O despertador tocou. Pela primeira vez eu não quis atirá-lo pela janela com o seu barulhinho irritante. Na verdade, eu já estava acordada a horas. Se hoje era um dia especial? Mais ou menos. Hoje faz exatamente dois anos que eu e Sean estamos juntos e ontem ele não pareceu se lembrar disso. Quer dizer, nem eu me lembrava até Alicia fazer o papel de melhor amiga e não me deixar passar uma data como essa, mas Sean andava tão ocupado que eu me perguntava se valia a pena lembrá-lo disso hoje. O coitado andava tão sobrecarregado com aquela história toda de faculdade que nas últimas semanas nem tinha tempo pra mim.

Me sentei na cama e fiquei encarando o espelho. Eu odiava admitir, mas estava começando a ficar chateada. Ficar tanto tempo longe de Sean, já que agora não nos víamos há mais de duas semanas e apenas ontem tivemos um encontro rápido, me fazia lembrar de como era antes, não que eu não gostasse da minha vida antes de estar com ele, mas agora eu via a possibilidade de me acostumar a ficar sem ele. Eu não conseguia imaginar meu futuro sem Sean e isso era um erro. Mas eu estava disposta a arcar com as consequências caso um dia ele queira me largar.

Credo. Eu andava com uns pensamentos negativos ultimamente. Suspirei para a Claire do espelho e fui me trocar. Como no primeiro dia, porém sem aquela pressa toda, peguei minha blusa pendurada na cadeira, vesti o short e calcei o novo all star, nem tão novo assim já que completava mais de um aninho agora. Por um momento senti falta do all star velho. Droga, não há nada pior do que sentir saudade de um tempo ou alguém que nunca irá voltar. Poucas dores se assemelham a essa. Não vi minha mãe na cozinha tão pouco ouvi o barulho de Ryan. Claro, minha mãe estava dormindo em plena quinta-feira e Ryan tinha ido para o apartamento de Thomas. Passei direto e peguei meu skate na porta.

Joguei o skate no chão e coloquei um pé. Dessa vez liguei os fones bem alto antes de dar o impulso e peguei o caminho até o parque. Em dez minutos avistei o balanço vazio, balançando fracamente de acordo com a brisa. Me sentei ali e esperei. Pelo quê? Não sei. Alicia e Erick não estavam nem viriam para cá.

_ Bom dia, bela adormecida! - cumprimentou Alicia.

_ Dez minutos. - Erick analisou seu relógio depois estendeu uma mão para mim - Parabéns Claire, bateu seu recorde de novo! Quem sabe amanhã você não se atrasa nove? Ou oito? Ou sete? Não, peraí, isso seria sonhar alto demais...

_ Idiota. - brinquei.

Alicia e Erick, os melhores amigos do mundo. Eles não estavam mais juntos, ainda são amigos, mas resolveram "dar um tempo". Nesse "tempo" Erick já ficou com três e Alicia teve o prazer de pegar a mesma quantidade. Parecia mais uma disputa, e eu queria saber até quando ia durar. Alicia ainda gostava de Erick, mas depois de três meses separados ela não tinha certeza se eles iriam voltar. Erick? Ele veio conversar comigo. Disse que estava confuso. Eu não aconselhei. Há coisas que simplesmente não podemos pensar muito, devemos deixar que o nosso coração pense pela gente. Mas como saber a resposta? Coração não fala, ora essa. Se a cada minuto que você fecha os olhos você pensa nele, se cada detalhes te faz pensar naquela pessoa, se os momentos que passaram juntos não saem da sua cabeça, e se a lembrança daquele sorriso te atormenta todas as noites, sinto dizer que você está apaixonado, e não pode mais viver sem ele. Erick não podia mais viver sem Alicia, eu só estava esperando o momento em que ele ia acordar e perceber isso.

Respirei fundo e segui para a praia. Sean estaria lá, eu não via a hora de vê-lo.

Comecei a andar pela areia com o tênis na mão quando avistei ele vindo em minha direção. Meu coração bateu mais rápido e eu senti minha respiração pesar, mas ambos se acalmaram quando viram que era apenas Erick.

_ E aí garota das fotos, dormiu bem? - ele perguntou.

Coloquei minhas mãos nos bolsos do short branco.

_ Cadê o Sean e a Alicia? - perguntei.

_ Eu estou aqui! - Alicia cantarolou sorridente e me abraçou pela cintura.

Agora tínhamos a mesma altura.

_ Eu não sei onde ele está. - Erick respondeu - Mas ele disse que viria, espere um pouco.

