Pokémon Project Z - Reload escrita por Ailyn


Capítulo 2
Capítulo 1 - Ações, reações, conversas e marshmallows.


Notas iniciais do capítulo

Bom, eu disse que só iria postar o chap1 daqui a três dias depois do prólogo, mas meh, decidi postar hj msm.
Ah, antes de lerem tenho dois avisos:

Caso vejam algo em itálico, este algo provavelmente é um pensamento no POV (Point of View ou Ponto de Vista) do personagem da vez. Esperem ver pensamentos em paragráfos ligeiramente aleatórios. Eu também uso itálico para dar enfase a certas palavras, diferenciar entre pensamentos e palavras enfatizadas não deve ser difícil, então me avisem se acharem confuso xD
Diferente do prólogo, agora eu aviso quando eu mudo o Ponto de Vista do narrador, isso devera evitar futuras confusões.

Welp, ao capítulo!



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Capítulo 1 – Ações, reações, conversas e marshmallows.

No qual o personagem principal finalmente acorda, conversas estranhas acontecem a torto e a direito e no qual descobrimos que quase todas as pessoas no mundo são idiotas. Marshmallows entram na história de alguma maneira.

Quando Erio abriu os olhos, teve a impressão de que alguém, em algum lugar, havia chamado seu nome.

Piscou seus olhos dourados ainda sonolentos, e com um bocejo, finalmente reuniu força de vontade o suficiente para levantar a cama e olhar para o relógio.

Encarando o aparelho, se deu conta de três fatos. Primeiro, havia acordado atrasado, segundo, daqui a dez minutos teria uma partida com um dos treinadores de elite da academia para disputar o título de melhor treinador do continente de Johto, e terceiro, se chegasse atrasado tinha certeza de que sua querida e amável irmã mais nova arrancaria seu fígado e usaria seu órgão como bola de futebol se ele fizesse qualquer coisa que arruinasse a reputação do campeão de Johto.

Com uma velocidade que nem sabia possuir, e que provavelmente surgiu graças ao desespero, Erio se arrumou em tempo Record e saiu correndo de seu quarto como se estivesse correndo do próprio diabo.

Ele pensou em Airi, no sorrisinho sádico que surgia na face dela quando estava prestes a fazer ou dizer alguma coisa que provavelmente o traumatizaria por um bom tempo e pensou que a comparação com o diabo não era tão exagerada assim.

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Erio tentou pensar com todas as suas forças, e com uma boa dose de otimismo, que haviam coisas piores na vida do que encarar um Feraligatr que parecia estar louco para arrancar um pedaço de si. E o fato daquele maldito jacaré azul gigante lamber os beiços enquanto o olhava de cima a baixo realmente não estava ajudando.

Por fora, ele parecia calmo, confiante, e até um pouco entediado, por dentro, o que ele mais queria fazer era se deitar em posição fetal e fechar os olhos até o jacaré azul malvado ir embora. Não pôde deixar de pensar que Airi provavelmente estava atrasando o momento em que deveriam trocar de lugar de propósito, afinal, ela mesma havia admitido que seu hobby favorito era “tentar fazer o Erio chorar a maior quantidade de vezes possíveis por dia”.

E é, talvez a sua família não fosse a mais “funcional” por aí (se aquela ligação quebrada que tinha com Airi e Seth pudesse ser chamada de ‘família’), mas considerando que seu guardião legal só prestava atenção suficiente para garantir ele que não estava morrendo do fome (o que quase aconteceu uma vez a uns 4 meses atrás quando Airi decidiu que era uma boa ideia trancá-lo no porão, graças a deus que Ocean sentiu falta de sua vítima favorita de trollagens), não era nada com que não estivesse acostumado. Pelo menos Seth parecia tratar sua irmã mais nova bem, (ou pelo menos ele a tratava como um ser humano, que era algo bem melhor se comparado com o tratamento que recebia) o que já era alguma coisa.

