Avatar: A Lenda de Zara - Livro 1: Água escrita por Evangeline


Capítulo 3
Capítulo 2: Entrando no Palácio


Notas iniciais do capítulo

Atualizado em 09/01/2019



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Era um pouco após o almoço quando Zara avançou cidade a dentro além dos olhares preocupados de seus pais. O céu acinzentado indicava que iria chover, e Zara havia trazido, graças à sua cautelosa mãe, uma capa de chuva na bolsa.

Andava com pouca pressa, cumprimentando alguns conhecidos no caminho, até que se afastou o suficiente de seu bairro para não reconhecer mais ninguém. No início, alegre e interessada por ver tantas pessoas novas, principalmente quando o poder econômico dos bairros subia e podia ver roupas diferentes, casas diferentes, todos os tipos de barcos diferentes passeando pelos canais que interligavam a Tribo. A menina passava pelas pontes sempre olhando para a água abaixo delas, sempre num tom intenso de azul, nada transparente, muito diferente da água que via em seus sonhos quando visitava Tuí e La.

A Tribo inteira era quase vertical, e enormes paredes de iceberg a rodeavam por todos os lados. O palácio ficava no ponto mais alto da cidade, o que a fazia imaginar como deveria ser a vista de lá. Talvez pudesse reconhecer o seu bairro quando olhasse de lá de cima. Atrás do palácio, uma planície se estendia até o fim do iceberg, com postos de guarda para proteger ao máximo aquele ponto quase horizontal entra a Tribo e a planície externa.

A menina mantinha os olhos atentos, evitava ser seguida como sua mãe lhe ensinara, e cumprimentava os mais velhos auxiliando-os quando necessário, como seu pai aconselhara. Mas aos olhos dos seus companheiros de Tribo, a menina era estranha. Estavam próximos ao fim do verão, mas mesmo assim a temperatura era em média -5°C, o que não levava todos ao frio extremo mas ninguém mantinha muita pele a mostra. Era frio. O Polo Norte era sempre frio. Mas lá estava a menina, pequena e magra, claramente muito nova, andando sozinha e sem agasalhos.

Zara não sentia frio. Não tinha necessidade de se cobrir ou se agasalhar, gostava se sentir a neve na pele. Era fato que seus conterrâneos tinham uma resistência ao frio maior do que o resto das nações, mas para Zara ter frio, precisava estar no mais intenso dos invernos.

Além das vestimentas, a pele alva e os cabelos negros não eram uma combinação comum, o que a tornava uma visão exótica e assunto para falar. Ainda mais enquanto ajudava pessoas com sacolas, idosos a descer degraus ou crianças a curar cortes no joelho. Logo as pessoas falavam na menina branca de cabelo preto que estava andando pela Tribo.

Conforme o sol começava a se por, Zara descansou e comeu um pouco do que trazia na bolsa. Ela entrou num pequeno beco com degraus e olhou para o céu que mudava de cor. Depois que o grande astro desapareceu no horizonte, Zara fechou os olhos sentindo o seu corpo. Não sabia explicar, mas sempre que anoitecia sentia vontade de sobrar água, e ainda mais facilidade para fazê-lo. Ao abrir os olhos, uma pequena luz branca flutuava diante de si.

Com as feições iluminadas pela luz, Zara arregalou os olhos e sorriu.

— Vamos? – Chamou a voz masculina, quase num sussurro, logo reconhecida por Zara.

— Como você faz isso? – Perguntou encantada. A luz então piscou como se falhasse, aos poucos assumindo um brilho mais suave e deixando a forma do peixe negro ser compreendida. A luz vinha do círculo em sua cabeça.

— Quando você chegar eu te explicarei isso e muito mais. – Garantiu Tuí. Zara sorriu em consentimento e logo o peixe flutuou escadaria a cima. A menina o seguia o mais rápido que podia, por caminhos que, se estivesse sozinha, nunca seguiria. O espírito a guiava por becos e vielas, ruas estreitas e áreas quase abandonadas. Além de ser o caminho mais rápido, era o mais seguro e discreto.

Era, afinal, uma menina de 12 anos andando fisicamente sozinha por dentro de uma das maiores tribos do mundo.

 

Em pouco tempo Zara já podia ver o mar por cima dos muros, mas o Espírito não a deixava olhar para trás, quase a fazia correr. A cidade foi dormir e se acordou, e Zara ainda não havia descansado. Quando o céu começou a clarear, o espírito voltou-se para a menina, flutuando logo diante de seu rosto.

