Falling in Love escrita por Susannah Grey


Capítulo 36
Capítulo 36


Notas iniciais do capítulo

Nem demorei tanto dessa vez, né? Pra quem estava com bloqueio até que o capítulo saiu razoavelmente cedo... Mas com o Enem batendo na porta, eu precisava de algo pra me acalmar.. Kkkkkk Bom, o próximo capítulo já está sendo escrito, mas devo estar postando na semana do Enem ou só depois dele, já que minhas próximas semanas vão se resumir em "estudar pro Enem"...
Enfim, espero que gostem ^^ Vou responder aos reviews aos poucos, estou sem tempo para acessar o Nyah, acho que vocês já perceberam isso..
Boa leitura!!! *----*



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Leiam as notas finais! Importante!

Vesti o casaco de Phillipe assim que saí do carro. Alguns pontos na minha cintura estavam doloridos, eu não tinha visto, mas podia apostar que estavam roxos. Preferi não comentar nada e disfarçar a dor na frente de Will, ele já estava abalado demais para ficar remoendo o que fez. Mesmo tendo me pedido desculpa várias vezes no caminho para o hospital e eu já tendo o desculpado, ele parecia não esquecer o que tinha feito. Bem, eu também não me esqueceria.

Pedimos informação logo na recepção, eu não estava me sentindo muito bem com aquela roupa minúscula, mas não podia deixar Will nessa sozinho. Quando eu conversasse com minha mãe e deixasse ele com o pai, voltaria pra casa.

Subimos até o 4° andar do hospital, David já tinha saído da cirurgia que tivera de fazer de última hora, estava no quarto dormindo, sob efeito de analgésicos. Não demorou muito para encontrá-lo, Will logo entrou para ficar ao lado do pai. Pude vê-lo chorando através do vidro, ele parecia sussurrar alguma coisa enquanto segurava a mão de seu pai.

– Ele precisa ser forte. - escutei a voz da minha mãe atrás de mim, olhei-a com o canto dos olhos, ela parecia cansada. - O AVC dele foi muito forte, tomou praticamente todo o lado esquerdo do cérebro. Se ele se recuperar da cirurgia, as chances dele voltar a andar ou falar são quase nulas. - Virei-me pra ela. - As primeiras horas são sempre as piores, tivemos que induzí-lo ao coma, o corpo dele está muito debilitado e seu cérebro está inchando muito. Queria poder ter mais opções do que fazer.

– Não fique assim, mãe. A senhora já fez tudo o que poderia como médica. Agora só podemos esperar o corpo dele reagir. - Tentei tranquilizá-la. Ela sorriu levemente e acenou com a cabeça.

– Não pense que nosso compromisso de amanhã vai ser adiado. Uma ótima neurologista está de plantão. Já passei todos os dados pra ela. Eu não iria trabalhar hoje, só vim por causa dele, então sem desculpas. Amanhã teremos o dia de mãe e filha. - O semblante dela mudou de cansada para sapeca, como se ela fosse aprontar alguma coisa. Revirei os olhos, só ela mesmo pra lembrar disso em uma hora como essa.

Confirmei com um aceno de cabeça e voltei a observar Will, mas ainda observava minha mãe com o canto dos olhos. Ela estava tentando ser forte, eu sabia disso. Suponho que por minha causa, ela sabia que Will era meu amigo e que eu tenho um certo afeto por cada funcionário daquela casa.

– Você vai pra casa comigo ou vai esperar pelo Will? - Minha mãe perguntou depois de um tempo, logo atrás de mim.

– Acho que ele não vai voltar pra casa tão cedo. - comentei mais para mim do que para ela. Pensei em ir me despedir, mas não queria estragar o momento dos dois juntos. - Vou com a senhora. - respondi.

– Tudo bem. Vou ligar para o Sr. Andrew vir nos buscar. Nos encontramos no estacionamento, não demore. - Dito isso minha mãe saiu, já com o celular na mão.