Ok, tentar direcionar meus pensamentos para minha (inexistente?) vida familiar não ajudou, e se Airi não trocar de lugar comigo nos próximos 30 segundos eu vou desmaiar, e que se dane essa atuação de ‘melhor treinador de Johto.’ Erio não estava desesperado, tinha certeza de que já havia passado desse ponto quando viu o Feraligatr palitando os dentes com uma de suas garras. Oh deus, ele precisava ter garras tão ridiculamente afiadas daquele jeito? Eu achei que aqueles dentes monstruosos eram mais do que suficiente para estraçalhar a sua presa, porque diabos ele precisa de navalhas nas mãos também!?

Por sorte, não chegou a ficar histérico, pois as luzes logo se apagaram e ele reconheceu sua deixa para cair fora dali. Às vezes, você tem que ficar realmente grato pelos pequenos milagres da vida, principalmente quando o universo inteiro parece estar tramando contra você.

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Deixando um pouco de melodrama de lado, Erio podia admitir que a vida fingindo ser o melhor treinador de seu continente não era particularmente difícil. Claro, seria tudo muito mais fácil se não sentisse o impulso de sair correndo toda vez que via algum Pokémon (e ele tinha certeza de que mais cedo ou mais tarde, Airi usaria as fotos que havia tirado quando ele havia saído correndo de um Pichu que não chegava nem a altura de seu joelho uma vez, o que era simplesmente vergonhoso), mas mesmo com sua fobia, não era como se sua vida fosse extremamente difícil ou cruel, ela era apenas... Exaustiva.

Deitado no sofá de uma sala supostamente secreta (sendo supostamente a palavra chave, pois Erio achava que gente demais sabia daquela sala para ela ser considerada ‘secreta’), e fitando o teto, Erio sentiu o cansaço que sentia de vez em quando se apoderar de seu corpo e suspirou.

O sofá de couro preto não era particularmente confortável, e podia sentir que se continuasse deitado por muito tempo nele naquela posição acabaria com dor nas costas, mas no momento, não conseguia fazer o esforço para se importar com isso.

Airi estava enfrentando o oponente da vez, e mesmo tendo uma memória relativamente boa, Erio não conseguia lembrar o nome do desafiante. Sabia que começava com L... Leon? Não, não, tinha certeza de que o nome não tinha a letra ‘o’... Lenn? É, esse pareceu soar certo em sua cabeça, então esse provavelmente era o nome do coitado que seria destroçado por sua irmã mais nova nos próximos minutos...

– Sabe Erio, essa sua falta de atenção está começando a me impressionar. Eu sei que você adora ficar no ‘mundo do lá-lá-lá’ e se distraí com objetos brilhantes aleatórios, mas não ouvir a porta rangendo e não notar uma pessoa que está na sala a uns três minutos já é algo preocupante.

– Ocean.

Erio disse o nome em uma voz cansada, prevendo dor de cabeça no futuro próximo e sérios danos em sua sanidade.

– Se bem que provavelmente seria interessante ter um amigo altista. Você é um altista, Erio? Não que eu me surpreenda no caso de você ser um, mas o meu pequeno e congelado coraçãozinho negro está machucado por você não ter me contado esse pequeno detalhe...

– Ocean!

– Porque você sabe, nós somos melhores amigos desde sempre, e o fato de que você não confia o suficiente em mim para me contar seus problemas médicos é meio triste. Você sabe que eu não vou julgar se você for altista ou algo do tipo, toda a tortura psicológica que Seth e Airi gastam um bom tempo jogando pra cima de você tinha que se manifestar de alguma forma, e como você sempre foi um cabeça de vento, não me surpreende que o próximo estágio seja virar um altista, e alem do mais-

– OCEAN! DA PRA CALAR A BOCA?

