As primeiras aulas foram sem dúvida, as mais entediantes. Caminhei ainda sonolenta quando ouvi o sinal bater, para a cafeteria ao encontro dos meus amigos. Nossa mesa agora estava sempre movimentada com Erick, Alicia, Thomas, Lucas, eu, Amelia e raramente, algumas amigas dela que ficavam pouco tempo por ali antes de sair.

Me joguei com tudo na cadeira. Ainda podia sentir meus olhos se fecharem levemente enquanto eu tentava resistir aquela sonolência que me dominava.

_ Foi uma boa menina e se manteve acordada na aula do Sr. Evans? – Erick perguntou no instante seguinte em que eu enterrei minha cabeça em meus braços.

_ Eu juro que eu tentei. Resisti aos primeiros dez minutos, mas você sabe que em tempo quente fica impossível passar disso, com aquela voz monótona de quem parece estar com gripe... Repito, eu juro que eu tentei. – falei com a voz chorosa.

­_ Eu não a culpo. – Lucas se manifestou – Semana passada ele estava passando uma matéria sobre a Grécia antiga, tipo deuses e tudo o mais, e nos primeiros cinco minutos eu tive a certeza de que nas mãos de qualquer outro professor aquilo seria muito interessante, mas por algum motivo os rabiscos do meu colega do lado atraíram totalmente a minha atenção, e eu passei os últimos cinquenta minutos jogando forca com o Jason. – ele resmungou.

Os outros riram.

_ Toma Claire, pra você melhorar o seu ânimo. – Thomas passou uma bandeja para mim – Aliás Erick, quero garantir que hoje a tarde ainda está de pé. – ele falou.

Eu sabia que aquilo fazia parte da distração para arrumarmos a festa, mas achei melhor me fazer de desentendida.

_ O que ainda está de pé? – perguntei normalmente, mordendo com preguiça a minha pizza.

_ Droga. – Erick resmungou antes que Tommy pudesse me responder.

Sua camisa estava cheia de suco de uva, que ele havia acabado de derramar no tecido grosso e cinza que vestia.

_ Vou me limpar. – ele disse se levantando.

_ Você não precisava perguntar. – Thomas me repreendeu no momento em que Erick se afastou.

Não tive tempo de retrucar também. Sean se escorou rapidamente em nossa mesa, curvando-se para nós.

_ Bom, eu só queria tirar umas dúvidas sobre a festa do Erick. – ele disse diretamente sem nem mesmo cumprimentar.

_ Tipo o quê? – perguntei o encarando – Se pode levar mais alguém? Digo... Lina.

_ Claire. – Alicia me repreendeu.

Fingi não escutar.

Sean me encarou sem dizer nada, e depois de um instante se voltou para a mesa.

_ Eu queria saber que horas eu preciso estar lá. – ele disse.

_ Bom eu não sei, nós precisamos de ajuda a tarde... – Alicia começou.

_ Mas só precisamos de uma. – interrompi – O quer dizer que você vai precisar deixar suas, sabe-se lá quantas namoradas, já que você vive tentando beijar várias garotas por aí enquanto ainda está com outra, para trás.

As pessoas me encararam, mas antes que pudessem gritar comigo ou falar qualquer outra coisa, Sean se apressou a falar.

_ Quer saber, pode deixar. Já vi que não vou ser bem-vindo na casa. Thomas, se não se importa eu quero passar a tarde com vocês dois. Até porque, Erick é meu amigo, e se eu não posso passar a noite do aniversário com ele, que eu passe pelo menos o dia.

Sean mal esperou a resposta, e já se retirou dali.

_ O que deu em você? – Alicia me encarou brava.

Mas sinceramente, eu mal sabia. Eu só estava um pouco nervosa e ressentida, por depois de tudo ele ainda não ter falado comigo depois daquela noite.

_ Acho que chega uma hora que você não aguenta mais e explode. – falei mais como uma conclusão ao meu pensamento.

_ E aonde fica o “trata-lo como um igual”? – ela continuou – Acho que ele já percebeu que de igual isso não tem nada.

_ É bom mesmo. – respondi impaciente – Já estou cansada disso tudo. Não sou do tipo de otária que deixa os ouros brincarem com seus sentimentos, e nesse momento é isso que eu sinto que está acontecendo. E já passou da hora de eu pôr um fim nisso. Não é justo que eu fique sofrendo como uma idiota, e ele saia por aí pegando geral. Acho bom mesmo que ele perceba de uma vez por todas que foi estúpido, e que eu já estou cansada de esperar por um milagre, sonhando com o dia em que ele vai virar um homem de verdade e tomar a atitude de dizer o que sente pra mim. E não me importo com qual for a verdade, se ele gosta ou não. Apenas não é justo esconder de mim.

Me levantei bruscamente da mesa e saí. Ninguém veio atrás e eu também não esperava por isso. Então peguei meu material no armário, e fui descontente para a sala da próxima aula, pensando em como eu já estava cansada daquilo tudo.