Observei mais um pouco Will e o pai através do vidro. Dava pra notar o quanto Will o amava. Sua angústia era palpável. Vi quando uma enfermeira estava se aproximando do quarto segurando uma bandeja com alguns frascos, agulhas, gaze e esparadrapo. Provavelmente eram os remédios de David e ela deveria estar indo trocar os curativos dele.

– Com licença. - chamei sua atenção, ela se virou um pouco confusa. - A senhora que vai cuidar de David?

– A senhorita é da família? - ela perguntou mantendo o tom profissional.

– Sua uma amiga. Só queria que me fizesse um favor. Queria que avisasse ao filho dele, Will, o menino que está aí dentro, que eu tive de ir para casa, mas que amanhã no fim da tarde eu volto. - Ela assentiu.

– E a senhorita se chama? - perguntou inclinando a cabeça para o lado, me analisando da cabeça aos pés. Provavelmente tirando conclusões precipitadas ao meu respeito por causa da roupa. Forcei minha voz a sair gentil, ignorando aquele incômodo por já saber o que ela estava achando que eu era.

– Pode dizer que foi a Amy quem disse. Ele vai saber. - respondi com um sorriso, ignorando a vergonha e a raiva que eu sentia. - Preciso ir agora. Por favor, não esquece de falar pra ele.

– Tudo bem. Tenha uma boa tarde. – Deu um sorriso falso. Sorri também e fui atrás da minha mãe.

Assim que cheguei em casa fui tomar um banho. Já estava escurecendo e começava a ficar frio, queria tomar um banho bem quente, vestir um pijama confortável e ir dormir. Estava me sentindo exausta depois de tudo o acontecera hoje.

Liguei as torneiras para encher a banheira e voltei para o quarto, tirando minha roupa e ficando só com minhas peças íntimas. Algumas marcas roxas se faziam presente na altura das minhas costelas, aquilo iria demorar de sair. Peguei meu celular na bolsa pra ver se tinha alguma mensagem. Apenas duas de Ashley e três de Isabelle. Depois do banho eu leria as mensagens. Joguei o celular na cama e voltei ao banheiro.

Passei no closet para pegar uma roupa íntima e antes de seguir para o banheiro me examinei no grande espelho que tinha ali. Mesmo sendo magro, eu tinha um corpo típico brasileiro, pernas grossas e seios generosos. Meu corpo era muito lindo e chamava bastante a atenção dos homens, isso eu não podia negar, e era por isso que eu sofria tamanho assedio. Por causa disso que agora minha cintura estava com marcas roxas onde Will tinha me segurado.

Com um suspiro prendi meu cabelo com um nó em um coque alto, terminei de me despir e entrei na banheira, enquanto desligava a torneira e descansava minha cabeça na borda, murmurando a primeira música que veio em minha cabeça: Heaven. Foi praticamente impossível não me lembrar do beijo e evitar o pequeno sorriso que escapou entre meus lábios ao lembrar tão bem da maciez dos lábios de Chris nos meus. Meus pensamentos foram interrompidos com uma batida na porta.

– Quem é? - perguntei despreocupada, ainda tentando relaxar.

– Amy, você tem visita. - Era Samantha, ela era responsável por me avisar sempre que alguém queria me ver, obra de Evelyn, a governanta. Tive vontade de me afundar na banheira e me esconder. Não se podia mais nem descansar em paz?

– Sabe quem é ou o que essa pessoa quer? Não estou esperando ninguém.

– Um rapaz disse que precisa falar com você. O que eu digo?

– Diga que já estou dormindo. Estou muito cansada e não estou afim de receber ninguém.

– Tudo bem. Boa noite, Amy. - ela disse se afastando da porta.

– Boa noite, Sam. - gritei para que ela me ouvisse de longe.

