Sangue Sobre Tela escrita por Noralexia


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Olááá pessoas lindaas.
Me desculpem a demora, eu simplesmente não conseguia terminar essa historia, me “desfazer” dela, encerra-la. Foi muito difícil pra mim...Mas, enfim, chegou, o ultimo capítulo, espero de todo coração que vocês gostem e que tenha valido a pena todo esse tempo de espera.



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–Quase não consigo acreditar que depois dessa excursão poderemos viver juntos– aconchegou-se melhor no ombro do namorado.

–Para sempre! – Estavam sentados no banco de um ônibus amarelo que levava todos do orfanato a uma galeria de arte barroca em uma cidade próxima, Angel cochilava no ombro de Victor enquanto ele afagava seus cabelos loiros e observava a chuva que caia torrencialmente lá fora.

A estrada de mão dupla contornava a borda de um grande morro, quase uma montanha, de forma que a direita havia um grande barranco e a esquerda uma parede de terra. O céu estava escuro, o vento urrava e chuva dificultava a visão, mas Victor pode ver claramente o momento em que uma gigantesca pedra se soltou da parede de terra e caiu na estrada forçando o motorista a virar bruscamente na direção da pista contraria, mal terminada a manobra o ônibus foi atingido por um caminhão de tijolos e lançado no desfiladeiro, as coisas começaram a acontecer então em câmera lenta, todos se agitaram com o barulho dos pneus queimando o asfalto e a colisão. Duas rodas do ônibus saíram da pista e logo rolou ladeira a baixo. Bolsas, pessoas, cacos de vidro, objetos irreconhecíveis, tudo girava, arvores eram arrancadas. O desnível do local fazia a queda mais e mais cruel. Ao bater bruscamente no fim do vale, a muitos metros abaixo da estrada, o veiculo parou de ponta-cabeça e lançou os passageiros para um ultimo impacto. Alguns caíram pelas janelas quebradas, outros ficaram presos nos bancos e nas ferragens retorcidas, outros, como uma garota que tinha o corpo cortado ao meio, já estavam visivelmente mortos, e mais alguns gritavam ou choravam, pedindo por socorro. Victor havia tentado ao máximo segurar Angel nos braços, mas após incontáveis cambalhotas, acabaram se soltando. Caiu novamente do chão e ferragens soltas do teto caíram sobre ele, Angeline foi lançada na direção das janelas, as paredes amassadas, do que a minutos atrás era um veiculo, cederam caindo por cima do corpo da garota:

–Angel... – o garoto de cabelos pretos tentou se arrastar, mas seu corpo estava preso, sua visão estava turva e um corte em sua testa lançava sangre sobre seus olhos. Aos poucos foi perdendo a consciência.

Sirenes, gritos, “este também já está morto”, soluços, uma explosão, mais sirenes. Acordou em um quarto no hospital, um de seus braços estava engessado e o outro coberto por curativos de uma possível cirurgia, seu tornozelo direito tinha varias bandagens, havia também faixas em sua cabeça e em metade de seu tórax, já manchadas por sangue, hematomas cobriam o resto de seu corpo. Sua memoria estava confusa, estava viajando com o orfanato, estavam num ônibus, o ônibus caiu de uma ladeira. Angel... Levantou-se da cama o mais depressa que pode, todos os cantos de seu corpo doíam, mas o desespero obrigou-o a ignorar a dor, uma mala de roupas que tinha deixado para quando saísse do orfanato estava no canto do quarto. Vestiu um jeans e uma jaqueta preta larga que escondia seus braços machucados. Arrancou a faixa da cabeça e descobriu um corte, remendado com pontos largos, que iam do meio de sua testa até sua têmpora direita, escondeu-os com um boné vermelho. Saiu do quarto mancando o mínimo possível, nenhuma enfermeira no corredor, chegou à recepção:

–Oi, com licença– chamou a atendente no balcão que apenas o encarou inexpressiva– pode me dizer em que quarto está Angel Sky?

–Ah, querido, não temos ninguém aqui com esse nome. –disse a mulher de meia idade após verificar seu computador desmazeladamente.

