Procura-se um Sangue Azul escrita por Mia Peckerham


Capítulo 9
Um homem preso


Notas iniciais do capítulo

Oi oi, geeente e_e'
Então, faz uma eternidade e meia que eu não posto nada no Nyah!, mas agora eu voltei! Férias escolares = tempo de ócio = novos caps! ^^
Então, me desculpem pela demora ;-; Vou tentar compensar isso ;)

***
—-> Ophélia seria como a presença de Deus; uma divindade no qual o povo acreditava naquele reino.

—> Essa história é original, portanto todos os personagens foram criados por mim. Você não tem permissão para usá-los em suas histórias.



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Erica dormia quando ouviu um barulho à sua porta: "Pssst! Erica...?", seguido por um suave toc, toc, to-to-toc, toc. O lugar e as condições em que vivia a haviam treinado muito bem a ter um sono muito leve e a despertar em tempo recorde. Sentou-se na cama e atentou-se aos sons. O quarto havia caído no silêncio mais profundo; tudo estava escuro e o fogo da lareira havia se extinguido, e agora fazia frio, muito frio mesmo. Erica jogou mais dois rolos de manta sobre seu irmão que, ao contrário dela, dormia pesadamente.

Novamente soou o toc, toc, to-to-toc, toc, tão suave e fraco quanto da última vez, quase inaudível. Olhou bem para a porta e distinguiu uma sombra grande atrás dela. Isso é sinal de que as luzes da taberna lá fora ainda estão acesas..., ela pensou. Sören fugiu outra vez.

– Sören? - A moça sussurrou, procurando o gato pelo quarto, sem sucesso.

– Erica...? - Sussurrou a voz do outro lado da porta.

Erica revirou os olhos; já sabia de quem era a voz, e não era ninguém que quisesse devolver seu gato.
Levantou-se com a maior calma e se vestiu; debruçou-se sobre a pequena bacia com o jarro de água ao lado e lavou as mãos e o rosto, e passou os dedos úmidos pelos cabelos castanhos, desembaraçando alguns nós que se formavam.

Caminhou até a porta de madeira velha e abriu, emburrada. Não conseguia enxergar nada na escuridão da noite; nada além daquela sombra negra encapuzada, parada à sua frente.

– Que é isto, agora? - Ela perguntou, sussurrando, em tom irritado. - O que diabos você veio fazer aqui?

– Temos aulas hoje, não é? - A sombra respondeu.

– Aulas de que? Eu não tenho droga de aula nenhuma!

– Julga que conseguirá convencer alguém no Castelo assim?!

Erica esticou a pescoço, pondo a cabeça para fora de casa e procurando alguma luminosidade nas ruas. Como já havia adivinhado, cantoria e luzes faziam a festa dentro da taberna ao lado, mas não era o suficiente para se enxergar muito, muito menos para evitar que a fina neve que caía embaçasse a vista.

– Você é louco! Tá o maior breu aqui fora! Agora deve ser o quê? Duas da manhã?

– Três e meia, para ser mais correto - a sombra observou. - Sinto muito; este é o único horário em que consigo deixar minha torre...

Erica bufou:

– Não acredito que fiz esse trato...

– Uma princesa nunca quebra suas promessas - por baixo do longo capuz, Erica viu uma brilhante fileira de dentes brancos, com os lábios encurvados no mais simpático dos sorrisos.

– Eu não sou uma princesa, vossa senhoria– ela retrucou.

– Ainda não. Mas é por isso que eu estou aqui.

A sombra virou as costas e caminhou para longe, até o meio da rua. Depois olhou para trás e encarou a moça, parada como uma estátua na porta do casebre.

– Mandei nossas montarias – disse. - O Louro é seu. Você vem?

Erica sabia que ele só estava perguntando para ser educado. Ela não tinha escolha alguma, prometera ao príncipe que ajudaria. Isto, agora, era sua obrigação.

– Certo – ela respondeu, revirando os olhos -, vamos logo, então.