Continuei meu banho tranquilamente, quando já estava sentindo meus músculos mais relaxados e meus dedos enrugados, saí da banheira, esvaziando-a, e fui para o chuveiro, lavar meu corpo e tirar o sabão, ficando apenas com o cheiro do meu óleo corporal de rosas. Assim que fechei o chuveiro escutei o toque do meu celular. Eu tinha deixado ele em cima da minha cama. Enxuguei o excesso de água do meu corpo, vesti minha roupa íntima, única coisa que eu tinha levado comigo ao banheiro, e me enrolei na toalha enquanto ia buscar o bendito celular que não parava de tocar.

Parei assim que passei pela porta do closet, automaticamente passei meus braços ao redor do meu corpo, principalmente por cima do meu busto, e desejei que a toalha fosse bem maior e cobrisse mais do que apenas o estritamente necessário.

– O que você está fazendo aqui? - perguntei, minha voz soando mais assustada do que eu gostaria.

– Precisava falar com você. Aquela tal de Samantha não sabe mentir muito bem, eu sabia que não estava dormindo. - disse, me observando de cima a baixo.

Estremeci com o arrepio que percorreu meu corpo com a intensidade de seu olhar. Instintivamente recuei um passo. Ficar sozinha com Chris já me deixava nervosa. Ficar sozinha com ele em um quarto e com praticamente nada cobrindo meu corpo me fazia perder a cabeça.

– Não. Saia. Daí. - falei pausadamente enquanto tentava voltar para o closet. Ele se levantou e se aproximou. Senti meus pés travando no lugar, tamanha era sua aproximação. Será que ele não podia só ficar parado?

– Por quê? Está com medo do que eu posso fazer? - perguntou erguendo uma sobrancelha e sorrindo de lado. Tive que olhar um pouco para cima pra olhá-lo nos olhos, sentia minhas pernas bambas e meu coração disparado.

– O que você quer de mim? - perguntei num sussurro, incapaz de falar mais alto. Ele abriu um sorriso safado e imediatamente me arrependi de ter feito aquela pergunta.

– O que eu quero? - Ele se aproximou mais, também sussurrando. - Quero muitas coisas, Amy. - Senti minhas costas encostar em algo frio, só então percebi que enquanto ele avançava, eu recuava, mas agora estava encurralada. Suas mãos alcançaram minha cintura e estremeci com seu toque, não por causa da dor, mas sim por causa das ondas de arrepios que percorreram todo o meu corpo a partir daquele ponto. Ele percebeu e seu sorriso se intensificou. - Se eu fizesse tudo o que eu quero com você, não iria sair hoje desse quarto. - Ele puxou meu corpo de encontro ao seu tão rápido que ofeguei quando encontrei seu peitoral musculoso, ainda sem desviar seus olhos dos meus. - Se você pudesse se ver nesse momento... Tão sexy com esse olhar faminto, sedento...

Ele acariciou meu rosto com a mão livre, enquanto a outra ainda estava possessa em minha cintura, apertando-a levemente. Mantive minhas mãos em seu peito com a intensão de deixá-lo um pouco longe. Missão Impossível. Aproximou seu rosto do meu e por um segundo tive a impressão de que ele ia me beijar e, por mais que eu quisesse negar, eu queria que ele me beijasse. Nossos lábios estavam quase colados, ele estava tentando acabar com minha sanidade e qualquer resquício do controle que eu tinha por mim. Era sempre assim quando ele estava por perto.

– Queria te pedir desculpa pelo que aconteceu hoje mais cedo. - ele sussurrou, próximo demais.

Alternava meu olhar entre seus olhos e seus lábios, me controlando para não atacá-lo ali mesmo. Será que ele tinha se arrependido do nosso beijo? Bom, eu tinha dito pra ele esquecer, não seria estranho se ele quisesse fazer exatamente isso.

– Não sei o que me deu na cabeça para atacar aquele idiota daquele jeito. - Olhei-o confusa, então era disso que ele estava se desculpando? Ele sorriu. - O que foi? Achou mesmo que eu iria pedir desculpa por ter te beijado? Sinto muito, pequena, mas não vou fazer isso. - Ele desviou seus olhos para meus lábios e senti meu coração martelando mais forte em meu peito. - Até porque eu quero fazer exatamente a mesma coisa agora. - murmurou, ainda com os olhos cravados nos meus lábios.

