POV Aline

Louise era uma rebelde, como eu. E não parecia que ela estava brincando.

– Eu não fui treinada como você, mas minha família apoia o movimento rebelde e ajudamos a levar os mantimentos que precisam. Olha Aline, eu recebi a tarefa de me certificar que está cumprindo seu trabalho.

– Mas se você está aqui, porque os líderes mandaram- me para cá? Poderiam ter aquilo que queriam há muito tempo!

– Acontece que sou uma empregada! Não posso fazer o que bem entendo! Uma selecionada, no entanto, tem mais liberdade para bisbilhotar o palácio! E você, é perfeita! É idêntica a America! O rei pode finalmente se tocar da situação do país com você aqui! Por que essa cara? Oh, não! Você não faz a mínima ideia do motivo do rei ter desmaiado?

Neguei com a cabeça, aquela conversa estava muito estranha.

– Line, sua tia America ia ser rainha. – fiquei pasma- Alguém a matou. O seu trabalho é descobrir quem fez isso. Por isso te mandaram para ver se havia algum documento escondido mostrando que pagaram um mercenário para fazer um serviço. Entenda, existiam duas facções rebeldes. Nós somos nortistas, lutamos, mas não matamos. E existem os sulistas, alguns deles matam qualquer um por prazer. Calma, eles são uma facção extinta. Os sulistas mercenários eram pagos para isso. Sua tia foi morta por um deles. Rei Maxon a amava e quando ela se foi, ele deixou de se importar com várias coisas. O país continua a mesma merda, pois o vagaba do Clarkson ainda manda em Illéa, Maxon é só uma laranja. Aline, você é muito parecida com aquela que ele amou, só você estando aqui, vai fazê- lo lembrar de tudo que ela defendia! E quando isso acontecer e você tiver as provas para indicar quem mandou assassinar America, poderá voltar para sua casa.

– Agora eu que tenho que te contar algo.

– Lô, seu Beto está vindo – interrompeu Caio – o Logan está junto, acho que vai montar seu cavalo.

– Tá Caio. Estamos de saída, eu vou por suas cartas aqui no bolso do meu avental, para não perceberem. Vamos Line, depois continuaremos de onde paramos.

Segui Louise para fora do estábulo, Logan nos viu pelo canto do olho e gritou meu nome. Virei para olhá- lo e ela fez o mesmo. Ainda estava tentando assimilar o que Louise disse mas botei meu melhor sorriso e forcei uma expressão calma. Fizemos reverências.

– Aline, você saiu cedo do almoço. Quer cavalgar comigo?

Tive que aceitar, entrei novamente no estábulo e um senhorzinho, seu Beto, trouxe uma égua preta que além de linda, parecia ser calma. Eu subi em um banquinho e montei nela. Logan havia ido buscar seu cavalo e de longe o ouvi dizer:

– Ah, você está de vestido!

– Não se preocupe, eu estou de short por baixo!

Ele apareceu montado em um cavalo castanho e branco. Saímos do estábulo e começamos a cavalgar rápido. Eu estava assustada, nunca vira um cavalo antes, muito menos montei em um, mas acho que consegui pegar o jeito. Começamos a desacelerar.

– Por que você está usando um short por debaixo do vestido?

– Porque eu me sinto incomodada quando uso um vestido, eu não costumo usar e eu me sinto melhor com um short por baixo. Calças são melhores, mas não tenho permissão para usá- las.

– Acho que devo falar com suas criadas. Por mim, você pode usar o que quiser, contanto que seja nas horas que esteja em seu quarto, ou comigo. Minha família não iria achar adequado.

– Tudo bem. Obrigada Logan!- de repente surgiu uma pergunta que eu queria fazer – Logan, nos conhecemos há pouco tempo, vou dizer algo, tipo comida, e você diz a comida que lhe vier a cabeça, ok? – ele assentiu. – Vamos começar! Cor?

– Azul. Por falar nisso, essa cor combina bastante com você. Use mais roupas assim! Destaca seus olhos e cabelo. – corei.

– Valeu. Doce?

– Torta de morango! Um dia você ainda vai provar uma!

– Livro?

– Harry Potter. – nossa, esse livro é bem velho! Mas a história é boa.

– Comida?

– Salmão. – sorri, havia adorado o peixe.

– Música?

– Hey Jude.

– Banda?

– Beatles! – lembrar de guardar essa informação. Vai ajudar no trabalho.

– Animal?

– Coelho.

– Hobbie?

– Leitura.

– Profissão?

– Professor.

O olhei incrédula. Essa brincadeira dizia muito sobre ele. Ele vai comandar um país e a primeira coisa que vem a cabeça quando perguntei profissão é a palavra professor. Ele percebeu meu olhar e tentou explicar.

