Blood On Blood escrita por RubyRuby


Capítulo 15
15 Evan- She’s my sin




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_Você está melhor?_ perguntei a ela, após sairmos do trem.

Ela estava terrivelmente linda.

Não que não estivesse durante a madrugada, muito pelo contrário: Sophie nunca, em toda sua eternidade, seria menos que bela ao meu ver. Não somente por estar louco por ela, mas também porque beleza foi uma das coisas que ela mais exercitou em todos seus séculos.

_Sim._ ela olhava meu rosto, e seus olhos já não carregavam tanta tristeza, mas ainda tinham culpa.

Esperamos as pessoas se dispersarem para começarmos a andar. Não poderíamos ficar pelo redor caso quiséssemos fazer uma pausa para... lanchar.

Caminhamos uma distância grande, embora não tenham passado cinco minutos. Poderíamos até mesmo caminhar como os vampiros fazem: rápido, sem sermos percebidos, mas ainda assim era arriscado. Paramos numa velha confeitaria, um tanto quanto longe da estação de trem. Entramos, nos sentamos a uma mesa disposta nos fundos do estabelecimento. As portas rangiam e parte da mobília sucumbia ao pó. A possível dona estava sentada do lado de dentro do balcão, olhando com mau humor os doces expostos à sua frente.

_Bem..._ falei baixo_ o que você vai querer almoçar hoje?

_Talvez um bom sangue jovem! Como o daquele rapaz..._ ela olhou delicadamente a ele, como se não apresentasse ameaça.

Havia muitas mesas no local, mesmo que ele estivesse decadente. Tinha duas mulheres e um homem sentados a três mesas de distância de nós. As duas um tanto quanto idosas, enquanto ele aparentava ter uns vinte anos. Seu sangue daria uma ótima refeição... para nós dois.

Eu sorri. Logo depois, dei a ela permissão de ir a minha frente, como se eu quisesse falar “pois então, vá a ele!”. Ela sorriu de volta, e então foi caminhando em direção ao rapaz, seguido por mim.

_Com licença..._Sophie fazia cara de muito sofrida_ Alguém conhece algum engenheiro pelos arredores?

O moço logo se levantou, surpreso talvez pela beleza dela.

_Sim, sim_ ele ajeitou seu terno_ eu sou engenheiro. No que poderia ajudar a senhorita?

_Bom, meu carro está com defeito. O senhor poderia dar uma olhada?_ o moço já fazia que sim e andava para fora quando Sophie continuou, num tom tão baixo que somente eu e ele entendemos_ ele está ali, atrás da confeitaria.

O homem ia, com toda pompa possível. Era fantástico ver Sophie usando seu dom de ler pensamentos até mesmo para conseguir sangue. Não podíamos demorar muito, e nem mesmo deixá-lo desconfiar, então assim que chegamos atrás da confeitaria, Sophie deu uma mordida em seu pescoço rapidamente. Ele, como que por instinto, após alguns segundos_ o suficiente para ela tomar sua dose de sangue_, afastou-se dela, e eu rapidamente acabei com seu sangue ainda vivo, e logo após contorci sua cabeça de modo a desfalecer antes de começar a gritar ou chamar a atenção de outras pessoas, até morrer.

_Bom trabalho, parceiro_ Sophie olhava em meus olhos, sorridente.

Tudo o que fiz foi sorrir. Não havia nada a dizer a ela que ela mesma não sabia. Voltamos à estação, e ficamos esperando as demais pessoas voltarem para que seguíssemos com a viagem.

s.m.a

Desde então, tudo que fizemos foi ficarmos calados, um ao lado do outro, com a paciência que somente nós vampiros poderíamos exercitar. Eram 19h28min quando Sophie resolveu quebrar nosso tão belo silêncio. Porém não mais belo que ela.

_Bem... você sabe que o Tony...

_Sim, eu sei. Ele já se libertou._ de repente, um calafrio sobe pela minha espinha e então veio à minha cabeça a súbita pergunta_ Aliás, vo-você está...?

_Não se preocupe._ ela sorria, olhando em meus olhos_ Bloqueei minha mente durante todo o dia.

Ela me deu um abraço quente, e eu a abracei de volta, tendo em mente o que faríamos com a nossa vida nova.

_E você não está cansada?

_Estou._ ela bocejou_ E muito. Se importa se eu dormir?

_Não, claro que não... você conseguiria manter essa “parede” entre vocês dois dormindo?

_Conseguiria.

