Tears of blood escrita por IS Maria


Capítulo 22
Can't trust myself




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Abracei minhas pernas e me encolhi . Eu sabia o que aquilo era , sabia que havia sido a minha última lembrança como humana e havia sido agoniante e assustadora . Já era a terceira vez que conseguia ver aquela memória e a cada vez que ela se repetia , vinha se tornando cada vez mais real . Levantei-me e apoiei minhas mãos na beirada da imensa sacada de pedras e tentei me acalmar , olhei para a lua , esperei que seu brilho prateado me guiasse para a solidez da realidade , porém , meu peito tornou-se a se fechar . Minha visão estava norvamente turva e quando olhei para baixo , notei que a visão do fim daquela queda , não era mais Volterra ... Era alto e eu mal conseguia ver até onde ia dar , sentia-me temerosa , sabia que a queda poderia me causar um belo estrago , porém não entendi porque não conseguia me afastar . Olhei para as sombras , pude notar que não estava sozinha e então conclui que não podia me afastar da queda , porque estaria me aproximando de meu predador .

– Não me machuque ... - Minha voz era chorosa e pude sentir meu rosto molhado .

– Venha ... - Eu não reconheci a voz , mas sabia que não podia ser humana e aquilo me causava arrepios . Eu não tinha chance alguma .

– Não .- Disse virando o rosto , me recusando a o obedecer .

– NÃO ! - Ele gritou e no próximo instante , soube que havia pulado . Podia sentir o vento contra a minha pele , abracei-me e esperei pelo pior , sentindo as lágrimas rolarem sem cessar e a queda parecia não ter fim .

Fui apanhada no ar , pude sentir meu corpo próximo ao de alguém e em seguida nós dois entramos na água e eu nem sequer sentira a dor do baque . Puxei o ar com força e finalmente abri os olhos , tudo havia terminado . Olhei para cima e pude ver o topo do palácio , eu havia pulado , mas não havia atingido o chão . Caius me segurava em seus braços , estava assustado , porém não mais do que eu . Me colocou no chão e eu , ainda em choque , enfiei-me em seu peito , o segurando forte contra mim . Levei minhas mãos até o meu rosto e notei que havia chorado , muito mais do que apenas uma lágrima . Me sentia enjoada da queda e ainda tonta , o que deixava claro que havia algo muito errado comigo .

– Se jogou de lá de cima ? - Perguntou levantando o tom de voz . Eu nem sequer podia o culpar , eu não estava certa .

– Eu não sei ... eu ...- Passei a mão pelo rosto e em seguida saí correndo . Sentei-me na fonte que ficava próxima ao palácio e tornei a abraçar a mim mesma , como se sentisse frio . O que me perseguia daquela maneira quando eu era humana ? Pode voltar a me procurar ...ou já conseguiu o que queria ?

Um lobo veio caminhando entre as sombras , seu andar era gracioso , seu pelo parecia ser macio e a maneira que seus enormes olhos castanhos me olhavam , me fez rir . Se aproximou e deitou sua cabeça em meu colo , seu pelo era branco e eu jamais havia visto animal tão bonito . Acariciei-o e aos poucos senti-me acalmar , foi como se o animal tivesse sentido que eu não estava nem um pouco bem . Um barulho vindo da floresta o fizera se assustar e em seguida ele retornara do mesmo lugar de onde viera , tentei o seguir mas terminei exatamente aonde esperava , próxima a entrada do caminho de árvores . Eu não tinha mais dúvida nenhuma de que ali encontraria as respostas que procurava . Tirei os sapatos e os deixei jogados na estrada , pisei vagarosamente na terra e em seguida comecei a seguir o mesmo barulho que havia atraído a atenção do animal .

