Facção. Dos. Perdedores escrita por jonny gat


Capítulo 69
Apenas pessoas e sentimentos.




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Depois de bastante tempo analisando o conteúdo dentro daquele pen-drive, o maligno vermelho pôde finalmente ditar a continuação de seus planos. Não, não tinha um plano feito como O Plano articulado por Shepard e Mormada da Terra em que os humanos se dizem supremos. Não era bem um plano, mas sim um objetivo, o objetivo de poder fazer com que todos os humanos vivessem felizmente em um mundo em que não houvesse qualquer tipo de dor e sofrimento. Com a leitura do conteúdo presente dentro do dispositivo, pôde finalmente calcular o caminho que precisaria caminhar até o seu objetivo. Não chamava esse caminho de plano, como humanos que procuram exterminar todos os outros humanos imperfeitos de outras dimensões fariam, chamaria de algoritmo, um método para chegar ao seu objetivo.

Não era o primeiro momento em que Robin abria seus olhos depois de ficar algumas horas que chegaram a ser até mais do que um dia, depois da batalha que teve, capítulos atrás, com um personagem muito aleatório que transformou uma montanha que estava ali há milênios com apenas um soco. Caso você não se lembre, esse mesmo personagem, também, apareceu em outra ocasião acidentalmente matando Mario, o Mario que estamos acostumados a conhecer, em uma outra linha do tempo. Mas Mario, bem, não morreu, como todos vocês sabem. Caso não se lembrem, também, Robin estaria morto se não fosse pelo senhorzinho que expulsara esse personagem aleatório cujo nome não há necessidade de ser lembrado, Robin muito provavelmente estaria morto. Robin, mais uma vez, não tinha conseguido derrotar seu oponente. Depois de tanto treinamento, tanto tempo com nas folhas de cerejeira e meditando, procurando o equilíbrio entre a mente e o corpo... Mas ao parecer não havia adiantado, seu equilíbrio não tinha sido o suficiente para derrotar um inimigo poderoso. Perguntava-se, agora, se teria chance de derrotar o antigo herói de guerra Molly, Imperador Solar. Não conseguia entender suas derrotas, isso era o que acontecia antigamente, ficava com raiva e se menosprezava. Agora, que a sua mente era outra, conseguia ver claramente que havia pecado em diversos pontos. Percebia agora seu erro e sua mente voltava a funcionar, recuperando-se dos ataques que tinha sofrido na batalha que já havia passado.

Procurava formas no seu corpo de entender como os combates de seus adversários funcionavam, como os seus golpes poderosos e suas auras eram sentidas tão fortemente quando era atingido. Procurou dentro de si, como nas vezes em que tivera sonhos tão reais que procurava descobrir quem era e o sentido dali estar. Procurou nas suas memórias, das mais recentes até as mais antigas e descobriu que sua vida pouco tinha sentido, pouco tinha um objetivo, pouco tinha uma qualidade e pouco tinha um defeito. Não havia sentido nem motivo de ali estar. Nada. Tudo era nada para ele, assim como tudo era nada para tudo que existia naquele mundo de sofrimento sem fim. Percebeu que não havia motivos para sofrer nem motivos para se sentir bem, mas mesmo assim foi perspicaz o suficiente a ponto de notar a diferença de não haver motivos para tal e não fazer tal. Ter sentimentos apontando direções em sua bússola racional era a forma natural de agir, não havia motivos para, também, intervir naquilo. Se não havia motivo nem sentido em nada, o que movia seus pensamentos, o que movia seus músculos? Não eram simples palavras, idéias, era, mais que isso, sua própria força.

Foi como um choque de mágica. Foi como finalmente poder ler novamente a série de livros que você adorava quando era criança e sentir aquela ignição funcionando próximo de seu coração. Robin, então, obteve conhecimento de si mesmo e dos aliados e inimigos presentes em seu corpo. Robin, então, sentiu o calor chegando do seu coração até seus braços, do seu estômago até o extremo das suas pernas, do seu cérebro até todo pedaço de seu corpo. Foi um calor tão forte, era a sua primeira vez assim.

