Blood On Blood escrita por RubyRuby


Capítulo 18
18 Evan- Fool moon, your time goes by




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Tais palavras saíram da boca de Sophie com tanto desespero que fiquei até mesmo mais preocupado com sua agonia que com a vinda de Tony. De fato, faria tudo que pudesse_ e que não pudesse_ para protegê-la, no entanto era impossível saber das estratégias sujas dele. Tudo o que nos restava era planejar algo imediato e que funcionasse.

_Vem, vamos rápido._ Sophie disse, como se já soubesse o que teríamos que fazer_ Sim, eu já sei. Mas você terá que me ajudar, Evan.

s.m.a

_Olhe só, Harri._ apontei para o corpo do empregado estirado no barranco.

Uns minutos antes, Harri estava no escritório dele. Seu cheiro de humano impregnava tanto o lugar que foi fácil achá-lo dentro de casa. Também não foi difícil levá-lo até o barranco: mesmo sem usar meus dons, o baixinho se assustou na mesma hora que ouviu a notícia de que um de seus empregados havia sido morto por alguma coisa. Ou alguém.

_Ah, meu Deus!_ Harri olhou com tanto pavor que suas expressões ficaram todas delineadas em seu rosto.

_Você não teria medo de morrer assim também, Harri?_ olhei para ele, com descaso, como se fosse a pergunta mais comum do mundo_ Digo, como ninguém. Morrer fazendo o que você fez durante toda a sua vida? Trabalhando, levando travesseiros até o meu quarto às dez da noite...? Do jeito que Sophie vai morrer?_ quando falei a última frase, um arrepio subiu pela espinha, mesmo sabendo que eu jamais faria isso com ela, não somente porque era impossível.

Ele rapidamente percebeu o que havia acontecido: eu havia matado o tal empregado. Ele então correu com toda sua pressa que podia para dentro da fazenda. Sophie então surge como era de se esperar dos vampiros.

_Ele está indo ligar para a polícia._ ela pôs suas mãos em meus ombros, com medo_ Bom trabalho.

Fomos para a sala, sem sermos vistos.

_Venham agora! Agora!_ Harri bateu o telefone.

Ele então ficou me procurando pela casa, em vão, afinal eu estava o observando todo o tempo. Seu rosto ainda estava pálido e assustado, e eu então me lembro da sensação de quando eu era um humano. De quando matar ainda era um crime gravíssimo. Enquanto por todos os meus séculos, fi-lo com a maior naturalidade do mundo. E então lembrei-me dos tempos com Tony, quando eu me sentia uma criatura horrenda por ter que fazer aquilo para me alimentar.

Sophie então sai rapidamente do meu lado e vai em direção ao homem, torcendo seu pescoço, o que o fez cair pesado e morto no chão. Era impressionante ver a vampira agindo ainda mais rápido que a própria Sophie.

_O-o que você fez, Sophie?!

_Ele dificultaria nosso plano, Evan. Você sabe.

E de repente olho ao nosso redor. Havíamos feito_ com perfeição_ o que vampiros fazem de melhor: destruímos mais e mais vidas inocentes. Não somente por querer nos alimentar, mas como foi com Harri, matamos apenas porque isso está ao nosso favor.

_Não pense assim, Evan..._ Sophie veio a mim, abraçando-me_ Somos além de vampiros. Você está se esquecendo de um pequeno detalhe_ ela me olhou fundo nos olhos, com dor e agonia_ Agora nada mais está ao nosso favor.

Dei nela outro abraço. Ver aquele mundo morto_ tanto quanto nossa própria alma_ me fazia falecer pela segunda vez ao mundo mortal. Os bichos que vivem para pela eternidade terão sempre suas colunas inclinadas ao reino dos mortais. Não importava o quanto fôssemos fortes, a imortalidade era uma das piores fraquezas. A imortalidade, sim, tira nossa vida, a possível vida que ainda estaria correndo e escorrendo pelas veias quentes humanas. Não havia mais o que fazer, senão esperar. Esperar pelos séculos, esperar nossa morte que nunca chegava. Esperar o inferno que nos aguardava de braços abertos, como quem espera um aniversariante em uma festa surpresa. Nosso futuro era não ter futuro nenhum, porque nem mesmo éramos passado. A regra é básica e clara que diz não haver vida uma vez que não há morte. E a pior das conclusões vinha sempre quando pensava sobre isso. De que, já que não éramos gente, nem cadáver, éramos simplesmente nada.

Então de repente ela franze os olhos e coloca a mão na cabeça, como se estivesse sentindo algo.

_Ele está aqui.

_“Aqui”, você se diz, na Finlândia?

Suas mãos ficaram ainda mais frias e trêmulas.

_Não. Aqui nesta casa.

18 Tony

Toda a raiva que eu sentira deles antes havia se transformado em adrenalina. Eles estavam ali, bem na minha frente, naquela maldita fazenda. Havia um longo caminho até a casa, mas preferia sentir o gosto de tê-los ali, presos a meu comando, que sair ao encontro dos mesmos.

Por quantos séculos me proibi de procurar por Evan? E por quantos séculos teria eu que viver para descobrir que Sophie não me amava mais? Sentia-me ainda mais traído por mim mesmo que por eles. Eu os criei; dei a eles o dom do poder, da beleza, da eternidade. E tudo que ganho em troca é traição, mentira, e deslealdade. Sem sequer um resquício de respeito ou admiração, tendo que aguentar agora não somente dois fardos de vampiros covardes, como também um amor baseado em mentiras. Mentiras contra mim; contra quem os fez.

