Blood On Blood escrita por RubyRuby


Capítulo 16
16 Evan- A piece of heaven




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O resto da viagem foi um tanto conturbada. Passamos cerca de trinta horas, ao todo, dentro daquele trem, dormindo a cada nascer de sol, esperando nossa enfim chegada à Finlândia. Sophie esteve enfrentando uma série de pesadelos os quais não a deixaram dormir direito, mesmo durante o dia.

Era sempre a mesma coisa: sempre um pesadelo frio, gélido, que a deixava trêmula e perdida. Ora com Tony, ora com ela mesma. Eu tentei guardá-la, manipular seu corpo e seu cérebro para que aqueles pesadelos não voltassem, mas era quase impossível. O lado bom era saber que não era sinal algum vindo de Tony, ou outra coisa sombria. Sophie estava apenas delirando, por estar há muito tempo bloqueando sua mente.

_É loucura fazer isso!_ segurei suas mãos, mesmo que um pouco contrariado.

Esperei mais um pouco. Não estava certo do que ia falar nem como minhas palavras surtiriam efeito, mas estava certo de que amava o suficiente Sophie para enfrentar qualquer coisa que precisasse. Estávamos na estação final, onde finalmente já apontávamos em Finlândia.

_Escute_ eu a segurei pelo rosto_, se o Tony tiver que nos perseguir para você dormir em paz, então que ele nos persiga.

Coloquei minhas mãos em seu rosto. Ela não poderia achar o contrário: eu estaria ali sempre para protegê-la. Não importava de quem, nem mesmo como, eu sabia que isso poderia acontecer caso eu tivesse que fazer.

_Você não tem noção de suas palavras!_ ela disse, afastando-se de mim, chorando e com os olhos arregalados, proibindo-se de começar a achar que aquilo era o certo a se fazer_ Você não pode simplesmente pedir para que eu pare de bloquear meus pensamentos para Tony... porque fazer isso é o único jeito que eu achei de te mostrar... que eu te amo.

E então nossos olhares se chocam como se finalmente vissem um ao outro. Não haveria palavras o suficiente para descrever tal cena. Por um momento senti a mesma pulsação de Sophie, como fôssemos um, mesmo que ela estivesse distante. Eu não poderia forçá-la a fazer isso porque os dois amavam demais. Porém antes de eu expressar qualquer reação, Sophie veio a meu encontro, dando-me um abraço ainda mais apaixonado e apertado que aquele de quando nos encontramos na estação, ainda na Bulgária.

_Por favor_ ela dizia, entre soluços_, deixe-me fazer isso. Por você, Evan. Por nós.

Suas palavras soaram como uma oração. Eu não sabia o que dizer. Doía em mim ver que Sophie não tinha mais paz, porém dentro dela isso doía menos porque ela acreditava que isso era o certo a se fazer. Eu não poderia ser egoísta ao ponto de impedi-la de usar seu próprio dom para proteger quem ela amava, mesmo que para isso eu precisasse ver quem eu amo suportando aquela situação, que eu jamais queria que suportasse.

_Vamos comprar um caixão para você. Tenho certeza de que esses pesadelos vão ir embora com ele.

Ela me olhou e não demorou muito para eu buscar seus lábios, direcionados aos meus, sorrindo.

Estávamos caminhando na estação, já na Finlândia, quando percebi que lá não era muito diferente da Bulgária. Obviamente estava mais congelado e pálido, com árvores mais secas, mas fora isso, poucas coisas a diferenciavam daquela vila a qual eu conheci Sophie.

Sophie achou mais adequado morarmos com alguma pessoa_ de carne e sangue_, caso houvesse outros vampiros na cidade que pudessem sentir nossa estadia.

_Ele!_ Sophie me puxa pelo braço, como uma criança contente_ Vamos morar com ele.

Ela apontou para um cara baixinho e rechonchudo, que usava terno e um chapéu preto. Eu olhei para ela, ainda em dúvida do porquê ser aquele homem.

_Ele é rico, tem uma fazenda não muito longe daqui._ ela riu, caminhando em direção a ele, de braços dados comigo.

_Será que eu poderei usar meu dom também, ou sua beleza garante toda nossa hospedagem?

Aquilo saiu um tanto quanto sem querer de minha boca. As palavras diziam que eu tinha ciúme, e no entanto eu tinha total confiança nela.

_O que você quer dizer com isso? Que eu vou... me oferecer a ele?!

Sophie estava totalmente ofendida. Ela repentinamente saiu de perto de mim, esperando que eu fosse até o cara para usar “meus dons”, ao invés dos dela. Eu sabia que voltar e pedir desculpas não era a forma mais adequada de me redimir para Sophie. O único jeito seria fazendo o que ela tanto queria: iríamos morar com aquele cara somente se eu me movesse.

Cheguei perto dele, que me encarou com um tanto de estranheza.

