Procura-se um Sangue Azul escrita por Mia Peckerham


Capítulo 3
Zeke vs. Eric


Notas iniciais do capítulo

* Jeremejevite é o nome de uma pedra preciosa muito difícil de ser encontrada; não é uma invenção minha, essa pedra realmente existe.

* Lapis de Centrum está escrito em Latim. A tradução seria "Pedra do Cerne"; é uma invenção minha. Não existe fora da história.

* Essa história é original, portanto todos os personagens foram criados por mim. Você não tem permissão para usá-los em suas histórias.



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Ele se apressou em pegar uma arma no chão. Rastejou até seus dedos alcançarem uma adaga, que ele empunhou com perfeição. Se encaixava perfeitamente em suas mãos finas e pequenas.

Já as grandes mãos calejadas de seu oponente não queria saber de adagas finas e pequenas; desfrutavam do poder de um enorme machado de prata.
Mas a verdadeira força, Eric sabia, vinha daqueles músculos. O oponente era uma montanha de tendões fortalecidos naturalmente através de muito treino.

Se você, até agora, via a figura de Eric como sendo aquele lutador profissional que entra numa batalha e se torna um verdadeiro leão, um ser avassalador que derruba os inimigos em um só golpe e que, com apenas uma flecha, perfura a cabeça de três homens, você está se iludindo.
O rapaz era magro, baixinho e fraco para um homem. Perto do viking parecia uma criança.

O inimigo desferiu outro golpe, que desta vez passou raspando por cima da cabeça de Eric, arrancando-lhe o capuz. Por sorte tinha ainda sua máscara de couro que lhe escondia muito bem as feições.

Eric, aproveitando que ainda estava no chão, rolou rapidamente e cravou a lâmina da adaga na batata da perna de seu inimigo. Essa era sua especialidade.

O homem gritou de dor e segurou o cabo da adaga enfiada em sua carne.
Enquanto o viking estava abaixado, Eric pegou outra adaga que encontrara na Arena e cravou em suas costas.

A luta foi declarada terminada, mas Eric não teve tempo nem para retomar o fôlego, porque o próximo lutador já estava entrando.

Era Marco Anthony, tão grande e forte quanto Louis, o viking. Tinha duas espadas e seus movimentos eram rápidos.
Eric, como sempre usou a estratégia do "desviar e apunhalar" que sempre funcionava. Com três ou quatro golpes conseguiu levar Marco ao chão e desarmá-lo, deixando-o indefeso, e a luta havia acabado.

Os outros lutadores foram entrando um atrás do outro e Eric os derrubava. Perdera a noção do tempo que ficara ali, mas estava se divertindo. Não costumava se sentir bem enquanto lutava, mas naquele dia tinha um gás à mais. Nunca gostara tanto de estar na Arena.

Ele apunhalava homens à torto e a direito, mesmo os que já estavam caídos. Chegou à lutar contra cinco de uma só vez - e venceu sem muito esforço.
Involuntariamente, matara seis homens naqueles combates. Isso ia completamente contra seus ideais, mas já não tinha o que fazer. Já não tinha controle pelo próprio corpo e não sabia porque estava fazendo aquilo ou como ainda conseguia se manter em pé.
Nem mesmo estava ferido. Era um mistério o fato de não ter sido atingido por nenhum de seus oponentes...

Pensava nisso quando ouviu o soar das cornetas novamente, trazendo-lhe de volta à realidade, de volta à Arena. Ficou parado no centro do campo de combate, à espera do próximo lutador.
A única resposta que teve foi o silêncio.

– Bem - o funcionário da corte disse, aproximando-se de Eric -, parece que temos um tempo recorde aqui... O senhor Eric derrubou todos os oponentes na Arena.

O rapaz não queria acreditar. Nunca chegara àquele ponto. Sempre perdia para um dos últimos, mas depois voltava para casa. Ele não sabia o que era derrotar todos os outros lutadores dos combates até agora.

No camarote onde a Família Real estava assistindo às lutas, o Rei era puro contentamento. Sorria de uma orelha à outra e aplaudia. Parecia se divertir toda vez que via um pouco de sangue derramado.

– Foi o melhor tempo que já vi aqui! - O Rei gritou, satisfeito com a cena. - Só não é melhor, é claro, que o tempo de meu filho, Zeke.

O príncipe deu dois tapinhas no ombro do pai e sorriu orgulhoso.

– Tem razão, querido pai - ele disse. - Um tempo igual ao meu é raridade.

– Raro como uma Jeremejevite!– O Rei concordou.

Eric não gostava da família real e, como a conversa não era para sua classe, apenas virou as costas e caminhou até a saída, deixando, é claro, as adagas na Arena.

Teria conseguido sair dali à tempo se, no meio do caminho, um bêbado da arquibancada não apontasse para o príncipe em seu camarote e gritasse:

– Então, vossa majestade, porque não prova?!

A multidão gritou, urrou, vaiou, tudo ao mesmo tempo. Os pelos da nuca de Eric se eriçaram.
Ele se virou e encarou o príncipe, temendo por sua decisão.

– O que acha? - Zeke perguntou. - Gostaria de tentar lutar contra mim?