O silêncio durou por alguns segundos, até que o jovem de cabelos loiros, levemente azulados na ponta, se abaixou e pegou a almofada que havia caído no chão. Erio se viu encarando um par de olhos azuis, que lembravam a cor do oceano (e não pode deixar de pensar que o nome que os pais de Ocean escolheram para ele realmente combinava) e ouviu o mais velho dizer algo em uma voz perturbadoramente calma.

–... Erio, você por acaso acabou de jogar uma almofada em mim?

Não houve uma resposta, mas Ocean parecia esperar por isso, pois ele apenas balançou a cabeça e disse em uma voz solene.

– Eu espero que você entenda que isso significa guerra.

Erio engoliu seco.

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Quem quer que tenha feito essas almofadas, estava claramente pretendendo que elas fossem usadas como armas mortíferas, ou pelo isso era tudo em que Erio conseguia pensar enquanto estava caído no chão tentando não se encolher por causa da dor muscular que estava sentindo.

Sentado no sofá estava Ocean, parecendo completamente relaxado e com uma expressão satisfeita no rosto.

– Eu odeio você. – Erio grunhiu.

– Eu amo você também. – Ocean respondeu jogando um beijinho em sua direção.

Erio soltou outro gemido quando sentiu um leve espasmo de dor.

– O que diabos tem nessas almofadas? Ferro?

– Erio, não você não pode culpar as almofadas. Não é culpa delas que você tem a mesma resistência de um papel molhado.

– Eu não tenho a resistência de um papel molhado!

– Diz a pessoa que está gemendo de dor no chão por causa de almofadas.

Erio soltou outro gemido e se pôs a encarar o teto. Imagino quanto esta o placar? Provavelmente algo como mais de nove mil pontos pro Ocean e três pontos pra mim? Isso sendo otimista. Afinal, quem precisa de auto confiança?

Deu uma olhada em Ocean e viu que o amigo o encarava, uma expressão pensativa. Depois de mais alguns minutos de silêncio, o loiro deu um suspiro e disse:

– Hm, acho que eu estou sendo implicante demais dizendo que você tem a resistência de um papel molhado, eu preciso te dar um pouco mais de crédito. Eu diria que você tem aproximadamente a durabilidade de uma sacola de papel úmida... Viu? Eu posso ser legal e te elogiar de vez em quando, e você deveria se sentir honrado de ter um cara super simpático, carinhoso e bonito como eu de melhor amig-

Ocean foi interrompido ao levar outra almofada na cara. Novamente, houve um breve período de silêncio, até que o jovem de cabelos loiro-azulados se levantou do sofá e encarou o amigo que estava sentado no chão com um expressão solene... Antes de abrir um sorriso, que aos os de Erio, parecia ligeiramente maníaco.

Ocean começou a avançar lentamente na direção de Erio, que se afastou o mais rápido que podia até que sentiu suas costas se encontrarem com a parede.

– Oh, Erio. – Disse Ocean, com o mesmo sorriso maníaco no rosto enquanto pegava uma das almofadas do sofá. – Você nunca aprende, não é? Para cada ação, existe uma reação.

Nota para mim mesmo: se eu sobreviver esse confronto, devo pensar mais antes de fazer coisas estúpidas. Coisas estúpidas como jogar almofadas no cara que é maior e mais forte do que eu e que é tão vingativo quanto uma Ninetales que teve uma de sua caudas tocadas... Eu sou um idiota, não sou?

Erio tinha certeza de que o universo estava rindo dele, de alguma forma, em algum lugar. E se o universo pudesse responder a sua pergunta retórica, ele provavelmente sorriria e diria ‘Sim!’ com toda animação de uma criança de cinco anos. Airi provavelmente faria a mesma coisa, o que realmente não ajudou muito sua situação.

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~Mudança de Ponto de Vista~



Ela se recusava a se quer pensar de que talvez, às vezes, fizesse coisas um pouco idiotas. Em sua defesa, estava realmente cansada, e a falta de sono realmente não ajudou muito sua memória. Então era compreensível que hoje de manhã, após enrolar o máximo de tempo possível para aumentar o sofrimento de seu irmão mais velho, ela tivesse se esquecido de checar suas pokebolas.