— Vou sumir em poucos segundos. – Anunciou a voz intensa. Zara arrumou a postura, por mais cansada que estivesse, e fez uma reverência ao espírito.

— Obrigada. – Agradeceu.

— Até logo. – Disse Tuí, com a voz mais suave, quase alegre, antes de desaparecer tão rápido quanto havia aparecido. E então lá estava o sol.

O céu estava limpo e Zara finalmente pôde descansar e virar-se para admirar a vista. Estava há poucos quilômetros do palácio, e não conseguia reconhecer seu bairro, ou nada parecido, da altura onde se encontrava. Mas não se deixou decepcionar, ao invés disso encarou admirada a dimensão do lugar onde vivia, e a beleza de ver, finalmente, o oceano. Sempre soube que ele ficava além dos muros, mas nunca o tinha visto. E lá estava, imenso e azul, parecia infinito.

— La, você é muito bonita... – Sussurrou, esperando que o espírito do mar pudesse ouvir.

Não se deixou perder muito tempo, mas percorreu o resto do caminho mais devagar do que o fizera com Tuí. O acesso ao palácio era através de uma ponte com escadas, seguida por mais escadarias que guiava os visitantes por cima do Jardim de Gelo, que ficava embaixo do palácio, até o térreo do mesmo. Sabia que seria abordada bem antes disso, antes até da própria ponte.

 

Quando o palácio estava perto o suficiente, Zara encontrou um pequeno parque do bairro, vazio por cer muito cedo, e sentou-se num banco. Percebeu o quanto seu corpo estava cansado e deitou-se. Não demorou para que o sono a atingisse e a menina visitasse, mais uma vez, os espíritos.

Estava mais uma vez diante do lago, perguntava-se, como as vezes o fazia, como conseguia sempre ir para o lugar certo, mas deixou aquela dúvida para depois.

— O que faz aqui, menina? – Questionou a voz intensa e poderosa de Tuí.

— Eu não sei como vou conseguir. – Admitiu, um pouco perdida. A verdade é que ao encarar o palácio tão de perto, começou a ficar nervosa. Não sabia o que diria para convencer alguém de que precisava entrar no lugar mais sagrado da Tribo.

— Vai entrar aqui fisicamente, apenas isso. – Disse o espírito. Apesar do tom grosseiro, sua entonação era sábia, porém misteriosa demais para a menina.

— O quê eu digo? – Perguntou, a voz hesitante.

— Você vai procurar por Yara, e falará apenas para ela. – Começou a explicar a doce voz de La. – Diga à ela que Pa'Akay morreu, e que Tuí e La precisam de você mais do que nunca. Isso deverá convencê-la. – Concluiu.

A menina pensou por alguns segundos.

— E antes? Não vão me deixar falar com a Chefe assim tão fácil. – Perguntou, e logo ouviu a risada gutural e quase maligna de Tuí.

— Não podemos fazer tudo por você Zara. Na verdade não poderemos fazer quase nada. – Disse compreensiva a voz do espírito do mar. – Tenha confiança, vai conseguir. – Incentivou.

— Agora vá. Precisa chegar logo. – Ordenou o peixe branco.

Zara se concentrou para voltar ao mundo físico, e não parecia ter se passado muito tempo. Caminhou até a ponte do palácio onde dois guardas aguardavam, e logo entraram em seu caminho.

— Está perdida? – Perguntou um deles. Não era grosso, nem gentil, apenas neutro. Fazia seu trabalho.

— Eu preciso falar uma coisa importante para Yara. – Anunciou, hesitante da reação dos guardas.

Eles se entreolharam por vários segundos e voltaram-se mais uma vez para a menina. Não suspeitavam de nada, mas não podiam ser irresponsáveis. Era uma garota exótica que, se não fosse a cor de seus olhos, mais pareceria um membro da Nação do Fogo.

— Precisa passar por várias pessoas antes, menina. – Explicou o guarda, sem saber exatamente como proceder. – Podemos te encaminhar para o Tenente, mas vai ser difícil passar por ele. – Concluiu.

Zara não tinha escolha, então deu de ombros e seguiu um dos guardas para dentro do palácio, até uma espécie de escritório amplo e escuro. O guarda acendeu uma tocha e voltou-se para a menina.

