Entramos e eu pedi pra que o Sr. Andrew nos levasse para o shopping que ele julga ser o melhor pra fazer compras, já que eu não conhecia nenhum deles ainda. Ele nos deixou na porta do Shopping Palace Center que, segundo ele, era o maior e o melhor pra fazer compras. Ele perguntou se queria que ele esperasse e eu disse que avisa quando acabasse. Ele foi embora assim que entramos.

O shopping era simplesmente belo e muito grande. Isabelle já entrou com um sorriso imenso no rosto. Essa noite ia ser longa, muito longa. Suspirei entrando na primeira loja com ela.

– Vamos que logo essa noite promete! – disse Belle toda animada, olhei pra trás buscando apoio e encontrei Liam se segurando pra não começar a rir, nesse momento ela me puxou e começou a me mostrar várias roupas.

Ficamos cerca de 3 horas entrando em lojas, provando roupas e sapatos e comprando coisas. Se não fosse por Liam ficaríamos mais tempo, mas ele pediu pra Isabelle pra irmos comer. Chegamos na praça de alimentação nós três cheios de sacolas. Agradeci por já ser tarde e a praça não estar mais tão cheia, conseguimos achar uma mesa que cabia nós três e todas as sacolas, devia ter no mínimo umas 25 no total.

– Eu vou pegar nossos lanches, - se ofereceu Liam. – o que vocês vão querer?

– Eu vou querer um cheddar da McDonald’s, uma coca e uma batata grande. – disse Isabelle sentando

– Só vou querer um top sundae. Vou aproveitar enquanto não chega e vou mudar a nacionalidade do meu chip, pra não perder o número. – disse colocando minhas sacolas na mesa.

– Quer que eu vá com você? – perguntou Belle levantando

– Não precisa, eu vi uma loja ali atrás vou lá rapidinho e volto. É o tempo que Liam consegue pegar nossas coisas, já que a fila não tá tão pequena assim. – disse apontando pra fila do Mac.

– Isso é, vou logo antes que piore. – disse Liam indo pra fila

– Fica aqui guardando nossa mesa e olhando nossas coisas. Já volto. – ela assentiu, peguei minha bolsa e saí. Tinha visto uma loja que fazia isso por aqui.

Saí procurando de um lado e outro, tinha que tomar cuidado pra não me perder. Prestei bastante atenção em todos os caminhos que eu percorria, pra saber voltar.

Estava em um corredor com algumas farmácias e lojas de roupas e sapatos. Esse corredor me era familiar, acho que é nesse que tá a loja que estou procurando, pensei comigo mesma. Continuei andando rápido e olhando para os lados pra ver se achava, então quando eu notei estava de bunda no chão, tinha me batido em alguém e caído.

– Opa! Cuidado ai gata! – o homem em quem eu me bati estendeu a mão pra me ajudar a levantar, com o ar meio arrogante.

– Desculpa, - comecei a falar em inglês, levantei com a ajuda dele. – eu não tinha te... Visto. – falei num sussurro a última parte, eu estava olhando nos olhos do rapaz e tinha entrado em uma espécie de transe. Tinha mergulhado naquele azul intenso, da cor da noite, sentindo meu corpo todo se arrepiar ao toque dele. Soltei-me e desviei o olhar quando me senti corar.

– Olha por onde anda da próxima vez, quem sabe em quem você vai se bater. – voltei a olhar pra ele. Ele media em torno de 1,85m, já que era um pouco maior que Liam, tinha olhos azuis um pouco mais escuros que os meus, cabelo castanho claro, pele branca um pouco queimada pelo sol e ele era forte. Tinha por volta de 17 anos, com olhar arrogante, um típico filhinho de papai que se acha melhor que todo mundo. Revirei os olhos e dei uma resposta à altura.

– E você tenta não derrubar as pessoas que estão na sua frente, não é muito gentil. Agora se me der licença, tenho mais o que fazer do que ficar aqui perdendo meu tempo com uma criatura cujo ego é maior do que a própria inteligência.

Ele ficou de boca aberta, mas nem esperei ele responder, saí logo dali e voltei a procurar a loja. Só depois que eu percebi que tinha mais gente com ele, e um menino me seguiu. Enfim encontrei a loja.

– Peço desculpas pelo meu irmão. Digamos que ele é um pouco cabeça quente. – disse o menino que me seguiu, dava pra ver as semelhanças entre ele e o Senhor Ignorante, como eu decidi chama-lo a partir de agora já que não sabia o nome dele. Ambos tinham cabelo castanho claro, porte físico muito parecido e aparentavam ter a mesma idade. Dava pra serem gêmeos se não fossem os olhos e a altura. Esse rapaz era um pouco mais baixo e tinha olhos acinzentados.

