Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 165
Meninas falam demais - 1/2




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Emília havia matado aula, mais que isso, ela havia dado o cano na escola e perdido sua prova. Por uns 5 minutos ela apenas olhou para a maçaneta da porta, com o coração disparado, morrendo de medo de entrar. O que ela diria à tia? Já passava das 18h00. Será que ela já estava em casa? Criando coragem, vagarosamente ela encaixou e girou a chave, rezando para o trinco não estar fechado, e entrou em silêncio. Por sorte não tinha ninguém nas salas ou cozinha, mas a porta do quarto de Maitê estava fechada; ela podia estar lá dentro, dormindo, lendo, ou mesmo no laptop, trabalhando. Era melhor ir direto para o quarto, antes de ser surpreendida. Ela precisava de tempo para pensar em como contar para a tia que perdeu a prova.

— AAH! — gritaram ambas ao mesmo tempo. Os corações das duas quase saíram por suas bocas assim que Maitê abriu a porta do quarto, no exato momento em que Emília passou diante dela, na ponta dos pés. 

— Q-Que susto Emília. Onde já se viu, andar pela casa como uma sombra. — disse Maitê indo para a cozinha.

— É q-que eu achei que a senhora estava dormindo, por isso não fiz barulho.

— Está com fome? Vou fazer um lanche natural para mim.

— N-Não. — Sol estava morrendo de medo de ela perguntar como tinha se saído na prova.

— Você viu o Lysandre? — mas Maitê ia dar um tempo para ela se preparar para contar sem que ela perguntasse. Tempo que não passaria daquela noite.

— V-Vi sim.

— Como ele está?

— B-Bem.

— Quem bom. Isso me deixa feliz. — disse, enquanto pegava algumas folhas de alface, um tomate e ricota na geladeira. — Fora isso, como foi seu dia? Correu tudo bem na escola?

— M-Meu dia? — a porca estava para torcer o rabo. Sol não tinha como fugir daquela pergunta e nem enrolar. Ou ela contava a verdade ou mentia. Ela não queria mentir, mas também não queria levar sermão. — M-Meu dia foi...

Tlililililim tlililililim.

— Pode deixar que eu atendo, tia! — a jovem praticamente pulou em direção a porta da sala, para atender o interfone, fugindo da resposta, pelo menos por alguns minutinhos.

— Pronto!

— Oi, Sol. Sou eu, a Iris. A Vio está comigo. Nós precisamos falar com você. É sobre a formatura.

— Oi Iris. Espera um minuto que eu vou descer. — disse a jovem, querendo se mandar dali. — Tia. Vou lá embaixo falar com minhas amigas sobre a formatura. Não demoro! — avisando-a, já do lado de fora do apartamento, saindo antes mesmo da tia consentir a sua saída. Maitê sabia que ela estava fugindo da conversa, que querendo ou não, que ia acontecer naquela noite mesmo. A vida escolar da sobrinha era importante demais para protelar.

— Oi, meninas. — cumprimentou-as ao encontrá-las na portaria do prédio.

— Oi, Sol. Você está bem? — perguntou Vio, baixinho como sempre.

— Estou sim, Vio. Por que a pergunta?

— É que você não entrou na escola hoje. Eu pensei que pudesse ter se sentido mal de novo. Fiquei preocupada.

Sol não sabia se preferia a amiga falando baixo e sem gaguejar ou mais alto e gaguejando. Ela era insegura, mas sua amiga tinha conseguido superá-la.

— Eu também fiquei preocupada, mas preferi pensar que você estava apenas sem vontade de estudar. — comentou Iris.

— Eu estou bem, meninas. Não precisam se preocupar. Eu só estava preocupada com o Lys, então fui a casa dele ver se tinham notícias.

— Por falar no Lysandre. Como ele está? Você conversou com ele? E o Castiel? Ele está bem? — Iris sabia o quanto Castiel se preocupava com os amigos, embora não gostasse de exteriorizar.

— O Lys está bem, eu acho. Não conversei muito com ele; na verdade quase nada. Ele precisava descansar. — contou. — Já o Cast, não sei dizer. Ele ficou muito estressado com tudo o que aconteceu, até mais agressivo que o natural. Mas acho que já deva estar mais calmo, afinal o Lys apareceu e está bem.

— O Castiel gosta muito do Lysandre. Depois que o Nathaniel e ele brigaram ele jurou que nunca mais confiaria em amigo nenhum, mas ai veio o Lysandre e quebrou isso. Eu ainda me pergunto como o Lysandre conseguiu fazer o cabeça dura do Cast baixar a guarda e confiar nele.

