– Não acredito que você caiu como um patinho, Maxon! – gritou Clarkson.

– As provas são bastante claras! E uma equipe já está analisando o meu sangue e o sangue do Sebastian. Eu tenho o sangue de Gregory Illéa, por parte de Katherine e se Sebastian for mesmo descendente de Spencer, filho mais velho de Gregory, haverá uma pequenina compatibilidade. Pequena, mas real.

– Pare de dizer sandices! Ainda bem que Amberly não está mais aqui para ouvir você dizer essas coisas!

– Não diga o nome de minha mãe! Ela morreu de desgosto, o senhor não a merecia!

– Ora seu...

– Cala a boca!

Maxon deu um tapa na cara de Clarkson, e eles começaram a brigar. Estávamos na sala ao lado da saleta de interrogatório. Aqui havia um espelho, eu conseguia ver a outra sala, mas quem estivesse nela não me veria.

– Aspen, não acha melhor...

– Ele precisa descontar a raiva que sente pelo pai. Vamos esperar mais um pouco, May.

Minha mãe escondeu o rosto no ombro do meu pai, ela não gostava de ver brigas. Ah, minha família chegou faz meia hora, meus irmãos foram descansar, pois estava tarde. Aqui na sala estavam meus avós, meus pais, Logan e Kriss, além de Aspen.

Maxon estava acabando com Clarkson.

Uma contusão ali.

Um arranhão aqui.

E um olho roxo.

A coisa estava ficando feia, Clarkson estava tentando revidar com força total, deu um murro no rosto do filho. Tio Aspen correu para apartar a briga antes que Maxon se machucasse mais, ele o conduziu até a saída dizendo “Já chega, Maxon”, mas antes de se retirar, se aproximou de novo do pai e deu um soco no nariz de Clarkson, e um fiapo de sangue começou a sair. Aspen segurou o braço de Maxon e o puxou para fora da sala. Kriss foi ver como estava o rosto do marido, agora com um arroxeado próximo ao olho.

Dois guardas ficaram vigiando Clarkson, enquanto era a vez do interrogatório do Ned Moris. Passados cinco minutos, o canalha confessou, disse que não consegue dormir e que se arrepende pelo tiro que dera em America. Ele começou a chorar e soluçava que era uma vergonha para a família.

Olhei a ficha de Ned . Era Sete antes de ir pro recrutamento. A mãe enviuvou quando ele tinha doze anos, ele era o mais velho de 9 filhos. Pouco depois de ser convocado, a mãe ficou com câncer e não pôde mais trabalhar. O salário de um guarda é bom, mas não ajudaria muito para sustentar 8 crianças e pagar pelo tratamento de câncer. Olhei novamente as transações bancárias. O dinheiro que ele recebia mensalmente era uma quantia grande, a mãe dele deve ter tido o melhor tratamento possível e os irmãos, anos de conforto. Pude entender porque ele fez o que fez.

Ele precisava. Era a única alternativa que ele encontrou.

Senti pena dele, mas minha mãe sempre diz que sempre podemos encontrar a melhor saída para qualquer situação. Mas nem eu nem ela ficamos na situação dele.

Peguei a ficha de Ned Moris de novo. A mãe morreu depois de ter ficado com hemorragia após a realização da cirurgia para retirar o tumor do câncer. Nem o melhor hospital pode deixá-la viva e saudável. No fim, ele não precisaria ter matado minha tia. Um dos irmãos era um ano mais novo, poderia trabalhar e sustentar os demais. Um rapaz da base rebelde que também era Sete sustentava seus irmãos sozinho! Eles iriam conseguir sobreviver.

Moris iria receber prisão perpétua. Assim como Clarkson, pois haviam diversas provas e Ned iria testemunhar, dizendo que ele fora o mandante. Ambos estavam agora em uma cela especial que tinha no próprio palácio, vigiados por diversos guardas.

Estava tarde, os Shreave e minha família foram fazer um lanche antes de dormir. Iríamos resolver os demais assuntos pela manhã. Maxon e Kriss estavam abalados com tudo o que aconteceu, assim como meus avós e minha mãe, que tiveram que reviver todo o tormento da morte de tia America novamente.

