Segunda de manhã acordei atrasada como sempre. Foi aquela típica correria para o parque, e tudo indicava que aquele seria mais um dia normal. Mas quando cheguei lá, Erick não estava.

_ Onde ele se meteu? – perguntei para Alicia que estava sozinha no balanço.

Ela suspirou.

_ O que aconteceu? Nós não podemos esperar muito tempo. – insisti.

Ela apenas suspirou mais uma vez.

_ O que foi Alicia, está tudo bem? – me alarmei.

Ela suspirou novamente.

_ ME FALA LOGO MULHER! ELE MORREU? – gritei assustada.

_ Não. – ela respondeu.

_ Oh! Então ela fala? – provoquei.

_ Desculpa Claire, só estou preocupada. – ela olhou para baixo e se balançou mais uma vez.

_ E preocupada com o quê? – perguntei me sentando no balanço ao lado do seu.

_ Com o Erick. – ela respondeu.

_ Dã! – dei um tapa na testa.

_ Ele me ligou hoje mais cedo. – ela continuou.

_ E...? – insisti com expectativa. Seria essa uma cobrança pelos sonhos? Seria Erick?

_ E eu atendi. – mais expectativa – E ele me parecia estar com pressa. – expectativa nível cinco – E ele estava bufando e atropelando as palavras – expectativa nível dez – E então ele me disse que não viria para o parque – expectativa nível cem – Porque não viria com a gente hoje.

_ E por quê? – exigi agora com a expectativa em nível mil!

_ Porque... – ela começou.

_ Por quê? – meu coração estava a mil.

_ Porque ele... – ela respirou fundo.

_ ELE O QUÊ? – eu estava a ponto de explodir.

_ Porque ele viria com Sean. – ela disse por fim.

Minha expectativa murchou. Voltou para o zero. E eu pude respirar aliviada. Não, esta não era uma cobrança.

_ E você está preocupada com isso? – sorri amigavelmente – Relaxa Ace, não tem nada demais, é apenas o Sean. – tentei tranquiliza-la.

_ Mas você não percebe Clarice? Como ele está com Sean agora? Sabe, parece que está se esquecendo da gente, nós tínhamos um trato quanto a ir a escola, porque ele quebraria para ir com um garoto que mal acabamos de conhecer! – ela me encarou.

_ Não é bem assim... – comecei.

_ É bem assim! Primeiro ele larga a gente, e depois...

Não deixei que ela terminasse.

_ Alicia, chega! Primeiro não use Clarice como se fosse uma palavra feita para discussões, sabe que não gosto disso. Segundo, deixa de paranoia, você está se vendo? Sean nem é uma garota! Você sabe muito bem o que isso é, não se precipite. É apenas uma vez, Erick deve ter um motivo, e nós estamos atrasadas sabia? Vamos e assim que chegarmos lá, nós procuramos por ele ok? – me levantei e comecei a andar.

No início não ouvi passos me seguindo, mas logo depois eles começaram a aparecer impacientes. Ignorei e continuei andando, ou então a paranoica seria eu. Não é necessário dizer o quão desconfortável foi o caminho até lá, mas depois de vinte minutos finalmente chegamos.

Alicia estava andando cada vez mais perto. Nós estávamos no corredor e eu seguia o caminho dos nossos armários. Erick não estava lá. Passei checando sala por sala, mas não o encontrei. Na cafeteria ele também não estava, e no auditório também não. Nem no campo, nem na quadra, comecei a me preocupar, e foi quando tomei o caminho menos provável com Alicia alarmada atrás de mim.

Eu geralmente não ia para aquele lado da escola, até porque não via motivos. Mas agora eu estava rezando para Erick estar lá, sendo que era um local bastante provável para Sean. O vestiário, onde os jogadores de futebol da escola ficavam.

Sean não era exatamente um jogador. Ele só era usado em jogos importantes da escola, porque mesmo sendo bom, o técnico não conseguia mantê-lo como um jogador permanente. Porque apesar de gostar, aquilo não era bem o que ele queria sendo que tomava muito do seu tempo.

Parei de frente ao vestiário e encarei a porta. Entrar eu não poderia, e também não faria isso, mas estava ficando nervosa com toda aquela situação e queria saber se ele estava ali.

_ Erick! – gritei e bati na porta – Ei, Erick! – bati impaciente – ERICK!

Quando eu ia bater, alguém abriu a porta de cara fechada. Era ele, Erick.

Olhei para trás e vi Alicia.

_ Satisfeita? – perguntei.

Ela corou.

Me voltei para ele para ver o porquê. Erick estava apenas com uma toalha amarrada na cintura. O cabelo todo molhado e seu peitoral a vista. Não me admirava a vergonha de Alicia, mas ao contrário dela eu não corei. Ver Erick daquele jeito não causava impacto para mim, apesar dele realmente estar de tirar o fôlego! Nunca reparei em Erick realmente, mas agora até que analisando bem, ele era um gato.

Ri com esse pensamento.

_ O que você quer, alguém morreu? – ele me encarou de cara feia.

_ Não, mas iria morrer se não te vesse. Você assustou nossa amiguinha ali, e ela me assustou também. – expliquei – Onde você se meteu? – exigi.

_ Ei cara! – alguém gritou lá de dentro – Você viu onde meti meu uniforme? Estava aqui ao lado do seu no banco.

Não reconheci aquela voz.

_ Não! – ele gritou de volta – Já olhou em cima do armário?

_ Vou olhar! – a voz devolveu.

_ Eu explico mais tarde tá bom? Agora não dá. – ele disse impaciente.

_ Poxa cara, não é que tava aqui mesmo? – a voz gritou novamente.

_ Eu avisei! – Erick respondeu batendo a porta na minha cara.

E indignada, fiquei ali parada com Alicia tentando entender direito.