P.O.V. Amy
Acordei cedo, sentindo meus olhos inchados por causa da noite que eu passei chorando. Ontem Isabelle e Liam voltaram para o Brasil. Dessa vez a despedida não foi com um "até algum dia", Isabelle me prometeu que assim que chegasse iria me ligar pra saber como foi o meu dia. Eles planejaram tudo para que eu não ficasse sozinha durante o dia todo, chamaram Phillipe e Ashley para nos acompanhar até o aeroporto e combinaram com eles pra me ocuparem durante o restante do dia. Mas tudo que é bom acaba, e quando a noite chegou e eu fiquei sozinha comecei a sentir falta dos meus amigos. Tentei espantar essa saudade que me consumia tocando piano, mas sempre que eu tocava a imagem dele vinha na minha cabeça, e isso era outra coisa que eu queria esquecer.
No jantar na casa do governador, que por mero castigo do destino era pai de Chris e Lipe, ele ficou me olhando profundamente, com desejo nos olhos. Logo quando eu cheguei e o vi na porta simplesmente não conseguia formular nenhuma palavra, minha cabeça não estava processando nada pela surpresa. Queria que meu corpo não denunciasse o que eu sentia por dentro, mas quando ele se aproximou todo o meu corpo ficou quente, senti minha pele arrepiar, era como se aquele fosse o meu lugar. Como se fóssemos feitos um para o outro. Só que nossa realidade não era essa.
Pelo olhar dele dava para perceber que ele estava interessado em ficar comigo, e não namorar sério, que era o que eu queria.
Sentei da cama um pouco sonolenta e olhei a hora no meu celular que estava perto do meu travesseiro. Ainda eram 6:15, minha aula só começava às 8. Respirei fundo pra ganhar coragem e levantei da cama, mesmo que eu quisesse não conseguiria dormir de novo. Prendi meu cabelo em um coque e fui tomar banho.
Já fazia um mês que tinha me mudado para os Estados Unidos e só agora estava me acostumando com o fuso horário de três horas a menos. Agora seria só uma questão de tempo eu me acostumar com o horário da escola, já que no Brasil a aula começava às 7 e terminava 12:30. Aqui começava às 8, almoçávamos na escola e terminava 15:30.
Antes de dormir ontem, Belle tinha me ligado pra avisar que ela e Liam tinham chegado bem, passamos quase uma hora no telefone antes de desligarmos. Ela estava cansada e eu teria aula hoje, foi um acordo silencioso. Durante a ligação falamos sobre várias coisas, mas principalmente sobre Chris, Lipe e Ashley. Além de dizer que Lipe e Ashley seriam ótimos amigos, ela ficou dizendo que eu tinha de conversar com Chris, tentar abrir meu coração com ele, já que eu o tenho evitado desde o jantar. Sempre que íamos sair com meus novos amigos eu perguntava se Chris estaria perto ou se ele iria também. Eu só saía se ele fosse estar longe. Se eu tentasse esquece-lo as chances dos meus sentimentos por ele minguarem eram maiores. Como dizem: O que os olhos não vêem o coração não sente. Estava torcendo pra isso ser verdade.
Saí do meu banho mais desperta, fui até meu closet e vesti uma calça jeans preta, uma camisa de botão branca de manga comprida com um decote suave, uma jaqueta preta e uma sapatilha branca e preta. Coloquei meu relógio branco, brincos de coração e minha pulseira da sorte, continuei com o restante das jóias que usei ontém: meu colar com as fotos dos meus pais e dos meus amigos, minha pulseira com pingente de coração e minha aliança, que Isabelle me deu antes de ir embora. Ela disse que era para oficializar nossa amizade. Eu usava na mão esquerda, como se fosse casada.
Peguei meu óculos de sol e a mochila branca que minha mãe tinha comprado pra mim. Como meu caderno e canetas já estavam dentro, só precisei colocar meus fones de ouvido, minha carteira e a capinha do meu óculos. Saí do closet, deixei minha bolsa em cima da cadeira da cadeira da mesa de estudos e fui arrumar minha cama. Quando terminei, fiz uma maquigem básica: lápis, rimel, delineador e batom vermelho. Soltei meu cabelo do coque, que caiu em uma cascata de cachos dourados até minha cintura.