–Desculpe. Angeline, Angeline Harker. –mais uma pontada de desespero pesou em seu peito. Impaciência tomava conta de seu corpo enquanto a mulher procurava apaticamente pelo nome.

–Aqui, quarto 223, mas não acho que vá conseguir entrar lá porque ainda não é horário da visita e... –Victor já havia desaparecido.

A dor se tornará irrelevante naquele momento, apesar de seu tornozelo enfaixado estralar a cada passo. Corria desesperado pelo gigante corredor cheio de portas, 201, 202, 203, cada numero que passava parecia deixar o corredor mais longo, 205, 206, 207, um mau pressentimento o possuía o obrigando a correr mais rápido, 211, 212,113, por algumas portas abertas reconheceu o que havia sobrado de seus amigos do lar, 221, 222,223. Jogou-se na direção da porta, mergulhando dentro do quarto com o desespero de alguém que não sabe se a pessoa que mais ama na vida esta bem:

–Angel... –parou a alguns metros da cama– Angel! – se aproximou a passos longos, aquela cena marcaria para sempre sua memoria: deitada, inconsciente na maca de hospital, ela parecia duas vezes menor do que realmente era, ambos os braços engessados, as pernas cobertas por bandagens ensanguentadas, tubos conectados a seus braços roxos, um corte feio no canto da boca, uma longa sutura se estendia do meio da testa de Angel e descia pelo canto do olho quase até o queixo, a pequena parte do colo e dos ombros, onde a camisola deixava exposto, mostrava a pele queimada, com bolhas e manchas que se intercalavam entre preto e vinho e se estendiam até suas costas, hematomas se distribuíam por seu corpo pálido, se os aparelhos não apontassem seus sinais vitais seria fácil achar que ela estava morta – Ah, meu amor – estendeu a mão na direção do rosto de sua futura noiva, mas não a tocou, temendo feri-la ainda mais, se isso fosse possível– O que foi acontecer?!

–Vic... Victor– os olhos verdes sem brilho se abriram levemente- Victor...eu... –tossiu.

–Shh! – colocou o dedo indicador o mais leve possível sobre os lábios pálidos da garota– esta tudo bem.

–Eu te amo... – tossiu novamente– não importa o que aconteça... Eu sempre vou te amar – a tosse se tornou estranha e rouca– eu sempre vou estar com você... – então a frase foi interrompida com um filete de sangue que escorreu de sua boca para o dedo indicador do jovem.

–Ah, meu Deus! Não fale mais nada Angel – Victor apertou constantemente o botão que chamava a enfermeira, apertou-o como se isso pudesse fazer o coração da pobre menina a sua frente voltar a bater – Não diga mais nada – pela porta voaram médicos e enfermeiras que arrastaram Victor para longe da cama– Eu te amo Angel! – sua voz saiu alta porem falha, ainda ouvia a voz de sua amada chamando seu nome em sua mente, o som dos aparelhos fazendo barulhos estranhos indicando os últimos sinais vitais, os médicos se agitando em volta da maca, o desfibrilador sendo usado e novamente o som dos aparelhos, mas dessa vez indicando o óbito – Não! Não! Angel! Não! Fica comigo! – a visão turva pelas lagrimas, gritava desesperadamente e se debatia enquanto dois enfermeiros tentavam o conter – Angel! Volta! Fica comigo! – sentiu uma agulha perfurar seu braço e sua consciência se esvaindo– Fica comigo... Por favor. Angel.

Acordou novamente em sua maca, a sensação de que faltava algo dentro de si era devastadora, queria negar, dizer que não era verdade, mas ele sabia que sim, era verdade, a única coisa com que se importava não estava mais com ele, estaria sozinho pelo resto da eternidade, não tinha mais por que ficar ali. Levantou-se, pegou a mala de roupas que ainda estava no canto do quarto e saiu, deixando para trás no hospital, muitos amigos com quem havia convivido por anos, o primeiro e único amor de sua vida, a razão pela qual estava vivo, a felicidade e o resto de sua lucidez.





