Facção. Dos. Perdedores escrita por jonny gat


Capítulo 78
Ressurreição do bizarro.




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Don Picone não acreditou quando viu uma figura desconhecida com o braço enfiado no coração de seu querido Mestre. Não acreditou ao ver o sangue saindo do velho, imbatível, agora morto porque o aprendiz foi desatento e não pôde protegê-lo, porque passou tempo demais enfrentando Raul. Ele não tinha pensado que Raul não estivesse sozinho, e de fato não estava, mas essa figura desconhecida não era nada como outro antigo companheiro seu da ABC Trabalhos. Era desconhecido, estranho, cobria seu rosto com o capuz de seu casaco. Parecia uma pessoa normal, mas não era. Faltava uma aura assassina em sua presença, parecia incapaz de emaná-la, mas certamente tinha.

Don Picone não ficou pensando e pensando sobre quem era ou sobre quem era a sua culpa no momento, não conseguiria pensar direito. Apenas conseguia sentir raiva, desolação, e encher o seu punho com tanta força que ao socar o inimigo conseguisse fazer com que o tempo-espaço dilatasse e desfazer o que a figura estranha tinha feito.

Socou-o tão forte que quebrou a mandíbula daquele inimigo, o vento tornou-se tão pesado ao redor de Picone que qualquer felicidade que tentasse existir naquele cômodo, do andar daquele prédio, tornar-se-ia puro ódio. Ele não pensava em ter ódio ou ter felicidade, não pensava em nada, seu corpo se movia por si só. Ele não estranhou o fato da figura estranha ter um rosto estranho, sem uma boca.

Molly e Frota estavam distantes de todo o acontecimento, mas moviam-se desde que sentiram o primeiro ataque de Raul. Não sentiam nada além de Picone, e um sentimento estranho de que algo muito estranho estava acontecendo ou estava para acontecer.

Era óbvio que Raul não estava sozinho, ele veio com Wanda, outra companheira da WXYZ, mas essa tinha sido atingida por um pequeno projétil de energia que Molly tinha projetado em sua direção enquanto essa ajeitava seu rifle. Sua habilidade era sua super-mira, mas não teve tempo para demonstrar essa habilidade pelos leitores porque foi eliminada por Molly num reflexo antes mesmo que o narrador percebesse.

Frota não sabia muito sobre as energias, mas sabia que as coisas estavam ficando estranhas e moveu junto com seu amigo caolho.

Picone tentou parar um pouco para respirar, analisar a situação, tentou voltar para a sanidade, mas falhou. Algo dentro de si estava impedindo-o de conseguir ser racional quando pensava no que tinha acabado de acontecer, e era só nisso que conseguia pensar. Tinha presenciado, e ainda presenciava, a morte de seu mestre querido nos últimos dez segundos. Não era o tipo de pessoa que tinha relacionamentos que mostravam muitas afeições com os outros, e talvez esse fosse o motivo de nunca conseguir fazer muito as garotas gostaram dele, diziam que ele era muito galã, mas nada de sentimentos. Isso era mentira, ele era tudo sentimentos, e sempre tinha sido. Só não sabia como demonstrá-los, na verdade, foi assim que aprendeu: usando as boas maneiras que aprendeu vendo os galãs do cinema. Ele tentava dizer os seus pensamentos como os galãs do cinema diziam, porque ele os admirava. Algumas vezes não sabia como os galãs do cinema se comportariam em certas ocasiões, e nessas ocasiões não sabia como se portar e ficava ali, olhando o que estava acontecendo perplexo. Como quando uma pessoa querida perdia seu ente querido. Quando se tratava de como reagiria com os sentimentos que eram sobre ele mesmo, ele geralmente explodia. E era o que estava acontecendo agora.

Ele não pôde se segurar, só podia deixar seu corpo continuar se movendo. A agressividade que estava guardada dentro dele tomou conta dele mesmo e sem modos alguns e sem nenhuma técnica especial, simplesmente usou seu corpo para bater no rosto do seu inimigo o quanto pudesse. Joelhadas, chutes, cotoveladas, socos, cabeças, queixadas, socos, queixadas, joelhadas, jogou-o ao outro lado da sala, socou-o. Não se importou com o sangue que estava ao redor da sala ou o estado do inimigo sem boca. Seu terno estava sujo de sangue em tantas partes, seu rosto estava vermelho de sangue inimigo. Preparou seu punho para enterrar o desgraçado que matou Ramon. Desceriam juntos cada andar daquele prédio até que chegassem ao solo. Quando chegassem ao solo, enterraria o rosto dele até que afundasse ao chão ou quebraria seu rosto até que não sobrasse carne ou osso.

