Procura-se um Sangue Azul escrita por Mia Peckerham
Notas iniciais do capítulo
* Jeremejevite é o nome de uma pedra preciosa muito difícil de ser encontrada; não é uma invenção minha, essa pedra realmente existe.
* Lapis de Centrum está escrito em Latim. A tradução seria "Pedra do Cerne"; é uma invenção minha. Não existe fora da história.
* Essa história é original, portanto todos os personagens foram criados por mim. Você não tem permissão para usá-los em suas histórias.
Ele se apressou em pegar uma arma no chão. Rastejou até seus dedos alcançarem uma adaga, que ele empunhou com perfeição. Se encaixava perfeitamente em suas mãos finas e pequenas.
Já as grandes mãos calejadas de seu oponente não queria saber de adagas finas e pequenas; desfrutavam do poder de um enorme machado de prata.
Mas a verdadeira força, Eric sabia, vinha daqueles músculos. O oponente era uma montanha de tendões fortalecidos naturalmente através de muito treino.
Se você, até agora, via a figura de Eric como sendo aquele lutador profissional que entra numa batalha e se torna um verdadeiro leão, um ser avassalador que derruba os inimigos em um só golpe e que, com apenas uma flecha, perfura a cabeça de três homens, você está se iludindo.
O rapaz era magro, baixinho e fraco para um homem. Perto do viking parecia uma criança.
O inimigo desferiu outro golpe, que desta vez passou raspando por cima da cabeça de Eric, arrancando-lhe o capuz. Por sorte tinha ainda sua máscara de couro que lhe escondia muito bem as feições.
Eric, aproveitando que ainda estava no chão, rolou rapidamente e cravou a lâmina da adaga na batata da perna de seu inimigo. Essa era sua especialidade.
O homem gritou de dor e segurou o cabo da adaga enfiada em sua carne.
Enquanto o viking estava abaixado, Eric pegou outra adaga que encontrara na Arena e cravou em suas costas.
A luta foi declarada terminada, mas Eric não teve tempo nem para retomar o fôlego, porque o próximo lutador já estava entrando.
Era Marco Anthony, tão grande e forte quanto Louis, o viking. Tinha duas espadas e seus movimentos eram rápidos.
Eric, como sempre usou a estratégia do "desviar e apunhalar" que sempre funcionava. Com três ou quatro golpes conseguiu levar Marco ao chão e desarmá-lo, deixando-o indefeso, e a luta havia acabado.
Os outros lutadores foram entrando um atrás do outro e Eric os derrubava. Perdera a noção do tempo que ficara ali, mas estava se divertindo. Não costumava se sentir bem enquanto lutava, mas naquele dia tinha um gás à mais. Nunca gostara tanto de estar na Arena.
Ele apunhalava homens à torto e a direito, mesmo os que já estavam caídos. Chegou à lutar contra cinco de uma só vez - e venceu sem muito esforço.
Involuntariamente, matara seis homens naqueles combates. Isso ia completamente contra seus ideais, mas já não tinha o que fazer. Já não tinha controle pelo próprio corpo e não sabia porque estava fazendo aquilo ou como ainda conseguia se manter em pé.
Nem mesmo estava ferido. Era um mistério o fato de não ter sido atingido por nenhum de seus oponentes...
Pensava nisso quando ouviu o soar das cornetas novamente, trazendo-lhe de volta à realidade, de volta à Arena. Ficou parado no centro do campo de combate, à espera do próximo lutador.
A única resposta que teve foi o silêncio.
– Bem - o funcionário da corte disse, aproximando-se de Eric -, parece que temos um tempo recorde aqui... O senhor Eric derrubou todos os oponentes na Arena.
O rapaz não queria acreditar. Nunca chegara àquele ponto. Sempre perdia para um dos últimos, mas depois voltava para casa. Ele não sabia o que era derrotar todos os outros lutadores dos combates até agora.
No camarote onde a Família Real estava assistindo às lutas, o Rei era puro contentamento. Sorria de uma orelha à outra e aplaudia. Parecia se divertir toda vez que via um pouco de sangue derramado.
– Foi o melhor tempo que já vi aqui! - O Rei gritou, satisfeito com a cena. - Só não é melhor, é claro, que o tempo de meu filho, Zeke.
O príncipe deu dois tapinhas no ombro do pai e sorriu orgulhoso.
– Tem razão, querido pai - ele disse. - Um tempo igual ao meu é raridade.
– Raro como uma Jeremejevite!– O Rei concordou.
Eric não gostava da família real e, como a conversa não era para sua classe, apenas virou as costas e caminhou até a saída, deixando, é claro, as adagas na Arena.
Teria conseguido sair dali à tempo se, no meio do caminho, um bêbado da arquibancada não apontasse para o príncipe em seu camarote e gritasse:
– Então, vossa majestade, porque não prova?!
A multidão gritou, urrou, vaiou, tudo ao mesmo tempo. Os pelos da nuca de Eric se eriçaram.
Ele se virou e encarou o príncipe, temendo por sua decisão.
– O que acha? - Zeke perguntou. - Gostaria de tentar lutar contra mim?
Eric não respondeu. Ele não falava com ninguém. Ele não podia falar com ninguém. Não ali, na presença do Rei...