— Como assim, Iris? O Cast e o Nath já foram amigos? — espantou-se. Emília podia imaginar tudo, menos aqueles dois sendo amigos. — Quando foi isso?

— Ah, é. Você não estudava na S.A. quando eles eram amigos.

— I-Iris. O C-Castiel pode se aborrecer. — comentou Vio, começando a gaguejar. Ela não gostava de falar da vida dos outros, ainda mais do briguento do Castiel, e sempre que se via numa situação que lhe causava qualquer desconforto tropeçava nas palavras.

— É mesmo. O Cast não gosta de falar disso. Quer saber, esquece isso, Sol. Vamos falar de outra coisa. Hoje teve reunião, sabia?

— Ah, não. Pode falar! Se não queriam contar então que nem comentassem.

— E-Eu acho melhor não falarmos disso. N-Não tem nada a ver com a gente. — Vio sabia que aquilo podia gerar um problemão com o ruivo.

— Então é assim? Vocês não confiam em mim? Eu não vou sair por ai contando para todo mundo. Eu só estou curiosa. O Cast e o Nath são importantes para mim e eu fico chateada quando eles discutem por besteira. — na verdade ela queria saber mais do Nath que do Cast, mas não ia dizer isso.

— Ah, quer saber. Não tem nada de mais você saber. Quase todo mundo na escola sabe, então não é segredo para ninguém. — Iris só estava encontrando uma desculpa para contar, louca para fazer isso, acreditando que a amiga estava curiosa por ter algum interesse a mais no Castiel.

— E-Eu ainda acho que...

— Não se preocupe Vio. Eu não vou comentar com o Cast ou com o Nath o que vocês me contarem. Eu juro!

— Nem com eles e nem com ninguém! Prometa!

— Nossa. Quanta confiança em mim, Iris. Eu juro! — disse ela fazendo uma cruz com os dedos e beijando. — Está bom assim para você?

— Tá bom, mas vamos sair da portaria. Vai que sua tia desse e nos ouve. 

— Você tem razão. Ela é uma verdadeira puxa-saco do Cast e é bem capaz de comentar com ele. — Por mais que tentasse, Sol não conseguia disfarçar o ciúme que tinha da amizade do Cast com sua tia.  — Que é outro puxa-saco, dela!

— Uhm... Senti um ciuminho agora. — disse Iris, rindo, achando engraçado. Até parecia ela tendo ciúme do irmão caçula com a mãe.

— Que ciúme nada! E vamos logo pra varanda! — Sol não ia dar o braço a torcer para as amigas, deixando-as saber que tinha ciúme da tia com quem quer que fosse.

Na varanda lateral do prédio elas sentaram num dos poucos bancos, perto de uns vasos de concreto com arbustos altos que precisavam de poda. Como Vio não se sentiu a vontade com aquela conversa, sentou em outro banco onde a iluminação era melhor, pegou um pequeno sketchbook na bolsa e começou a desenhar o prédio que a amiga morava. Ela tinha muita dificuldade para desenhar casarios e precisava treinar.

— Então, Iris. Comece a falar! Não me esconda nada.

— Na verdade, não tem muito que contar. Aqueles dois se tornaram amigos no 5ème. Embora eles tenham personalidades bem diferentes, se davam super bem e eram como unha e carne. — contou, sem nem imaginar que os dois tinham muitas coisas em comum, a começar pela falta de atenção dos pais e o gosto pela música, embora Nath fosse mais eclético e também apreciasse músicas de outros gêneros, incluindo as românticas.

— Nossa. É bem difícil de imaginar os dois assim.

— Que nada. O Castiel não é a peste que você imagina, Sol. Ele é amigo e daquele que nunca te deixa na mão. E digo mais, ele nem era tão fechado como é agora.

— Ah. Isso é difícil de acreditar, Iris. O Castiel não sendo fechado e ranzinza é algo surreal psra mim. — Ambas riram. — Acho que nem a Vio acredita nisso e olha que ela é a mais ingênua de nós três, melhor, da nossa turma toda.

— D-Desculpe por eu ser muito boba. — Vio ouviu e se chateou com o comentário da amiga.

— Poxa, Vio, desculpe. Eu não falei por mal. — Sol não queria magoá-la. — E eu não te acho boba, só ingênua. Eu também sou ingênua — disse, sentando ao lado dela. — “não tanto quanto você” — pensou, sem proferir tais palavras, para não magoa-la novamente. — E eu não acho isso um defeito, mas uma qualidade. Ser ingênua nos permite ver o melhor das pessoas. O único problema é que também facilita sermos enganadas.