 Ainda havia vida no seu inimigo, não houve tempo para que ele reagisse à chegada do garanhão enfurecido ou ao impulso agressivo e vingativo e sanguinário, bárbaro. Ele mal conseguia abrir seus olhos, acabado, ou qualquer músculo de seu rosto, mas sentia seus braços. Ele conseguia sentir que sua carne estava exposta e que talvez não tivesse mais pele nenhuma. Mas esse não era um problema, era apena um corpo que estava habitando.

A dupla composta por careca caolho e estiloso de franja estava se aproximando, correndo, quando ouviram um tremor no chão. Dois, três, quatro. Foram doze, no total, tremores que fizeram com que Frota parasse e balançasse, pondo seus braços ao chão agachado para que não caísse. Depois dos doze tremores, conseguiu continuar correndo para alguns segundos depois reencontrasse Molly que olhava o mesmo prédio que Picone estava, agora desmoronado.

Não havia sinal do que tinha acontecido. Não sentia mais a presença de Picone nem de Ramon, que deixara de sentir enquanto corria. Não sentia vida, só podia concluir o que seus olhos podiam ver: antes estavam ali, e então tudo tremeu e caiu. Estavam mortos. Olhou de volta para Frota com olhos de um homem de mais de 50 anos de idade prestes a chorar. Frota entendeu o que tinha acontecido, e olhou para seu amigo da mesma forma por trás de seus óculos escuros.

Sem nenhum Don naquele mundo, não havia ninguém com a responsabilidade de proteger a vida de qualquer mal que aparecesse.

Apenas a ausência da aura de Ramon e Picone fez com que seu corpo se enchesse de negatividade e recusasse a considerar outras possibilidades. Alguns segundos passaram antes de levar em consideração que deveria olhar mais detalhadamente o cenário, segundos de lamento silencioso e olhar distante para o chão rachado do asfalto.

Via traços gigantescos de energia Vril por ali que repentinamente sumiam. Mas não tinha sentido nenhuma energia Vril se manifestando por ali antes, então ficou confuso.

Num pequeno infinitésimo de segundo – menos unidade de segundo imaginável – uma enorme quantidade de energia Vril concentrou-se e criou uma outra realidade sem que essa mesma fosse alterada.

Um novo universo foi criado com a energia do Cristal Vril retirado do peito de Ramon. Isso não foi obra de Picone, que estava ocupado demais afundando seu punho com um impulso incontrolável dentro de si mesmo, mas do ser que estava por debaixo daquela pele. Ele tinha obtido o que esteve procurando por todos esses anos que viveu em exílio de seu objetivo. Ele era um Vril, mas não pôde mais cumprir sua função depois que foi amaldiçoado pelo seu último inimigo.

Enquanto sentia o punho de Picone socando-o cada vez mais para baixo, segurou o precioso Cristal em uma de suas mãos. Não tinha conseguido sentir a presença de Picone quando o mesmo viu seu mestre morto e surtou, por causa da maldição. Não poderia lutar de volta, por causa da maldição, e por isso apenas pôde receber os ataques. O Cristal estava intacto, e ele também, apenas sua casca estava sendo destruído. Lentamente, acariciou a gema de energia infinita com graciosidade.

A gema entendeu o gracejo e retribuiu, dando-lhe toda a energia que tinha. Com aquela energia, sendo ela a energia que rege todo aquele universo, ele destruiu-o e recriou-o sem que ninguém percebesse. Sentiu-se explodindo, nascendo novamente, morrendo, implodindo, emergindo e imergindo, cansado e cheio de energia, seu corpo se desfez e se refez no processo, assim como toda a matéria que existe.

Tudo passou por esse processo tão rapidamente que ninguém ou nada pôde perceber. A flor se desfez em pequenas partículas intangíveis para qualquer análise científica e se refez, unindo-se novamente. Ele podia moldar o universo da forma que quisesse, mas ele não sabia muito como moldar um universo, apenas tinha conhecimento daquele universo da forma que conhecia, então o refez da mesma forma que ele era, mesmo não conseguindo compreendê-lo. Tudo ficou escuro e claro ao mesmo tempo, e então a escuridão e a luz se refizeram e coexistiram de uma forma que ele não conseguia entender, então retornou tudo para uma forma que ele conseguia entender. Tornou-se o recriador do mundo, sendo que nada conseguiu alterar, sendo que ainda assim quando levantou-se jogando Picone para longe ainda era a si mesmo, e Picone ainda era a si mesmo.