***

Zeke a levou até o fim da rua, onde encontraram dois enormes cavalos com as rédeas amarradas a um toco de madeira fincado no chão arenoso.
O príncipe caminhou até o cavalo de pelos completamente negros e passou as mãos sobre suas costas; o animal espirrou e chacoalhou as orelhas, calmo, reconhecendo seu cavaleiro.

Quando Erica tentou se aproximar, Ezekiel advertiu-a:

– Odil não se dá com estranhos. É um cavalo muito arisco, melhor tomar cuidado.

Mas ela fingiu que não ouvia e caminhou até o animal; colocou sua mão perto do focinho e deixou que o cavalo sentisse seu cheiro e, quando ele espirrou, balançando a cabeça e jogando a crina, Erica conseguiu acariciar sua cara e seu dorso.

Zeke olhou para o cavalo e murmurou:

– Assim você me decepciona, meu amigo...

A garota riu:

– Os cavalos gostam de mim. São animais dóceis e fáceis de domar e criar. Só precisa deixar que eles o conheçam.

– Certo, mas este é o meu cavalo – o príncipe bufou. – Você fica com aquele.

Ele apontou para outro animal que estava logo ao lado e Erica entendeu porque ele fora chamado de Louro: seus pelos eram da cor das nuvens mais brancas, e suas patas e alguns fios em sua crina estavam manchados de dourado cor-de-mel, fruto de muito tempo cavalgando em lugares sujos e ao sol.
O cavalo era alto e forte, um verdadeiro amontoado de músculos e tendões, e seu pelo havia sido escovado recentemente; à luz do luar, parecia um grande Pégaso branco, um vulto esvoaçante em meio à escuridão.

Erica fez o mesmo que havia feito com Odil, deixando que Louro a reconhecesse, e este pareceu gostar ainda mais dela.

– Então é por isso que te chamam de Louro, hein? – A garota disse ao garanhão, sorrindo.

– Na verdade o nome dele é Kahal, mas os cavalariços do Castelo o chamam de Louro por causa da cor dos pelos – Zeke informou. O príncipe já estava montado em seu cavalo, olhando-a de cima. – Sabe montar?

Erica balançou a cabeça, afirmando, e subiu no dorso de Kahal, o Louro.

– Ótimo – Zeke disse a ela. – Vamos, me siga.

Trotaram por quase meia hora, mantendo um ritmo constante, pouco acelerado, o que deu à Erica tempo suficiente para admirar a paisagem que a cercava, mesmo estando escuro demais para enxergar muita coisa.

Mas a garota pode perceber que havia animais, grandes felinos de pelos alaranjados e até alguns lobos, correndo por todos os lados, e aves que se chacoalhavam em seus ninhos, procurando se esconder da neve que cobria o mundo com um enorme manto branco.
A neve havia caído sem parar desde a tarde do dia anterior; Baruc havia comentado sobre montes de neve com metros e mais metros de profundidade, suficientemente grandes para que um homem alto como ele se sufocasse naquele branco leitoso.

Ezekiel parou seu cavalo repentinamente e declarou:

– Ali, atrás daquela colina, há uma árvore gigantesca de galhos tão frondosos e justapostos que a neve não consegue passar de sua copa. Durante o inverno, as folhas de cima congelam, como uma crosta de gelo. Mas o resto da árvore permanece aquecido. É quase como uma cúpula que protege contra os climas árduos. Ali, embaixo da árvore, é sempre primavera ou verão.

Estavam a uns bons 70 metros da tal colina, mas Erica conseguia ver algumas folhas da árvore ao longe. Curiosa, pôs seu cavalo a trote antes do príncipe.

Chegaram à colina e do alto dela observaram a árvore em silêncio durante muito tempo. Erica mal acreditava nos próprios olhos. Apesar de ser difícil enxergar qualquer coisa àquela hora, Erica estipulou que árvore estava tão verde quanto um tomate antes de madurar, e a neve que caía fina e constante se acumulava sobre suas folhas mais altas tal como Ezekiel dissera, sem nunca penetrar pelos galhos e chegar ao chão.