— Está muito cedo, então talvez ele demore. – Anunciou e viu a menina assentir. – Você... Quer um cobertor, alguma comida? Não está com frio? – Perguntou. Não podia deixar de se preocupar, era uma criança sem agasalhos e bastante magra. Não acreditava ser uma ameaça.

— Não, muito obrigada. Eu trouxe comida! – Disse a menina com um sorriso agradecido, mostrando ao homem alguns pães que trazia na bolsa. Ele assentiu e se posicionou do lado de fora da porta.

Zara observou que o homem estava cheiroso e bem desperto, o que a fazia imaginar que ele deveria ter começado seu turno há pouco tempo. Sentada numa cadeira desconfortável, mal encostando os pés no chão, a menina percebia como estava exausta. Fazia cerca de 24h que não dormia, ao menos não de verdade. Seus olhos pareciam lutar contra ela para se fecharem.

 

Não demorou para que ela acabasse por fazê-lo. Não teve sonho algum e, ao menos pelo que pareceu à ela, acordou muito rápido. Quando acordou, o escritório estava muito iluminado pelo sol que entrava pela janela, e um homem barbudo e muito grande estava sentado atrás da grande mesa do cômodo, olhando alguns papéis. A menina em si estava com um cobertor ao redor do corpo, alguém deveria colocado enquanto dormia.

Se descobriu e coçou os olhos, cansada e sonolenta, atraindo assim a atenção do homem.

— Bom dia, garotinha. – Ele cumprimentou, palavras gentis com um tom bastante neutro e entendiado. – Eu soube que quer falar algo com a Chefe Yara. – Começou. – Mas temo não ser tão simples assim. Veja bem, nós estamos todos aqui – Gestuou para a farda que usava. – para proteger à ela e seu irmão. Não podemos ser irresponsáveis e deixar que qualquer um fale com ela ou com ele. – Disse completamente entediado.

Zara assentiu e começou a pensar.

— Eu preciso falar algo muito importante para ela. – Repetiu-se, e o homem suspirou impaciente. Para ele, era só o que lhe faltava, uma criança àquela hora da manhã, querendo entrar no Palácio para ter uma conversa "importante" com a Chefe.

— Veja bem... – Soltou um longo suspiro. – Não podemos deixar estranhos falarem com... – Falava pausadamente, como se ensinasse o alfabeto, antes de ser interrompido.

— Se está com medo de uma menina de 12 anos, realmente precisam de uma segurança melhor. – Desafiou Zara, sem saber mais o quê fazer.Seu recado deveria ser dado apenas à Chefe.

O homem a encarou um pouco desacreditado antes de soltar uma gargalhada.

— Devo admitir que é corajosa! – Falou entre os risos, e Zara estufou o peito orgulhosa. – Mas vai precisar de mais que isso para me convencer, menininha. – Concluiu, enxugando uma lágrima no canto do olho. Zara ficou incomodada pelo tom zombeteiro do homem, mas estava psicologicamente cansada.

— Você pode me amarrar em algum canto, me colocar numa cela e chamar ela. – Disse num tom sério e exausto, fazendo com que o homem prestasse mais atenção nela. Ele pensou por algum segundos encarando profundamente os olhos da menor enquanto a analisava.

— Como é o seu nome? – Perguntou seriamente.

— Zara. – Respondeu a menina, sem hesitação.

— Muito bem, Zara. – Começou. – Eu não acho realmente que você seja uma ameaça, mas também não consigo imaginar o quê uma garota de 12 anos tem de tão importante para tratar com a Chefe da tribo. Se não pode me dizer o que é, tudo bem, mas vai ter que acabar me convencendo. Não quero amarrar uma criança, pareço bruto mas não sou um monstro. – Explicou, finalmente a levando à sério.

— Me desculpe, mas não tenho nada que possa te convencer. – Falou dando de ombros. O homem passou a ficar mais curioso, e encarava-a sério quando alguém bateu a porta.

— Gerto. – Chamou uma voz masculina do outro lado da porta.

— Entre. – Disse o homem atrás da mesa, levantando-se e fazendo uma reverência ao homem que entrava agora na sala. Era um homem alto, magro e bronzeado. Sua postura era elegante e poderosa, os cabelos compridos trançados, a barba bem feita e os olhos azuis claros como um lindo diamante.

