Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 166
Meninas falam demais - 2/2


Notas iniciais do capítulo

Ah, meninas... Se o Cast descobre....



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/452438/chapter/166

# 04/04 #

“Porque eles estavam juntos.”

Emília daria qualquer coisa para não ter ouvido o que Iris havia dito. Sua cara de surpresa foi tão evidente que até Violette notou. Parecia até que as duas podiam ouvir o bater acelerado do coração da amiga.

— Namorando não sei dizer, porque segundo a Ambre os pais deles proibiram os dois de namorarem sério até terminarem o Lyceé, e o Nath não desobedece os pais por nada. Ao contrário da Ambre. — contou. — Mas tinha alguma coisa entre eles. O Nath não dava bandeira e era super discreto, mas a Mel nem tanto. Eu mesma só os vi se beijando uma vez, no grêmio, e quando me viram logo se separaram e ele tentou disfarçar. — aquelas palavras machucaram o coração de Emília. — Mas ela foi o par dele na formatura e quem foi diz que eles estavam bem íntimos; então não tem como negar que, no mínimo, estavam ficando.

— E v-você acha que eles ainda estão juntos?

— Eu realmente não sei, Sol. Se ainda tiver alguma coisa entre os dois eles escondem bem. A Mel até dá muita bandeira, pois morre de ciúme dele. Mas o Nath parece ser indiferente. Na verdade a única coisa que eu vejo aqueles dois fazerem juntos é trabalhar.

— Talvez o trabalho no grêmio seja a desculpa perfeita para eles ficarem juntos, já que os pais dele não querem que ele namore. — comentou Sol, cabisbaixa e com a voz triste.

— Pode ser.

— S-Sol? E-Está tudo bem? — Vio notou o semblante da amiga pesar e os olhos enxerem d’água. Iris se deu conta do que estava acontecendo.

— Ai, Baptême[1]. V-Você não queria saber do Castiel. V-Você está curiosa por causa do Nath... V-Você gosta dele! — de tão sem graça sua face corou e ela acabou gaguejando. Ela tinha certeza que o Cast gostava da amiga e uma enorme ponta de esperança de que Sol também sentisse alguma coisa a mais por ele. Ela errou feio, embora, lá no fundo, já desconfiasse um pouquinho.

Emília queria negar, mas não conseguiu. Se ela abrisse a boca para dizer uma palavrinha que fosse ia acabar chorando. Ela já estava quase chorando.

— E-Está vendo, Iris. É por isso que não devemos falar da vida dos outros. S-Se não tivéssemos contado nada ela não estaria triste. D-Desculpe-nos, Sol. Você está magoada e a culpa é nossa.

Emília até tentou dizer que a culpa dela estar triste não era delas, mas dos fatos, mas não conseguiu, ao pensar em falar começou a chorar. Violette a abraçou e olhou para Iris, chateada por ter magoado a amiga. Iris ficou sem ação. Nada que dissesse ia apagar o que ela havia contado.

Depois de chorar por alguns minutinhos, mais calma, Emília acabou se abrindo com as amigas, contando inclusive que desconfiava que a Mel tinha alguma coisa com o Nathaniel, pois ela os viu juntos no cinema, beijando-se, e Mel havia, de certa forma, confirmado, sem dizer claramente, que estavam juntos, numa conversa de banheiro. Ela contou ainda que por vezes Nathaniel dava a entender que tinha interesse em sua pessoa, mas como ela nunca seria capaz de ficar com o namorado de uma amiga, sufocou o que estava sentindo e decidiu esquecê-lo.

— V-Você acha que ele gosta de você?

— E-Eu não sei, Vio. Ás vezes acho que sim, outras que não... Eu estou muito confusa.

— Isso não importa, Sol. Mesmo que eles dois não tenham nada sério e que ele sinta alguma coisa por você, seria muita maldade ficar com ele. A Mel sofreria muito.