– Acho que percebi isso. – entreguei meu celular e CPF à atendente.

– O que a senhorita vai querer?

– Mudar a nacionalidade. – o menino ficou me esperando acabar

– Do Brasil pra cá? – ela perguntou olhando pra tela do computador com os meus dados

– Isso mesmo.

– Só um instante.

– Ok, obrigada. – voltei-me pro garoto. – Tem certeza que você é irmão daquele menino grosso de alguns minutos atrás? – perguntei sarcástica

– Tenho. – ele riu. – Meu nome é Phillipe, muito prazer. – ele estendeu a mão. Definitivamente ele não era como o irmão.

– Emily, mas pode me chamar de Amy. – a atendente voltou nesse momento.

– Aqui está senhorita. Obrigada e tenha uma boa noite.

– Obrigada. – peguei meu celular, saí da loja e comecei a refazer o caminho pra praça de alimentação.

– Você é mesmo brasileira? – ele perguntou descrente

– Até onde eu sei sim. Por quê? – perguntei rindo da cara que ele tinha feito

– Você fala inglês fluentemente. Tem muito tempo que você mora aqui?

– Cheguei hoje pela manhã. Mas sou formada em inglês, por isso sei falar bem.

– Tá explicado. É bom no Brasil? Já ouvi falar algumas coisas de lá, mas nunca fui.

– Coisas boas, espero. – disse rindo, ele riu também. – Lá é um ótimo lugar pra se morar.

– E porque você se mudou? – esse menino queria saber minha vida toda?

– Vim com meus pais. Eles vieram trabalhar aqui. – eu não estava com muita vontade de conversar hoje.

– Espero que você goste daqui. – ele disse gentilmente. – Está sozinha?

– Vim com meus amigos, eles vieram do Brasil me fazer companhia aqui.

– Isso é muito bom. Tenho certeza que vocês se gostam muito. Vai estudar aqui? Ou já terminou a escola?

– Já terminei, mas no Brasil só são três anos de Ensino Médio. Resumindo vou ter que fazer o ultimo ano de novo se quiser ir pra universidade.

– Sinto muito por isso. – caminhamos um tempo em silêncio, quando chegamos à praça de alimentação ele se pronunciou. – Preciso ir agora, vou voltar pra casa com meu irmão e amanhã temos aula. – olhei interrogativa pra ele. – Ultimo dia. – ele disse como se explicasse, dei de ombros.

– Tudo bem Phillipe, nos vemos por ai. Vou me encontrar com meus amigos. Tchau, prazer em conhecê-lo.

– Tchau. O prazer foi todo meu, Amy.

Fomos em direções opostas. Observei de longe ele se encontrar com o irmão, só então percebi que as pessoas que estavam com o Senhor Ignorante eram, em sua maioria, mulheres. E que a tinha pelo menos duas quase babando atrás dele enquanto ele se agarrava com uma loira oxigenada. Phillipe estava conversando e rindo com uma ruiva, ela não se parecia com as outras. Pelo menos não em estilo. Enquanto todas as outras estavam com saias um pouco acima da metade das coxas, tops e com os casacos dos meninos, provavelmente jogadores de algum esporte na escola, ela estava com uma calça jeans de lavagem clara e uma blusa vermelha. Voltei minha atenção para o caminho na minha frente, não queria me esbarrar em mais ninguém. Logo cheguei onde meus amigos estavam.

– Quem era o gato que você estava falando? – perguntou Belle assim que eu sentei à mesa

– Quem? – voltei a falar em português

– Aquele menino que tava com você, o daquele grupo ali. – disse Liam apontando discretamente pra Phillipe e o Senhor Ignorante.

– A tá. O nome dele é Phillipe. – disse pegando meu milk-shake

– Como vocês se conheceram? – perguntou Belle interessada

– É sério isso? Virou interrogatório agora? – bufei. – Eu me esbarrei sem querer no Senhor Ignorante, que por um acaso é irmão dele, e caí. Ele foi ignorante comigo, eu dei uma resposta e saí de perto, aí ele me seguiu. Pronto, fim da história.

– Senhor Ignorante? Por acaso seria aquele outro gato que está olhando pra cá? – perguntou Isabelle com uma cara maliciosa

– Se ele tá olhando não sei. Vai comer logo e para de falar disso, vou ligar pro meu pai logo.

– Tá estressada porque Amy? Esse menino fez alguma coisa com você? – perguntou Liam se levantando. – Porque se fez vou dar um jeito agora.

