Procura-se um Sangue Azul escrita por Mia Peckerham


Capítulo 18
Desentendimentos


Notas iniciais do capítulo

Sim, o título do cap. é óbvio... Todos os caps. tem desentendimentos asdfghjkhgfds
Mas, sério, não fazia ideia de qual título pôr nesse, e boom! vai ser isso aí mesmo asdfghj Sorry
Enfim, boa leitura!! ;D



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A porta do quarto de Orla estava encostada quando Erica chegou ali. Parou diante dela por alguns segundos até que finalmente empurrou-a e entrou. Tinha nas mãos uma bandeja de prata com um pequeno copo de soro por cima.

Assim que entrou a rainha a encarou odiosa:

– Feche a porta. Vamos conversar.

Erica colocou a bandeja sobre a mesa de cabeceira da rainha e voltou para fechar a porta. Ao encarar novamente a nobre mulher viu que a conversa não seria pacífica de jeito nenhum.

– Como vou saber que não está envenenado? - Orla já começou suas acusações apontando para o copo de soro.

– Eu não faria isso - Erica não deu o braço a torcer. - Jamais seria tão baixa.

Orla não confiava na plebeia.

– Beba um gole.

A moça foi até a beirada da cama, pegou o copo e tomou um pequeno gole. Alguns minutos se passaram e nada aconteceu. Orla grunhiu:

– Não quero mais este soro. Você encostou seus lábios no meu copo.

– Gostaria que eu fosse buscar outra dose? - Erica tentou permanecer paciente, mas estava reprimindo toda sua raiva para não acabar dando uns bons tabefes na mulher à sua frente.

– Não, você não vai sair deste quarto até que tenhamos terminado nossa conversa.

Houve um longo período de silêncio e Erica começou a se perguntar o quão perdida ela estava. Provavelmente Orla mandaria que a matassem. Provavelmente Baruc e Kirk teriam de enterrá-la ainda esta noite...

– Acho - a rainha disse aproximando-se de sua criada - que você não duvida do alcance de meu poder; acho que você sabe que, se eu quiser, posso desejar seu coração sangrando num pote de vidro, e usá-lo de decoração para a sala do trono. Então, a minha única dúvida é: porque você me enfrenta?

Erica a encarou sem expressão nenhuma:

– Pensei que soubesse sobre meu acordo com Ezekiel...

– E eu sei. Mas ainda não entendi o motivo de sua revolta contra mim. Porque lutar tanto contra minhas vontades? É pela coroa em minha cabeça, que você queria ter sobre a sua? É pelo amor de meu filho? É pelo meu modo de agir, talvez?

– É pelo dinheiro - a plebeia resmungou. - Sempre foi.

Orla riu:

– Eu posso te oferecer todo o dinheiro que quiser para que você pare de interferir nos meus planos, mas mesmo assim você fica do lado de Zeke, a todo custo... Não creio que seja o dinheiro que você busca aqui...

Erica desviou o olhar e viu, na manga do casaco de Orla, as manchas do sangue de Martin. Estreitou os olhos e percebeu, de repente, o que antes não percebia sobre si mesma: já não estava ali pelo dinheiro. Não mesmo.

– Quer saber? - A plebeia confrontou a rainha. - Você tem toda razão. Não é o dinheiro, é você. Vê-la perder seu trono, reduzida a ser mandada e não a dar ordens; vê-la ser uma personagem secundária desse castelo; ver a justiça ser feita e vingar o assassinato que cometeu contra o seu próprio filho, uma poderosa rainha sendo mandada para um calabouço e tratada como um cão. De fato, não há dinheiro algum que pague o prazer que eu sentiria com tudo isso.

Por uns segundo Erica regozijou-se do prazer de ver a rainha sem palavras ou reação, mas, no segundo seguinte, Orla pulava com suas unhas sobre ela como uma leoa irritada. A mulher a arranhou no rosto e Erica bateu forte com a cabeça na parede do quarto. Orla se recompôs, ajeitou sua longa trança escura e agachou-se ao lado da plebeia, segurando seu rosto ferido para ver melhor as marcas vermelhas de suas garras na pele macia da moça.

– Vamos ver como aparecerá no baile com essa linda marca hoje à noite - a rainha rosnou. Levantou-se e deixou o quarto.

***

Ezekiel vestiu-se inteiramente de negro. Duas criadas vieram pentear seu cabelo da forma mais formal possível. Aparentemente deve-se estar bem vestido para chorar em um funeral. O príncipe não entendia como Martin havia sido assassinado e não queria dar nenhum palpite contra sua própria mãe, mas, francamente, sabia do que ela era capaz.

Olhou-se no espelho e suas roupas o desgostavam. O brasão da família Bellafonte do reino de Liongrowl cosido em linha prateada em seu peito deixava tudo muito mais fúnebre e descolorido. Seu próprio rosto estava abatido e pálido.

Saiu do quarto e foi até o jardim do castelo. A grama bem verde e as roseiras hoje não estavam tão belas como no dia anterior. O caixão de Martin havia sido colocado em um dos corredores entre os canteiros repletos de rosas vermelhas como sangue e um tapete vermelho forrado no chão guiou os passos de Ezekiel até o corpo velado de seu irmão.