— M-Mas e se ele gostar da Sol e não tiver mais nada com a Melody? S-Seria injusto pedir a Sol que não fique com ele por causa da Melody. — Vio podia ser quieta e tímida, mas acreditava no amor e que as pessoas deviam ser felizes.

— Mas a Mel é apaixonadíssima pelo Nathaniel há anos. E mesmo que eles não estejam juntos, é sacanagem ficar com o garoto que uma amiga da gente gosta, ainda mais se ela já tiver se envolvido com ele. — Iris acreditava no amor, mas não aceitava a ideia de amigas compartilharem ex ou ficarem com um garoto que outra gosta, de nenhuma forma.

— M-Mas ainda assim é injusto. P-Por que a Sol tem que sofrer para a Melody não sofrer? E-Ela não é mais importante que a Sol. — colocou-se. Violette estava segura do que da sua opinião, embora insegura por estar falando daquela forma. — E-E o Nathaniel? E-Ele só pode ser feliz se for com a Melody? I-Isso é injusto.

— Eu também acho injusto, mas elas são amigas e a Sol sabe que ele está com a Mel. Ela mesma os viu juntos no cinema. — insistiu Iris, vendo apenas um lado da moeda, sem conseguir enxergar pela perspectiva do outro. — Sinto por dizer isso, Sol. Mas você deve esquecê-lo. Seria uma dupla traição se vocês dois traíssem a confiança da Mel.

— N-Não diga isso assim, Iris. — Sol voltou a chorar e Vio se chateou. — E-Ela está sofrendo.

— D-Desculpe-me, Sol. E-Eu fui insensível. — envergonhou-se. O sofrimento da mãe ao ver o ex-marido iniciando uma relação com uma amiga deles, mesmo depois de já estarem divorciados, a fez ficar meio insensível aquele tipo de situação.

Sol apenas respirou fundo e passou a mão no rosto, secando-o.

— É que tudo isso me faz lembrar a minha mãe. Quando meu pai começou a namorar uma amiga que eles tinham em comum ela ficou super arrasada, apesar de já estarem separados. E também tem o Cast. O que aconteceu com a Debrah e o Nath fez ele sofrer muito e mudar. Ele ficou mais fechado e não quis mais saber de se envolver com as garotas. Para ele nenhuma é digna de confiança.

— M-Mas isso não é por culpa do Nathaniel, Iris. — interferiu Vio, sem graça por cortar a amiga e contradizê-la. Ela não gostava de fazer aquilo, mas não queria que Sol achasse que Nathaniel era um calhorda sem escrúpulos.

Violette desconfiava da versão da Debrah. Para ela a antiga amiga consentiu no beijo e depois se arrependeu e não teve coragem de contar a verdade para o namorado.

— A-A Debrah deixou o Castiel logo depois, m-mesmo tendo jurado que gostava dele e que o Nathaniel é quem a agarrou.

— D-Do q-que você está falando, Vio? Então essa tal D-Debrah mentiu mesmo?

— E-Eu não sei, Sol.

Vio não queria ser leviana e afirmar o que não tinha certeza. Mas ao ver o olhar triste da amiga acabou falando o que achava que tinha acontecido.

— A-A D-Debrah foi convidada para ser vocalista de uma banda de rock teen e gravar um CD, m-mas para seguir carreira teria que abrir mão da escola por causa da turnê de divulgação, mas isso a afastaria do Castiel. E-Eu acho que ela ficou confusa e nisso acabou ficando com o Nathaniel, m-mas depois se arrependeu e ficou com medo de dizer a verdade ao Castiel, porque ele os viu juntos.

— V-Você também acha que foi isso, Iris?

— B-Bem, pode ser que foi isso. Logo depois a Debrah rompeu com o Castiel porque não acreditava em namoro a distância, mesmo ele querendo continuar, e ainda foi embora sem nem se despedir dele. — concordou a ruiva com a amiga desenhista. — Ele nem foi à formatura dele, preferindo passar o verão todo com o tio, e quando voltou estava mudado. Até o cabelo ele tingiu de vermelho. — contou. — Ele nunca mais falou dela. Na verdade ele odeia falar dela.