– Então faz. - sussurrei e, antes mesmo de perceber o que tinha dito, Chris já tinha acabado com qualquer distância entre nós.

Beijar Chris era como se sentir em uma montanha russa, senti minhas pernas ficarem bambas, meu coração martelando muito forte em meu peito, minha mente enevoar e minha respiração ficar ofegante. Tudo em questão de milésimos de segundo.

Seu beijo era sedento, como se tivesse esperado muito para poder fazer isso, eu correspondia na mesma intensidade. Qualquer resquício de racionalidade que gritava em minha mente que eu era apenas mais uma na sua grande teia de conquistas foi apagado no instante em que sua língua entrou em contato com a minha. Senti um arrepio percorrer todo o meu corpo, dos pés a cabeça, e um calor nos envolver. Levei minhas mãos ao seu cabelo macio, puxando-o de leve e entrelaçando meus dedos por entre ele. Senti uma de suas mãos que estava em minha cintura subir até meu cabelo e soltá-lo, deixando meus cachos livres, assim como o caminho para seus dedos entrarem ali e puxarem de leve, fazendo mais ondas de arrepios percorrerem meu corpo. Ele era o único capaz de fazer meu corpo corresponder nessa intensidade.

– Amy, eu queria saber se... - Me afastei de Chris no mesmo instante em que minha mãe parou de falar. Olhei para ela que sorria de orelha a orelha. Senti meu rosto esquentar, muito. - Desculpe, podem continuar, mais tarde eu volto. - ela disse e piscou um olho pra mim, saindo do quarto logo depois, fechando a porta atrás de si.

Minha respiração ainda estava ofegante, mantive o olhar baixo, não queria encarar Chris agora. Sabia que corria sérios riscos de acabar beijando-o de novo. E dessa vez não sabia se conseguiria parar.

– Sua mãe parece ser uma pessoa muito legal. - ele comentou. Não precisava nem olhar pra ele pra saber que estava sorrindo, aquele maldito sorriso que fazia minhas pernas tremerem de tão lindo. Ainda sentia o calor nos envolvendo. Me afastei mais dele, indo até o closet.

– Dessa vez não saia daí. Tenho uma tesoura aqui dentro e sei como usá-la. - ameacei, ainda sem olhá-lo.

Entrei correndo no closet, vestindo uma calça de moletom e pegando logo uma camiseta folgada.

– O que foi isso? - Senti seus dedos tocarem na minha pele, na altura da cintura. Droga! As manchas roxas. Terminei de vestir a blusa, que já estava cobrindo o busto.

– Nada demais. - disse enquanto ia ao banheiro, prendendo novamente meu cabelo no caminho. Só queria manter uma distância segura daquela tentação que eu chamava de amigo.

– Foi aquele idiota que fez isso?! - Escutei Chris rugir, ainda do closet. Ele estava estressado, iria brigar de novo.

– O que você tem contra ele? - perguntei me apoiando na porta do banheiro, que fazia divisória com o closet. Olhei-o nos olhos, dessa vez percebendo sua luta interna.

– Você não respondeu minha pergunta. - ele disse com a voz contida, provavelmente controlando sua raiva.

– E nem você a minha. - provoquei com um sorriso de lado.

– Você é tão irritante! - ele bufou, jogando suas mãos para cima.

– Você não gosta dele porque eu sou irritante? - provoquei de novo, arqueando as sobrancelhas, fingindo confusão. Ele me fuzilou com o olhar e tive que me segurar muito para não rir.

– Não. Mas o motivo de eu não gostar daquele asno também te inclui. - ele disse, se aproximando a cada palavra, até parar na minha frente e levar suas mãos à minha cintura, afagando-a sutilmente. - Desculpe por isso, ele não deveria ter encostado um dedo em você. - Suspirou. Aquela voz extremamente calma, baixa e rouca de Chris fez um calafrio percorrer minha espinha.