Fui para meu antigo quarto, tudo estava arrumado, me arrumei para dormir e quando desabei na cama, adormeci rapidamente.

Acordei com gritinhos de três moças, que me olhavam sorridentes. Foi Diana quem quebrou o silêncio.

– Você estava tão fofa ontem! Foi lindo Line! Eu estava assistindo tudo da TV da cozinha!

Olívia cutucou levemente Diana e Louise a olhou com repreensão.

– Oh, desculpe alteza.

– Suas chatas! É Line sim! Minha primeira ordem é que vocês me chamem de Line! – disse com ar sério – Agora venham me abraçar, mas não é uma ordem, é um pedido.

– Own! Sentimos tanto sua falta! – gritaram em uníssono.

A porta se abre e uma figura morena entra saltitante e dando gritinhos. Era Téah, ela se juntou às minhas criadas no abraço gigante.

– Achei que ia me deixar! – falei.

– Eu pedi para ficar mais um dia, pelo menos até a tarde de hoje. Venha, quero te apresentar minha família! Mas antes, você tem que se arrumar, está com a cara toda amassada! Uma princesa não se porta assim. – sorriu.

Minhas criadas foram pegar um vestido para mim enquanto eu tomava banho. Do outro lado da porta do banheiro, Téah disse que após a cerimônia da escolha, ela encontrou Théo e ele a pediu em namoro. Claro que ela aceitou.

Saí do banheiro ainda um pouco molhada e a abracei, dando pulinhos.

– Você está toda molhada, garota! – a soltei e sorri – Mas eu não disse que queria parar com o abraço!

– Palhaça!

– Tem algo que também preciso dizer. Como eu estou namorando agora com o príncipe da França, nada mais lógico que ir morar lá. Ele disse que eu ficaria em um dos quartos de hóspedes e se quisesse, poderia levar minha família!

– Bom, então a gente se fala todo o dia. Poxa! Mal voltamos a se falar e já temos que nos separar de novo?

– Olha pelo lado bom, Line. Você já está garantida como dupla madrinha! Será minha madrinha de casamento e a madrinha da Tiana. Eu só quero uma garotinha pra cuidar!

– Então tá! O mesmo pra você! Será a madrinha do meu casamento e dos meus filhos! E eu não me importo em ter família grande! – rimos.

Terminei de me arrumar, com a ajuda das meninas que tinham acabado de chegar e depois desci. Falei com governantes que estavam lá desde ontem e conheci a família de minha amiga. Téah também tinha irmãos da idade de Scott e Catarina, eram a Lúcia e o Xavier, muito parecidos com Téah. Ela também tinha um irmão mais velho, Simon, que estava de papo com Louise. Ela me olhou e eu dei um sorriso malicioso.

Fui para o salão das refeições, não tinha ninguém lá, mas a mesa ainda estava posta. Acordei tarde. Peguei um pedaço de torta de maçã com canela e depois fui atrás de meus pais, uma criada falou que eles estavam no escritório de Maxon, fui até lá e os encontrei, junto com Logan, Kriss e Maxon, todos sentados em volta de uma grande mesa.

– Estávamos te esperando, gatinha. – falou papai. – Sente-se.

Sentei ao lado de Logan e por debaixo da mesa sua mão encontrou a minha e a apertou.

– Maxon recebeu agora a pouco o exame de sangue, nosso DNA tem um traço em comum, que seria o parentesco com Gregory Illéa, nosso tatataravô, ou algo assim. Já que sou eu que descendo de Spencer, o filho mais velho de Gregory, eu sou o legítimo rei de Illéa. Hoje à tarde, faremos uma cerimônia de coroação, mas não será a minha. – todos o olhamos abismados, minha mãe sorria. – Eu abdico do trono e May também, queremos apenas uma vida confortável, sem estresse. Logo, você, Aline, vai assumir Illéa. Será rainha daqui a poucas horas.

Meu queixo caiu. Fiquei parecendo o Logan quando viu minha foto no Jornal Oficial, no dia em que apresentaram as selecionadas.