— E-Então o Nath pode não ser um safado.

— Supondo que a Debrah consentiu, isso não muda o fato do Nathaniel ter traído a amizade do Cast.

— M-Mas, Iris. S-Se o Cast odeia tanto falar dessa garota ela pode ter aprontado outra coisa com ele que ninguém sabe. Talvez ela é quem seduziu o Nath e depois botou a culpa nele.

Tanto Iris quando Violette acharam que a amiga estava tentando arrumar uma desculpa para continuar gostando do Nathaniel, pois embora elas não soubessem o que realmente acontecera naquele dia, não acreditavam que a Debrah seria capaz de tamanha safadeza. Elas ainda gostavam da antiga amiga, apesar dela nunca mais ter dado notícias.

— N-Não vamos mais falar disso, Sol. Nós viemos aqui para falar da formatura, então esqueçamos tudo isso e falemos da formatura. — Violette não queria dizer mais nada sobre aquilo, pois não queria ver a amiga sofrer mais. Sol também queria esquecer aquilo, então concordou em falarem sobre a formatura.

— E o que vocês queriam me contar? O que foi dito na reunião?

— B-Bom... na verdade... — Iris ficou vermelha como pimentão. Ela não tinha ido lá pela formatura. — N-Nós não viemos pela formatura. Eu queria saber do Lysandre. — contou com um sorriso minguado. — Eu fui até a casa dele, mas o Leigh disse que ele estava descansando e pediu que eu falasse com ele na escola. Eu liguei para o Castiel, mas ele mandou eu perguntar paro Lysandre como ele estava e depois desligou na minha cara. Ai eu lembrei de você, então convenci a Violette a vir aqui comigo com a desculpa da formatura. — Violette olhou para ela sem acreditar. — D-Desculpe, Vio, por mentir pra você.

Violette aceitou o pedido de desculpas. Ela sempre aceitava as desculpas das amigas, mesmo quando se sentia enganada, o que era o caso no momento, magoada ou ofendida, o que não era o caso.

— Você gosta do Lysandre, Iris? — perguntou Sol.

— Q-Quem, e-eu? — gaguejou, sem graça. — É c-claro que não. N-Nós somos apenas amigos e até já saímos juntos algumas vezes, ele, eu e o Castiel. E-Eu só estava preocupada. — justificou-se, querendo desfazer o mal entendido.

— Eu não sabia que você eram tão amigos assim. Pra mim ele só tinha esse tipo de amizade com o Cast.

— Na verdade, nós não somos "tããão" amigos assim. Somos apenas amigos. Como sou muito amiga do Cast acabamos tendo muito contato, mas ele nunca se abriu muito comigo. Sempre foi muito discreto e formal. Por isso eu fico sem graça de falar com ele sobre o que aconteceu. Ele pode achar que eu estou sendo enxerida.

— Entendi. Mas como eu já disse antes, não conversei muito com ele. Acredito que ele esteja bem, pois parecia bem; cansado e abatido, mas bem. Acho até que amanhã ele estará na escola.

— Que bom. Eu o acho muito legal, estranho, mas legal.

— E do Castiel? — perguntou Sol, querendo apenas brincar com a amiga, para esquecer o papo sobre aquele triângulo amoroso confuso.

— C-Como assim?

— Você entendeu, Iris. Você gosta do Castiel?

— C-Claro que gosto, mas como melhor amigo e só isso.

— Que pena. Eu acho que vocês dois combinam. Você é a única que ele trata bem e que ele ouve sem fazer deboche o tempo todo.

— E-Eu também acho que você e o Cast combinam. — concordou Violette, com um sorriso, cheia de timidez.

Embora o que Iris sentisse pelo amigo ruivo fosse pura amizade, ouvir aquilo a deixou ruborizada, pois já fazia um bom tempo que ela era colorida.

— V-Vamos mudar de assunto. Que tal falarmos mesmo da formatura.

