete já chegou! John esfregava as mãos.

Minha suspeita aponta para Any: de alguma forma ela o induziu a sair. Deixando seus amigos, sonhos e pertences para trás. Ela pode ser tanto vítima quanto suspeita. Há um jeito de descobrir: encontrando-a!

Como?

Aí vem a parte interessante. Sua pesquisa na internet foi proveitosa? John nada respondeu, estava muito ocupado mastigando, apenas lançou um olhar bravo De qualquer modo, estive pensando com tantas redes sociais, decerto os garotos devem ter páginas pessoais. Quem teria a ex na lista de amigos? Mas não deve estar longe de seus círculos sociais, amigos de amigos... Talvez.

John tinha um prato, Sherlock um notebook. Durante alguns minutos o detetive digitava entusiasmado. O médico não deixou de notar um sujeito estranho em uma mesa à frente usando um disfarce que consistia em uma boina, barba nitidamente postiça e óculos escuros. John achou estar ficando paranoico e momentaneamente esqueceu-se do assunto.

Prontinho! Achei o perfil de Nicholas no facebook, mas nem sombra dessa garota. Entretanto se Overton é o único dos três que a conhece, em seus amigos está uma Anita Hernández de Cambridge, quem mais seria? -mostrou a foto de perfil.

Como te conheço deve ter mais notícias.

Boa observação. Não fazem nem 24 horas do desaparecimento e por aqui as coisas estão abafadas. Nem a polícia foi envolvida, pois seria um escândalo para o concurso. Por ser órfão, não tem como avisar a família, como Any saberia do desaparecimento? Ela foi ao hotel pouco tempo antes do sumiço, se for de todo inocente agora não tem como ela estar a par da situação.

Será que ela está ainda em Londres?

É o que veremos. Descobri a senha de Staunton e enviei um e-mail para ela.

Você hackeou o e-mail da vítima?

Não seja tão dramático, John! É para o bem dele, os endereços ficam disponíveis nas páginas dos perfis eu só tive que descobrir a senha, o que foi fácil demais deu uma risadinha.

Você espera que ela acredite?

Sherlock colocou as mãos entrelaçadas na nuca.

Somente digitei que estava na capital e despretensiosamente mencionei sua vinda ontem, coloquei um tanto de sentimentalismo, essas coisas. Só nos resta esperar a resposta!

Após terminar a refeição John se levantou e observou que o cara estranho não estava mais lá. Juntou-se ao detetive consultor ainda na mesa.

Vamos! chamou-o.

Sim, sem perda de tempo! Sherlock concordou alegremente. Um sorriso involuntário se formou na face de John.

Baker Street?

Cambridge. sentenciou com o queixo apoiado nas mãos.

X-

Enquanto faziam o caminho de volta para casa Sherlock explicava.

Está acontecendo mais rápido do que supus. Ela acaba de me responder dizendo que seria uma agradável surpresa revê-lo, mas não sabe dessa história de visita e que não saiu de Cambridge.

Quanta ingenuidade!

Respondi sugerindo que poderíamos nos encontrar no pub The Fountain para conversarmos.

Está tão certo da viagem, mas ela ainda nem respondeu!

Ela está interessada. A resposta chegou!

No meio da calçada a cena não poderia ser mais ridícula: um homem esguio de sobretudo como os cachos ao vento andando segurando um notebook enquanto um mais baixo puxava-o pelo cotovelo para este não ser atropelado.

Sherlock! John tentava chamar a atenção, desesperado Porque você não usa o smartphone? É mais fácil! Não pode esperar chegar em casa?

Sherlock se recostou em uma parede.

Satisfeito? digitou rapidamente e enviou. Fechou tranquilamente o notebook e saiu andando.

Com suas longas passadas nem se deu conta que deixou o outro para trás.

John subiu as escadas imaginando o que viria a seguir, Sherlock não pareceu decepcionado, então significava que eles fariam a viagem.

Entrou e o flat estava silencioso. Ele só ouvia a própria respiração. Pé ante pé foi em direção ao quarto de Sherlock, a porta estava fechada.

Você está aí? John bateu com o nó dos dedos.

Vá fazer sua mala!

John não falou nada, foi em direção ao seu próprio quarto fazer o que foi lhe dito.

Se a viagem dura em média quase 1 hora, porque fazer malas? O caso pode ser mais complicado do que aparenta. Para todos os efeitos John achou conveniente levar sua arma.

Sherlock o esperava na sala.

É quase uma da tarde, vamos pegar o próximo trem. Durante o percurso eu explico o plano. Você não vai levar seus jumpers horríveis, vai?

Oh, cale a boca! John respondeu bem humorado.

X-

Aquela tarde o céu estava cinzento, contudo indicava que não ia chover pelas próximas horas. Na estação King Cross partia o trem em direção à Cambridge. Os ilustres passageiros sentaram-se um de frente para o outro.

Sherlock olhava desinteressadamente para a tela do smartphone, esperando as perguntas de seu parceiro. Sua irritação crescia conforme o tempo passava e a hipotética falta de interesse da parte do loiro.