Eu em parte sentia pena deles. Por estarem agora dominados, e porque sofreriam por toda a eternidade à partir daquele dia em minhas mãos. Minha dor era mais forte que qualquer amor que um dia teria sentido por Sophie, ou por Evan. A dor de amar e não ser retribuído, a dor de amar e ser odiado como recompensa. A dor de querer o que não te quer, ou o que te engana. Isso era maior que qualquer traição. Viver, conviver, fazer de tudo para um ser mais que extraordinário: imortal. Cuidar dele como se precisasse, ser a comida e a bebida, a cama e o chão. E então como se não fosse nada, eles simplesmente te abandonam. E pior que viver por eles é que não há vida quando não há eles. Tudo o que me sobrou foi meu vazio e minha escuridão, sem chances de voltar a ser o que era antes. Tudo o que sobrou foi nada. Estava tanto tempo preso à pessoas que nunca me quiseram que sequer me lembrava como era ser amado. Me vi sendo obrigado a começar um novo jeito de viver a morte, sozinho, distante.

Amor me fazia sofrer porque amava quem não merecia. E no entanto, amei justamente as duas pessoas que mais se mereciam juntos.

Talvez por eu ser ambicioso demais, ou por querer o mundo aos vampiros, Sophie e Evan se completavam pelo simples fato de rejeitar a sua completa natureza. Eram vampiros tolos, afinal agiam como humanos. Tinham sentimentos puros, ingênuos, sem tanta malícia quanto os meus. Já deveria saber que malícia e inocência jamais podem conviver. Eu jamais poderia andar ao lado deles. E, ao ponto em que estava, nem mesmo queria.

Finalmente cheguei até a porta. Abri-a com calma, observando os detalhes da mansão. Eles obviamente não estariam me esperando na sala, de braços erguidos em minha direção.

_Toc, toc?_ ri alto, para que soubessem que eu já estava ali.

Eu podia sentir o cheiro deles pela casa, mas não queria adiantar qualquer que fosse o momento. Era bom ver as coisas acontecendo vagarosamente, enquanto eles tinham cada vez mais temor à mim.

Entrei, quieto, na gigantesca sala.

_Idiotas. Eu sei que estão aqui. Saiam, saiam... de onde estiverem.

Tudo que recebi foi silêncio. Meus passos ecoavam pela casa, fazendo minha presença invadir cada vez mais aquele ambiente fúnebre. Não ficaria o dia todo esperando por eles. Agora meu poder estava maior, tinha além dos dons naturais, a incondicional raiva e mágoa que trazia em meu peito. Não esperaria por uma coisa a meu alcance.

Eu então parei exatamente atrás de Sophie. Havia simplesmente sentido sua presença, bem ali, naquele canto de casa escuro, nos fundos da fazenda, como se fosse o suficiente para se esconder de mim. Para que ela não escapasse de mim, empurrei meu corpo contra o dela e calei-a com minha mão.

_Você é patética._ coloquei minha mão em sua cintura, indo para o centro. Apertei forte seu corpo, fazendo-a contrair-se e tentar escapar. Era evidente seu desespero perto de mim, e aquilo não era sequer o começo de tudo o que ela iria passar comigo.

Como se Sophie tivesse mandado uma espécie de mensagem telepática, Evan veio na mesma hora ao encontro de nós dois.

_Largue-a!

Não que eu obedecesse Evan: soltei Sophie pelo simples fato de que jogar com ele era mais divertido. Ele andou rapidamente em direção à ela, abraçando-a.

_Você é um monstro!_ Sophie disse, quase cortada pelo choro.

Não pude esconder o riso. Porém toda a piada se transformara rapidamente em estupidez, e eu fiquei ainda mais obcecado por ela. Não de um modo bom, muito pelo contrário; iria fazê-la sofrer o máximo que pudesse.

Sophie havia lido minha mente. Agora estava chorando quase que por um tom de pânico, e aquilo me excitava muito mais. Saber que poderia fazer aquilo que nunca julguei ter que fazer.

_Dois tolos... Deixam o dom da imortalidade padecer a seus pés_ olhei fixamente a Evan_, e no entanto continuam agindo como lixo. Mas... vamos tratar disso na sala.

E assim fomos para lá. Não demorou muito para que sentássemos nos sofás elegantes da sala, com toda sua própria majestade, e então fôssemos direto ao assunto.

_O que você quer de nós?_ Evan disse, calmo até demais para a situação.

Dei uma pausa. Era inevitável a suspeita ao ouvir o que ele havia me perguntado.

_Sofrimento. Dor. Vingança. Tudo o que vocês me fizeram sentir._ disse, pacífico.

E então alguém bate forte na porta da sala.

_Shi..._ alertei-os_, calem a boca.

Recompus-me e fui andando em direção à porta. Era a polícia.

_Mãos ao alto! Repito mãos ao alto!

Olhei para trás, sem entender o que estava acontecendo. Nessa hora, Sophie e Evan já haviam desaparecido, ao passo que eu não poderia simplesmente usar meu dom na frente de uma pessoa normal.

_O que está acontecendo?

Nesse exato momento, algemaram-me à força e levaram-me para dentro do carro da polícia.


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Notas finais do capítulo

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