Tears of blood escrita por IS Maria


Capítulo 35
Just one more step




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Eu não reconhecia a mim mesma. Coberta em sangue, no espelho eu não encontrava o reflexo de alguém que eu poderia me orgulhar e ter perdido por completo o controle do meu corpo era apenas mais uma prova do quão perdida eu me encontrava. Nem o banho mais demorado do mundo poderia me livrar de toda a sujeira que se grudou em minha pela, poderia me livrar de todos os pecados que eu tenho cometido ou me fazer esquecer todas as dores. Lembrar-me da garota que eu costumava ser apenas me fazia recordar de como era viver no escuro, antes de ser atingida pela brutal verdade. Antes eu não compreendia o mundo onde eu havia nascido, não havia nenhuma maldição sobre mim, não haviam tantos vampiros, não haviam tantas dores e mágoas e eu apenas vivia da maneira que haviam me ensinado. Mal podia acreditar que sonhava com os dias que eu poderia ultrapassar o muro.

Eu tinha esfregado tanto o meu corpo durante o banho que podia jurar que minha pele tinha saído junto à minhas unhas e mesmo assim, ainda podia me sentir suja. De uma garota que havia crescido em barreiras à uma assassina... eu realmente não sabia o quão sortuda eu costumava ser. Não havia nenhuma maneira de voltar atrás, de escolher um caminho diferente, ou seja, apenas me restava a vontade de ter escolhido um caminho diferente. Eu estava ali por ele e nem sequer ele me restava agora. Eu podia sentir meu coração pesar cada vez mais, mesmo que não batesse, por isso, apenas passei alguma coisa pelo corpo e mesmo descalça, parti a procura de qualquer coisa que fosse manter minha cabeça bem longe daquela avalanche de pensamentos e sentimentos que havia me atingido.

Me apoiei ao corrimão da escadaria e observei o salão que agora se mantinha vazio. Não havia nada ali que pudesse me acalmar, me afastar da realidade por alguns segundos. Ao menos eu acreditava que não havia nada, não até finalmente me recordar do piano que quase não podia ser notado. Praticamente deslizei até ele, permitindo que meu corpo se guiasse por si só. Sentei-me e antes de pousar as duas mãos sobre as teclas, verifiquei se de fato ninguém me observava, nem mesmo pelas sombras. Eu não sabia o que tocaria, mas uma vez, apenas deixei que meu corpo me guiasse.

Assim que as primeiras notas começaram a soar, pude reconhecer a melodia e então a canção se seguiu suavemente. Eu podia-me me sentir um pouco enrijecida, mas não demorou até que as vibrações da melodia pudessem me penetrar, fazendo-me aos poucos vibrar. As teclas se moviam suavemente, meus dedos deslizavam por uma e outra, meu corpo ia aos poucos se movendo como se juntassem a canção e meus olhos se fecharam vagarosamente, enquanto eu permitia que música me penetrasse completamente. Aos poucos, o canto de meus lábios se levantaram em um sorriso discreto e espontâneo, fazendo com que eu me soltasse cada vez mais e por fim me esquecesse por completo o lugar em que me encontrava, não mais me lembrasse quem eu havia me tornado e restasse apenas a pura essência de mim que ainda era apaixonada pelo piano. Meus olhos ainda estavam fechados quando senti uma mão pousar sobre a minha. Assustei-me e rapidamente me movi, porém fui impedida de deixar o instrumento por Anael, que me observava com um sorriso simplório e entristecido.

Ele se sentou ao meu lado e sem dizer um sequer palavra, começou a tocar. Passei a o observar. Não havia dúvidas de que sua beleza era extremamente marcante e única, porém, eu nunca havia o visto tão belo. As notas pareciam reluzir em seu rosto, fazendo-o aos poucos vibrar com aquilo que tocava. Fiquei tão tentada a tocá-lo, que mal notei o quão conhecia aquela canção era. Depois que reconheci a melodia, não pude me conter e quando notei, eu tocava junto a ele. Não possuía recordação de já ter tocado com alguém em minha vida, mas nossos dedos trabalhavam em perfeita sincronia e aos poucos, fui sentindo-me ainda mais leve e confortável, sentindo diferentes emoções, sendo essas inocentes, algo que eu jamais havia sentido com Anael. Meu sorriso era bem mais aberto agora e pude sentir a decepção reinar por todo o meu corpo, assim que a canção chegou ao fim.