Percebeu no momento em que trocou de lugar com Erio e checou seus Pokémons que haviam apenas duas pokebolas no seu cinto, e que tinha disponível justamente os dois Pokémons que menos queria ter naquela circunstâncias.

Um deles ela realmente não podia usar, pois se o fizesse, tinha certeza de que sentiria remorso das repercussões mais tarde. E o outro... Bom, o outro simplesmente era exagero considerando o peixe pequeno que tinha que enfrentar hoje. Espeon foi e provavelmente sempre será seu Pokémon mais forte, e geralmente apenas o usava quando reconhecia a força de um oponente ou quando as coisas ficam ligeiramente perigosas no meio da batalha.

Se Airi usasse seu Pokémon mais forte e fiel, deus que a defenda, o oponente provavelmente iria criar algum pensamento ridículo ou insano, ele poderia até mesmo chegar à tenebrosa conclusão de que... De que ela respeitava ele, ou algo repugnante do tipo.

Ugh, ela tinha arrepios só de pensar nessa possibilidade. Pena que realmente não tinha outras opções no momento. Tinha certeza de que estava com uma expressão de desgosto no rosto, mas o boné que usava tanto para ocultar seu longo cabelo castanho e seus olhos prateadas também estava de certo modo ocultando suas expressões faciais.

Não que se importasse caso o oponente visse seu desgosto ou algo do tipo, afinal, insetos deveriam saber que eles eram insetos e que os verdadeiros predadores tinham ânsia de vômito a serem forçados a enfrentar esses tipos de fracotes. Mas ainda tinha uma reputação a manter, e o campeão de Johto era conhecido por abre aspas sua calma inabalável e falta de expressão até nos momentos mais preocupantes fecha aspas.

Airi não sabia o porquê das outras pessoas gostarem desse lixo que ouviam na TV, mas já havia compreendido há certo tempo que no mundo em geral, havia muitos poucos indivíduos sensíveis e com um gosto decente como ela.

Tirou a pokebola de seu Espeon do cinto e com um suspiro se preparou para ter uma das batalhas mais rápidas de sua carreira. Já que sua única opção era usar seu Pokémon mais forte, pelo menos faria seu oponente entender claramente a diferença entre um mero ‘estudante de elite’ e um ‘campeão continental’.

Preciso de marshmallows... Depois dessa batalha vou chantagear o Erio, fazer ele comprar dúzias e dúzias dos meus preciosos na cantina e vou passar o resto do dia comendo marshmallows... Vai ser a única maneira de tirar o gosto dessa batalha amarga da boca mais tarde.

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~Mudança de Ponto de Vista~



Deitado no sofá, de barriga para baixo e com a cara encostada em uma das almofadas de couro do sofá, Erio estava seriamente contemplando as vantagens e desvantagens de suicídio por falta de ar.

Ocean havia vencido a guerra de almofadas, Não que isso fosse nenhuma novidade, e ao invés de ser obrigado a deitar no chão, estava deitado no sofá, o que não seria nada de ruim... Se Ocean não estivesse sentado em cima das suas gostas. Com melhores amigos assim, quem precisa de inimigos?

Levantou a cabeça da almofada e disse com certa dificuldade:

– Ocean, é meio difícil respirar com você sentado em meus pulmões, será que da pra sair?

Silêncio.

Erio piscou, surpreso. Ocean sempre lhe respondia quando dizia alguma, especialmente quando o que dizia podia ser usado contra si para o mais velho implicar consigo ou simplesmente lhe causar vergonha. Se moveu um pouco, e virou o pescoço para tentar descobrir o que o amigo estava fazendo e teve relativo sucesso.

Conseguiu ver o jovem de cabelos loiro-azulados com os olhos grudados na televisão que havia sido instalada na sala secreta. A arena onde Airi estava enfrentando seu oponente tinha várias câmeras de diversos ângulos, na TV estava passando a batalha ao vivo.