Assenti. Enquanto caminhávamos pela praia pensei em diversas formas de Sean me surpreender. Egoísmo da minha parte, mas qual garota não quer uma surpresa do namorado de vez em quando? Nós somos assim, sonhadoras, ficamos imaginando se algum dia passaremos pelo mesmo momento que a mocinha do filme. Meu celular vibrou. Era Sean.

_ Cadê você? - perguntei com a voz abafada. Eu queria tanto vê-lo.

_ Claire, eu sinto muito. - ele disse e eu já pude imaginar onde isso iria chegar. Mais uma vez meu coração bateu rápido - Não vou poder ir meu amor, aconteceu um problema com o trabalho que eu tinha que entregar hoje e vou ter que resolvê-lo de novo. - ouvi a nota de frustração em sua voz e Alicia riu do biquinho que eu fazia.

_ Tá, tudo bem. - falei.

_ Não fica chateada. - ele disse.

_ Não estou chateada.

_ Está sim.

Ele me conhecia tão bem que era difícil discordar.

_ A gente se vê amanhã, prometo. - ele disse e desligou.

Respirei fundo e apertei forte o telefone.

_ Ei, o pobrezinho não tem culpa. - Erick disse.

_ Eu sei. Foi por culpa de um trabalho da faculdade.

_ Não estou falando do Sean, e sim do telefone.

Bufei.

Gostaria de dizer que aquela fora uma tarde boa. Não foi ruim, foi muito agradável, mas a cada instante que se passava eu ficava imaginando se Sean não apareceria ali dizendo que disse aquilo só para me desanimar e depois fazer uma surpresa. Eu queria essa surpresa, mas ao final do dia ela não veio.

Voltei para casa. Ryan estava deitado no sofá cochilando. Com dezesseis anos ele estava mais alto que todos da casa. Subi para o meu quarto sem pressa e um pouco desanimada. Quando abri a porta já fui logo tirando a roupa para me trocar. Vesti uma blusa mais solta e fui para a minha cama. Em cima dela havia um bilhete. Meu coração bateu forte de novo.

Claire, sinto muito, o trabalho da escola era verdade mesmo.
Ainda assim, sinto tanto por não estar aí com você agora, pra te encher de beijos como você merece por ser a namorada maravilhosa que você é.
Não pude ir a praia, mas passei na sua casa de manhã depois que você saiu. Hoje, dois anos que estamos juntos percebi que não consigo mais ficar longe de você e cada minuto é insuportável para mim. Então, apenas não desista desse dançarino bobo e romântico que tenta ser o homem da relação (risos), mas que as vezes tem que se submeter a essas palavras tão piegas. Eu te amo tanto, que resolvi te provar que nada vai nos separar nunca mais.
Eu te amo garota das fotos,
mais do que qualquer música que o mundo já ouviu tocar.

Sorri boba. Música era um assunto sério para Sean. Era incrível como ele fazia tudo ser tão perfeito que as vezes eu me questionava se eu fazia o suficiente. Parecia que não, não importasse o que eu fizesse jamais chegaria aos pés do que ele faz para mim.

Deitei na cama de olhos fechados pensando nas palavras daquela carta. Ele me amava. Ri um pouco alto e abri os olhos.

O teto estava recheado de fotos. Não fotos minhas, mas fotos que Sean tirara. Da primeira vez na praia, de nós dois juntos, de Erick e Alicia, de Lucas, de Charles, de mim, Thomas e Amelia... Todas. Todas as fotos que um dia ele tirara. E no meio dela estava aquela que um dia ele tirara sem o meu consentimento na praia. Eu estava rindo como uma boba. Foi o nosso primeiro encontro.

Ouvi um barulho na minha janela. Quando eu a abri uma pedra voou longe e acertou meu guarda-roupa. Mal tive tempo de me desviar. Me afastei da janela e acompanhei o caminho da pedra. Havia um papel enrolado a ela e eu me aproximei para pegá-lo. Nele estava escrito Quer em letras grandes de forma. A segunda pedra acertou outra porta do guarda-roupa. Eu mataria Sean quando descesse as escadas para vê-lo. Na segunda pedra estava escrito Casar e eu não precisava de uma bola de cristal para saber o que estaria escrito quando a terceira pedra voasse pela janela.

Desci as escadas rápido e fui para o quintal de onde as pedras tinham vindo. Meu futuro marido estava ali, sorrindo, balançando a mão direita com anel.

_ Mas e o seu trabalho...

_ Já entreguei. - ele respondeu - Tive a ajuda de Thomas.

Não dissemos mais nada. Não era preciso, ele sabia a minha resposta. Sempre e sempre a minha resposta seria sim. Sim para ele. Sempre.