– Não! – segurei o braço dele e o fiz se sentar novamente. – Ele não fez nada de mais, pode ficar tranquilo. E o Phillipe é muito educado, ele tá longe de ser uma pessoa que me faria mal. Só estou cansada das compras. – menti, a verdade é que os olhos daquele menino me intrigavam. Não conseguia parar de pensar naquele olhar. Liam não acreditou, ele me olhou com cara de descrente. – É sério. Olha, vamos fazer assim, eu vou ligar pro meu pai lá da entrada do shopping e vocês me encontram lá em meia hora tá?

– Tem certeza? – perguntou Liam segurando meu braço quando levantei

– Tenho sim, Belle vai demorar um pouco aí, você ainda nem comeu e o Senhor Andrew vai chegar logo. Não podemos demorar muito mais tempo aqui, não sabemos a hora que o shopping fecha e já vai dar onze horas.

– Tudo bem, mas qualquer coisa liga. Assim que acabarmos aqui nós vamos. – assenti, dei um beijo na bochecha dele e fui pro lado de Belle, que estava de frente pra Phillipe, o Senhor Ignorante e seu grupo.

– Cuidado pra não babar. – sussurrei no ouvido de Belle, que deu um pulo com o susto, e dei um beijo em sua bochecha. – Pra você que estava aérea, vou esperar vocês na entrada. Vê se não demora muito. – disse rindo.

Coloquei minha bolsa de lado, peguei nove sacolas e fui tomando meu milk-shake pra entrada do shopping, me guiando pelas placas que tinha no teto do shopping. Assim que acabei meu milk-shake joguei o copo fora e peguei meu celular. Disse pro meu pai que já podia pedir para o Senhor Andrew vir nos pegar. Assim que desliguei, encontrei a saída. Sentei-me num banco que tinha do lado de fora, coloquei minhas sacolas do meu lado e fiquei jogando no celular.

– Ei amor, não é aquela desmiolada de mais cedo? – escutei uma voz feminina irritantemente fina falando perto de mim, ignorei.

– Não é que é ela mesma. Tá sozinha? Será que nem os amigos aguentaram a chatice? – era a voz do Senhor Ignorante, num tom zombeteiro, levantei meus olhos e vi pela segunda vez aqueles olhos que estavam prendendo meus pensamentos. – O que foi? O gato comeu sua língua ou não sabe falar mesmo?

– Chris, já chega. – disse Phillipe grosso

– Não Phillipe, deixa ele. Não vou me rebaixar de novo ao nível desse seu irmão. Se ele acha que são todas as mulheres que caem nos pés dele, ele está muito enganado. – vi com o canto do olho meus amigos chegando e escutei o Jeep parando logo em frente. – Agora se me derem licença vou pra minha casa porque já perdi tempo demais aqui. – eu vi o Senhor Ignorante, ou Chris que foi como Phillipe tinha chamado ele, ficar vermelho de raiva. Percebi que a loira oxigenada com voz irritante estava segurando o braço dele, sorri vitoriosa. - Tchau Phillipe, nos vemos por ai. – eu vi um pedido de desculpas no olhar dele, apenas assenti, peguei minhas coisas e fui pro carro.

O motorista saiu e pegou as sacolas da minha mão e guardou-as no fundo, fez a mesma coisa com as de Liam e Isabelle enquanto entrávamos no carro. Pude ver com o canto do olho Chris observando ao longe de boca aberta, mas como o vidro do carro era escuro ele não podia me ver. O Senhor Andrew entrou no carro e deu partida, a ultima coisa que eu vi foi um Chris irritado discutindo com a loira oxigenada e Phillipe e a ruiva rindo. Essa imagem fez com que eu sorrisse também.

– Eles estavam te irritando de novo? – perguntou Liam preocupado

– Nada com que eu já não esteja acostumada, pode ficar tranquilo. – disse tranquilizando-o

– Já sabe o nome do Senhor Ignorante? – perguntou Belle rindo.

– Acho que o apelido é Chris, pelo menos foi assim que o irmão o chamou.- comentei dando de ombros

– Gostei da cortada que você deu nele. – ela e Liam começaram a rir alto, me fazendo rir também. – Nossa Amy está ficando rebelde. Que emoção, aprendeu comigo. – Belle fingiu que enxugava uma lágrima. – Estou muito orgulhosa de você, finalmente aprendeu a não ser bestinha com todo mundo.

– Ele bem que mereceu. – comentou Liam

– É, acho que estou aprendendo mesmo. Sabe, cidade nova, jeito novo. Tenho que aprender com meus erros. – comentei rindo da falsa emoção de Isabelle

– É assim que se fala! Pelo visto não vai precisar da gente aqui pra te defender. – disse Belle me abraçando. – Meu bebê cresceu.

– Que drama todo é esse agora que eu ainda não entendi. – disse rindo

– Isabelle que é muito besta. – eu e Liam rimos do comentário dele, e Isabelle ficou de cara fechada, mas logo depois começou a rir também.