Avançaram em seus cavalos pela neve, que abafava o som dos cascos, mas ao chegarem junto à árvore imensa, Erica constatou que não havia neve cobrindo o solo. Desmontou do cavalo e olhou para cima só para confirmar que sim, os galhos eram muito próximos, quase grudados uns aos outros. Neve e chuva nunca passariam por entre eles.

– Santa Ophélia – Erica sussurrou boquiaberta. – Essa coisa é enorme!

Ezekiel riu e concordou:

– Acredito que não há árvore maior no mundo. Pegamos um ramo e plantamos nos jardins do fundo do Castelo, e ele brotou. É mesmo uma árvore imensa, mas não chega nem perto dessa. Nós a chamamos Notteria.

E, sob os galhos de Notteria, Erica aprendeu a se curvar, a falar palavras difíceis que uma garota sem escolaridade nunca sonharia aprender e a montar a cavalo.

– Mas eu já sei fazer isso! – A garota exclamara ao ser requisitada por essa última lição.

– Sabe montar, mas não como uma dama – Ezekiel objetara. – A senhorita monta como um homem!

– E você sabe como se monta como uma dama? – Perguntou ao príncipe, fingindo-se de inocente.

Ezekiel tinha o grande defeito de se gabar muito, e Erica já sabia disso. O príncipe caiu no truque como um patinho:

– Sei, sim!

Como uma dama?! – Erica riu até ficar sem fôlego. – Ah, sim! A carapuça serve bem!

– Muito engraçado, com certeza... – Ele bufou. Erica percebeu que estava corado de vergonha. – Na próxima, te ensino a rir como uma dama.

– Também sabe fazer isso? – A garota zombou.

– Melhor do que você, Eric. Isso com certeza! – Ezekiel riu. Erica o acompanhou.

Montaram novamente em seus respectivos cavalos para voltar à vila. Erica olhou para o céu e contatou que, desde que chegaram ali, deviam ter se passado quase cinco horas.

– Não vai sentir sono? – Ela perguntou. – Não dormimos quase nada esta noite...

Ezekiel bocejou:

– Provavelmente vou parecer um cadáver durante o resto do dia, mas isso não é estranho. Eu nunca durmo, de qualquer maneira...

– Nunca dorme?

– Não. Sou muito agitado, não consigo. Alguns criados da enfermaria tentam me acalmar com poções e remédios feitos com ervas caras, coisas do tipo. Nada disso adianta. Sempre fujo pela janela de minha torre e vou para a árvore.

– Por quê? – Erica estava cada vez mais curiosa sobre o príncipe. Reparava cada vez mais que, fora dos muros do castelo e da vista do reino, ele não se comportava como um membro da realeza.

– Porque penso que se vou passar minhas noites em claro – Ezekiel respondeu -, prefiro que seja num lugar onde não haja um guarda à minha porta.

Ela assentiu silenciosamente. Entendia-o cada vez mais. Erica também preferiria um lugar isolado, distante de qualquer aglomeração ou tumulto.

Cada vez que compreendia os pensamentos de Ezekiel e se colocava no lugar do príncipe, percebia que ele só queria o mesmo que ela. Liberdade, Erica refletiu. É o que todos querem, no final. Mas ele tem deveres muito maiores do que os meus. A garota sentiu pena de Zeke. Mesmo que ele quisesse se ver livre, tem um trono que um dia assumirá. Tem um reino para reger.

Olhou de relance para Ezekiel e imaginou-o com uma coroa igual à de seu pai rodeando sua cabeça. É mais como uma algema..., Erica compreendeu. Ezekiel é um homem preso.


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Notas finais do capítulo

Acho que esse cap. ficou um pouquinho grande hehehe
Aceito críticas, recomendações e elogios, se for o caso.



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