_Com licença, senhor_ eu sorri. Tudo o que eu precisava era tocar em qualquer parte de seu corpo para que meu dom pudesse ser usado_, escute_ eu coloquei minha mão discretamente em seu ombro_, você pode nos abrigar em sua fazenda?_ apontei para Sophie, que estava de costas a nós, um pouco distante.

_Mas é claro, meu jovem_ ele sorriu._ Venha, vamos para lá agora mesmo.

Ele foi andando, como se fosse um robô. Não tinha muitas expressões, afinal, estava em uma espécie de hipnose, levando-me até sua fazenda. Há muito não fazia isso, e me sentia até um pouco melhor fazendo.

Fomos andando na mesma velocidade que as demais pessoas, fazendo um caminho que depararia com Sophie. Puxei-a pela cintura e então disse:

_Bom, amor... você não vem conosco?_ eu olhei para frente, assim como o rico baixinho fazia.

Sophie não deveria estar mais brava, porém ela simplesmente não iria sorrir e me dar um beijo. Estava brava pelo que eu falei, não pelo que ela teria que fazer para convencer o homem a nos levar à sua casa, embora o meu dom nos facilitasse nisso.

s.m.a

A fazenda era realmente impressionante. Não era somente uma fazenda; mas sim uma mansão, cinza e escura, cercada por uma imensidão de mato, gado, e possíveis empregados, que rondavam a casa durante todo o dia e toda a noite.

_Com licença, mas qual é o seu nome?_ eu ajeitei a gola, direcionando-me para o empresário, quando nós três já estávamos dentro da casa.

Sua voz ecoou pela casa como se ela estivesse viva. Depois, olhou docemente para nós, como se fosse vontade dele nos colocar ali.

_E o nome de vocês?

Ah, ótimo. A hipnose já tivera seu efeito diminuído e agora ele agiria normalmente, tendo em mente apenas nos deixar na sua fazenda. Estava perfeito.

_Evan e Sophie._ Sophie disse, na frente, finalmente se aproximando, puxando meu braço para sua cintura.

_Bem, vocês_ ele olhava para nós de um jeito amigável, porém com pressa_, escolham algum quarto que interessar para vocês. Basta subir as escadas do lado direito. Agora, se não se importam, eu vou ter que revisar umas coisas do trabalho e...

_Não tem problema. Obrigada pela hospedagem...

Mal disse “obrigada” e Harri já saía da enorme sala, apressado. Uma pausa se estabeleceu entre a saída dele da sala e meu olhar discreto para Sophie.

_Ainda está brava?

_Eu não estou brava._ ela deu um breve sorriso, mas logo olhou para outro lugar.

Cheguei perto dela, tentando ignorar o fato de que sim, ela estava brava. Segurei suas mãos.

_Desculpe-me pelo que disse na estação. Eu...

_Está tudo bem._ ela disse, e tirou uma de suas mãos das minhas e a pôs na testa, olhando par abaixo.

_Mesmo?

Ela olhou para mim, quieta.

Fomos quase que no mesmo instante em direção aos quartos, ao lado direito da casa. Não demorou muito para que víssemos os cômodos colossais e as mais delicadas decorações. Havia pelo menos três quartos bem arrumados, no entanto sem dono. Sophie entrou em um deles, entusiasmada.

_Olha esse, Evan._ ela sorria, calma. Não que uma vampira de séculos de vida iria se surpreender tão facilmente.

Entrei no quarto, e mesmo sem reparar em muitos detalhes, ficaríamos ali pelo simples fato de que Sophie gostou dele.

_É uma pena ter uma cama tão grande e dormirmos em caixões._ Sophie lamentou, sentada na cama, passando a mão sobre o tecido fino e macio, amarelo-ouro, que cobria a cama.

_Bom..._sentei-me ao seu lado_ deveríamos usar a cama para outras coisas, não acha?

Sophie riu, mas seu riso parou na hora que eu empurrei meus lábios contra os dela. Ela se enlaçou em mim como uma serpente, passando sua mão em meu cabelo. Puxei-a pela cintura, de modo a ficarmos ainda mais grudados.

Um vulto apareceu no corredor, interrompendo nosso beijo.

_O que foi isso?

_Deve ser só mais um empregado. Essa casa é tão grande que vinte deles ainda seria pouco.

Eu me levantei da cama, atônito. Fui até a porta, olhei de um lado, e do outro, até que tive a confirmação: vi uma empregada passando quieta, com alguns travesseiros na mão, até virar o longo corredor.

Quando me virei, Sophie estava atrás de mim, sorrindo.

_Eu disse que era só uma...

E então ela desmaia leve e doente em meus braços.


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Notas finais do capítulo

OBS: Harri é um nome finlandês!
Ignore qualquer erro, não revisei esse cap. ...
ps --> bomba no cap 17... prepara!