Don Ramon estava bastante chateado pelo fato de ter sido deixado de lado pelo autor nos últimos capítulos, mas não sabia disso, já que é apenas um personagem e mesmo que veja tudo em seu universo, não vê nada além disso, ou seja, não sabe da existência de nenhum autor que na realidade sem a existência dele seu universo nem existiria e nem sequer ele existiria. Logo, um sentimento como “estar com ódio por não estar aparecendo nos últimos capítulos” é meio confuso demais para que ele entenda, mas ele sente esse sentimento, mesmo assim, até porque o próprio autor que decidiu que ele se sentisse assim, por saber que, caso Ramon soubesse que seu universo e suas próprias ações de certa forma eram controlados por uma força maior, uma força além de seu alcance e além do alcance de qualquer outro desse enredo, Ramon sentir-se-ia bastante chateado com isso. Infelizmente Ramon não sabia que estava sendo controlado, e nem qual era o foco de toda essa raiva, ódio, ansiedade, chateação.

Ramon olhou para dentro de si mesmo, algo bastante complicado, algo que não conseguia fazer. Algo que precisava fazer com calma. Não entendia de onde toda essa ira vinha e para onde iria, então decidiu fazer como costumava fazer: meditava.

Xupa Cabrinha não estava mais no local. Tinha mais coisas a fazer. Ou achava que tinha. Ou talvez estava muito impaciente e ansioso para fazer alguma coisa depois de um grande período de tempo fazendo nada enquanto não lembrava nada sobre si mesmo ou sobre seu objetivo. Agora lembrava-se, lembrava-se de tudo que precisava lembrar sobre si mesmo e sobre seu objetivo. Sabia quem era e com o que devia lidar. Antes que seu mestre tivesse começado a meditar e Dom Picone a se sentir inconfortável com a situação, antes também de Frota ir embora lentamente do local como se não tivesse mais nada pra ver, nada para se envolver nem sobre o que falar.

Nos últimos capítulos Frota não dissera nada e nem tinha participado bastante, e não pretendia mesmo participar dessa turminha do barulho que lutava contra pessoas aleatórias que apareciam por aí. Quer dizer, ajudaria a salvar o planeta caso cruzasse com algum ser humano maléfico alimentado por energia Vril e maldade, mas, fazer parte daquele grupo de homens... Molly, Xupa e Ramon... Não parecia certo. Não tinha o melhor relacionamento com Molly desde que se reencontraram há algum tempo atrás, não pareciam se entender e da última vez que lembrava era pra ele estar lutando contra ele agora, junto com Robin e Xupa. Mas Robin até agora não tinha retornado do que o mesmo tinha chamado de “viagem de treinamento” e Xupa nem sequer tinha dito um oi para Frota nas últimas vezes em que estiveram que lidar com a companhia um do outro. Ele não entendia o que estava acontecendo desde que o primeiro capítulo foi postado. Quer dizer, o primeiro capítulo ele até entendia, ele e Robin precisavam de algum dinheiro rápido e legal então decidiram trabalhar para algum chefão do crime, mas as coisas se complicaram demais e então lá estava ele, sozinho, dando as costas para uma cidade em chamas e homens que meditavam, voavam para longe dali em busca de seus objetivos e outro que observava os seus passos se perguntando se devia falar com o jovem de óculos escuros novamente.

Por algum motivo Frota se sentia tão mal. Triste, depressivo, como se toda sua vida não fizesse sentido e tudo que tivesse feito até agora não fosse nada que importava, porque, bem, nada realmente importava já que tudo estava uma bagunça e sua vida poderia acabar do nada porque os caras fortões que protegiam o universo podiam ser derrotados e Frota não poderia fazer nada contra inimigos tão poderosos. Talvez pudesse distraí-los por alguns segundos ou minutos por conta de sua poderosa arma, mas não salvaria o planeta e a vida da destruição iminente, caso os outros falhassem.