O príncipe Zeke pegou seu elmo de bronze e, com um salto, desceu até a Arena.
– Quem cala, consente... - Concluiu.
Retirou sua capa e jogou-a no chão enquanto sacava a espada, exibindo uma linda lâmina de ouro esculpida com detalhes encantadores e o brasão da Família Real, que tinha um rubi cravado no centro.
Essa história Eric conhecia: cada filho do Rei ganhava, assim que nascia, uma espada idêntica à do Pai.
A única coisa que as fazia diferentes era a Lapis de centrum, uma pequena pedra preciosa que representava o cerne, a característica de cada um.
O cerne do Rei era a Ametista, que representava o poder em suas mãos e sua sabedoria ao usá-lo da maneira correta em seu Reino.
Seu filho mais novo, Martin, tinha uma linda Esmeralda em sua espada, representando a responsabilidade e consciência de seus atos.
Arthur, o filho mais velho, tinha em sua espada a safira mais brilhante já encontrada. Representava a paz, calma e tranquilidade.
Mas o rubi na espada de Zeke era superior à todas as outras jóias; até mesmo superava a do Rei.
Aquela pedra cor-de-sangue tinha um certo brilho fantasmagórico e medonho.
Mesmo sendo pequena não passava despercebida. Era como se ela estivesse emanando fúria o tempo todo.
Representava a luta, a força, a resistência em campo de batalha. E, acima de tudo, a coragem.
– Agora está ficando interessante... - O príncipe disse. - Mas, espere...
Ele olhou para seu elmo de bronze e depois para a fina máscara de couro de Eric. Atirou seu elmo no chão arenoso da Arena, sorrindo:
– Quero uma luta justa. Tire sua proteção.
Eric recuou. Não podia tirar a máscara.
Fez que não com a cabeça, para a surpresa do príncipe.
– Não vai tirar? - Zeke riu. - Posso arrancá-la daí.
E desferiu um golpe contra Eric, mirando em sua cabeça.
O rapaz, por sua vez, apenas desviou. Tinha duas adagas nas mãos, mas sentiu que elas seriam inúteis: não conseguia se aproximar de Zeke. Ele bloquearia todos seus ataques com a lâmina dourada de sua espada.
Já que não tinha um plano, continuou desviando dos ataques de seu oponente, mas o príncipe não se cansava. Desferia um golpe atrás de outro, desenhava círculos no ar com sua espada. Era tão rápido que Eric não podia acompanhá-lo.
Zeke conseguiu atingi-lo várias vezes; eram apenas cortes superficiais com os quais Eric não se importava, mas o príncipe parecia querer acabar logo com aquilo.
Agora aplicava mais força em seus golpes.
Eric já estava cansado e esfolado de tanto rolar no chão de pedregulhos da Arena. Estava suando, estava sujo. Resolveu deixar que o príncipe o acertasse e, depois, se render e sair da Arena como um covarde (um covarde vivo, pelo menos...).
Recuou dois passos e apontou as adagas para Zeke, mais para provocá-lo do que para atacar, e aprendeu uma grande lição: plebeus não provocam a realeza.
Zeke sorriu, ironizando, e atacou o calcanhar de Eric, fazendo-lhe um corte que, apesar de não ser profundo, doía como o inferno.
Eric caiu, apoiando-se nos joelhos e verificando o machucado. A dor era dilacerante.
Distraiu-se tanto com o corte que não percebeu a aproximação do príncipe.
Zeke, para provocar, chegou bem perto de seu inimigo e assobiou, chamando sua atenção.
Assim que Eric olhou para cima e deu de cara com a silhueta do oponente (que contra o sol era apenas o contorno de uma sombra), Zeke desferiu um golpe contra seu rosto com a espada.
Foi tão rápido que tirou o fôlego de Eric, e por um momento ele achou que Zeke havia errado; mas então viu sua máscara cair no chão e percebeu que o intuito do filho do Rei não era acertá-lo, e sim cortar seu disfarce.
Eric permaneceu imóvel, mas já era tarde. Nas arquibancadas as pessoas gritaram "Oh!" em uníssono. O príncipe imediatamente atirou longe sua espada. Poderia ser preso caso desferisse um golpe contra aquela criatura, já que isso era um crime hediondo no reino. Já havia, é claro, machucado-a bastante, mas não sabia que era aquele tipo de gente...
Eric levantou-se do chão, largou as adagas e elevou as mãos vazias, mostrando que não queria fazer mal à ninguém. Viu o Rei olhar para ele, espantado, enquanto a Rainha, horrorizada, ordenava que os guardas o prendessem até o dia de seu julgamento. Ele já sabia: iria para a forca.
Zeke olhava-o, os olhos esbugalhados, surpreso.
– Mas você... - O príncipe sussurrou. - Você é uma mulher.
Os guardas chegaram e agarraram Eric pelos braços; já iam levando para a prisão quando ouviram o Rei esbravejar:
– Esperem! - Ele gritou. Sua voz rouca e grossa fez eco pela Arena. - Levem a mulher para a sala do trono e vigiem. Estarei lá em poucos minutos.
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Aceito críticas, recomendações e elogios, se for o caso.