– Impressionante a maneira como prende as garotas - Fomos surpreendidos. - Adoraria saber quantas já caíram em seu charme. - Eu não queria me virar e me deparar com Caius, porém, eu não pude me conter, não depois de me sentir tão incomodada.

– Não importa quantas foram... ele jamais irá superar o seu número. - Passei por ele com um meio sorriso nos lábios.

Eu não esperava que Anael viesse até mim depois de ter deixado a sala, porém, senti uma grande vontade de permanecer mais um pouco ao seu lado e quem sabe tocar mais um pouco junto a ele. Sem perceber, eu havia ido parar a fonta que ficava em frente a torre do relógio, ainda era dia e minha bele ainda reluzia, porém, não havia ninguém ali ou eu simplesmente havia deixado de me importar o suficiente para notar se de fato havia alguém. Mergulhei meus pés na água que agora parecia quente em contato com a minha pele, fechei os olhos e passei a escutar o barulho da fonte. Eu precisava fazer alguma coisa. Com uma eternidade toda pela frente, eu não podia permitir que ele continuasse a me perturbar daquela maneira, eu não podia continuar a me importar, não quando ele parece se divertir tanto ao me ver aborrecida. Eu estava condenada para sempre a permanecer ali, então, eu tinha que fazer alguma coisa.

Fui puxada repentinamente e assim que abri meus olhos, estava presa em um beco escuro, Anael pressionando a minha boca com a mão e seu corpo me pressionando contra a parede. Olhou-me nos olhos por alguns segundos e então me soltou depois de ter certeza que eu havia o reconhecido. O olhei confusa enquanto ageitava o longo vestido e o cabelo e ele simplesmente revirou os olhos enquanto cruzava os braços e se apoiava na parede a minha frente.

– Por que fez isso ? - Perguntei, deixando clara o quão aborrecida eu estava.

– Mais um segundo lá e Aro agora seguraria a sua cabeça por se mostrar aos humanos - Disse, fechandos os olhos como se ele na verdade é que estivesse aborrecido.

– Não havia ninguém lá.

– Como saberia de olhos fechados ? - Abriu um meio sorriso.

– Que seja - Foi a minha vez de revirar os olhos e dar de ombros. Tentei passar por ele porém ele me prendeu ali.

– Não vai sair enquanto houver luz. - Sussurrou, fazendo com que sua voz soasse ainda mais grossa.

– O que ? - Perguntei, cada vez mais irritada.

– Não se preocupe, o pôr do sol é em alguns minutos. - Seu sorriso aumentou, como se aquilo apenas o divertisse. Dei-me por vencido e apenas sentei-me no chão. - Como aprendeu a tocar... ? - Perguntou, aos poucos se sentando ao meu lado.

– Bem, eu... - Comecei, porém travei. Olhei em seus olhos por longos segundos e então me dei conta de que... não sabia. - Eu... - Procurei em minhas memórias por qualquer coisa, mas não me recordava nem sequer de quando havia tocado pela primeira vez. - Acredito que era tão pequena quando aconteceu que nem sequer me lembro. - Finalizei com um sorriso.

– Ah... - Suspirou, sorrindo para o nado.

– E você ?

– Encontrei uma vez este piano que me parecia abandonado. Eu e meu pai trabalhamos nele por muitos meses e quando terminamos, aos poucos eu mesmo fui aprendendo... - Disse, fitando para o céu alaranjado com um sorriso entristecido.

– Eu nunca havia visto ninguém tocar daquela maneira... - Deixei que escapasse. A verdade é que eu havia ficado mais do que impressionada, ele havia provocado em mim, reações que eu apenas sentia quando tocava, apenas por o observar.

– Eu a observei alguns instantes antes de me aproximar... - Voltou seus olhos para mim. - Sempre soube que eu não sabia o que de fato podia ser belo antes de a conhecer e hoje, apenas me provou isso... - Eu não sabia o que dizer.

Grande parte de mim não sabia o que fazia e nem sequer pensava em nada, mas assim que me dei conta de que o beijava, não senti nada além de uma profunda vontade de continuar e ir cada vez mais afundo. O beijo que começara calmo, agora havia se intensificado, a ponto de que agora eu praticamente me encontrava em cima dele. Ele havia exitado no começo, porém agora ele respondia perfeitamente, com suas duas mãos pousadas em minhas pernas. Eu poderia continuar, não precisava parar para respirar, porém, eu queria muito o olhar nos olhos. Seus olhos brilhavam e além do profundo desejo ardente, havia algo muito mais puro e belo.