– Não se desculpe por algo que não foi você quem fez. - sussurrei. Sentindo-me subitamente culpada por defender Will. - O que ele fez de tão grave com você?

– Eu ainda vou te contar tudo. - Ele acariciou minha bochecha e parou seus dedos próximos aos meus lábios, seus olhos se fixaram ali. - Muito em breve você saberá de tudo.

Ele se aproximou lentamente e depositou um beijo suave em meus lábios. Tinha como não se apaixonar mais por aquele garoto? Sorri, ainda com os lábios dele nos meus.

– Tenho que ir agora. Nos vemos amanhã. - ele disse e me beijou de novo. - Boa noite, pequena.

Deu-me um selinho e saiu do closet. Pouco tempo depois ouvi a porta do quarto se fechando também. Apoiei minha costas no batente da porta e escorreguei até estar sentada no chão. Onde eu estava me metendo? Se já estava difícil me controlar com ele longe, como eu faria agora que ele já estava tão próximo? E pior, eu já estava viciada em seus beijos. Eu estava perdida.

...

Estava andando no shopping com minha mãe há pelo menos duas horas. Já tínhamos ido deixar algumas sacolas no carro pelo menos três vezes. Ela estava determinada a encher meu closet de roupa, já que, se comparado ao meu do Brasil, ele estava praticamente vazio. Paramos um pouco na praça de alimentação, já estava na hora do almoço e fazer compras me deixava exausta e faminta. Conversamos muito pela manhã, enquanto estávamos juntas, mas até agora ela não tinha comentado nada sobre a noite passada, mas eu sabia que o momento tinha chegado. Assim que nossa comida chegou comecei a falar.

– Mãe, sobre ontem...

– Não precisa explicar. Só agradeça por ter sido eu e não seu pai a ter aberto a porta aquela hora. Só quero saber uma coisa... - ela fez uma pausa e olhou-me diretamente nos olhos. Vi todo seu carinho naquele olhar. Eu amava minha mãe, muito. - Você gosta dele?

– Eu o amo, mãe. - disse suspirando. Era difícil admitir isso em voz alta, ainda mais sabendo que talvez ele não sinta o mesmo que eu.

– Mas...? - Ela me conhecia muito bem. Sorri de lado ao perceber isso. Eu podia ficar muito tempo sem conversar direito com minha mãe, mas ela sempre iria me entender.

– Mas ele gosta de outra pessoa e nem com ela ele quer assumir. Ele é aquele tipo de pessoa que fica com qualquer uma, a qualquer hora. - Suspirei um pouco triste.

– Não me parecia que ele gostava de outra pessoa ontem. - comentou, começando a comer.

– Mãe! - repreendi-a.

– Só estou falando a verdade. Eu sei o que eu vi, e ele me parecia bem apaixonado também. - Ela parou e me encarou. - Amy, meu anjo, eu acho que você deve se dar uma chance. Ao menos uma vez na vida você deve se arriscar. Como você vai saber se vale a pena se você deixa suas oportunidades escaparem?

– Não é tão simples assim...

– Não. É simples assim, você que está complicando. - Arqueei as sobrancelhas, ela sorriu. - Nem me olhe assim, você sabe que estou certa. - Revirei os olhos e continuei comendo. - Você gostou de beijá-lo?

Engasguei com o suco, por causa de sua pergunta.

– Mãe! - a repreendi, de novo.