O resto do caminho foi bem tranquilo, ficamos conversando sobre coisas aleatórias até chegar em casa. Pegamos nossas sacolas, depois de muita insistência minha o Senhor Andrew deixou que levássemos as sacolas enquanto ele guardava o carro na garagem. Levamos as coisas para o meu quarto, Liam colocou-as em cima da cama e sentou-se no pufe. Isabelle colocou as coisas na porta do closet e se jogou na cama.

– Acho melhor vocês irem descansar. Nós andamos muito hoje e vocês dormiram menos que eu.

– Acho justo, to mortinha. – Isabelle se sentou na cama e tirou o sapato

– Acho que vou mesmo, nunca pensei que acompanhar vocês nas compras fosse tão cansativo. Agora entendi porque vocês separavam um dia inteiro lá no Brasil pra fazer isso. – eu e Isabelle rimos com a cara de Liam

– Tá pensando o que amorzinho? Vida de garota não é assim tão fácil.

– Principalmente se sua melhor amiga for Isabelle. – completei-a rindo

– Verdade, principalmente se eu for sua melhor amiga. – ele se levantou da cama e me abraçou de lado

– Ainda bem que sou homem. Basta uma calça jeans, uma camisa polo e um tênis que tá ótimo. – Liam se levantou também. – Agora vou pro meu quarto, quero um banho e uma ótima noite de sono, já que amanhã cedo nós vamos sair.

– Já tinha me esquecido desse detalhe. – comentei baixinho

– Fazer o que né? Vamos logo Liam, deixemos nosso bebê dormir. – Isabelle puxou Liam pra porta do quarto rindo. – Boa noite amiga! Te amo!

– Boa noite Amy, até amanhã!

– Boa noite gente, amo vocês!

Eles saíram do meu quarto, me deixando sozinha com meus pensamentos, que pela terceira vez naquele pequeno intervalo de tempo, voltou-se pra aqueles olhos azuis. Acho que eu estava começando a sentir algo por aquele menino. A forma como eu me sentir sobre o seu toque, como minha pele se arrepiou, eu não conseguia parar de pensar naquele momento sem sentir algo diferente dentro de mim.

Tratei de afastar logo esses pensamentos e ocupar minha mente com outra coisa. Peguei as sacolas que estavam em cima da cama e coloquei-as junto com as outras dentro do closet. Tirei meu sapato e comecei a arrumar peça por peça, que eu tinha comprado e que estava nas minhas malas, dentro dos armários. Separei o lugar das joias, dos sapatos, vestidos, blusas, calças, saias e casacos, que tinha sido uma das coisas que eu mais comprei.

Estava perdida no tempo, devia ser por volta de 1 hora da manhã quando fui tomar um banho e vestir um pijama pra dormir. Quando deitei na cama, minha mente ainda estava trabalhando a mil, eu não iria conseguir dormir. Foi quando meus olhos pararam sobre a porta que todos estavam comentando e minha curiosidade falou mais alto. Levantei-me da cama e fui ate lá.

Abri a porta e dei de cara com uma escada um pouco íngreme. Tateei a parede até achar algum interruptor, quando achei acendi a luz. A escada subia em caracol até uma salinha não muito grande, podia sentir em baixo dos meus pés o carpete confortável que forrava o chão e toda a escada. Quando cheguei ao topo tinha mais uma porta, abri-a e liguei a luz.

Involuntariamente recuei um passo e tapei minha boca pra não gritar de surpresa. Meus pais tinham feito um pequeno estúdio só pra mim! Tinha duas guitarras, uma vermelha e outra com a bandeira dos Estados Unidos, um violão com dégradé azul, uma bateria e, bem no centro, o que mais me chamou atenção, um piano de cauda marfim.

Fechei a porta atrás de mim e caminhei lentamente até o piano, apreciando a visão daquele instrumento que eu tanto amava. Sentei-me na banqueta do piano, abri a tampa do teclado e passei meus dedos por cima das teclas. Olhei ao redor e para observar cada detalhe do estúdio, e percebi a as paredes eram revestidas com um material de isolamento de som. Aproveitei que se eu tocasse ninguém escutaria e comecei a matar minha saudade do piano com a primeira sinfonia que aprendi e sabia de cor, a 9º sinfonia de Beethoven.

As notas começaram a sair automaticamente, conforme meus dedos deslizavam nas teclas. Sentia a musica fluindo, e enquanto eu tocava e cantava baixinho algumas musicas no piano os pensamentos que eu tinha com o menino de olhos azuis se esvaiam da minha mente. E foi em cima do piano mesmo que eu acabei dormindo.