Erio conseguiu ver os olhos do amigo, e percebeu que Ocean não estava piscando. Ok, isso esta ficando assustador demais pro meu gosto...

– Ocean? – Perguntou hesitante -... O que você está fazendo?

Metade de si não estava esperando uma resposta, então se surpreendeu um pouco quando o mais velho respondeu:

– Assistindo a batalha.

–... Sim, eu posso notar que você está assistindo atentamente a batalha, – Tão atentamente que chega a ser levemente perturbador – mas tem algum motivo para você, er... Estar tão focado assistindo a batalha da Airi? Não é como se você estivesse a vendo batalhar pela primeira vez, ou algo do tipo...

– É importante conhecer os pontos fortes e fracos do inimigo... – Ele murmurou baixinho.

– Huh? E porque a Airi seria sua inimiga? Você roubou o estoque secreto de marshmallows dela ou algo do tipo? E se você tiver mesmo roubado e tentar me envolver se algum jeito nisso eu vou te empurrar da janela. Rindo.

Como se estivesse saído de algum tipo de transe, Ocean piscou, e olhou para o Erio com uma expressão esquisita.

– Sua irmã mais nova tem um estoque secreto de marshmallows?

–... Estamos falando da Airi. – Respondeu como se isso explicasse tudo.

E de certo modo, explicava. Ocean balançou a cabeça em um gesto de entendimento.

– Sabe, você ainda não me respondeu o quis dizer com aquele papo de ser inimigo da Airi...

Ocean encarou Erio com o rosto sem expressão por alguns segundos antes de abrir novamente o sorriso que Erio aprendeu a temer.

– Agora que você mencionou esse estoque secreto de marshmallows, essas ideias incríveis começaram a surgir na minha cabeça. Primeiro precisamos de uma lanterna, um para quedas, um guarda chuva de plástico e um lança chamas- OW! Nossa Erio, eu não sabia que você tinha força suficiente para me derrubar do sofá sozinho, aparentemente sua puberdade atrasada está finalmente se manifestando e agora você tem mais força do que um garotinha de dez anos... Hey, Erio, porque você está saindo da sala? A luta da Airi ainda não terminou e você ainda não ouviu os detalhes do meu plano maligno do mal! Erio? Você está me ignorando? Erio! Eeeeeriiiioooo...

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~Mudança de Ponto de Vista~



Ele era conhecido como o respeitável, responsável e dedicado campeão da região de Hoenn...

– Deixe-me ver se entendi direto. – Falou em um tom calmo.

Ele próprio se considerava uma pessoa de intelecto adequado e relativamente sensível.

– Um policial fez o pedido de ser removido de perto de um prisioneiro, alegando o código 301, que significa que o prisioneiro estava atentando ataques psicológicos e tendo relativo sucesso...

Mas às vezes, ele se esquecia que grande parte das pessoas ao seu redor não era tão sensível assim, e que a maioria falhava espetacularmente em seguir o padrão mínimo de lógica...

– E você, ao invés de dispensá-lo imediatamente de seu posto, resolveu perguntar o motivo dos ataques psicológicos estarem afetando seu companheiro?

... E algumas pessoas simplesmente não tinham o mínimo de tato e precisavam seriamente ser impedidas de procriar caso isso fosse hereditário.

– Bem, sim. – Respondeu o policial, tentando se defender. – Se eu não perguntasse, como eu iria saber se ele estava mesmo sendo afetado ou se ele só estava mentindo para ganhar uma folga?

Seig Vanguardion estava cercado por idiotas.

Usou uma de suas mãos para massagear a ponte de seu nariz quando sentiu uma dor de cabeça e disse em tom cansado:

– Você está ciente que esse oficial acabou cedendo aos ataques, e que ele agora precisa de intensivo tratamento terapêutico, por que você demorou tempo demais para dispensá-lo do serviço, certo?

O policial deu de ombros.