As coisas continuavam da mesma forma que tinham parado. Era a mesma hora do dia, Molly e Frota ainda continuavam a correr em direção ao centro do tremor e da aura mortífera de Picone. Mas essa aura já estava se dissipando, agora Picone voltara a conseguir averiguar a realidade depois de tomar esse susto. Não tinha sentido o universo mudar ou a energia de todo o universo estar a mercê daquele inimigo, mas sentiu toda aquele energia concentrada nele. Era virtualmente invencível, e não conseguiria derrotá-lo com socos ou usando o potencial de movimento das rochas que se formaram do prédio demolido. Estava caído, com tudo ao seu redor destruído, mas aquele homem podia construir tudo, tinha controle sobre cada partícula daquele universo de uma forma que Picone não conseguia compreender. Apenas presenciá-lo já era algo complicado, o sentimento de tê-lo tão próximo era tão complexo e intenso. Era como se estivesse presenciando Deus.

Ele era pura energia. Já tinha deixado as suas escamas e agora o garanhão estava retraído e assustado depois de ser empurrado por aquelas mãos quentes e rápidas ao chão. De raiva, estava assustado, e essa transição aconteceu rápido demais. Não estava assustado da mesma forma que estaria se acordasse e visse uma arma apontada para sua cabeça. Estava assustado como um animal irracional que não temia o desenvolver da coisa, mas a imensidão da coisa em si.

Molly e Frota, correndo, sentiram essa grande energia concentrada em um só lugar. Frota não conseguia entender da mesma forma que o caolho, apenas sentia uma grande coisa puxando-o naquela direção, mas não conseguia analisar essa coisa como Molly: que era uma grande quantidade de energia.

— Matéria é energia concentrada em grande quantidade – disse Terry, olhando para o seu corpo que brilhava como purpurina.

— Uma grande quantidade de energia é igual a uma pequena quantidade de matéria vezes a velocidade da luz ao quadrado – disse Terry.

— Então por que tenho esse formato idiota de humano, só que brilhando? – Algo estava errado para Deus.

Tentou mudar de forma, queria ser magnífico. Mas foi quando percebeu que não conseguiria mudar de forma. Ausentando-se de sua forma humana, apenas conseguiria ser energia e se moveria aleatoriamente.  

— Deve ser isso mesmo – disse. – Se eu sou a energia de tudo, então eu consigo controlar a sua própria energia? Consigo fazer você dar um soco na sua própria cara? Seria legal, você me deu tantos socos inúteis e fracos.

Tentou, e conseguiu, Picone socou-se, mas Terry não conseguiu manter a sua forma na qual ele conseguia presenciar as coisas. Não sendo ele, Terry seria apenas energia aleatoriamente flutuando por aí em todos os cantos do universo. Teria que controlar a sua própria forma ou controlar a energia do universo, e era muito estranho para um humano ser outra coisa além de um humano. E ele era um humano, apesar de tudo, sempre foi.

Picone sentia o potencial daquela criatura invencível. Era um potencial absurdo, seus sensores de energia potencial estavam enxergando algo além de qualquer parâmetro de energia imaginável.  Será que ele poderia fazer essa energia potencial explodir? Provavelmente poderia, mas levaria todo o planeta com ele... Mas será que ele poderia fazer toda essa energia potencial se engolir? Implodir? Sim, mas precisaria tocar mais nela. Não conseguia entender ainda o que estava enfrentando ou o que tinha acontecido. Na verdade, nem sabia da presença do Cristal no coração do seu falecido Mestre, mas precisava destruir aquela criatura tão poderosa. Não só apenas para vingar-se do seu mestre, mas porque apenas a existência de um ser tão forte era perigoso demais. E agora ele era o protetor da Terra.

Ele levantou pra tentar tocá-lo, mas enquanto se levantava foi socado de frente no rosto. Caiu no chão e ficou grogue, tentou se reorientar com suas mãos pra tentar levantar de novo, mas então sentiu aquele punho no seu rosto de novo. Seu rosto agora também tinha do seu próprio sangue.

— Vai ser que nem você fez comigo. – E deu uma joelhada em Picone.

Ainda sentia que não tinha tocado-o o suficiente, mas estava no caminho. Precisava, para que pudesse ter uma noção melhor de qual potencial deveria ativar. Deveria fazer isso em etapas por estar lidando com uma quantidade infinita de energia. Na primeira etapa provavelmente já poderia deixar Terry imóvel, se começasse pelo ponto correto. Caído no chão, visualizou que agora poderia apertar o botão que ativaria a implosão de uma parte daquela energia. Ele não estava piscando ainda, mas quando estivesse, poderia começar a primeira etapa.

