24/06/XX

O dia que um sentimento estranho começou a aflorar no seu peito.

–Não, Kotone. Eu não sei. – Crystal falou enquanto segurava o celular com o ombro e carregava alguns papeis na mão. – Claro que não.

Ela andou pelo corredor desviando de algumas crianças que passavam brincando de pega-pega, tomando cuidado para não deixar o aparelho cair.

–Ele não é tão mal assim. – Ela falou. – S- Sim, eu lembro do que aconteceu no festival. C-Calma.

Crystal percorreu o corredor mais um pouco até alcançar a porta da sala de jantar, mas como as mãos estavam ocupadas, ela teve de usar o cotovelo.

–Não precisa se preocupar, vai. – Ela falou, soltando um suspiro logo depois por conseguir abrir a porta. – Vocês vivem se desenten- Mas hein?

A morena levantou uma sobrancelha, percebendo a presença do garoto deitado no sofá que ficava no canto do cômodo.

–Ah, não é nada. Só um visitante indesejado. – Respondeu à amiga no telefone.

–Obrigado, viu. – O garoto de olhos dourados agradeceu, irônico. Crystal ignorou e se dirigiu a mesa para deixar os papéis.

–Como disse, não precisa ficar se preocupando. Tá. É. Tá bom, até amanhã então. – E desligou, guardando o aparelho no bolso.

–Quem era? – Gold perguntou.

–A Kotone. – Respondeu, começando a organizar os papéis. – Ela brigou com o Silver de novo.

–Nah, ele gosta dela. – O moreno afirmou, se sentando. – Ele só não quer admitir.

–É, eu sei. – Crystal riu um pouco. – Eles são bons amigos.

Ela se virou para ele e caminhou até o sofá, sentando no lugar que ele liberara.

–É, eu acho. – Ele olhou para os papéis. – Que isso?

–Uma papelada do orfanato.

–Você cuida disso?

Ela deu de ombros.

–É, eu não me importo. – E começou a dar uma olhada nas páginas.

–Como esperado da Crystal. – Ele falou e logo depois colocou as mãos atrás da cabeça, se ajeitando no sofá para tirar um cochilo.

Alguns minutos se passaram assim, a garota concentrada no seu trabalho e o garoto respirando calmamente com os olhos fechados. Era estranho aquele silêncio, mas agradável. Crystal virou a cabeça algumas vezes e observou-o dormir, os cabelos bagunçados como sempre e as roupas desarrumadas.

Por algum motivo ela sentiu um estranho frio na barriga e decidiu voltar sua atenção para o papel.

Só que...

–Ei. – Ele cutucou o braço dela.

–Que foi?

–Posso deitar no seu colo?

...

–Como é?! – Ela sentiu as bochechas esquentarem.

–Eu só quero um travesseiro, esse sofá é desconfortável!

–N- Não, mas espe- EI! – Ela tentou impedir, mas Gold ignorou seus protestos e deitou a cabeça no colo dela mesmo assim. E ela sabia que ele não aceitaria um não como resposta.

–G- Gold!

–Eu sei, eu sei. Pode continuar trabalhando, eu fico quieto.

–Não é isso... – Ela ia continuar, mas parou de repente quando olhou nos olhos dourados dele que retribuíam o olhar encarando o seus cristalinos. Ela conhecia aqueles olhos há vários anos, então... Eles sempre foram brilhantes assim?

–Crys, tá tudo bem? – Ele levantou uma sobrancelha. A garota engoliu em seco e colocou o papel na frente do rosto dele.

–T- Tá sim, só não me atrapalha! – E se forçou a prestar atenção nas letras do papel, sentindo o seu coração bater mais rápido que o normal dentro do seu peito.

Mas o que...?