– Não sabe o quanto... - começou a sussurrar e então uma crise de tosse o fizera parar rapidamente, pude notar que ele tentou escorrer o rosto, mas eu estava tão próxima que as pequenas gotas de sangue, respigaram em meus seios, deixando-me confusa e apavorada. Ele se levantou rapidamente e tentou se afastar, porém, segurei o seu braço e o impedir de continuar, da mesma maneira que ele havia feito comigo.

– Você está bem ? - Perguntei assustada.

– Não é nada...

– É claro que é - o interrompi. - Tem sangue saindo da sua boca, Anael. - Cada vez mais eu me via desesperada.

– Não importa, nada mais importa... - Ele se aproximou, deixando que seus lábios tornassem a tocar os meus. - Eu amo você - sussurrou contra os meus lábios. Aparentemente, havia sido apenas uma distração, pois no próximo segundo, ele não estava mais ali.

Sai rapidamente do beco e comecei a olhar frenéticamente aos lados a sua procura, mas ele era rápido o bastante para não ter me deixado nem sequer uma direção. O único lugar que me parecia uma opção era a floresta e apesar de não desejar retornar lá por hora, fui completamente tomada pelo medo de algo acontecesse a ele e me direcionei rapidamente, porém, fui rapidamente segurada, por uma força que não poderia ser nada além de sobrenatural. Virei-me rapidamente, preparada para me afastar de quem quer que fosse e mal acreditei quando notei que Samantha segurava o meu braço e me olhava profundamente nos olhos. Hoje, quando eu havia a visto, ela tinha simplesmento partido depois de escutarmos um barulho distante, sem dizer uma sequer palavra depois de seu nome, sumindo da mesma maneira que havia aparecido e agora ali estava ela.

– Não vá. - Disse. Seus grandes olhos vermelhos e intensos me penetrando profundamente, cheios de muitas lembranças que eu mal conseguia associar e compreender.

– Eu não posso o deixar... - Nem mesmo eu compreendia o porque, apenas sabia que aquele beijo para mim havia significado muito mais do que um simples ato levado pelo desejo e que ele de fato significava algo para mim.

– Não há nada que possa fazer por ele no momento. - Ela disse, ainda segurando meu braço. - Por favor me acompanhe - Disse sem me dar espaço para a responder.

Por incrível que pareça, fomos parar na mesma cabana em que me hospedei por meses antes de ser transformada. Eu não sabia por quanto tempo ela vinha a usando, mas aparentemente até minhas roupas ela tinha passado a usar. Se sentou a minha frente e se manteve em silêncio. Eu me sentei e tentei me manter calma para ouvir o que é que ela tivesse para me falar, porém, a ansiedade e o medo me consumiam cada vez mais e era cada vez mais difícil me segurar para não ir atrás dele.

– Eu preciso ir... - Tentei me levantar, mas sua mão tocou minha perna e então me sentei novamente.

– Se você for eles a matarão. - Ela disse, olhando-me sem medo nos olhos. - Você matou muitos do povo deles e eles usarão isso para conseguir que Aro entregue a sua cabeça, ainda mais se estiver no território deles.

– Como sabe que... ?

– Eu conheço o meu povo. - Abriu um sorriso singelo enquanto fitava o chão.

– Mas você é uma vampira ...

– Você também. - Disse, como se fosse óbvio. - Não existem muitas de nós por aí, mas certamente causamos um belo estrago.

– Muitas de nós ? - Perguntei confusa.

– Híbridas. - Completou. - E graças à nossa peculiar condição, carregamos a estranha condição de derramar lágrimas de sangue.

– " Aquela que derramou lágrimas de sangue " - me recordei. - Eu pensei que estivesse morta.

– Muitos pensaram... e foi graças a isso que pude me manter viva. - Apertou as mãos, como se aquilo lhe trouxessem lembranças dolorosas.

– Como assim ?