— V-Você tem razão. Eu acredito nas pessoas e quase sempre sou enganada. Mas eu não ligo, porque minhas amigas sempre são sinceras comigo, mesmo sabendo que eu me magoo por nada.

— É isso ai, Vio. Amigas de verdade não dizem o que nós queremos ouvir, mas o que precisamos ouvir. — disse Iris, sentando com as duas. Embora ela fosse meio tímida, ao contrário da amiga de cabelo violeta, conseguia se soltar quando estava entre pessoas que gostava e confiava.

— Uau, Iris. Que profundo isso. Essa frase vai para o meu diário.

— Então coloca nele que foi o Cast que me disse isso uma vez, depois de ter brigado comigo por causa da Debrah.

— Debrah? Quem é Debrah?

— É-É a ex-namorada do Castiel. — revelou Violette, quase num cochicho, sem pensar, corando por ter falado demais, voltando aos seus desenhos para não se meter mais naquela conversa reveladora.

— O Castiel tinha uma namorada? — Sol ficou ainda mais curiosa.

— Sim, teve, no ano passado. E foi por causa dela que ele rompeu a amizade com o Nathaniel. O nosso querido presidente do grêmio ficou com ela, traindo a confiança do Cast.

— O q-quê? O N-Nath ficou com a namorada do Cast? — Emília não podia estar ouvindo aquilo. Era um disparate. O seu Nathaniel não faria aquilo. — I-Isso é impossível!

— Que nada, Sol. O Castiel flagrou os dois agarrados na sala do grêmio. Foi um tremendo auê. Os dois trocaram socos por causa dela e depois disso nunca mais se entenderam.

— M-Mas o Nath não tem cara de quem faria isso.  

— Mas fez, Sol.

— O Castiel deve ter ficado com ódio dela.

— Na verdade ele não terminou com ela por causa disso. — Sol não entendeu nada. Como podia ele ter brigado com o amigo, mas com a namorada não. Isso era coisa de corno manso.

— A Debrah não teve culpa. O Nathaniel é quem a assediou e como não conseguiu nada, agarrou-a na surpresa. O Cast chegou bem na hora e viu os dois. Ela sofreu muito, ficou arrasada, porque tinha o Nath como um amigo de verdade. — contou.

Emília estava arrasada. Para ela Nathaniel era perfeito, mas no final das contas, ele era um safado.

— Agora eu entendo tudo. — murmurou, pensando na forma que ele a tratava, mesmo estando com a Melody. Era bem capaz dele estar mesmo jogando charme para ela só por curtição. Iris pensou que ela estava se referindo a inimizade do Cast e do Nath.

— N-Nós não sabemos s-se isso é verdade, Iris. — Vio não podia se calar ouvindo aquilo, pois ainda havia o critério da dúvida.

— Por que você diz isso, Vio? É tudo mentira? — Sol estava louca para ouvir que sim, mas o que ouviu, para ela, foi muito pior.

— N-Nós não sabemos. A D-Debrah disse que ele a agarrou e muita gente acreditou, a-até eu, principalmente porque o Nathaniel não quis falar a respeito disso com ninguém. E-Ele preferiu se calar.

— Então por que você disse que não sabe se é verdade?

— Depois de uns dias a Melody, sabendo que eu sou amiga do Cast, me disse que o Nathaniel não tinha feito nada e que a Debrah havia mentido. — disse Iris, tomando a frente da conversa, para alívio da Violette que já sentia as mãos suarem por estar falando sobre aquilo. — Ela sabia que eu ia acabar contando ao Castiel, mas ele não quis me ouvir e ainda brigou feio comigo.

— E como a Mel sabia disso?

— Porque eles estavam juntos.

— Nath e Mel, j-juntos? N-Namorando?

Emília realmente não esperava ouvir aquilo. Desconfiar de que os dois estavam juntos era uma coisa, ter a certeza era outra. E o pior, juntos a quase um ano. O mundinho dela desabou por completo.

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Notas finais do capítulo

Sol conseguiu ganhar tempo, mas uma hora ela vai ter que entrar em casa...rs
E embora eu seja menina, é uma verdade, falamos demais quando estamos entre amigas. Não falamos tudo, mas falamos de tudo e muitas vezes falamos sobre o que não deveria ser falado....kkkkkkkkkkkkkkkkkk



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