– Bom, era minha hora de lanche, e você sabe como é, o estômago chamou e essas coisas. E além do mais, pelo menos agora temos certeza de que aquele oficial não estava mentindo, então, todo mundo ganha.

Seig encarou o individuo a sua frente por mais alguns instantes antes de finalmente suspirar e o mandar para fora da sua sala. Houve um momento de silêncio.

Com uma de suas mãos, ajeitou parte da franja que estava caindo em seus olhos vermelhos, enquanto a outra ajeitava o rabo de cavalo onde seus longos cabelos pretos estavam presos. Olhou com certa desolação para seu Absol, que retribuiu seu olhar com os mesmos olhos vermelhos no mesmo instante.

– Sabe, eu sinto falta do tempo em que as pessoas ainda usavam o senso comum. Acho que ele morreu jovem demais.

O Absol inclinou sua cabeça, concordando.

– Ok, me lembre de despedir aquele policial e de fazer um livro de instrução aprova de idiotas. Ou pelo menos tentar fazer um livro de instrução aprova de idiotas, pois pelo visto, mesmo que eu explique em detalhes explícitos, que seriam compreendidos por uma criança de cinco anos, alguém, de alguma forma ou de alguma maneira, vai interpretar ou entender errado o que eu escrevi, e teremos outra situação desse tipo para lidar. Pelo menos eu já enviei o dinheiro do seguro para a família daquele pobre coitado...

O Pokémon piscou.

– E eu estou falando demais de novo, não estou? Desculpe-me, às vezes eu preciso ter uma conversa racional com alguém que tenha o intelecto mais avançado que o de uma ervilha, e além de mim, você parece ser o único que realiza essa condição.

O silêncio novamente tomou conta do pequeno escritório que Seig ocupava. Uma leve brisa estava vindo da janela, e o campeão de Hoenn deixou-se relaxar por alguns instantes...

– Senhor Vanguardion, senhor Vanguardion! Tem uma briga acontecendo no pátio da cafeteria! Os dois policiais estão usando Pokémons relativamente bem treinados e causaram uma quantidade razoável de destruição!

... Até que a porta de seu escritório foi bruscamente aberta por um policial em pânico. Seig sentiu outra dor de cabeça a caminho.

–Você sabe qual foi o motivo do confronto?

–... Uhm, eu não tenho certeza, mas acho que tem alguma coisa haver com omeletes e garotas com o biquíni mais sexy...

A expressão no rosto de Seig poderia ser esculpida em pedra. Em um tom calmo, ele mandou o policial para fora da sala e disse que cuidaria do problema em alguns instantes, assim que preparasse seus Pokémons. O jovem policial deu um sorriso e saiu saltitando do escritório do campeão de Hoenn, parecendo contente por ter conversado com seu ídolo.

Seig olhou mais uma vez para seu Absol.

– Você pode me lembrar de novo o motivo insano para eu ter concordado em me tornar um detetive?

O Pokémon rolou os olhos.

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~Mudança de Ponto de Vista~



“... O caso ainda é um mistério, mas depois de diversas investigações, finalmente foi possível concluir que as equipes Rocket, Magma, Aqua e Galatic não estão mais ativas. Elas parecem ter sido totalmente engolidas por essa estranha organização ainda sem nome que surgiu a alguns poucos anos atrás. Os objetivos dessa nova organização ainda são desconhecidos, mas ela não parece estar interessada em Pokémons lendários ou pertencentes a outros treinadores como suas antecessoras. Tudo o que se sabe é que os membros da organização usam um uniforme nas cores branca, cinza e preto e que tem a letra ‘Z’ estampada no peito.

Em outras notícias, temos vários desastres que foram evitados graças a participação conjunta de vários ex-líderes de ginásio e os ex-membros da elite dos quatro. Os ataques dos Pokémons selvagens enlouquecidos estão ficando cada vez mais freqüentes, e muitas tragédias teriam ocorrido se não fosse pelo trabalho em equipe desses extraordinários treinadores e a força policial das quatro regiões.