Antes de sair do meu quarto olhei a hora no relógio, ainda era 7:07. Faltava cerca de uma hora pra minha aula começar e eu não queria adiantar os eventos que aconteceriam junto com isso, qualquer que fossem eles. Eu não queria ver Chris, porque eu não sabia por quanto tempo eu ainda seria capaz de ignora-lo, e eu não queria ter que ir pra escola com Will, ele me deixava nervosa, com uma sensação estranha.
Há uma semana eu escutei meu pai conversando com ele a respeito disso e parece que ele não ficou tão animado quanto eu com a ideia de me levar pra escola, mas ele adorou a ideia de ter um carro pra ir para a faculdade. Então ele aceitou. Nos cruzamos algumas vezes, quando eu estava na piscina com Belle, Liam, Ashley e Lipe ou quando eu acordava cedo e ia pra cozinha conversar com Maggie, Sam, Ana e David, mas como da primeira vez ele só ficava calado e raramente dizia alguma coisa ou olhava pra mim.
Afastei esses pensamentos da cabeça e desci até a cozinha, provavelmente não veria meus pais antes de ir pra escola já que normalmente eles acordam na hora que minha aula começa. Quem sabe essas idas até o colégio não me digam alguma coisa a respeito de Will? Cheguei na cozinha e encontrei os mesmos rostos de sempre, só que ele ainda não tinha chegado.
– Bom dia! - falei com a voz animada me sentando a mesa para comer junto com David e Sam, Ana e Maggie estavam cozinhando alguma coisa.
– Bom dia. - responderam todos.
Eu e Sam começamos a conversar. Ela também estava animada por voltar a estudar, parece que as aulas da faculdade dela também começavam hoje. Estava quase terminando de comer quando Will entrou na cozinha com uma cara de sono que me fez segurar o riso e quando Sam o viu rio alto e ele a olhou com um olhar de poucos amigos, o que me fez olhar para o meu prato.
– A noite foi boa, hein Will? - perguntou Sam debochando, escutei-o bufar.
– Fica na sua Samantha. Fiquei acordado até tarde sem conseguir dormir. - ele falou e se sentou na unica cadeira livre: ao meu lado. Uma onda de arrepios percorreu a minha pele, o que me fez encolher os ombros.
– Essa falta de sono tem nome? - ela sorriu pra ele. Qualquer um que visse esse sorriso acharia que eles estavam tendo uma conversa totalmente amigável, sem nenhuma provocação. Agradeci mentalmente por Maggie e Ana estarem tão envolvidas na conversa delas e por David já ter saído da cozinha.
– Não! - ele respondeu rápido demais, pude ver pela forma que o rosto dele ganhou um tom um pouco rosado que ele não estava gostando do rumo da conversa. - Quer dizer, tem um nome. E o nome é insônia. - ele resmungou e encheu a boca de cereal, o que me fez rir.
Sam pareceu se satisfazer com a resposta dele porque não perguntou mais nada. Levantei-me da mesa e coloquei meu prato na pia quando Will também se levantou.
– Já está pronta? - ele perguntou e eu assenti. - Só vou no meu quarto pegar minha mochila e saímos. - informou e saiu.
Sam me olhou, apenas dei de ombros e subi para o meu quarto. Escovei os dentes, passei perfume e desodorante e desci. Peguei minha bolsa em cima da mesa de jantar e saí de casa no exato momento em que Chris estacionava um Mercedes preto em frente a porta. Coisas do meu pai. Guardei minha chave na bolsa, respirei fundo pra pegar coragem e entrei no banco do carona. Coloquei o cinto enquanto ele dava partida no carro.
Ele ligou o som do carro e segundos depois da introdução da musica consegui distinguir a voz de Chester Bennington, vocalista da banda Linkin Park, cantando Leave out all the Rest. Virei meu rosto para minha janela, observando a paisagem mudar. De árvores e flores a prédios e lojas, conforme nos aproximávamos do centro.
Passou-se cerca de quinze minutos até ele estacionar na entrada do meu novo colégio. Agora viria a pior parte: passar um dia inteiro correndo risco de qualquer aula ser ao lado de Chris. Tomara que eu esteja com sorte. Tirei o cinto e virei-me pra ele para agradecer, com a mão na maçaneta do carro, ele estava olhando fixamente para frente, podia perceber que estava tenso pela forma que os nós de seus dedos estavam brancos de tanto apertar o volante.
