Por amor... escrita por MarieMatsuka


Capítulo 7
Pontinhos de Luz


Notas iniciais do capítulo

Hey, folks... Não sei nem o que dizer sobre essa fic, eu simplesmente amo escrevê-la, rs. Boa leitura!



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À distância eu observava O Renegado atravessar a ponte Rio-Niterói, indo ao encontro de Orion, o Rei Caído de Atlântida. Ao que tudo indicava, ele estava indo até os domínios de Lúcifer. O plano ocorreria como o esperado.

– Tem certeza de que vocês têm absolutamente tudo sob controle, Haziel? Não vou arrepender-me de tê-lo deixado no comando desta missão? – questionei-o.

– Não irá, meu senhor. Tenho tudo ao meu alcance. O Anjo Negro já está a postos, e assim que o Primeiro General entrar nas terras de seu irmão, ele virá até a feiticeira, e a trará até mim. Então, eu mesmo a levarei até ti, meu senhor. Não há com o que se preocupar. – completou ele.

– Excelente. Retornarei ao quinto céu, e aguardarei até que você leve a Feiticeira de En-Dor até mim. – alcei vôo imediatamente, desfazendo-me de meu avatar no meio do caminho. Em poucos instantes, eu já havia alcançado o quinto céu. Fui até minha casa e, sem pensar duas vezes, tirei a armadura e deitei-me na cama. Certamente, eles levariam algumas horas até terem completado toda a missão no plano físico. O que me levava de volta ao meu tão esperado tempo livre.

Nos últimos dias, eu havia seriamente pensado em ir visitar Ártemis em seu reino. Porém, não sabia como chegar até lá fisicamente, e muito menos me exporia a tal risco nas terras de um dos filhos de Lúcifer. “Uma vez Lúcifer, sempre Lúcifer”, pensei. No entanto, absolutamente nada me impedia de ir visitá-la espiritualmente. Precisava apenas de tempo, e sentia que agora era o momento correto.

Ajeitando-me confortavelmente na cama, fechei os olhos e me desliguei do mundo por um instante. No outro, já estava em pé ao lado de meu corpo repousando. “Fácil demais” pensei, rindo. Fechei novamente os olhos, e tentei sentir a essência de Ártemis no Universo. Cada pessoa ou ser vivo era como um pontinho de luz no mundo, e cada um deles emitiam uma vibração diferente, alguns bons e outros tão ruins quanto se pode imaginar. Encontrar Ártemis no meio de todos eles foi extremamente fácil, e então eu apenas me deixei levar pela sua alma.

Quando abri os olhos novamente, estava em um quarto escuro. As paredes eram de pedra cinza escuro, lapidadas. Móveis de uma madeira escura e de boa qualidade indicavam que eu me encontrava em um castelo antigo. Quando olhei a minha volta, notei uma cama com dossel que estava bem atrás de mim. Dela pendiam cortinas entreabertas de veludo vermelho, parecendo terem sido ajeitadas a pressa. Espiando por entre as brechas do dossel, eu vi uma jovem de longos cabelos escuros enrolada em uma grande manta de pêlos, aninhando um bebê em seus braços e amamentando-o. Quando a jovem movimentou a cabeça para cima, percebi que na verdade aquela era Ártemis, amamentando um de seus filhos. Instintivamente, tive vontade de sentar-me ao seu lado e abraçá-la, porém não o fiz. Primeiramente porque isso não seria exatamente possível, estando eu apenas como espírito ao seu lado. E segundo, porque eu não deveria fazer isso. Aquele gesto, aquele carinho... isto não era eu, esse ser doce que se encanta ao ver uma mãe amamentando um bebê.

“A menos que talvez, eu esteja mudando por ela...”, pensei.

Sentei-me ao seu lado na cama, e observei-a de perto com calma. Apesar de sua beleza estonteante e de seus mágicos olhos azuis, o que me atraia em Ártemis era sua alma. Seu pontinho de luz no mundo emanava uma energia pura, poucas vezes vista em alguém ou algo. Isso me confundia de uma maneira dolorosa, porque apesar de resistente ao tempo, Ártemis não deixava de ser uma mortal. Contudo, talvez ela fosse como Noé. Uma alma pura, em meio a uma corja de pecadores. Olhei para o bebê em seus braços, e pude ver o quão parecida com a mãe a pequenina era. E em algum lugar no fundo da minha alma, senti dor por todas as mães que já havia matado, com seus filhos ainda no ventre, ou até mesmo em seus colos. Mães como Ártemis.

Meu peito agora doía. Todas as mortes causadas ou executadas por mim, agora vinham à tona. Meu corpo tremia e minhas asas, queimavam. Pela primeira vez em minha existência, questionei-me se estava no caminho correto, se o que eu verdadeiramente queria para mim, era isto. Então escutei uma voz masculina à distância, chamando-me.

Era Haziel. Ele havia retornado com a Feiticeira de En-Dor.

Dei uma última espiada em Ártemis e sua filha, sentindo-me nostálgico ao deixá-las para trás. No entanto ao me virar, deixei com Ártemis qualquer que fosse a parte de minha alma que ainda pudesse sentir daquela maneira, e fui embora depressa.