O motivo da loucura em diversos Pokémons selvagens ainda é um mistério para a ciência atual, mas acredita-se que a doença está de alguma forma relacionada com as explosões dos laboratórios dos continentes, incidente que ocorreu há 10 anos e que parece coincidir com a data em que os Pokémons começaram a ficar fora do controle. Porém isso são apenas especulações de nossa parte, pois ainda não foi possível identificar a causa real da doença.

Também não podemos esquecer de agradecer ao imenso apoio oferecido pelos estudantes de elite nos últimos meses, e ao notório treinador gênio Seth Alstrain, que era tido como o melhor treinador dos quatro continentes à alguns anos atrás até decidir se aposentar para fundar o que hoje conhecemos como as academias continentais. De fato, é possível que se aquele jovem treinador não tivesse tido a engenhosa ideia de criar as academias, hoje estaríamos em sérios apuros para atender as necessidades da população de todos os continentes...


Desligou a televisão e tomou um gole de seu café, comprimindo uma careta. Realmente, não existia nada pior no mundo do que um copo de café frio. Jogou a caneca junto com o líquido em sua ligeira e se pôs a encarar a pilha gigante de documentos que ainda necessitavam de sua assinatura.

A única explicação racional para ainda ter aquela quantidade absurda de papeis para assinar, mesmo depois de passar a tarde inteira assinando documentos, era de que eles estavam se multiplicando de alguma maneira. A ideia em si era tão ridícula que quase riu de si mesmo por pensar em algo do gênero. Provavelmente era o estresse afetando seus pensamentos, nada que uma boa noite de sono longe daquela pilha de documentos amaldiçoados não resolva...

Seth realmente estava precisando de mais café fresco. A porta de seu escritório abriu-se abruptamente, e apenas anos e anos de prática lidando com políticos impediram que ele mostrasse o quanto estava incomodado com o fato de a pessoa ter entrado sem antes bater na porta.

Pessoas sem maneiras eram quase tão ruins quanto café frio. Quase.

Airi entrou sem seu escritório como se fosse dona do local e sentou-se, ou melhor, deitou-se, no sofá que estava bem em frente a sua mesa. O silêncio não durou por muito tempo.

– Eu quero comer marshmallows. – A garota disse, quase gemendo.

Seth levantou uma de suas sobrancelhas.

– Não tem mais marshmallows na cantina! Eu já hackeei os registros da academia e vi que não tinha nenhum marshmallow em estoque! – Reclamou indignada.

Seth levantou sua outra sobrancelha.

– Para sua informação eu preciso sim comer marshmallows, principalmente depois da luta ridícula de hoje! Os Pokémons daquele desafiante foram nocauteados por apenas um golpe do meu Espeon! Um golpe! Não acha que você está fazendo as condições necessárias para se tornar um treinador de elite fáceis demais? Porque honestamente, se aquele cara é um treinador de elite, então não podemos ter muita fé no futuro de nossos continentes.

Seth apoiou a cabeça em uma de suas mãos.

– Erm, bom, teve um motivo totalmente aceitável para eu usar meu Espeon ao invés de um Pokémon mais fraco. Veja bem... Uhm, eu meio que virei à noite ocupada com meu outro ‘trabalho’, e eu meio que esqueci de checar que Pokémons eu tinha no cinto antes de trocar de lugar com Erio na arena... E sim, eu sei que isso é um erro idiota de se cometer, mas eu não posso ser perfeita em tudo... E bom, todo ser humano tem um ou dois pontos fracos, o meu apenas acontece de ser a falta de sono.

– Eu não. – Disse Seth, falando pela primeira vez desde que Airi começou a monologar – Eu não tenho um ponto fraco, quero dizer.

A garota lhe lançou um olhar exasperado.

– Eu disse que todo ser humano tem um ou dois pontos fracos, e eu tenho sérias duvidas de que você possa ser chamado de humano.