– Eu acho que ser professor seria um trabalho legal. Se eu lecionasse português, poderia mostrar vários livros aos alunos.

– Legal.

– Agora é a minha vez! Cor?

– Bege.

– Doce?

– Bolo de chocolate.

– Livro?

– Mil e uma noites – eu também gosto de livros antigos. Mas esse é bem antigo, eu sei!

– Comida?

– Salmão também.

– Música?

– It’s my life. Minha mãe adora e eu passei a gostar. Você não é o único que conhece músicas antigas, vossa alteza!

– Banda? Ou músico?

– Bon Jovi.

– Animal?

– Borboletas.

– Hobbie?

– Tocar violino e piano.

– Sério?

– Mamãe era uma cinco, quando visitava meus avós, eles me ensinaram. E vovô me deu um violino. O piano tem na igreja e as freiras me deixam usá- lo às vezes.

– Profissão?

– Musicista.

– Ei! Agora que me toquei! Você perguntou a música e a banda que me vem à cabeça! Sua espertinha! Eu não deveria te ajudar a organizar a minha festa!

– Logan, você disse porque quis! E por que você não pode se intrometer na organização da sua própria festa?

Ele suspirou e disse com tom de aborrecimento:

– Porque as festas tem que ser a altura da realeza, pois vão vir pessoas importantes de outros países. Vocês tem que organizar pensando no geral. – explicou. Então teríamos que agradar aos outros, menos ele próprio. – Ou seja, nada de Beatles. Selecione músicas clássicas. Ok?

– Entendido.

Uma ideia começou a surgir na minha cabeça. Olhei o relógio no pulso e percebi que teria que me encontrar com as meninas no quarto da Elen. Despedi- me de Logan e voltei ao palácio.

Tomei um banho, vesti uma roupa simples e fui para o quarto próximo ao meu. Todas já estavam lá. Em duas horas já tínhamos selecionado todas as músicas; no quarto de Elen havia alguns instrumentos e ela pegou o clarinete e eu sentei no banco em frente ao piano e compusemos algumas melodias. Depois de muita discussão, acabamos aceitando a ideia de Téah de por três músicas de balada no repertório, para a festa não ficar sem graça. Acho que rainha Kriss não vai gostar da ideia.

Como o certo seria uma criada passar a noite no meu quarto, Louise se propôs. Teríamos que conversar. Depois de um tempo o castelo já estava em profundo silêncio. Que foi quebrado por mim.

– Eu sei que está desperta. O que eu queria te dizer é que eu não pretendo sair depois de ter concluído a missão. Eu quero aprender a gostar de verdade do Logan.

– Oh! Bom, eu te conheço há pouco tempo, mas você se mostrou ser alguém bem legal. Eu e meu irmão somos amigos do príncipe, ninguém sabe é claro, mas Logan é realmente uma boa pessoa. Ele merece alguém bacana, que combine com ele. Mas Line, querida, a rainha não gosta de você. Clarkson viajou, mas ele vai voltar na festa de aniversário e garanto que quando lhe ver, mesmo que você não seja America, ele irá fazer de tudo para que saia. Mas quero que saiba que tem meu apoio com seu romance com Logan.

– Louise, diga- me, como se tornou uma rebelde? Meus pais são e eu cresci no meio da sociedade rebelde. Mas e você?

– Meus pais também são. Minha mãe foi uma selecionada, mas foi pega com meu pai, que era um soldado. Eles viraram Oito e um dia, os rebeldes os convocaram e eles decidiram apoiar a causa. Sabia que eles teriam morrido se não fosse a bondade do Maxon? Ele escondeu meus pais aqui no palácio. Mamãe diz que com o tempo, ele se tornou amargo e depressivo depois da morte de America. Por isso que Clarkson manda ainda. Ninguém sabe, mas quem decide tudo é ele, não faria muita diferença, Illéa continuaria horrível se um ou outro estiver no comando. Maxon não se importa mais com as questões do país e o Clark só pensa em seu bem estar. Os rebeldes governariam o país muito bem em minha opinião. Mas você sabe que precisamos dos diários de Gregory Illéa. Temos que entender como tudo isso foi criado.

Paramos de falar até que lembrei algo.

– Hey Louise, hoje quando estava com Logan, me surgiu uma ideia. Que tal fazermos uma segunda festa para um príncipe? Porque a festa oficial vai ser uma droga para ele, os todos poderosos de vários países podem até gostar, mas ele não vai.

Ela sorriu para mim, no dia seguinte contei o que pretendia à Olívia e Diana. Agora temos uma festa surpresa a ser planejada!