Continuei a correr , porém , bati contra algo que me jogara longe , algo semelhante a um campo de força . Me aproximei novamente , não havia nada a minha frente , mas mesmo assim , eu sabia que algo se escondia ali . Podia ouvir sussurros e até sentir uma movimentação e mesmo que não fosse uma vampira , a vibração no solo mostrava que existia algo e era grande . O lobo havia sumido e eu estava só no meio da floresta , no meio da noite . Eu não sabia o que caminho que tinha seguido , mas sabia que não teria um problema para encontrar . Procurei uma direção ao menos parecida com que a que tinha tomado e me sentia cada vez mais assustada . As sombras pareciam ter formas e era como se eu estivesse sendo observada a todo o momento . Continuei a andar , mas a sensação de estar sendo observada era terrível , pior ainda do que a angustia de meus lapsos . Eu queria continuar a acreditar que estava sozinha , mas havia visto um vulto ... de luz . Tentei encontrar e apesar de notar que ia me afastando a cada vez mais , eu sabia que tinha que continuar . Eu sabia o que era aquele lugar , era uma planície , no ponto mais alto da floresta , o único não coberto por árvores . Agora um círculo formado pela luz da lua e ao meio , uma figura transparente , com silhueta humana , flutuava ao meio melancólicamente em uma dança fúnebre ... não , não podia ser um fantasma . Me aproximei e a figura de virou . Tinha longos cabelos sem vida , usava um vestido longo e muito belo e seu rosto não pude reconhecer , estava coberto por uma máscara .

– Prometa que não me deixará morrer ... - Sussurrou ela . Eu não me senti intimidade . - PROMETA - ela gritou e se aproximou , se colocando a poucos centímetros de mim . - Não pode me deixar morrer ... - sua voz era chorosa .

– Me parece um pouco tarde ... - disse assustada .

– Não ! Eu vivo ! E você não me deixará morrer - sua voz ecoou em meus ouvidos e em seguida seu espírito atravessou o meu corpo . Depois de alguns segundos , senti-me mais do que enjoada , tonta , tentei manter o equilíbrio , mas não foi possível e em seguida ... nada .

Abri os olhos e a primeira coisa que vi , foi o teto de pedra sobre mim . Aliviada por estar de volta em casa , me sentei na cama onde repousava e notei que não apenas tinha sido levada até ali como também havia sido vestida . Eu não fazia a menor ideia do que acontecera e nem poderia dizer se o que me lembrava de ter visto era real , mas em meu peito , guardava o recentimento das palavras daquela garota , desejando que de alguma maneira eu a mantenha viva . Mesmo que eu considerasse a ideia , para ela estar viva , ao menos ela não deveria ser transparente , ela mais me parecia uma viva alucinação . Caius estava virado para a porta , por sua postura pude dizer que estava preocupado , e desejei poder saber o que lhe cruzava a cabeça , eu não queria o contar , mas o que se passava na minha era muito insano . Levantei e me aproximando vagarosamente eu o toquei , fazendo com que ele brevemente se asustasse .

– Você acordou . - Eu não esperava por seu abraço , mas o acolhi abertamente , era apenas mais uma prova de que estava de volta aos meus sentidos .

– Caius , eu estou bem . - Abri um sorriso por fim .

– Você apagou Makena , um vampiro não apaga . - Disse ele enquanto passava a mão pelos cabelos bagunçados .

– Talvez seja raro para um vampiro assim como as lágrimas , mas seja possível . - Argumentei . - Sabemos que apesar de tudo , não restam dúvidas de que sou uma vampira , você mesmo me transformou .

– Makena , como posso deixa-la sozinha agora ? Se Aro a encontrar apagada , lhe fará um milhão de perguntar que poderão te colocar em uma situação da qual não poderá sair . - Ele estava preocupado e aquilo me aquecia .

– Andarei ao seu lado e ao lado de Azazel , por favor , cuide de mim . - Abri um sorriso e endireitei minha postura .

– Aonde vai ? - perguntou me impedindo de abrir a porta .

– Tenho um festival para preparar ..- Sorri e abri a porta por fim .