– Estou falando sério, Emily. Veja bem, eu sempre fui uma pessoa quieta, mas um dia, quando eu tinha 16 anos e ainda morava aqui nos Estados Unidos, eu conheci um brasileiro. Ele estava passando as férias de verão dele aqui, em uma viagem com a turma da faculdade. Posso dizer que me encantei por ele assim que o vi. Ele parecia ser o mais popular entre todos e nunca que ele teria olhos pra mim, uma menina baixa, magra e super sem graça. Lembro como se fosse ontem do dia que nos falamos pela primeira vez. Pareceu cena de filme. - Ela sorriu com a lembrança. - Eu estava indo pra casa e acabei tropeçando, teria caído no chão se não fosse por ele. Quando teve certeza que eu estava bem ele me perguntou meu nome e onde eu morava. Ele não sabia que eu também era brasileira, ele falou comigo em inglês e eu só respondi. - Suspirou. - Não queria que ele descobrisse que eu o observava. Depois desse dia sempre nos encontrávamos depois das minhas aulas. Íamos ao parque, tomávamos sorvete, coisas de amigos, nunca ultrapassamos essa linha. Um tempo depois, quando ele estava perto de voltar pra casa, eu descobri que ele tinha uma namorada e nós brigamos, não podia acreditar que ele tinha escondido isso de mim.

– Homens... Será que ele achava que conseguiria esconder uma namorada da senhora? - perguntei sorrindo e sentindo um pouco da raiva que minha mãe provavelmente deve ter sentido quando descobriu.

– Sabe que até hoje me pergunto isso? - Sorriu. - Depois desse dia eu nunca mais fui a mesma. Comecei a ir às festas, aproveitar a vida de todas as formas possíveis. - Ela sorriu, provavelmente achando graça da minha cara de descrença. - Estou falando a verdade. Digamos que eu tenha dado muito trabalho para seus avós depois daquilo. Não muito tempo depois nós voltamos ao Brasil, você sabe, porque sua bisavó morreu. Depois que eu entrei na faculdade essa minha atitude não mudou. Eu sempre mantive meu foco, eu sabia o que eu queria ser e sempre lutei para ser a neurocirurgiã que sou hoje. Sempre batalhei pra fortalecer o meu nome e ser reconhecida. Mas isso nunca fez com que eu deixasse de me divertir e saísse todos os finais de semana com meus amigos. Bebi muito, beijei muito, você nem tem ideia do quanto eu aproveitei.

Seus olhos pareciam distantes, como se estivesse se lembrando daquela época, mas em momento algum perdeu o brilho ou a felicidade que ela sempre carregava consigo. Muito menos seu pequeno sorriso. Eu ainda estava um pouco confusa com toda essa historia da minha mãe. Eu nunca diria que ela tinha sido do tipo festeira.

– Eu queria a todo custo esquecer aquele rapaz que eu conheci há muito tempo atrás. Só que o improvável aconteceu. - Ela sorriu. - Quando estava no meu terceiro ano na faculdade me chamaram pra participar de uma feira de profissões, eles costumavam chamar uma pessoa que está começando, uma que está no meio e uma que está acabando o curso, para os alunos terem uma boa visão de como tudo funciona. Imagine a minha surpresa ao ver aquele mesmo rapaz na área reservada às engenharias. Esse é realmente um mundo muito pequeno. Ele estava no último ano de engenharia elétrica e continuava exatamente a mesma coisa de quando o conheci. Eu o ignorei, afinal de contas nós tínhamos brigado antes dele ir embora. Mais tarde eu descobri que ele tinha terminado com a namorada um pouco depois daquela viagem, mas só deixei pra lá, eu estava convicta de que conseguiria tirar aquele sorriso e aqueles olhos da minha mente. Só que ele começou a pegar no meu pé. Disse que queria voltar a ser meu amigo e, mesmo eu tentando fugir a todo custo dele, ele não se afastou. Ele começou a frequentar as mesmas festas que eu, só pra ficar de olho em mim, não me deixava ficar com mais nenhum homem. No fim, quando o confrontei e perguntei o que ele queria de mim que não me largava, ele me disse a última coisa que eu poderia imaginar, e o que eu mais queria ouvir. - Seu sorriso se ampliou. - Ele disse que me amava e que não aguentava mais esperar pra ficar comigo. Disse que os três anos que passamos separados e brigados foram os piores da vida dele e, disse também, que ele já tinha planos de se mudar para os Estados Unidos, só para me encontrar. Ele achava que eu era de lá. - Ela sorriu. Eu estava impressionada, isso é que era uma bela historia de amor verdadeiro. Me peguei sorrindo também, a raiva que estava sentindo antes totalmente dissipada. - O resto da historia você já sabe. Começamos a namorar, casamos no meu último ano de faculdade, eu engravidei de você assim que me formei, e hoje aqui estamos. Casados há 18 anos, quase 19, e muito felizes. Aproveitando como se ainda tivéssemos nossos 23 anos.