Quando seus olhos pousaram em Watson, este o olhava como que aguardando algo.

Quando quiser fazer suas perguntas, estou disponível para respondê-las sussurrou sustentando o olhar.

Estava aguardando você me contar.

Ah! Se é assim... ficou um pouco lisonjeado A ideia de sequestro me parece improvável, visto que Staunton sai deliberadamente, há possibilidade de coerção, ameaça. No entanto algo me cheira mal, já deveríamos ter sido contatados pelo raptor se fosse o caso. Ele não pode ter escolhido trecho de música aleatoriamente. Indica que ele pensava na banda e ficou perturbado com a visita sem explicação da suposta ex-namorada. Sorte nossa que os amigos não encontram o bilhete antes de nós. Ele fez algo que não quis, mas como músico dedicado e amigo, a justificativa deveria ser de fato um motivo muito forte. A atitude dessa garota me intriga. Diga-me, Watson você que conhece esse sexo: o que uma mulher não seria capaz de fazer em nome de vingança?

Vingança?

Sim, de ludibria-lo, se aproveitar de sua tolice por causa de algo do passado, a causa do término do namoro. Justo quando está em boa fase. Seu e-mail foi tão dissimulado: Abre aspas, olá Nick! Quanto tempo, como você está? Não entendi o que quis dizer sobre ontem à noite. Asterisco Risadinhas asterisco Estou aqui em Cambridge. x-o-x-o fecha aspas. imitando uma voz de menina No segundo, quando sugiro um encontro casual, sem mencionar o concurso, ela concorda e também não estranha o fato de Nicholas supostamente retornar na véspera da apresentação.

Ela pode estar jogando para ver até onde isso vai chegar.

Ou não. Anita sabia exatamente onde os garotos se hospedaram, agora suas afirmações demonstram uma total ignorância dos eventos que ela presenciou. Será um blefe ou blefe duplo? Ou ainda um blefe triplo?

À que horas foi combinado o encontro?

À noite.

E porque toda essa pressa para viajarmos?

Evitar imprevistos, nunca se sabe...

Você e seus métodos! Gostaria de saber por que não falou nada para os rapazes, nem pediu auxílio para Overton, ele o teria feito encontrar Anita, mais rápido.

Porque eu não confio nele. Sherlock respondeu com um olhar sombrio.

X-

Com o encontro marcado para as sete da noite, Sherlock e John dispunham de muito tempo. Chegaram à hospedaria sem imprevistos. A recepcionista muito simpática:

Vão querer dividir o mesmo quarto?

Não há problema Sherlock. O sorriso da moça caiu um pouco.

Há opções de duas camas de solteiro ou pode ser de casal?

É óbvio que preferimos duas camas! John já foi se justificando.

Ao entrarem no quarto John olhou pela janela.

É uma cidade muito bonita.

Nem pense em me chamar para dar uma volta, porque tenho algo mais importante para fazer. Você acha que eu poderia ser confundido com Staunton?

Definitivamente não! sorriu balançando a cabeça negativamente.

Você é loiro, mas é um tanto baixinho para... Oh! Desculpe!

Não me importo! ergueu uma mão Pensa que vai enganá-la?

Apenas quero uma entrada magistral, eu não sou a Rainha do drama? fez uma vênia.

O moreno foi em direção ao banheiro e se trancou lá. Watson aproveitou para entrar em seu blog. Aquela paz o deixava apreensivo. E se eles encontrassem com um assassino sem escrúpulos? O que era reconfortante é que ele tinha Sherlock por perto e não ia ser pego desprevenido. Ficou por um tempo na internet, quando ergueu os olhos.

O homem anteriormente com cachos negros transformara-se em um loiro com um topete, jaqueta de couro, calças apertadas e tênis tipo All-star.

Deu um giro de 360° e perguntou:

O que acha?

John quase deixou o queixo cair com a incrível mudança. Ficou encarando o homem disfarçado até que a única coisa que lhe veio à mente foi:

Você está ridículo! disse colocando a mão sobre a boca.

Anita pensará diferente! Não serei cosplay de Staunton, mas posso obter um bônus: com meu charme irei convencê-la a me dizer o que sabe!

Você sabe que não precisa de uma peruca idiota para conseguir isso.

Sherlock reprimiu um sorriso.

Se não se incomodar, após trocar de roupa irei sozinho prosseguir com uma pesquisa que comecei. Volto a tempo de irmos ao pub.

Certo... Me quer fora do caminho o loiro cruzou os braços.

Não. Caso contrário eu nem teria te chamado! Menos conversa desnecessária, não queremos mortes igualmente desnecessárias. Até mais!

Estava calmo, mas ao mesmo tempo tenso. John sentia essa tensão crescente. Sherlock sabia de alguma coisa e não falava, desconfiava de alguém e parecia não confiar suficientemente nele a ponto de compartilhar suas suspeitas.