— Espera ai. Você está fugindo do assunto. Por acaso o Castiel já deu em cima de você, Iris? — Sol questionou, com um sorrisinho malicioso. Ela não pensava daquela forma, só estava mesmo querendo rir.

— É c-claro que não! — afirmou, sem muita segurança. Ela se perdia toda quando se sentia desconfortável.

— Então foi você que jogou charme para cima dele? Ah, Iris... Por essa eu não esperava!

— P-Por favor, Sol. A-A Iris está ficando sem graça. — Violette já estava ficando sem graça pela amiga ruiva com a persistência de Emília. — Ela não...

— E-Está bem. E-Eu conto. M-Mas vocês duas têm que jurar que não vão contar para ninguém. — Violette até engoliu o que o que estava dizendo.

Rapidamente Emília jurou que de sua boca nunca sairia uma só palavra sobre o que a amiga contasse e fez Violette jurar o mesmo, se bem que Violette nunca contaria de qualquer forma.

— N-Nós ficamos de vez em quando, m-mas é só por curtição. — contou, sem rodeios. Suas bochechas queimavam. — N-Nós não gostamos um do outro dessa forma. S-Somos só amigos e eu estou falando a verdade.

— Baptême! Eu nunca podia imaginar isso. Eu só estava te provocando porque queria ver você ficar sem graça.

— E-Então você não estava desconfiada?

— Não! Eu realmente estou surpresa, Iris.

— E-Eu também estou surpresa. — disse Violette, recolhendo seu skethbook do chão, tendo-o deixado cair ao ouvir a revelação da amiga. — V-Vocês nunca agiram como se tivessem alguma coisa.

— I-Isso porque nós não temos nada!

— C-Como n-nada? V-Vocês ficam! E-Eu não conseguiria b-beijar um garoto de quem não gosto, s-só por beijar. — disse Violette, num tom mais alto, o que a fazia gaguejar ainda mais.

— M-Mas eu gosto dele. Q-Quer dizer, não gosto, n-não daquele jeito, s-só gosto como amigo e d-de beijar ele... — tentou se fazer entender, atrapalhando-se toda. — AI, VOCÊS ESTÃO ME DEIXANDO CONFUSA. — proferiu, levantando do banco, com medo das amigas acharem que ela nutria outro tipo de sentimento pelo melhor amigo. — E-Eu não devia ter dito nada. O-O Cast vai me matar se descobrir que eu falei mais que a boca hoje!

— Ele não vai descobrir nada, nós sabemos guardar segredos, não é Violette!?

— É claro. — concordou. — Mas se você acha que não deve nos contar, eu entendo. Não precisa contar. — falando tão baixo que as amigas quase não ouviram. Mas essa era a única forma dela não gaguejar. Ela odiava sua timidez.

— E-Está tudo bem, Vio. Eu confio em vocês duas.

— Então nos conte. Como foi que isso aconteceu? Quem deu o primeiro passo? — perguntou Emília, cujos olhos brilhavam de curiosidade.

Iris sentou novamente ao lado das duas curiosas e repirou profundamente para conseguir falar sobre aquilo sem ficar nervosa, afinal de contas, elas eram suas amigas de confiança, não tinha o porquê ficar nervosa. Além do mais, a Kim e o Lysandre já sabiam, então mais duas amigas não ia ser problema, desde que Cast não descobrisse.

— Foi numa brincadeira. Ele, eu e o Lysandre estávamos numa pizzaria rodízio e fizemos um jogo. Só pedíamos pizzas exóticas com recheios malucos e aquele que não conseguisse comer tinha que dar um selinho na pessoa que tirasse no palitinho. — contou. — Então. Eu perdi e tirei o Cast no palitinho. Depois, quando ele me levou para casa nós acabamos nos beijando para valer e desde então a gente fica quando dá vontade. Mas é só de vez em quando.

— M-Mas você não sente mesmo nada a mais por ele? — Violette realmente não conseguia pensar que uma amizade colorida fosse possível.