No fim, estava lá, sozinho, andando de cabeça para baixo para algum lugar onde estaria sozinho e que não tinha idéia de onde era. Apenas caminharia até os sentimentos ruins fossem embora. Seria assim se uma mão amiga não estivesse se apoiando nos ombros do rapaz de franja e óculos escuros. Uma mão companheira que ajudara-lhe no passado, que não tiveram a chance de conversar novamente assim que se reencontraram. Agora tinham finalmente a chance de conversarem, e as memórias vieram à tona para Frota assim que seus olhos se reencontraram com o seu querido amigo, a única pessoa em sua vida que pôde considerar como família. “Olá, Molly”, as palavras queriam soltar-se pela sua boca, mas as palavras não tinham espaço em meio a tantas memórias. As palavras não podiam se soltar depois de tanto ter acontecido em sua vida, tanto ter acontecido nos últimos dias, nas últimas semanas. Tinha visto Molly, antes, um outro Molly. Um Molly que nunca mais veria novamente. Perguntava-se se esse mesmo homem, com tapa-olho, pensava e agia da mesma forma que o outro que tinha encontrado há pouco atrás. A saudade não tinha matado, e provavelmente nunca seria matada de tanta que era. Não conseguia, entretanto, sentir todos os sentimentos com clareza, se concentravam em seu peito como uma grande confusão, uma grande nuvem de confeites com raios doces de preocupação, de incerteza. Muitas dúvidas, até as sem sentido, estavam sem sua cabeça, Frota sentia-se desimportante depois de tudo que acontecera. Sabia que não havia motivo para isso, porque as coisas não tinham acontecido de forma que o objetivo dos acontecimentos fosse fazer de Frota um homem que, no fim de tudo, sentisse-se desimportante. Frota sabia que não era assim que funcionava. Até porque, mais do que tudo, era um personagem de uma história escrita.

Palavras foram trocadas com seu antigo amigo. O caolho e o rapaz de óculos escuros e franja cheia de estilo conversaram sobre coisas fúteis, coisas que pouco se assimilavam ao contexto que passavam. Molly queria saber o que tinha acontecido com seu querido amigo, um dos poucos que pôde chamar de família durante sua vida e o depois de sua vida, e na vez que voltou a viver, também. Molly queria saber como tudo tinha acabado, queria saber como o rapaz tinha se saído depois, se conseguira resolver seus problemas, se estava bem agora, como que tinha conseguido, se o sacrifício de Molly tinha realmente ajudado, se... Sentia-se grato por ter sido o mártir da saga de Frota porque, afinal, o rapaz estava ali, vivo. Mais do que vivo, estava conversando com o rapaz naquele mesmo momento.

Frota queria saber muitas coisas também. Esse tempo em que ficaram distantes um do outro foi um tempo difícil, diferente para ambos. A vida de Frota, na verdade, foi bem diferente desde o primeiro dia em que seus olhos se encontraram com a careca e o tapa-olho, no deserto em que o sol procurava a lua e a lua procurava o sol. Depois disso, passaram tanto tempo juntos que tornaram-se pai e filho, irmãos, para então laços que palavras não poderiam descrever facilmente.

Ao invés de comentarem sobre os tópicos que procuravam saber sobre um do outro, sobre como fora a vida de um ou a morte de outro, conversaram sobre assuntos que foram até fúteis. Molly não sabia muito bem o que dizer, mas apreciava a companhia de Frota e esse apreciava a companhia do careca.

— Quantos anos você tem, velho? – perguntou Frota.

Molly riu. – Ah, você não tem uma pergunta mais fácil? Essa pergunta é muito difícil de responder quando se é um velho como eu.

E como era velho. E como eram amigos.


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