Hayato andava de um lado para outro da caverna, não conseguia ficar quieto. Três dias haviam se passado desde sua explosão de raiva e Kagome não dava nem sinal de recobrar os sentidos, estava como morta, só sabia que ainda vivia por sua respiração fraca e o bater distantes e incontínuo de seu coração. Era sua culpa, ela não controlara seus impulsos, sentia tanto ciúmes que parecia lhe corroer os ossos, cada vez que via Inuyasha refletido no olhar da mulher que amava, como se ela o tivesse registrado em cada célula de seu corpo, era como se mil espadas o transpassassem. Agora, por seu amor feroz e seu ciúme doentio, talvez perdesse sua amada para sempre. Não tinha muita coisa a se fazer, Inuyasha estava morto e isso era um fato, desde o dia da tempestade elétrica que enviara, nunca mais sentira seu cheiro, não tinha nenhum sinal que indicasse que ele havia sobrevivido aquele golpe. Contudo, não se arrependia de ter o mandado para o inferno, apenas se arrependia de tê-lo feito na frente dela.

Kagome estava sozinha no escuro, estava com frio, encolhida sentada em algum lugar que não conseguia identificar, abraçava os joelhos. Suas lágrimas não paravam de escorrer e ela não sabia por que estava chorando. Sabia que algo muito ruim e doloroso tinha acontecido, mas não conseguia se lembrar o que. Tentou se mover, mas seu corpo inteiro doía, não podia ver nada, se tivesse alguém parado bem em sua frente não conseguiria identificar. Alguma coisa rosa e brilhante caiu e ela estendeu a mão e apanhou, era uma pétala de sakura, estava fresca e
ainda tinha perfume, o cheiro trouxe uma sensação familiar, um lugar onde estivera, alguém que conhecera. Seu coração pulsou de uma forma dolorosa, parecia que alguém lhe desferira um golpe. Seus braços e pernas começaram a formigar. Ao longe uma luz fraca começou a cintilar e Kagome fez um esforço imenso e por fim se levantou, foi seguindo, se escorando em algo frio, parecia uma parede rochosa. A luz tinha um brilho fosco e esbranquiçado e como em uma tela velha, mostrava uma paisagem a tanto esquecida. Um poço, alguém vestido de vermelho a esperava sorridente, estendia-lhe a mão, mas porque não conseguia ver seu rosto. Sua dor aumentava exponencialmente cada passo adiante que dava, cacos de vidro penetravam seus pés e tentavam pará-la, mas tinha que continuar. Caiu de joelho sem forças, mais perto da luz, agora notava galhos destorcidos em forma de garras que vinham em sua direção essas grandes garras lhe pegaram e lhe atiraram de volta na escuridão, pra longe da cena amável e do calor de alguém que conhecera. Presa no fundo do lugar frio não queria mais se levantar, talvez fosse melhor não lembrar. Se era o fim, que fosse então.

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_Tem certeza que funcionou velho? – perguntou Hayato ao feiticeiro que segurava pelo roupa, erguido mais de um metro do chão.
_ S-sim meu senhor – dizia o velho, de aparência suja e enrugada. – Ela recobrará os sentidos em breve e não se lembrará de nada referente ao passado. Tudo o que essa menina viveu até agora, está na mais completa sombra.

_ Se ela morrer, você será o próximo, entendeu? – disse jogando o velho feiticeiro no chão.

Kagome se mexeu logo em seguida e soltou um grito horrendo de dor.
_ Aaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!

Hayato correu para o seu lado e tomo-a nos braços. Olhou para o velho feiticeiro, em seu rosto um misto de desespero e ódio.

_ O que está acontecendo com ela? Diga seu velho desgraçado!

_ Acalme-se meu senhor, são as memórias dela se partindo. É doloroso para um ser humano. Ela sofrerá antes de recobrar os sentidos.

_ Ela corre algum risco? – Hayato a segurava contra o peito, como se pudesse diminuir a dor de sua amada.

_ Apenas um Lord, se ela quiser muito se lembrar, se a ligação dela for muito forte com as memórias passadas, sua alma poderá se romper e ela morrerá.

Hayato estalou os dedos sem sair do lado de Kagome e explodiu o feiticeiro. Limpou o sangue que pingara em seu rosto com as costas da mão.
_ Isso é por fazê-la sentir dor, seu verme!

Depois de horas de infindáveis gritos agonizantes, ela finalmente abriu os olhos.

_ Onde estou? Quem é você? Quem sou eu? – murmurava baixinho.

_ Não se lembra meu amor? Sou eu Hayato, seu marido. Você ficou desacordada 3 dias após cair de um penhasco.

Ela sentou-se e olhou em volta.

_ Aqui é nossa casa?

_ Não meu amor, aqui foi onde você se acidentou.

Kagome estendeu os braços e puxou para um abraço, sentia-se triste e despedaçada, mas não sabia porque. Inalou o aroma dos longos cabelos negros, mas não reconhecia seu cheiro. * Talvez seja do acidente*- pensou.

_ Me leva pra casa. Pra nossa casa. _ disse apertando-o mais.

_Claro minha rainha, como quiser. – pegou-a no colo, dando-lhe um leve beijo na testa. – Nunca mais sairá do meu lado. Não vou deixar nada de ruim te acontecer nunca mais, eu prometo!
Kagome afundou o rosto no peito largo e quente dele e enquanto flutuavam pelos céus, apenas chorou, um choro profundo, carregado de tristeza e saudades e de uma sensação de que alguma coisa importante estava sendo deixada naquele abismo abaixo deles. Não sabia o que era, apenas desejava que a dor sumisse.