— Não, Vio. Eu gosto muito do Cast, mas é como melhor amigo mesmo. Nós nos conhecemos desde o primário. O pai dele e o meu são amigos desde a escola de pilotos. Ele me protegia dos garotos idiotas na escola primária que me zoavam só por eu ter uma pinta enorme no rosto. Quando meus pais se divorciaram foi ele quem me ajudou a superar.

— Eu não sabia que você tinha uma pinta no rosto. — comentou Vio, que conhecia a amiga desde o 6ème, tentando imaginar aquele rosto que já desenhou tantas vezes, com uma pinta enorme, provavelmente na bochecha. Quando pensava na sua arte ela não gaguejava, pois sua mente eliminava os medos e só se focava nos traços.

— Eu tirei antes de te conhecer. O médico disse que ela era irregular e maior que o normal, então havia o risco dela virar um câncer de pele com o tempo.

— Nossa, Iris. Que perigo.

— Nem todas as pintas são perigosas, Sol. A minha podia ser ou não, mas meus pais concordaram com o médico e preferiram tirar, para não arriscar. Hoje eu vejo que foi melhor para a minha saúde, mas na época eu só queria me livrar dela pela aparência mesmo. E o bom é que nem ficou cicatriz.

— Seu pai e o do Cast trabalham juntos?

— Não, Sol. Na verdade ele é piloto de helicópteros e é instrutor na escola de pilotos que tem com a nova mulher dele, em Marselha. Eles moram lá.

— Ele casou com a tal amiga que você falou?

— Não. Eles ficaram pouco tempo juntos. Ele conheceu a esposa dele em Marselha. Ele fazia taxi aéreo para a empresa do pai dela.

— Você não liga dele ter se casado de novo e morar longe? — foi inevitável para Sol lembrar do seu próprio pai e comparar as situações em sua cabeça.

— Quando ele deixou minha mãe eu fiquei triste, mas o Castiel ficou do meu lado e me ajudou a superar. Quando ele namorou a amiga deles eu fiquei chateada pela minha mãe, porque eu vi que aquilo a magoou, mas na verdade, não afetou a minha relação com ele, que estava sempre por perto. Mas quando ele começou a namorar a Giovana eu fiquei com muita raiva, porque ele passava mais tempo com ela do que comigo e com meu irmão. Ele deixava de vir nos ver para ficar com ela. Foi o Castiel que resolveu tudo. Vendo como eu estava deprimida ele ligou para o meu pai e contou como eu me sentia. Meu pai me procurou e se desculpou. Ele disse que o Castiel o chamou de idiota e falou que ele não me merecia como filha. — contou, com um sorriso nos lábios, lembrando daquele dia. — Eu conheci a Giovana e vi que ela era bem legal. Hoje nos damos bem.

— Que legal da parte do Castiel. Eu nunca o imaginaria fazendo algo assim. Ele deve mesmo gostar muito de você. — Emília ficou mais surpresa que antes.

— V-Você não tem medo desse colorido entre vocês acabar estragando a amizade? — perguntou Violette, que não arriscaria uma amizade tão forte por uma curtição de momento.

— Não. Nós já conversamos muito sobre isso. Na verdade eu queria que ele se apaixonasse por uma garota de novo. Ele sofreu muito por causa da Debrah. Chateia-me ver que por causa dela ele acha que nenhuma garota valha a pena.

— Então, depois da Debrah ele só ficou com você?

— Que nada, Sol. Ele ficou com várias meninas, mas nada sério, só curtição de momento e nada mais que isso. Mas depois ele cansou disso e resolveu ficar na dele. Foi quando começamos a ficar. E ele tem outra amiga colorida. Uma garota mais velha, filha da vocalista da banda do tio dele, e que ele fica de vez em quando. Mas também é só curtição. Ele não cria laços. Eu fico triste por ele. Eu queria que ele voltasse a ser como antes daquilo acontecer. Ele era mais compreensivo e mais paciente com as pessoas. Ele sempre foi debochado, irônico e até cabeça quente, mas não era tão grosseiro como agora, nem fechado; ele dava um voto de confiança para as pessoas que se aproximavam dele, coisa que hoje ele não faz com ninguém, quer dizer, quase ninguém. O Lysandre e ele se deram bem logo que se conheceram, mas foi só ele.