– Sim, Haziel? – perguntei, já de volta ao meu corpo e de pé.

– Trouxe a Feiticeira, meu senhor. – disse ele, por detrás da porta. Cheguei até lá rapidamente – já trajando minha armadura – e observei a cena. A mulher de longos cabelos castanhos trajava um longo vestido vermelho, e estava deitada no chão, desfalecida. Um filete de sangue escorria pela lateral de seu rosto, provavelmente de algum ferimento causado pelo Anjo Negro. Ela parecia bem jovem, algo em torno dos 25 anos. Porém como era feiticeira, não havia como saber sua idade exata.

– Tudo ocorreu bem? – questionei-o.

– Sim, meu senhor. De início ela lutou, porém não era forte o bastante para ele.

– Muito bem. Deixe-me a sós com ela, vou levá-la até um lugar seguro.

– Sim, meu senhor. - Haziel fez uma leve mesura, e então alçou voo, deixando-me sozinho com a Feiticeira. Após ele sair, virei-me para a Feiticeira.

– Eu sei que você está acordada. - eu disse, dirigindo-me a ela.

– E o que isso acrescenta a sua vida? Por que armou todo este circo para me trazer até aqui? O que quer de mim? - exigiu saber, parecendo estar fraca demais para sequer levantar a cabeça para olhar em minha direção.

– Cuidado com a língua, mortal. Pode acabar perdendo-a. - ameacei-a, mais para fazê-la calar a boca, do que realmente para ameaçá-la.

Neste momento, Shamira tossiu e de sua boca saiu um jorro de sangue.

– Venha, vou curá-la e a levarei até seus aposentos. - peguei-a no colo, e segui em direção a casa situada logo atrás da minha, que estava vazia no momento.

– Não entendo... - tentou dizer ela, aos sussurros. - Como posso estar no céu e não ter desintegrado? A força do véu deveria ter me consumido, ou ao menos impedido que eu passasse por ele... - questionou ela.

– Bem, você não conhece todos os feitiços do mundo, e eu tenho vários magos a minha disposição. Este feitiço que está em você é temporário, apenas para que eu possa agilizar meus planos sem me preocupar com que você fuja. E caso você esteja se perguntando o que ele faz - continuei - ele basicamente a bloqueia de sair daqui sem a minha permissão. Se não for eu a pessoa a tirá-a daqui, você irá se desintegrar. - terminei, olhando em seus olhos. Eram castanhos, e apesar de parecerem cansados, passavam uma determinação incrível.

Deitei-a na cama da casa anexa e após curá-la de seus ferimentos, fiz com que ela dormisse. Não estava com cabeça para pensar nisso agora, então voltei para minha casa. Chegando lá, deitei-me novamente na cama, e fechei os olhos. Quando os abri novamente, eu estava deitado na cama de dossel, ao lado de Ártemis. "Sentimentos são um problema sério quando se está fazendo uma viagem espiritual.", pensei.

Reparei que havia algo de diferente no quarto, e então percebi que Ártemis havia colocado sua filha no berço, provavelmente adormecida. No segundo seguinte, ela levantou-se e foi em direção ao banheiro. Sem parar para fechar a porta, ela parou em frente a pia, e começou a desabotoar os botões na parte de trás de seu vestido. Fiquei sem reação ao ver aquilo. Ela prosseguiu desabotoando seu vestido, e a esta altura, toda a parte superior de suas costas já estavam expostas, revelando sua pele alva em contraste ao vestido vinho.

De repente, ela pareceu se lembrar de algo e foi em direção a uma parte do banheiro a qual eu não tinha visão. Não fui atrás dela, para não desrespeitá-la. No entanto, por um breve momento, imaginei como não seria tocar com a ponta de meus dedos a suavidade de suas costas, deslizando lentamente para cima e para baixo...

Segundos depois - ou talvez tenham sido minutos rápidos demais - Ártemis saiu do banho trajando uma longa camisola de seda branca e mangas compridas. Seu cabelo estava completamente molhado, e ela o penteava de forma delicada, suave.

Quando ela terminou, deitou-se na cama ao meu lado e se cobriu. Ao que tudo indicava, seu marido não se encontrava no castelo, ou ele já teria aparecido.

Olhei para ela novamente, e notei que suas maçãs do rosto estavam ligeiramente avermelhadas, devido ao vapor do banho. Ela bocejou, e eu senti o mesmo sono que ela. Virei-me de lado, de forma que eu ficasse de frente para ela.

Depois de algum tempo observando-a, ela dormiu. Não sei exatamente em que momento deste meio tempo comecei a pensar nisso, mas agora já não era apenas um pensamento. Eu precisava da Ártemis, assim como os mortais precisam de ar. Aprendi a amá-la em toda a sua simplicidade, e também em toda a sua magnitude. Ela era forte, doce, pura e gentil. Ela era perfeita. E tudo o que eu mais queria agora - "ah Deus, como eu queria!" - era beijá-la. Nem que fosse apenas um beijo, apenas um toque...

– Talvez, se eu a beijasse agora, minha bela Ártemis...- eu sussurrei, olhando-a dormir com a boca entreaberta.

"Talvez, um único beijo..." pensei, e fechei os olhos.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo, postarei o próximo assim que puder :)