– Elogios não vão te levar a lugar nenhum. Achei que tinha te dado uma educação melhor do que essa.

Um risinho pareceu escapar dos lábios da garota antes que ela pudesse controlá-lo, mas quando recuperou o controle sobre si, fez uma careta na direção de Seth e se pôs a encarar o teto do escritório.

Dessa vez, o silêncio foi quebrado por Seth.

– Você ainda tem alguns marshmallows sobrando, não? Acho que devem ter pelo menos uns três pacotes guardados no seu estoque secreto.

Airi o olhou como se ele se transformado em uma Skitty diante de seu olhos.

– Como você sabe que eu tenho um estoque secreto de marshmallows? – Pausa – Como você sabe quantos pacotes eu tenho sobrando no meu estoque secreto de marshmallows!?

– Eu sou onipotente.

–... Você não deveria dizer algo desse tipo com uma expressão tão séria. Eu posso acabar acreditando em você.

– E quem disse que eu não estou falando sério?

–... Sabe Seth, eu acho que a coisa mais assustadora sobre você é que é praticamente impossível dizer se você está falando sério ou sendo irônico.

– Então, como seu irmão mais velho está se comportando?

Airi piscou, surpresa pela repentina mudança de tópico.

– Porque você está perguntando isso para mim? Eu pareço ser a babá dele por acaso? Porque você não faz essa pergunta para aquele stalker dele, Oceano, ou algo assim, sobre como Erio está se comportando?

– Eu não acho que ele goste muito de mim.

– Qual foi sua primeira pista? – Perguntou sarcástica – Foi quando ele congelou seu escritório de cima a baixo e você deve de pedir ajuda aos treinadores com afinidade de fogo estudando na academia para descongelar os documentos sem os danificar? Ou quando ele conseguiu de algum jeito fazer com que nevasse exclusivamente em seu quarto?

– Acidentes acontecem.

– Ou será que foi daquela vez que ele convenceu os estudantes de que o café da escola tinha sido contaminado por algum tipo de bactéria e que era precisa jogar todo e qualquer tipo de café fora antes que os estudantes começassem a ficar doente, ou algo do tipo?

–... Ele odeia minha existência completamente, não é?

– Porque eu não estou surpresa de que você só se importou com a ultima coisa que eu disse.

– Eu sou um homem simples com desejos simples.

– Desejos simples uma ova, eu meio que tive a impressão que ‘dominação mundial’ era um pouco mais complicado do que ‘simples’.

–...

– Seth, eu estava brincando.

–...

– Seth, por favor, pelo bem de minha saúde mental, diga que você está brincando.

– Você pode acreditar que eu estou brincando se isso te faz se sentir melhor.

–... As vezes, eu realmente odeio você.

– Eu também não gosto particularmente de você, então o sentimento é quase mútuo.

A porta de seu escritório bateu.

–... Eu deveria ter pedido a ela uma xícara de café nova antes de irritá-la o suficiente para ir embora, não deveria?

Silêncio foi sua única reposta.

Apenas mais um dia rotineiro na academia continental de Johto.

Continua.


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Notas finais do capítulo

E isso é tudo por enquanto, a atualização da fic é mensal, mas talvez eu poste o chap2 daqui a umas 3 semanas se eu terminar ele a tempo.
Ah sim, pra quem está lendo a fanfic eu tenho uma pergunta: o que vocês acharam do tamanho do chap? Muito curto? Tamanho ideal? Grande demais?
Se for grande demais eu posso diminuir um pouco, ou até mesmo cortar os chaps na metade para facilitar a leitura de vocês (o que consequentemente resultaria em atualizações mais frenquentes, tipo umas 2~3 vezes por mês).
Se vocês acharam pequeno, welp, sinto muito, mais dificilmente os chaps vão exceder 6.000 palavras, eu acho que ficaria pesado demais escrever tanta coisa assim, então se acharam curto, sorry, não posso ajudar xD