Eric não respondeu. Ele não falava com ninguém. Ele não podia falar com ninguém. Não ali, na presença do Rei...
O príncipe Zeke pegou seu elmo de bronze e, com um salto, desceu até a Arena.

– Quem cala, consente... - Concluiu.

Retirou sua capa e jogou-a no chão enquanto sacava a espada, exibindo uma linda lâmina de ouro esculpida com detalhes encantadores e o brasão da Família Real, que tinha um rubi cravado no centro.

Essa história Eric conhecia: cada filho do Rei ganhava, assim que nascia, uma espada idêntica à do Pai.
A única coisa que as fazia diferentes era a Lapis de centrum, uma pequena pedra preciosa que representava o cerne, a característica de cada um.

O cerne do Rei era a Ametista, que representava o poder em suas mãos e sua sabedoria ao usá-lo da maneira correta em seu Reino.
Seu filho mais novo, Martin, tinha uma linda Esmeralda em sua espada, representando a responsabilidade e consciência de seus atos.
Arthur, o filho mais velho, tinha em sua espada a safira mais brilhante já encontrada. Representava a paz, calma e tranquilidade.

Mas o rubi na espada de Zeke era superior à todas as outras jóias; até mesmo superava a do Rei.
Aquela pedra cor-de-sangue tinha um certo brilho fantasmagórico e medonho.
Mesmo sendo pequena não passava despercebida. Era como se ela estivesse emanando fúria o tempo todo.
Representava a luta, a força, a resistência em campo de batalha. E, acima de tudo, a coragem.

– Agora está ficando interessante... - O príncipe disse. - Mas, espere...

Ele olhou para seu elmo de bronze e depois para a fina máscara de couro de Eric. Atirou seu elmo no chão arenoso da Arena, sorrindo:

– Quero uma luta justa. Tire sua proteção.

Eric recuou. Não podia tirar a máscara.
Fez que não com a cabeça, para a surpresa do príncipe.

– Não vai tirar? - Zeke riu. - Posso arrancá-la daí.

E desferiu um golpe contra Eric, mirando em sua cabeça.
O rapaz, por sua vez, apenas desviou. Tinha duas adagas nas mãos, mas sentiu que elas seriam inúteis: não conseguia se aproximar de Zeke. Ele bloquearia todos seus ataques com a lâmina dourada de sua espada.
Já que não tinha um plano, continuou desviando dos ataques de seu oponente, mas o príncipe não se cansava. Desferia um golpe atrás de outro, desenhava círculos no ar com sua espada. Era tão rápido que Eric não podia acompanhá-lo.

Zeke conseguiu atingi-lo várias vezes; eram apenas cortes superficiais com os quais Eric não se importava, mas o príncipe parecia querer acabar logo com aquilo.
Agora aplicava mais força em seus golpes.

Eric já estava cansado e esfolado de tanto rolar no chão de pedregulhos da Arena. Estava suando, estava sujo. Resolveu deixar que o príncipe o acertasse e, depois, se render e sair da Arena como um covarde (um covarde vivo, pelo menos...).

Recuou dois passos e apontou as adagas para Zeke, mais para provocá-lo do que para atacar, e aprendeu uma grande lição: plebeus não provocam a realeza.

Zeke sorriu, ironizando, e atacou o calcanhar de Eric, fazendo-lhe um corte que, apesar de não ser profundo, doía como o inferno.

Eric caiu, apoiando-se nos joelhos e verificando o machucado. A dor era dilacerante.
Distraiu-se tanto com o corte que não percebeu a aproximação do príncipe.
Zeke, para provocar, chegou bem perto de seu inimigo e assobiou, chamando sua atenção.
Assim que Eric olhou para cima e deu de cara com a silhueta do oponente (que contra o sol era apenas o contorno de uma sombra), Zeke desferiu um golpe contra seu rosto com a espada.

Foi tão rápido que tirou o fôlego de Eric, e por um momento ele achou que Zeke havia errado; mas então viu sua máscara cair no chão e percebeu que o intuito do filho do Rei não era acertá-lo, e sim cortar seu disfarce.

Eric permaneceu imóvel, mas já era tarde. Nas arquibancadas as pessoas gritaram "Oh!" em uníssono. O príncipe imediatamente atirou longe sua espada. Poderia ser preso caso desferisse um golpe contra aquela criatura, já que isso era um crime hediondo no reino. Já havia, é claro, machucado-a bastante, mas não sabia que era aquele tipo de gente...

Eric levantou-se do chão, largou as adagas e elevou as mãos vazias, mostrando que não queria fazer mal à ninguém. Viu o Rei olhar para ele, espantado, enquanto a Rainha, horrorizada, ordenava que os guardas o prendessem até o dia de seu julgamento. Ele já sabia: iria para a forca.

Zeke olhava-o, os olhos esbugalhados, surpreso.

– Mas você... - O príncipe sussurrou. - Você é uma mulher.

Os guardas chegaram e agarraram Eric pelos braços; já iam levando para a prisão quando ouviram o Rei esbravejar:

– Esperem! - Ele gritou. Sua voz rouca e grossa fez eco pela Arena. - Levem a mulher para a sala do trono e vigiem. Estarei lá em poucos minutos.


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Notas finais do capítulo

Aceito críticas, recomendações e elogios, se for o caso.