Levantou-se, caminhou a passos rápidos em direção à saída do lar:

–Tchau Hank! –Gritou, acenando para o jovem que cuidava da portaria, o ruivo também havia crescido naquele orfanato e agora se sentia no dever de retribuir trabalhando lá, trazia uma grande cicatriz que atravessava seu olho direito, mostrando que havia estado no acidente com o ônibus e diferente de Angel, sobrevivido.

Entrou no carro, bateu a porta com força e dirigiu muito acima do limite de velocidade até seu prédio, cada segundo que se passava se tornava mais e mais desesperador, sentia sua garganta fechando e a visão escurecendo, pediu a todos os deuses que tivesse tempo pelo menos de chegar em casa. Praticamente atirou o carro na garagem do prédio batendo na parede e fazendo os pneus cantarem, correu até seu apartamento, ah o elevador, nunca tinha parecido tão lento e tão claustrofóbico, abriu a porta com dificuldade e atirou a jaqueta de couro preto sobre o sofá, subiu pulando degraus as escadas que davam acesso à cobertura, um lugarzinho tranquilo, gramado, vasos com verbena espalhados pelo local davam um cheiro agradável ao ambiente, ao centro um grande banco de balanço feito de madeira branca, sentou-se e encarou a tatuagem em forma de meia lua abaixo de seu polegar na mão esquerda. Sua vida se tornará incrivelmente vazia, os dias se arrastavam, cada segundo que passava era doloroso, já não tinha mais certeza se fazia uso do resto da sanidade que lhe sobrará, tinha pesadelos constantes, via e ouvia coisas que sabia que não existiam, não conseguia se concentrar em nada, simplesmente não se lembrava de alguns dias. Esfregou as mãos na cabeça como se assim pudesse arrancar todo sofrimento de dentro de si, levantou o olhar e se deparou com a enorme lua cheia que se destacava no céu, tinha certeza que estava Sol quando se sentou ali, alias mal havia passado do meio dia:

–Victor! – e lá estava ela. Com o costumeiro vestido branco que ele havia pintado quando eram crianças, seus cabelos loiros caiam em cachos até sua cintura, os olhos verdes brilhavam como nunca.

­–Oi, meu amor– sabia perfeitamente que estava alucinando. No começo, pouco tempo após a morte de Angel, esses momentos eram raros e assustadores, mas depois, se tornaram comuns e até mesmo agradáveis, era a única forma de conexão que ainda tinham, era a única forma de vê-la novamente.

–Como eu sinto sua falta! – abraçou-o – Já esta na hora de você vir comigo não acha? – perguntou sorrindo– Venha querido – o fantasma de Angel flutuou quase meio metro sobre o vazio além do prédio – Venha, venha meu amor! Vamos ficar juntos... Para sempre!

Já não havia mais nada para fazer, não havia nada com que se importar, não havia nada que o prendesse nesse mundo. Caminhando a passos lentos, foi até a beira do prédio, o vento chicoteava seu rosto e ele gostava da sensação, ficou em pé sobre o parapeito de alvenaria e abriu o máximo possível os braços, sem hesitar lançou-se na direção de sua amada. Os braços fantasmagóricos da garota o envolveram, qualquer pessoa ao cair de um prédio entraria em pânico, mas tudo que Victor sentia, pela primeira vez em anos, era paz.

Angel pousou de leve seus lábios sobre os de seu amado:

–Eu sempre vou estar com você– magnificas asas brancas saíram de suas costas e envolveram os dois corpos, como uma capa protetora– Eu te amo.

–Eu te amo, meu anjo!





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Notas finais do capítulo

Quero muito agradecer a todos que me apoiaram, deixaram comentários e leram tão atenciosamente cada capítulo, cada mensagem me ajudou muito, mesmo, obrigada.
Um agradecimento especial para a linda Beatrizinhazi que me acompanhou desde o primeiro capítulo e me incentivou com lindas palavras.
Muito obrigada a todos que me acompanharam nessa viagem! Vocês fizeram essa experiência inesquecível pra mim!

Beijinhos sabor chocolate...



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