Como se já não bastassem minhas preocupações a respeito da mamãe dos vampiros , ainda tinha de ser multitarefa e me preocupar com um certo espírito que escolheu a mim para não o deixar morrer além de preparar um festival todo .Ainda era noite , o que me ajudaria a concretizar boa parte do que tinha planejado . Passando um casaco sobre o vestido social que trajava , ajeitei os cabelos , enfiei um par de lentes de contato em meus olhos e acompanhada de alguns vampiros da guarda , me direcionei a casa do prefeito de Volterra . Um homem na casa dos trinte e poucos , quase grilhaso , boa forma física e com um coração que batia alto , me atendeu a porta . Apenas quando me dei de frente com ele , ouvindo o seu sangue pulsar , que me dei conta do quanto estava faminta . Tive que apertar as mãos e as pernas para controlar o brutal desejo de avançar sobre ele .

– Sim - Perguntou notando que eu ainda não havia dito uma palavra . Tinha me esquecido completamente de como começar .

– Sou do sistéma público de segurança nacional e temo informar que durante os dias seguintes , precisaremos realizar uma reforma na cidade . Pedimos que retire todos os moradores nas datas alegadas de maneira que não ajam vítimas . - Falei rapidamente enquanto prendia meu nariz para não sentir o cheiro do sangue daquele homem . Lhe entreguei um documento com as datas e mais algumas informações necessárias .

– Uma reforma ?Por que ? É grave ? - Humanos e suas perguntas .

– Letal . - Disse e abri um sorriso me virando para o deixar . - Não nos contate ou informe alguém , confidencialidade é fundamental , caso contrário , colocaríamos em risco a operação . Agradecemos a colaboração . - Tinha o deixado embasbacado , mas não podia permanecer ali nem por mais um segundo .

Voltei para o palácio na esperança de encontrar nem que fosse um rato qualquer , mas não havia nada ali . As portas do salão principal estavão trancadas e devido a minha fome , eu não conseguia nem encontrar forças para as abrir . Procurei dentro de mim todo o controle possível para aguardar até que algum vampiro viesse atender as minhas batidas e então senti um cheiro profundamente doce que enchera a minha boca de água .

– Senhora ... eu posso ajudar ? - Era Eve , a nova secretária . Me virei e quando olhei-a , tudo o que conseguia ver , era a sua carne . Minha visão se tornou turva como ainda mais cedo e então pude ver um cervo a minha frente . Eu estava faminta , a dias não me alimentava e aquela poderia ser a minha última chance . Em minhas mãos uma lança improvisada . Eu odiava ter de fazer , mas não podia morrer daquela maneira ... eu era miserávelmente lenta . Corri e alcancei o animal , ele havia me deixado ... ou estava machucado ? Eu podia ? Não ... não podia . Abri os olhos e rapidamente notei o sabor adocicado por entre os meus lábios , a carne macia em meus dentes e ... os gritos de Eve que aos poucos se tornaram sussurros e por fim , nada .

O corpo sem vida caiu diante a mim , solucei não acreditando no que havia acabado de fazer . A expressão no rosto de Eve , sendo de puro horror e um aperto no peito do qual eu jamais poderia me livrar . Gritei e as portas finalmente se abriram . Aro , Caius e Azazel estavam presentes . Azazel trazia uma expressão de espanto no rosto e Caius não conseguia me olhar nos olhos . Aro , trazia consigo um sorriso enorme e eu então pude entender o que acontecia .

– Eu pensei que jamais fosse fazer . - Disse ele . Caiu ao chão ao lado de Eve , sentindo a culpa esmagar cada pedaço de mim e desejei o matar ali mesmo , mas meu ódio a ele , não superava nem um pouco a dor de saber que meu noivo e aquele que a pouco cuidara de mim , haviam me permitido fazer algo que sabiam ... que eu jamais poderia perdoar a mim mesma se fizesse .


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