– Quando um filho da lua é mordido por um vampiro, ou vice versa, ele não deveria sobreviver, um veneno deveria causar a morta do outro e foi por isso que se tornaram inimigos... porém, quando eu fui atacada, eu não morri... entrei em um estado que fica entre a vida e a morte. - Disse, aos poucos para que eu não causasse confusão. - Isso resultaram em lágrimas humanas... um coração que batia algumas vezes e enfim, as lágrimas avermelhadas que assustaram todo mundo.

– As lágrimas... - sussurrei me recordando da primeira vez que havia chorado.

– Não demorou muito para que muitos soubessem que as lágrimas serviam para diversos prósitos curativos, além de atribuírem certa vantagem a vampiros... isso fez com que muitos me cansassem e eu quase fosse morta.

– Eu sinto muito... - suspirei, vendo em seus olhos o quanto havia sido difícil. - Mas... você me disse que eu não poderia ajudar Anael... por que ? Sabe de alguma coisa ? - Minhas palavras saíram rapidamente antes que eu pudesse as conter.

– Eu conheço um lobo quando vejo um - Ela suspirou - Eu não sei como, mas aquele que eu vi com certeza foi transformado... - ela suspirou, como se escolhesse as palavras. - E provavelmente o corpo dele está rejeitando o veneno do vampiro...

– O que ? - Me levantei assustada. - Não! Não! Claro que Não! Se não aconteceu conosco, por que aconteceria com ele ? Não faz sentindo! Não!

– Emma, a única razão pela qual sobrevivemos é que possuímos uma pequena particularidade em questão... algo que eu demorei a descobri. - A olhei em silêncio. - Meu pai era um vampiro, minha mãe uma filha da lua... assim como sua mãe é a mãe dos vampiros e seu pai um lobo... já possuíamos os genes de ambas as criaturas em nossos sangues antes de nos transformarmos, por isso não é mortal para nós.

– Isso é...

– Tão raro quanto o filho de um humano com um vampiro, mas ainda sim, possível. - Completou.

– Espere, como sabe tanto sobre mim ? Como sabe o meu nome ? Minha mãe ? - Eu mal conseguia me manter quieta.

– Eu passei muito tempo nas sombras, observando aquele povo Emma. Eu vi você ser concebida, eu vi você crescer e eu vi você ser transformada... talvez eu saiba mais sobre você do que você mesma.

– Por que observou-os ?

– Porque me amaram mais do que minha própria família e a tempos eu venho procurando uma maneira de os livras das mãos de Aro. - Disse o nome dele com um completo desprezo.

– Não... Ele não pode... tem que haver uma maneira...

– Emma... - Seus olhos vacilaram e pela primeira vez, ela mostrou medo ao me encarar. Segurei suas mãos e a puxei para mais perto.

– Se sabe alguma coisa, diga! Diga! - Eu não sabia porque estava tão desesperada daquela maneira, mas de repente, a possibilidade de não o ter mais por perto, simplesmente me apavorava.

– Nossas lágrimas possuem um grande poder curativo... - Começou, ainda hesitante. - Porém, apenas a última delas vai conseguir combater o veneno de vampiro e o fazer voltar a ser um lobo.

– A última delas ?

– Quando se derrama uma grande quantidade delas, o seu coração vai voltar a bater para que continue a bombear mais só que o seu coração está enfraquecido, uma vez que o veneno de vampiro a petrificou por dentro. Você vai voltar a ser humano e derramará mais algumas gotas enquanto o seu coração aguentar... a última gota que o seu coração conseguir derramar, concentra todo o poder.

– Que seja, eu farei. - Disse rapidamente.

– Primeiramente, você precisa sentir uma dor enorme para que simplesmente comece as derramar... vai ser ainda mais possívei não conseguir as fazer parar de escorrer e depois... - pasou suas palavras. - Assim que a última gota for derramada, você morrerá. - Com o choque, senti minhas pernas trêmulas. - Olha... eu sei que você é ligada a ele desde que nasceu, mas arriscar sua vida...

– Ligada a ele desde que nasci ? - Levantei os olhos assustada. Ela me encarou em silêncio. - O que quer dizer com isso ? - A forcei, porém ela se manteve calada. - Se não me disser, descobrirei sozinha...- a pressionei um pouco mais.

– Acho que tem algumas coisas que ainda lhe faltam... - Passei por ela rapidamente. - mas... - me impediu mais uma vez - Tome cuidado, por causa das malditas lágrimas, você corre perigo. - Disse, me deixando ir sem mais me segurar.


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