– Obrigada, eu acho. - murmurei, a visão dele estava me deixando nervosa. Abri a porta do carro para sair, mas antes que eu me movesse para fora ele passou o braço por cima de mim e a fechou. Olhei assustada pra ele, que agora olhava dentro dos meus olhos. Ele estava muito perto, me senti corar.
– Olha, se quisermos que isso dê certo não podemos simplesmente nos ignorarmos. - ele disse, percebi que ele estava em um conflito interno. Abri a boca pra dizer que ele que estava me ignorando desde o começo quando ele levantou uma mão para eu me calar. - Eu sei que não fui muito... - ele fez uma pausa, procurando a palavra certa. - Amigável no começo. Então estou disposto a começar de novo. O que você acha? - ainda estava surpresa por essa mudança dele, fiquei olhando nos olhos dele e ele entendeu isso como um sim, porque se afastou e me estendeu a mão. - Sou Will.
– Sou Amy. - balbuciei, minha voz ainda estava fraca. Pigarreei e continuei me recompondo. - Prazer em conhece-lo Will. - apertei sua mão e uma onda de arrepios percorreu minha pele, tentei disfarça minha inquietação olhando no relógio, faltavam dez minutos pra aula começar. - Tenho que ir agora, ainda tenho que pegar meus horários e descobrir qual é p meu armário. - dei de ombros e abri a porta do carro novamente. - Obrigada mesmo assim. - sorri
– Sem problemas, também estou ganhando com isso. - ele sorriu e piscou pra mim. Ok! Eu sabia que ele estava ganhando também por causa do carro, mas porque ele piscou? Balancei a cabeça afastando qualquer pensamento que viesse a me deixar mais inquieta. - Quando sua aula acabar me liga que eu venho te pegar, se você quiser é claro.
– Tudo bem, mas acho que vou voltar com Phillipe. - disse dando de ombros
– Só pra garantir anota meu número.
Peguei o número dele, me despedi e saí do carro. Ele realmente parecia ser uma pessoa legal, estava curiosa pra saber como esse novo relacionamento iria proceder em casa, no que iria mudar.
Segui direto para o prédio central, onde ficava a secretaria e a diretoria, apenas olhando em volta procurando por Ashley e Phillipe, mas como não os achei apenas entrei e fui até o balcão onde uma mulher estava sentada digitando alguma coisa e olhando para o computador a sua frente.
– Com licença. - falei tentando chamar sua atenção, ela desviou os olhos do computador e me olhou. - Sou nova na escola, eu... - ela me interrompeu
– Você é a novata do último ano? - ela perguntou com uma voz educada e sorrindo gentilmente. Assenti. - Venha comigo, por favor. - ela pegou alguns papéis que estavam separado, deu a volta no balcão e fez um gesto para eu segui-la.
Ela me entregou uma folha com meus horários, e logo no início tinha o número do meu armário e a senha. Ela se apresentou como Kate, lembrei-me dela de quando Ashley me mostrou o colégio. Ela me explicou como mudar a senha do meu armário e me disse que todos os livros que eu precisaria para a aula já estavam lá e se algum professor pedisse algum extra poderia procurar na biblioteca, mas se não tivesse era pra informá-la que ele iria providenciar.
Segui Kate até um corredor que tinham três portas, a do meu lado esquerdo era a enfermaria, a do lado direito os arquivos e a da frente a sala do diretor, Sr. Brown. Pelo menos era o que estavam nas placas em cada porta. Ela bateu duas vezes na porta do diretor e esperou-o responder para entrar.
– Bom dia diretor, aqui está a novata do Brasil. - disse Kate dando-me passagem para entrar.
A sala em si não era muito grande, mas era aconchegante. Se não fossem os trofeus espalhados pela sala até poderia dizer que se parecia com o escritório do meu pai. O diretor era um senhor que aparentava ter seus 52 anos, tinha um olhar gentil e me parecia muito educado.