– Uau. - disse impressionada, sem saber exatamente o que dizer. - Não sabia que a história da senhora com papai tinha sido tão conturbada assim.

– Só quero que você perceba uma coisa, meu anjo. Quando vi seu pai pela primeira vez eu não consegui mais esquecer aqueles olhos, eles ficaram gravados na minha alma. Só percebi que estava apaixonada um tempo depois, mas tudo começou na nossa primeira troca de olhares. Quando eu passava um tempo com ele era como se o tempo parasse, como se só existíssemos nós dois e a nossa conexão. Eu me arrepiava só com sua voz e já sentia todo o meu corpo corresponder e clamar pelo seu só pela sua proximidade. O que eu senti e sinto pelo seu pai é algo indescritível, mas verdadeiro. É um amor pra vida toda. O que eu quero te dizendo todas essas coisas? - ela perguntou, sabendo exatamente o que eu estava pensando. - Só quero que você perceba o quanto eu sofri longe do seu pai. Você não sabe se Chris te ama, tudo bem, mas você o ama. Você vai deixar seu amor passar por uma insegurança? Filha, você é linda, inteligente, esperta, educada, meiga e várias outras coisas que atraem qualquer pessoa. Se ele não te ama agora, não vai demorar muito para estar caidinho de amor por você. Por favor! Me diga uma pessoa que não gosta de você? - ela exclamou sorrindo. Sabia que tinha sido uma pergunta retórica, mas quis responder.

– A ex dele. - disse fazendo uma careta. Não suportava aquela menina. Minha mãe gargalhou, realmente achando graça do que eu tinha dito. - Estou falando sério. Ela até me ameaçou. - Revirei os olhos.

– Claro que ela não gosta de você. Ela sabe que você está interessada no "homem dela". - disse fazendo aspas com os dedos. - Agora em relação às ameaças, espero que ela não encoste um dedo em você. Sou capaz de virar uma leoa se a machucarem. - disse fechando a cara e ficando séria de repente. Foi a minha vez de gargalhar.

– Obrigada, mãe. Por tudo isso! - disse a abraçando, já tínhamos terminado de comer e ela já tinha pagado a conta.

– É pra isso que servem as mães, não é? Proteger suas crias, independente de qualquer coisa. - ela sorriu. - Eu te amo, bonequinha. - Ela me apertou em seus braços. Aquele era um dos únicos lugares no mundo onde eu me sentia realmente segura e aconchegada.

– Também te amo, mamãe. - disse, quase chorando. Como estava sentindo falta de momentos como aquele.

– Bom, só falta uma loja que eu ainda quero ir nesse shopping. Depois vamos ao spa e ao salão. Eu não esqueci que você me prometeu pelo menos aparar as pontas desse cabelo. - ela disse em um tom divertido, como se estivesse tentando me provocar.

– Fazer o que, né? Prometi, tenho que cumprir. - Suspirei. Lá vamos nós de novo.

Leiam as notas finais! Importante!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ^^ Bom, não sei se algum de vocês leram as notas do capítulo anterior, mas pra quem não leu eu deixei um recadinho.. Algumas leitoras disseram que não conhecem as músicas que cito aqui, por ter um gosto musical diferente.. Bom, eu só quero dizer que sou eclética e se você quiser dar alguma sugestão de música para eu colocar na estória pode ficar a vontade, se eu conseguir encaixá-la em alguma parte não hesitarei em colocar. Então, se quiserem podem me mandar o nome de algumas músicas que vocês gostam.. Se não quiser mandar por review, pode mandar por MP, sempre respondo qualquer um deles.. ^^
Estou aguardando uma resposta de vocês ^^