Terry estava sentindo tanto prazer em ser pura energia. Ele nunca tinha sido pura energia, mas toda vez que teve em contato emanando ou absorvendo energia Vril foi quando ele percebeu que era para isso que ele existia. Era uma coisa comum que todo Vril tinha, entretanto Terry levou isso para outro lado. Ele não se sentia atraído a riscar o Cristal em seu corpo e ascender para o Paraíso do Grande Cristal, como todo Vril se sente inconscientemente. Ele se sentia atraído por aquela energia. Era por isso que ele buscou, por tantos anos depois de ser privado de emitir ou sentir energia, o Cristal, qualquer um que estivesse naquele universo. Ele sabia da existência de Don Ramon e sabia do fato de existir um Cristal em seu peito, porque já tinha sentido isso na época que a maldição ainda não tinha sido jogada sobre ele.

Apesar de não conseguir sentir a energia Vril dentro dele que ainda existia, ele ainda era um Vril. A maldição apenas afetava o fato de que não sentia mais essa energia. E ele queria senti-la, era a sua obsessão, era o seu objetivo de viver.

Seu objetivo principal era encontrar os cristais, e então absorvê-lo e senti-lo para sempre. Buscava a Okami Kenon para que pudesse absorver toda a energia Vril presente no universo e senti-la, mas não precisou da luva para isso. Estava tão satisfeito e sentia tanto prazer, era como se estivesse fazendo sexo com ele mesmo sem que nada o perturbasse e fosse capaz de sentir prazer durante o tempo todo durante esse sexo. A cada milésimo de segundo ele chegava a um nível diferente de orgasmo e era isso que ele queria continuar sentido. E sentir isso enquanto batia naquele idiotinha que se achava o aprendiz do universo era tão bom, ele estava no paraíso. Ele começou a bater tão rápido e tão descontrolado que o prazer começou a fluir por todo esse corpo. E então caiu no chão porque sua perna tinha implodido.

Picone levantou-se, com sua mente pela primeira vez em todo o capítulo de volta no lugar, com seu rosto roxo e sangrando, com alguns dentes quebrados e muito inchaço em suas bochechas, com o nariz quebrado, com tanto sangue no rosto que era impossível dizer de quem era. Um olho conseguia continuar aberto, e ainda conseguia dizer com sua gengiva sangrando:

— Eu venci.

Terry estava confuso e desequilibrado. Será que conseguia recriar sua perna? Não, não sentia como se conseguisse. Sentiu a sua energia sendo sugada para fora enquanto Picone chutava-o caído no chão para que conseguisse apertar o botão mais vezes. Era como se a energia que Terry sentisse estava fugindo, e não parava de fugir, pela ausência da sua perna. Não era pra estar acontecendo assim, era pra ter dado certo. Por que não estava dando certo? Essa era a habilidade daquele bostinha? Ele não podia ser vencido por aquilo. Ele tinha que derrotar Picone, tinha que se levantar e mostrar a ele onde é seu lugar na cadeia alimentar. Agora ele era deus.

Ele se levantou, mas agora era a vez dele de ser atacado enquanto se levantava. Picone apertou o botão e um buraco onde a energia Vril infinita de Terry seria sugada surgiu na sua costela esquerda, onde Picone tanto chutou durante o parágrafo anterior. Terry ainda se via na obrigação de destruir com o garanhão cujo rosto estava acabado, mas não conseguia mais se mover. Estendeu o braço, mas não podia alcançá-lo.

— Eu derrotei Deus – disse Picone, de costas, novamente ajeitando a gravata. Agora estava preocupado com o terno manchado de sangue e seu rosto que doía tanto.

Os dois maratonistas que passaram o capítulo todo correndo finalmente chegaram. Molly não podia acreditar que estava vendo aquele mesmo inimigo mais uma vez libertado da maldição que o tinha jogado. Tanta energia fluía daquele homem que não conseguia pensar direito, e ordenou para que Frota usasse a Okami Kenon para sugar toda aquela energia.

Terry olhou pra trás e percebeu que estava numa furada. Como o sentimento instintivo que era o medo, por ter se tornado energia sentiu medo da conhecida luva sugadora e conversora de energia. Ele não queria ser sugado, também não queria implodir, também não queria ter que se expandir aleatoriamente como a energia normalmente faz para poder se salvar daquela situação. Mas foi o que conseguiu fazer.

Com o desaparecimento repentino do inimigo, o caolho perguntou ao garanhão quebrado o que tinha acontecido ali e onde estava Ramon.

— Eu sou o guardião agora – Foi o que Picone respondeu.


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