– Obrigado Kate. - ele tinha uma voz autoritária que eu nunca diria que lhe pertencia até escutar. Ela apenas assentiu e saiu, me deixando com ele. - Senhorita Emily, não é? Sou o diretor Brown, mas se quiser pode me chamar de Cristian, e a pedido do seu pai e do governador vou lhe deixar em sua primeira aula, e apresentar-lhe aos professores. - Ótimo! Meu pai me arranjou uma babá na escola. Me segurei para não revirar os olhos.
– Tudo bem. - olhei meus horários pela primeira vez. - Minha primeira aula é de literatura inglesa. - comentei sorrindo por dentro, adorava essa matéria.
– Pedi que fosse de todo o ultimo ano, assim poderei apresentar você a todos os seus colegas de uma só vez. - ele disse sorrindo.
Ok, hora de entrar em pânico. Minha primeira aula seria com Chris?! Hoje eu não estava com muita sorte.
Claro que eu não disse nada disso e nem deixei transparecer minha confusão interna, então apenas assenti e o segui quando ele saiu de sua sala. Eu conseguia controlar minhas expressões e não demonstrar quando estava sentindo dor ou estava confusa, Isabelle costumava dizer que eu poderia ser atriz por causa disso, que se eu mentisse ninguém desconfiaria.
Ele me guiou até o campus das ciências. E antes que eu pudesse perguntar o porquê que estávamos indo pra lá ele me mostrou meu armário, disse que eu precisava pegar os livros pra primeira aula. Ele me esperou pegar os livros e mudar a senha do armário, depois fomos para o campus de linguagens. Quando eu subi entendi o que Ashley quis dizer quando mencionou os banheiros e bebedouros. No final dos corredores, perto das escadas, tinha bebedouros, de ambos os lados. E os banheiros ficavam no meio exato do corredor. Paramos em frente a uma sala, em cima da porta pude ver uma placa com os dizeres: Literatura inglesa, Prof. Zoey.
Podia escutar o barulho do outro lado da sala, eu ficava cada vez mais nervosa a cada segundo que passava, só de imaginar que nesse momento apenas uma porta me separava do menino que eu vinha evitando a um mês eu ficava apavorada. O diretor olhou pra mim e sorriu, devolvi o sorriso com o maior entusiasmo que consegui, o que não foi muito difícil. Ele bateu duas vezes na porta e entrou. A sala ficou em silêncio na mesma hora. Ainda estava do lado de fora, ele iria me chamar quando eu tivesse que entrar.
– Bom dia alunos do último ano! - escutei a voz confiante e autoritária de Cristian no interior da sala.
– Bom dia diretor Brown. - responderam os alunos em uníssono. Sorri comigo mesmo, em todo lugar os alunos pareciam ter medo dos diretores.
– Vim aqui apresentar-lhes nossa mais nova aluna. - ele fez um gesto para que eu entrasse. Respirei fundo, contei até três e entrei olhando para o diretor até parar ao lado dele e comecei a procurar Ashley ou Phillipe com os olhos, mas assim que desviei os olhos do diretor meu olhar encontrou aquele azul da cor da noite, o azul que eu sempre me perdia, que me fazia esquecer tudo e todos ao meu redor. Juntei toda a minha força de vontade para desviar os olhos, mas não antes de corar e ver o sorriso encantador que se abriu nos lábios dele. - O nome dela é Emily Johansson e ela veio do Brasil. Ela não está acostumada ao nosso sistema de ensino e espero que vocês a ajudem a se acostumar.
– Seja bem-vinda Emily. - a professora disse aproximando-se de mim estendendo a mão. - Sou Zoey, e eu vou ser sua professora de literatura inglesa pelo resto do ano.
– Muito prazer Zoey. - respondi cumprimentando-a.
– Bom, como já foram feita as apresentações vou voltar aos meus afazeres. Emily, qualquer duvida ou se você precisar de alguma coisa já sabe onde fica a minha sala. - disse o diretor, apenas assenti. Podia sentir o olhar de Chris observando todos os meus atos, como um predador que observa sua presa antes do ataque.
– Emily, pode escolher seu lugar ao lado de algum de seus colegas, já vamos começar a aula. - Zoey sentou-se em sua cadeira e o diretor saiu da sala. Todos voltaram a conversar.