— Os seguranças estão cochichando sobre uma criança exausta que apareceu. – Falou o homem. Sua voz era austera e imponente. – Seria você? – Perguntou, virando-se para Zara.

A menina encarava o chão, exausta e decepcionada.

— Ela diz que se chama Zara e que tem algo importante que só pode falar com a Chefe Yara. – Explicou Gerto prontamente, vendo o homem assentir. Ele caminhou para o centro da sala, ficando no ponto exato para onde ele viu que a menina olhava.

Ao ver as botas elegantes entrando em seu campo de visão, a menina acompanhou o resto do corpo, subindo o olhar cansado até o rosto do homem. Quando seus olhos encontraram os dele, o homem arregalou seus diamantes e franziu o cenho, confuso.

— É isso que ele disse. – Confirmou a explicação de Gerto, cansada demais para tentar convencê-lo. O homem se ajoelhou diante da menina, chamando a atenção dela para ele e olhando bem o seu rosto. Zara se deixou ser observada por alguns longos segundos, e logo a expressão confusa do homem se tornou bondosa e melancólica.

— Sabe, Zara. – Começou a falar, com a voz doce que chegou a surpreender Gerto. – Você se parece muito com uma moça que eu gostava muito quando era mais novo. – Declarou.

Zara piscou algumas vezes, exausta, estava quase desmaiando de sono. O homem sorriu compreensivamente.

— Venha, vou te deixar descansar numa cama. – Chamou, segurando a mão da menina como um pai ou um irmão mais velho. Zara não se sentia ameaçada, e no fundo de seu coraçãozinho exausto rezou para estar certa, seguindo-o até um quarto de hóspedes onde pôde descansar.

 

Dormiu por ao menos umas cinco horas, até então acordar com uma moça abrindo a porta para deixar roupas novas em sua cabeceira. A menina se levantou devagar e olhou o quarto ao seu redor.

— Que horas são? – Perguntou à moça.

— Cerca de onze. – Respondeu prontamente. – Posso avisar que está acordada? – Questionou, recebendo um consentimento da cabeça de Zara.

Não demorou até que o homem de antes aparecesse novamente, ali no quarto. Estava sorridente.

— Você fez meu dia, Zara. – Declarou assim que entrou. Agora acordada, a menina prestou mais atenção ao seu redor. – Eu não esperava me lembrar de tão bons momentos hoje. – Explicou-se, e a menina assentiu com um breve sorriso.

— Que bom, gosto de fazer bem às pessoas. Mesmo que eu não saiba o que eu fiz... – Falou, a última parte um pouco hesitante.

— Você apareceu. – Ele disse com uma risada saindo do fundo do peito. – Quando eu tinha a sua idade, havia uma aia aqui no palácio muito parecida com você. Muito bonita, inclusive. – Elogiou, fazendo a menina corar brevemente. Por alguma razão sentia que ele era muito importante, e o achava muito bonito. Ser elogiada por ele parecia ser significativo. – Não me lembro mais do nome dela, mas ela me ajudou bastante a fugir de algumas enrascadas sem que meus pais soubessem. – Falou rindo.

Zara riu um pouco junto com ele, mas logo lembrou de seus pais. gostaria de poder dizer à eles que estava bem.

— Quando eu falei com Tu... – Ia começando a falar, mas se censurou. – Uma vez eu falei com alguém que disse que eu pareço muito com a minha mãe. – Disse a menina dando de ombros. O homem ficou sério por alguns instantes.

— Não conheceu a sua mãe? – Perguntou, num tom compreensivo.

— Não a biológica, mas minha mãe me ama muito! – Falou sorrindo. Não sentia nenhuma tristeza em ser adotada. O homem sorriu satisfeito.

— Isso é maravilhoso. – Respondeu satisfeito. – À propósito, meu nome é Yuhã. – Apresentou-se. Zara arregalou os olhos por alguns segundos e prontamente se levantou da cama, fazendo uma reverência desajeitada. – Não, não, por favor não faça isso. – Pediu rindo um pouco sem graça.

Zara concertou a postura, e o homem a encarou por alguns segundos.

— Você é igual a ela, menina... – Disse melancólico. – Menos os olhos. Ela tinha...