Dezoito anos, o príncipe pensou, toda uma vida pela frente...

Não se conformava com a morte. Martin nunca fora o irmão que Ezekiel pediu à Ophélia, e muitas vezes a diferença de opiniões entre os dois acabava em discussão, mas tinham acima de tudo respeito um pelo outro, que muitas vezes se convertia em uma amizade muito forte.

Agora, ali ao lado do corpo sem vida do rapaz, Ezekiel percebia como muitas daquelas brigas eram insensatas; não se lembrava nem mesmo do motivo de muitas delas!

Seu pai se aproximou do corpo acompanhado da rainha, que chorava e levava um lenço ao nariz repetidamente. Os dois vestiam roupas negras e pesados mantos acinzentados.

Uma fileira de criadas entrou com guirlandas de flores. Uma a uma depositou sua guirlanda no pedestal do caixão. Ezekiel não pode deixar de reparar que Erica não estava entre elas, mas imaginou que não estaria de qualquer maneira, não depois do que ocorrera em relação à rainha e ao assassinato de seu irmão. Olhou em volta procurando a moça até que a encontrou, longe do caixão, quase escondida atrás das roseiras. Ela não estava triste, mas sim enraivecida e exausta. O príncipe percebeu imediatamente três marcas estreitas e compridas em sua bochecha esquerda e imediatamente encarou Orla, que só tinha atenção para seu filho morto.

A cerimônia chegou ao fim, sendo encerrada com diversas homenagens e palavras de conforto aos pais e irmãos do falecido garoto, e um discurso do rei dizendo que o baile daquela noite não seria cancelado e que Ezekiel ainda estava disposto a encontrar uma noiva, o que não era inteiramente verdade, mas o príncipe apenas forçou um sorriso e retirou-se sem dizer nada.

Foi atrás de Erica até encontrá-la na cozinha do castelo, ajudando outras criadas a preparar os pratos especiais do jantar para o baile. A aproximação do príncipe gerou olhares desconfiados e maliciosos, cochichos e risadinhas e até mesmo a retirada das criadas. Ele e Erica ficaram completamente à sós. Já era de se esperar que houvesse suposições de algo entre os dois depois que Zeke defendeu a plebeia diante de seus próprios pais.

– O que aconteceu com seu rosto? - Ele quis saber.

Erica bufou:

– A sua mãe aconteceu com meu rosto.

– Eu imaginei... Jade pode consertá-lo.

Disfarçá-lo. Jade só vai cobrir os aranhões com um pouco de pó.

– Porque você tem de ser assim tão, tão, tão fria? - Ezekiel resmungou para a surpresa de Erica. Nunca ouvira o príncipe usar aquele tom de voz, nem mesmo contra a rainha. - Sinto muito. Eu só estou cansado. Tem muita coisa acontecendo... Não consigo suportar.

– Não estou sendo fria - Erica não aceitou enterrar a discussão. - Acho que tenho o direito de agir como eu bem entender já que sua mãe está prestes a desejar minha cabeça numa bandeja de prata.

– Ela não fará isso, mas é melhor que você saiba que ela irá testar seus limites até que você não suporte mais e dê a ela o que ela quer. No caso, ela quer que você fuja correndo como um cavalo assustado. Orla vai fazer qualquer coisa que estiver ao seu alcance para conseguir isso.

– E eu vou fazer qualquer coisa que estiver ao meu alcance para não dar a ela este prazer - Erica disse amargamente.

Ezekiel quase riu porque sabia que o alcance da rainha era muito maior que o de Erica.

– Ótimo - ele sussurrou. - Muito bom.

Uma das criadas bateu à porta da cozinha e, timidamente, pôs a cabeça para dentro.

– Majestade, precisamos cuidar dos afazeres para o baile...

Ezekiel sorriu:

– Ah, sim, claro! Não atrapalharemos mais.

Ele tomou Erica pelo braço e a guiou até a escadaria de marfim onde os dois haviam combinado seu primeiro plano no dia em que se conheceram, quando Ezekiel soube que Erica o odiava e sempre odiaria. E mesmo já sabendo de todo aquele ódio, não pode evitar apaixonar-se por ela...

No fim da escadaria estavam três homens virados de costas para eles.

– Deixe-me apresentar os guardas que a escoltarão à pedido da rainha. Eu os escolhi à dedo para que pudesse ir e vir pelo palácio sem que Orla desconfiasse de algo.

Os três homens se viraram e encararam a moça. Erica desceu as escadas e os analisou. Um era alto e magro, porém forte. O outro era baixinho, meio gordinho, mas com cara de poucos amigos. O terceiro guarda até se parecia um pouco com Ezekiel, mas tinhas os dentes tortos, ao passo que os do príncipe eram retos e brancos como pérolas. Os três guardas fizeram à ela uma longa reverência mas nada disseram, nem mesmo seus nomes.

– Agora, acho melhor irmos ao encontro de Jade. Há muito trabalho para ser feito, e minha mãe não pode dar falta de sua costureira por mais do que uma hora.

Erica assentiu e foram para a sala de costura de Jade, onde um vestido azul esperava ser vestido pela falsa princesa.


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