— Mas ele confia em você. — disse Violette. Qualquer hora as amigas teriam que usar aparelho auditivo de tão baixo que ela falava.

— Mas é porque a nossa amizade é anterior a tudo o que aconteceu.

— Do jeito que você fala dele, não tem como duvidar que são melhores amigos. — comentou Sol, admirada pelo carinho com que a amiga falava do ruivo. — Amigos coloridos, mas amigos. — brincou.

— Somos tão amigos que mesmo quando eu quero guardar um segredo dele, não consigo.

— I-Isso é ruim. Q-Quer dizer, é legal, m-mas agora pode ser ruim.

— Como assim, Vio? — perguntou Iris, sem entender a cara de preocupada da amiga.

— Se você não consegue guardar segredo dele, vai acabar contando que contou para a Sol sobre a história dele com a Debrah e o Nath e que contou pra nós duas sobre vocês dois. E-Ele vai ficar uma fera com você.

— Ops. E-Eu não pensei nisso. Bon sang[2]! — amuou-se. Ela tinha pisado na bola com o amigo e sabia que ia custar caro. Mas como ela nunca tinha feito nada do tipo em relação ao ruivo, não sabia como ele reagiria. — P-Podemos falar de outra coisa agora. E-Eu não quero mais falar do Cast.

— Está bem. — concordou Emília, mas por quase dois minutos elas ficaram em silêncio, sem assunto. Iris preocupada com o amigo, Sol tentando não pensar na sua prova perdida nem no Nathaniel e Violette se perguntando o porquê não ia para casa, visto que já estava noite, lembrando que o pai havia saído e ela não gostava de ficar sozinha.

— Foi falado alguma coisa de diferente na reunião de formatura? — perguntou Sol, quebrando o silêncio.

— E-Eu não lembro. — respondeu Iris, que na verdade não parava de pensar na mancada que havia dado. — O Nathaniel falou do orçamento, que está apertado por conta de cinco desistências, e por conta disso algumas coisinhas terão que ser contadas. Mas ele disse que vai optar por coisas que são dispensáveis, então não vai diminuir o brilho da festa. — informou-a. — Ele também lembrou que os alunos que reprovarem ou não puderem participar do baile por algum motivo não serão reembolsados, pois o orçamento foi feito em cima do total. Ele mostrou o controle contábil do quanto já entrou de dinheiro e do que já foi gasto e lembrou todo mundo que aquele que estiver de DP poderá participar do baile, mas não poderá participar da Colação de Grau, nem do café oferecido aos pais e formandos, salvo se fizer as DPs no intensivo de verão.

Ouvir aquilo fez Sol lembrar que não fez a prova substitutiva e por isso ia ficar de recuperação em Geografia, correndo o risco de ficar de DP na matéria.

— O que foi, Sol? Por que você ficou triste de novo? É-É por que eu falei do Nathaniel? D-Desculpe. Eu esqueci que...

— Não é isso, Vio. É-É que eu fiz uma burrada enorme e agora não sei como resolver. E-Eu nem sei como contar pra minha tia porque ela vai se zangar e nós não estamos muito bem.

— Você quer falar disso? Se não quiser, está tudo bem.

— M-Minha tia e eu brigamos. E-Ela não é como eu imaginava. — disse às amigas, chorosa. Ela não aguentava mais remoer aquilo sozinha, precisava desabafar com alguém. — E-Ela perdeu o emprego e não me contou, f-ficou mentindo pra mim por dias. E q-quando eu fui para o hospital quase fui levada para o... C-Conselho Tutelar porque ela tinha sumido. — contou, em meio a um suspiro e outro, ainda muito magoada com a tia. — E-Ela apareceu pra me buscar em cima da hora e estava com os olhos pesados. E-Ela acha que eu não percebi que ela tinha bebido, m-mas percebi sim. Minha mãe c-costumava sair para “desestressar” com as amigas de vez em quando. Eu reconheço q-quando alguém está “alegrinha”.