— Olhos azuis bem escuros? – Perguntou Zara, um pouco confusa. Eles se entreolharam por vários segundos. – Puxei os olhos do meu pai. – Disse explicando. – Tu... Essa pessoa com quem eu falei me disse que minha mãe era muito bonita e que trabalhou aqui. – Falou devagar, tentando não parecer ser uma mentira. Sabia que era muito conveniente, mas era a verdade.

O homem franziu o cenho, deixando a menina com medo de perder a confiança que acabara, querendo ou não, ganhando.

— Ah! – A menina começou a se explicar. – O nome dela era Kayun! E ela se casou com Hian, meu pai! – Disse, vendo Yuhã arregalar os olhos.

— Você é filha deles? – Perguntou surpreso abrindo um sorriso. Zara começou a gostar muito do futuro Chefe da Tribo da Água do Sul. Passaram quase duas horas conversando sobre seus pais, sobre como Kayun era quando jovem, sobre seu casamento. Yuhã havia ido ao casamento de seus pais.

Zara nunca procurou saber sobre eles, mas estava muito entretida em ouvir sobre eles de alguém que os conheceu pessoalmente. Quando a novidade passou, Yuhã fez questão de levar a menina até sua irmã. Contara que se tratava da filha de uma antiga aia, e a Chefe aceitou recebê-la.

 

Zara entrou no escritório da Chefe um pouco hesitante. Já estava de tarde, precisava se apressar apra encontrar os espíritos do Mar e da Lua.

— Então você é a famosa Zara. – Falou com a voz bondosa e doce.

Yara era muito parecida com Yuhã, apesar de ter olhos escuros e o rosto mais carnudo, principalmente os lábios. Ela tinha o porte mais baixo e o corpo mais cheio, mas sua postura e gestos, além de seu tom e olhar, eram similares. Ao ficarem sozinhas, Zara a encarou por alguns segundos e suspirou de alívio.

— Yara, Tuí e La me mandaram te dizer que Pa'Akay morreu, e que eles precisam de mim mais do que nunca. – Falou rápido demais para a mulher digerir. Yara franziu o cenho e pensou nas palavras da menina.

— Certo. – Confirmou, surpreendendo a menina com a facilidade. – Mas me diga, Zara. Você é dobradora d'água? – Perguntou. Tinha um pequeno brilho no olhar. A única forma de uma menina aleatória saber sobre Pa'Akay, e ainda referir-se assim ao espírito, seria tendo realmente falado com Tuí e La. Acreditava na menina.

— Sim, Chefe, mas apenas para medicina. – Assentiu. Yara a encarou por mais algum tempo.

— A sincronia realmente é perfeita. – Confirmou a mulher, sorrindo. – Peça a Yuhã para levá-la ao Oásis, apenas eu e ele temos acesso. Depois, por favor junte-se a nós para jantar. – Pediu. – Se puder, é claro. Ah, e me chame de Yara, por favor. – Pontuou por fim, vendo a menina sorrir.

— Obrigada, Chef... digo, Yara. – Agradeceu Zara, com um sorriso largo no rosto.

Fez como Yara havia orientado, e logo Yuhã a guiava por corredores do palácio, até chegarem a uma espécie de caverna, uma passagem feita de rochas dentro do gelo, e do outro lado da passagem, a clareira que via em seus sonhos.

 

Yuhã a deixou sozinha lembrando-a de pedir pelo quê pudesse precisar, e lgoo a menina voltou-se, decepcionada, para o oásis. No seu sonho, toda a água ali brilhava lindamente, mas ali apenas a poça emanava uma luz fraca.

Zara atravessou a pequena ponte que ligava o gelo à ilhota, e ao pisar nela sentiu todos os pelos de seu corpo se eriçarem. Podia sentir o peso dos espíritos, o que a fez sorrir com a sensação. Aquele era um lugar de muita energia, e Zara a sentia correr por seu corpo.

Ajoelhou-se diante dos peixes, como fazia em seus sonhos, mas nada acontecia.

— Tuí, estou aqui. – Disse olhando para o peixe preto, mas este nada disse. – La? Estou aqui! – Tentou de novo, mas nada aconteceu. A menina suspirou e sentou-se de lado, não sabia o que faria. Precisavam que ela chegasse fisicamente lá, mas agora que havia chegado, não sabia o quê deveria fazer.

Ficou observando os peixes nadarem em círculos, até que o cansaço da viajem a atingiu mais uma vez e a menina deitou-se de lado para cochilar. Talvez fosse mesmo o melhor a se fazer.


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