Seu celular vibrou, ele pensou que o detetive ocupado lhe enviara uma mensagem de texto solicitando sua presença. Retirou do bolso e viu que era de um número desconhecido: Staunton está bem. Não há necessidade de ter ido a Cambridge.

Essa seria uma piada de mau gosto? Quem estaria os espionando?

Mais de duas horas depois Sherlock chegou com uma expressão abatida, sentou-se em sua cama. John se sentou ao seu lado.

Sabe o quão é frustrante ter as informações e não conectá-las? Ver um monte de trivialidade e não entender o que é realmente relevante? Dar um tiro no escuro? escondeu o rosto entre as mãos.

Watson era uma das poucas pessoas que conhecia esse lado vulnerável do respeitável detetive, suas incertezas, decepções, erros. Podia ser que Sherlock não queria respostas, precisava de alguém para conversar. John fez menção de colocar a mão no ombro do amigo, porém antes Sherlock levantou-se irritado.

É claro que você sabe, mas eu não sei ser como você!

O doutor baixinho depois dessas palavras cretinas chutou sua paciência para o espaço e ao invés de gritar ou xingá-lo, optou por ignorá-lo. Isso doeria mais em seu ego.

Foi até sua pequena mala e pegou suas roupas a fim de tomar banho. Sherlock percebeu essa jogada e como uma criança querendo chamar a atenção, perguntou:

Não vai querer saber o que aconteceu comigo?

Você já deve ter me dito, mas sou estúpido demais para compreendê-lo fechando a porta do banheiro. O moreno encostou a cabeça nesta, pensativo. Aquelas brigas, quer dizer, discussões sem fundamento, parecia coisa de novela. John foi a peça-chave em seu processo de humanização, no entanto vez ou outra ele tinha uma recaída. Percebeu que ela não estava trancada. Sem pensar duas vezes abriu-a silenciosamente.

John distraidamente tirava o cinto já sem camisa, quando olhou no espelho e viu um vulto atrás de si abafou um grito. Sherlock tinha algumas coisas para dizer, seria bom que parasse de discutir, ia explicar o que eles iriam fazer, só que estranhamente se sentiu envergonhado com a situação diante de seu colega de apartamento por tanto tempo.

Que diabos você está fazendo aqui?

Pensei que tivesse deixado aberto de propósito.

Uma característica engraçada (e meio assustadora) em Watson é que mesmo com raiva ele sorria.

Ela não estava aberta! Não me avisaram que precisava pendurar uma placa escrito OCUPADO.

Encostada, você entendeu. Enfim, são praticamente quase seis horas, não se atrase! disse tropeçando nos próprios sapatos.

John continuou a despir-se, porém antes se certificou passando a chave na fechadura. A banheira estava tão boa, relaxante, mas ele tinha um compromisso então não podia demorar mais. Vestiu uma roupa esporte, não queria parecer velho perto do colega adolescente.

Sherlock o esperava andando de um lado para o outro, caracterizado como Nicholas, passando a mão nervosamente pelos cabelos.

John, antes de irmos, eu te peço desculpas pelas minhas grosserias, é que estou frustrado e um pouco incrédulo com o que encontrei hoje à tarde. Fui ao Trinity College o resultado foi decepcionante. Não sei o que ou quem nos espera no pub. Você vem, sim?

É claro que sim. Não perderia isso por nada. Com a confusão, esqueci-me de dizer que recebi assim que você saiu um sms de alguém que sabe o que viemos fazer aqui. Veja! mostrou a mensagem.

Não pode ser! Já confirmei com Any e ela age como se acreditasse ser Staunton o remetente. Ela disse que sentia falta da minha voz, digo, da voz dele, e perguntou por que eu não liguei. Tenho o número dela, mas não seria idiota de fazer isso. Agora nos correspondemos por sms.

O pub The Fountain ficava a uns minutos de caminhada, estava uma noite agradável e a cidade era perfeita para passeios entre amigos, com atmosfera jovial. Sherlock poderia facilmente ser confundido com um estudante universitário. John quase se esqueceu de que estavam em um caso.

Se estiver com fome, poderíamos aproveitar e jantar se tudo correr bem... o loiro falsificado tentava ser agradável.

Tudo correr bem... Quer dizer Any ser inocente ou não?

Só quero dizer se correr como o planejado, obteremos uma confissão.

Você vai flertar com ela? E eu só observo?

Não seja absurdo!

Eles chegaram pontualmente. O lugar estava praticamente vazio, pois ainda era cedo para os frequentadores. Sábado à noite, era nesse dia em especial que havia DJs mais tarde, mas aquilo não era um encontro! Pelo mesmo não um encontro romântico.

O combinado era o detetive se sentar de costas para a entrada. Enquanto John ficaria em outra mesa observando, pronto para entrar em ação. Sherlock recebeu uma mensagem:

Você está no pub?

Sim.

Onde?

Lá no fundo. Estou de costas.

Nick! uma jovem chamou e John reconheceu-a da foto.

Anita havia acabado de chegar.


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Notas finais do capítulo

Essa Any... O que acham que ela é?
Até a próxima!



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