Logo após ela se deita em meu braço e em poucos minutos está dormindo. O cansaço deixou seu corpo ainda mais pesado, fazendo calor sobre o meu, e de certa forma, aquilo era confortante. Saber que Sophie estava perto de mim, e que eu estava perto dela. Embora ainda fosse cedo, bloquear sua mente estava exigindo demais de sua energia. Precisávamos providenciar um caixão o mais rápido possível.

O trem estava escuro, de modo a acomodar melhor os passageiros. Alguns haviam ligado a luz da própria cabine para ler ou conversar, mas a maioria se via num silencioso escuro. Umas funcionárias do trem, poucos minutos depois de Sophie dormir, começaram a distribuir pratos cheios de comida para os passageiros. Todas usavam blusas brancas de manga comprida e coletes azul-marinho, dispostas uma atrás da outra, quietas, rápidas e organizadas.

_Não vamos querer, obrigada.

_Tem certeza, senhor?_ uma das mulheres perguntava, retirando o paninho que cobria nossos pratos, para que talvez eu mudasse de ideia e aceitasse a comida.

_Sim. Eu tenho._ dei um sorriso breve e então ela se retirou. As demais funcionárias também se ocuparam com as demais mesas do trem, pouco prestando atenção em nós.

Ainda teríamos longas horas de viagem, mas isso não importava. Estava do lado de Sophie, e era minha função cuidar dela. Mesmo que vampiros cuidem de si mesmo, eles costumam andar em bando, mas eu não queria mais companhia a não ser a de Sophie. Ela parecia completar o espaço que qualquer outra pessoa poderia preencher, eu ainda estava admirado por sua beleza, paralisado com sua doçura e ainda tentando achar um modo de encarar o fato de que não estava mais sozinho em minha eternidade.

Dormir fora de um caixão era algo que eu não estava acostumado a fazer. Raros os dias em que precisei ficar sem, e quando ficava, estava tão exausto que dormia assim como Sophie. Porém tudo que eu podia pensar era nela, e eu não me cansava disso nunca. Podia ficar nesse estado por horas, o que já estava acontecendo. Suas feições enobreciam todo o trem. Faziam ter sentido até mesmo as coisas vãs, a chuva que caía, o ranger dos vagões. Sophie tinha a poesia que as outras coisas nem pessoas tinham.

s.m.a

Eram 22h14min quando ela começou a se contorcer no banco do trem.

_Sophie...? Está tudo bem?_ eu perguntei, num tom de voz baixo.

Porém tudo que tive foi seu silêncio. Ela ainda se agitava, em movimentos discretos e alternados.

_Não... não... não!

Sophie acordou, gritando. Seu rosto estava surpreso e sua respiração acelerada. Ela chamou a atenção das demais pessoas, e uma funcionária então chegou rapidamente em meio a escuridão:

_A senhora está bem?

Ela olhou para mim, olhou para a moça. Tudo o que fiz foi abraçá-la e tentar fazê-la se acalmar. Sua respiração ainda estava rápida e seu olhar confuso, e demorou um tempo para que ela voltasse ao normal e respondesse a mulher:

_Sim, estou. Obrigada.

A mulher se retirou calmamente, e os demais passageiros foram logo tomando suas atividades anteriores.

_O que aconteceu?

Ela me olhou, surpresa, mesmo que fosse difícil até mesmo nos ver naquele ambiente sem luz.

_Nada... foi apenas um sonho ruim.

_Você quis dizer um pesadelo?_ eu sorri, percebendo que ela ainda estava desnorteada.

_É. Um... pesadelo._ ela sorriu de volta, olhando-me novamente nos olhos.

Demos um beijo leve, calmo e demorado, como se já estivéssemos onde queríamos estar_ o que era verdade. Eu a puxei para cima de mim enquanto ela passava suas mãos macias em meu rosto, e então ela puxou meus lábios novamente, de um jeito mais forte, puxando-me contra ela. Eu desci meus beijos até seu pescoço, e ela soltou um leve gemido. Foi o suficiente para me alertar que se não me segurasse_ e sobretudo, segurasse a própria Sophie_, aconteceria uma coisa que simplesmente não poderia acontecer ali.

_Sophie..._ disse, parando indesejavelmente meus beijos.

Ela me olhou, ainda que frustrada por estarmos ali. Saiu discretamente de cima de mim, desamassando minha roupa.

_Já entendi... Maldito seja esse trem!_ ambos rimos.

E então meu riso se transformou num imenso alívio. Tínhamos todo o tempo do mundo, da eternidade, não havia motivos para termos pressa.


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Notas finais do capítulo

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