— N-Nossa, Sol. Que chato. — comentou Violette. Ela até queria dizer algo que consolasse a amiga, mas não tinha ideia do quê, pois podia acabar falando alguma besteira.

— Mas você dizia que sua tia sempre foi muito amorosa com você, Sol. Ela não deve ter feito essas coisas por mal. — disse Iris que viu a mãe ficar estranha quando o pai saiu de casa. — Ela deve estar com algum problema. Quando meus pais se separaram minha mãe ficou estranha. Ela não contava nada para mim e eu achei que o problema era comigo, mas na verdade ela não queria me preocupar e nem me magoar.

— Mas ela contou pro Castiel! — proferiu, exaltando-se, levantando do banco e indo até a pequena cerca que fechava a varanda, descascando, com a unha, a velha tinta branca que ainda cobria um pedaço dela. — Ela confia mais nele que em mim!

— C-Calma Sol. Não deve ser nada disso... — tentava Iris, inutilmente, fazê-la refletir um pouco, sendo interrompida pela amiga, que para tirar uma ideia fixa da cabeça, só colocando outra no lugar.

— N-Não a defenda! Q-Quando eu menti pro Cast por causa do Nath... sghn... — fungou — e-ela me tratou como se eu tivesse cometido um crime e logo depois eu descubro que ela estava mentindo para mim e ele sabia. — proferiu, mais chorosa, limpando os olhos lagrimejantes com o dorso da mão. Violette e Iris preferiram nem perguntar que história era aquela de ter mentido para o Cast por causa do Nath. — E e-eu tenho certeza que ela me e-esconde outras coisas. — disse, lembrando da conversa com André. Ou Maitê era lésbica ou ainda tinha alguma coisa com o ex-namorado e atual marido do bartender, que era o que a garota realmente acreditava.

— S-Sol, não fica assim. — Violette já estava quase chorando por ver a amiga daquele jeito. Emília estava muito sensível, mais que o normal, e ela achava que era por causa do Nathaniel. Como ela não podia brigar com ele ou com a Melody estava direcionando toda sua mágoa para a tia, mas ficou com receio de dizer isso e esta se chatear com ela. De certa forma ela não estava errada.

— C-Como eu não vou ficar assim!? C-Como se não bastasse tudo isso, eu n-não fiz a prova substituti-iva de Geografia hoje e agora eu v-vou ficar de DP... e n-não vou poder colar grau com vocês porque minha tia não v-aai poder pagar para eu fazer o i-intensivo no verão. — revelou. Iris e Violette ligaram tudo. — E eu n-nem posso contar pra e-ela... p-porque ela vai brigar comigo... sghn... E-Ela não queria que eu fosse na casa do Lys hoje cedo por causa da prova e e-eu desobedeci... Ela n-não vai entender! — a amiga estava cheia de medos e por isso estava daquele jeito. E era exatamente isso, Sol estava, além de direcionando suas frustrações amorosas para a tia, com medo de não esquecer o Nathaniel, medo de ser fraca e trair a amiga com ele, medo da tia ser como a mãe dela e acabar deixando-a de lado cedo ou tarde, medo de não se formar com os amigos, de perder a bolsa de estudos pela DP e ter que sair da escola.

Vendo que conversar com ela não ia adiantar muita coisa, as duas a abraçaram.  Um gesto valia mais que mil palavras.

~~~~§§~~~~

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

[1] Baptême - Caramba.

[2] Bon sang - droga; mas que droga; que droga. Se a expressão for dita com raiva, nervoso, ira, é "zut".



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre Segredos e Bonecas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.